Desporto

sábado, 27 de julho de 2013

A RATOEIRA TECNOLÓGICA

A inovação tecnológica é uma das principais alavancas de valor acrescentado garantindo o acesso a mercados com elevado poder de compra, proporcionando maiores produtividades e melhores salários, constituindo o vector comum das economias mais desenvolvidas e um desafio às restantes num mercado global tendencialmente livre.
Porém, "nem tudo o que luze é oiro". Com efeito, nem sempre os equipamentos tecnologicamente avançados são os mais eficientes no seu ciclo de vida, constituindo, muitas vezes, uma poderosa ferramenta de captura do consumidor por fortíssimas multinacionais que, frequentemente, através de uma política empresarial agressiva e global atingem posições de domínio do mercado muito próximas do monopólio.
Os exemplos são vastos em todas as áreas; institucional, industrial, comercial ou doméstica. É o caso dos frigoríficos domésticos; do vulgar frigorífico que todos temos em nossas casas e que tanto facilitam a nossa vida. Um frigorífico "tradicional" de duas portas - congelados em cima, refrigerados em baixo - é composto por um compressor, respectivo condensador, dois evaporadores e um termostato, satisfaz as necessidades correntes de uma família média e custará - grosso modo - até aos €200,00, dependendo da marca. Hoje porém, abundam no mercado frigoríficos de elevado valor, graças ao design, e à maior complexidade do sistema frigorífico, frequentemente composto por dois sistemas autónomos, controlados por microprocessador e múltiplas sondas, que, em princípio, garantirão melhor qualidade, maior duração de armazenagem dos produtos e maior eficiência energética, esta, hoje, bem visível ao consumidor.

Porém, apesar de apelativo e eficiente, este modelo avançado de frigorífico, reserva algumas desagradáveis surpresas; o risco de avaria aumenta devido ao maior número de componentes e o custo da respectiva reparação "dispara"; seja devido aos custos "astronómicos" dos componentes, geralmente comercializados em regime de exclusividade, pelo fabricante, seja pela menor oferta de serviço técnico, que, muitas vezes, atira o indefeso consumidor para os braços do fabricante do aparelho!

Um caso recente do meu conhecimento, sucedeu com um destes frigoríficos da marca Z - multinacional europeia de referência -, cujo compressor de baixa temperatura, da marca D - outra multinacional europeia de referência -, é comercializado em regime de exclusividade pela multinacional Z a um preço cerca de sete vezes superior ao do mercado - no caso, outra marca europeia.

O que aconteceu?; a multinacional Z encomendou à multinacional D enorme quantidade de compressores com a condição da exclusividade do modelo, que esta aceitou, por razões óbvias. Ora, o indefeso consumidor, neste caso, escapou da "extorsão" devido à qualidade do serviço técnico a que recorreu, que teve capacidade para seleccionar e adquirir compressor equivalente a menos de 20% do preço do do fabricante do frigorífico.

A estratégia é óbvia; a multinacional, usa o seu poder para realizar lucros complementares exorbitantes, capturando o cliente, impondo-lhe, implicitamente, o seu serviço de assistência. Perante o exagero, o nosso consumidor poderá optar por...comprar outro frigorífico para cujo efeito disporá de crédito na hora, no local, proporcionando ao revendedor acesso a outro proveitoso negócio.

As implicações desta estratégia são mais vastas e revelam alguns dos paradoxos actuais. Desde logo, fomentando o endividamento familiar, mas sobretudo, promovendo a produção intensa de resíduos - neste caso especialmente perigosos devido aos frigorigénios presentes - e agravando o efeito de estufa pelo consumo energético associado à produção das unidades de substituição. Por um lado, fomenta-se a inovação tecnológica com ganhos de eficiência, por outro, eliminam-se estas vantagens impondo mais tecnologia...com enorme impacto ambiental negativo...e...com transferência de riqueza para os países tecnologicamente mais desenvolvidos! Ou seja; tolera-se a produção de resíduos e emissão de gases com efeito de estufa desde que em benefício dos poderes dominantes. Para os restantes...a intransigência punitiva!

Claro que é preciso mudar de paradigma mas...quem o quererá fazer? Que dizer das hipócritas directivas e regulamentos comunitários que constituem um entrave ao desenvolvimento tecnológico dos países mais débeis, como Portugal? Tais constrangimentos destinar-se-ão à protecção ambiental, como é referido, ou à perpetuação das vantagens tecnológicas dos países europeus dominantes? É ou não necessário dar um murro na mesa? Quem estará disposto a dá-lo? Já somos um! 

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