Desporto

sábado, 14 de setembro de 2024

AUTOCRACIAS NO SÉCULO XXI

 

AUTOCRACIAS NO SÉCULO XXI



Anne Applebaum, no seu recente livro “Autocracia Inc.”, identifica e caracteriza os regimes autocráticos atuais, descreve a sua forma de atuação, como infiltram e manipulam as democracias e como se articulam entre si. Rússia, China, Venezuela, Cuba, Coreia do Norte, Irão, Bielorrússia, Myanmar, Angola, são os principais exemplos que refere. Surpreendentemente, inclui a Polónia e a Hungria neste grupo e deixa de fora o Brasil, atualmente uma das mais ativas autocracias.


Financiam-se e comerciam entre si e desenham estratégias conjuntas de desestabilização dos regimes democráticos. Nestes, infiltram-se económica e politicamente, corrompem políticos, financiam trolls - operacionais que, nas redes sociais, ocultando a verdadeira identidade trabalham para a causa -, e partidos políticos, fundam empresas, compram jornais, jornalistas e canais de TV, difundem informação, que manipulam ou inventam, estabelecendo a confusão e a dúvida, com o propósito de enfraquecer as democracias.


há uma consciência geral, embora difusa, destes temas; com alguma frequência vão aparecendo notícias de interferência da Rússia nas campanhas eleitorais americanas, do financiamento de partidos em Espanha pela Venezuela, do envolvimento do Irão no financiamento e armamento de grupos anti-ocidente, das sucessivas provocações da Coreia do Norte ao mundo livre, etc..


Abertamente a China vai tecendo a sua teia económica, por todo o lado, criando ascendente e dependência, consentida, desejada, na ingénua, ou falsa, convicção ocidental de que tal acabará por induzir a democratização do regime. Ideia que se revelou desastrosa quando aplicada à Rússia.


Menos conhecidos são os papeis da Bielorrússia, Polónia e Hungria. O primeiro com intervenção no encaminhamento maciço de imigrantes para a Europa e no apoio logístico às operações militares russas, e os restantes dificultando a tomada de decisões da UE potencialmente prejudiciais ao regime de Putin.


Surpreendente é a referência ao envolvimento de Cuba na Venezuela e na Rússia, fornecendo operacionais para, no primeiro caso, reprimir os opositores de Maduro e no segundo, combater na Ucrânia ao lado dos russos! Recordo que o principal suspeito do assassinato de Nascimento Costa - Piloto do Santa Maria - é o cubano José Sottomayor, que, mais tarde, lutou contra o exército português, em Angola, ao lado dos guerrilheiros do MPLA.


Os cubanos lutaram na Guiné ao lado do PAIGC - o caso Peralta deu grande celeuma no pós 25 de abril - no 27 de Maio de 77, decidiram a favor do MPLA; a rebelião de Nito Alves e José Van-Dunem - um episódio trágico que marcou a história da Angola, e a guerra civil contra a FNLA e a UNITA. Uma pequena ditadura, falida, com tal influência, merece melhor atenção e análise.


Porém, é a duplicidade dos líderes alemães que mais perplexidade provoca; Gerhard Schröder, mal deixou a chancelaria - em 2005 -, assumiu a chefia de empresas da Gazprom na Alemanha a troco de um milhão de euros anual. Angela Merkel induziu turbulência económica, social e política na UE ao abrir as fronteiras à imigração e, implicitamente, encorajou a invasão da Rússia à Ucrânia ao prosseguir com a construção do gasoduto desde a Sibéria.

A esperança, alemã e europeia, da eficácia da política de envolvimento económico da Rússia na dissuasão das suas aspirações imperialistas e na adesão da mesma às virtudes da democracia, revelou-se um total fracasso.


A ideia de superioridade económica, política e moral da UE cai por terra quando constatamos o paradoxo inimaginável de o seu maior membro, a Alemanha, condenar a invasão da Ucrânia e, simultaneamente, financiar o invasor, com a agravante de deixar a Europa dependente do gás russo.


Se outras razões não houvesse, esta basta para minar o projeto europeu, que, nem Rússia, nem China, nem EUA desejam.


Quanto aos europeus, a confusão está instalada, ninguém, fora das “trincheiras partidárias sabe em quem confiar; os líderes parecem limitar-se a gerir os seus interesses pessoais ou de grupo, alguns envoltos em suspeitas de corrupção, ou de conluio com inimigos da Europa, a comunicação social parece servir agendas disruptivas e a Comissão Europeia parece gostar demasiado de impor restrições aos seus cidadãos.


Não se vislumbra uma figura agregadora do “sonho europeu” a que só a “chuva” de milhões, com que todos sonham, parece dar consistência.


Hoje em dia, as autocracias não são geridas por um homem mau isolado, mas por redes sofisticadas assentes em estruturas financeiras cleptocráticas, serviços de segurança - militares, paramilitares e policiais - e por peritos em tecnologias de informação encarregados da vigilância, propaganda e desinformação. Os membros destas redes encontram-se interligados não apenas no interior de uma autocracia, mas também com redes existentes em outros países autocráticos e mesmo em algumas democracias.


Em 2022, o ano em que a Rússia invadiu a Ucrânia, Shroeder estava a ganhar perto de um milhão de euros anuais de empresas associadas ao gasoduto e ao gás natural russo, entre as quais a Rosneft.


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Quando, mesmo após a primeira invasão da Ucrânia em 2014,a chanceler Angela Merkel, sucessora de Shroeder, não decidiu pôr fim ao projeto Nord Stream, Putin pode bem ter achado que tinha luz verde para dar seguimento à invasão.


Anne Applebaum – Autocracia Inc.


                                                              Anne Applebaum

Peniche 14 de Setembro de 2024

António Barreto


domingo, 8 de setembro de 2024

 

Benfica 24/25



Quatro jornadas, cinco pontos perdidos. Falharam, mais uma vez, os analistas e decisores internos. Não havia “carta na manga”. Estabilidade é continuidade. Com os jogadores certos, para a esquerda e para o ataque, voltaríamos ao bom futebol. Vieram os jogadores manteve-se o jogo, lento, empastelado, medroso, sem garra nem imaginação. A espaços um “cheirinho” a bom futebol, como deve ser; rápido, intenso, com amplitude, profundidade, mas...sem finalização. Como previra, nada de essencial mudou. Se não mudara em toda a época anterior não iria mudar agora. Escassos os centros e cruzamentos, quase sempre maus quando aconteciam. Quando saíam a bola morria nos pés dos defesas, nas mãos dos guarda-redes ou saia pelas linhas lateral e de fundo. Não se marcam golos com um avançado na área. E nem sempre com uma multidão, nos últimos minutos, em desespero de causa. Roger Schmidt tem uma qualidade rara, que muito aprecio; é educado para toda a gente, mas não sabe “ler o jogo”, não sabe “mexer” no jogo; define um modelo no início e, ou dá, ou “morre”! Significa que não conhece os jogadores; a alta matemática, para ele, não terá segredos, mas a dinâmica do jogo, tem! Respeitar os compromissos assumidos é um ato nobre. Defender, com dignidade, os interesses do clube, também. Perderam-se tempo e pontos, mas não é demasiado tarde. Choque motivacional. Um simples choque motivacional basta!


Veio Lage. É bom treinador. É do Benfica. Conhece o futebolzinho “tuga”; dos “taipais defensivos”, das corridas a solo, da marretada a meio-campo, dos mergulhos aquáticos, das arbitragens manhosas, da “vista-grossa”dos “mandantes” do “circo” futebolístico luso. Quererá recuperar o prestígio perdido. É possível. Se não perder o discerrnimento em vacuidades circenses.


Disse circenses. É o que o Benfica às vezes me parece. Um circo. Uma feira de vaidades. Mais pragmatismo. Menos conversa fiada. Mais suor. Menos vaidade. Menos festas. Mais trabalho. E foco na defesa institucional do clube. A federações, talvez com exceções, parecem empenhadas e concertadas em impedir a ascensão desportiva do Benfica. Em todas as modalidades. A diversificação dos vencedores, para quem manda, parece mais consentâneo com o conceito de democracia. E isto faz-se acontecer. Salvam-se as aparências.


Há homens que na vida derrubam todos os obstáculos, há exércitos que vencem sempre e obram prodígios. Parece que o exército pressente e adivinha as ordens do general. Mal ele as concebe, executa-as logo. Essas multidões exaltadas condu-las para onde quer, e essa força material que destrói todos os obstáculos materiais, nasce de uma ideia: é espiritual. É assim que o chefe inspira o exército, tanto quanto o exército inspira o chefe.



A corte prestes a rumar ara o Brasil


El-Rei Junot – Raúl Brandão


Peniche, 08 de Setembro de 2024

António Bareto

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

De Grande Potência a Protectorado

 

De Grande Potência a Protectorado



A época de glória, dos séculos XV e XVI, em que o pequeno Portugal se transcendeu, aventurando-se, destemido, pelo mais ameaçador dos oceanos, abrindo novas rotas que proporcionaram a expansão do comércio internacional e o progresso económico europeu, terminou, tragicamente, em Alcácer-Quibir - 1575. Foi o ruir dum projeto, um desastre económico e, sobretudo, humano; lá soçobraram as elites do reino de Portugal. Ainda pairam dúvidas quanto ao fim de D. Sebastião, porém, agrada-me a ideia de que terá morrido de espada na mão, a lutar por uma ideia para a sua Pátria e não percebo porque ficou para a História como um fraco.


“... A partir de meados do século XVII, a Grã Bretanha forneceu proteção militar a Portugal e ao seu império, em troca de relações comerciais preferenciais. Com a deslocação da Corte e do Governo para o Rio de Janeiro, esta velha aliança foi transplantada para o Brasil, já que o centro do império português mudara da Europa para a América do Sul. Mas as guerras peninsulares desequilibraram ainda mais uma relação que já pendia claramente a favor da Inglaterra. Este país tinha agora, não apenas Portugal, mas todo o seu império, à sua mercê. Contra os desejos da corte, os ingleses tinham enviado tropas para guarnecer a Madeira, Goa e Macau de forma a evitar que caíssem nas mãos dos franceses. Das restantes colónias, os centros de tráfico de escravos de Angola e Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné, estavam ameaçados pela campanha proibicionista da Grã Bretanha.”

Império à Deriva – Patrick Wilcken


Beija-mão a D. João VI no Rio de Janeiro




Peniche, 23 de Agosto de 2024

António Barreto

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

GUERRA PENINSULAR EM PORTUGAL

 

GUERRA PENINSULAR 

DEVASTAÇÃO E MORTE EM PORTUGAL



O que viu confirmou a sua teoria de retirada imediata. Os franceses queimavam as aldeias e as quintas onde se tinham refugiado durante o inverno, tal como os alemães viriam a fazer em França cento e seis anos mais tarde. Queimavam tudo, destruíam tudo; só se via fumo e incêndios por todo o lado. A região ocupada pelos franceses estava horripilante, com as aldeias queimadas e os campos desertos, arruinados e cheias de ervas daninhas, onde não se via vivalma. Havia mortos que chegassem para compensar – homens mortos e animais mortos, alguns já em esqueleto, outros cadáveres inchados – e mulheres – penduradas nas árvores ou nas forcas aqui e ali.”


Morte aos Franceses”

De C. S. Forester



Cerco do Porto por Soult


Peniche, 08,08,2024

António Barreto

domingo, 4 de agosto de 2024

Barão de Casal e o Massacre de Braga

 

Barão de Casal e o Massacre de Braga


José António de Barros Abreu Sousa e Alvim, barão de Casal, nascido no Minho, veterano da Guerra Peninsular - combateu contra os franceses em Portugal, Espanha e França - da Campanha de Montevideu - integrou a Divisão de Voluntários Reais do Segundo Regimento de Cavalaria onde participou na conquista da Província Cisplatina brasileira, regressando a Portugal gravemente ferido -, da Guerra Liberal, combateu, em Trás-os-Montes, as forcas miguelistas; feito prisioneiro por duas vezes, em ambas conseguiu fugir juntando-se às tropas do duque da Terceira. Regressado do exílio em Inglaterra - onde se refugiara na sequência da subida de D. Miguel ao trono -, juntou-se, na ilha Terceira, às forças leais a D. Pedro, tendo participado no desembarque no Mindelo. Brigadeiro e Governador da Praça de Peniche em 1833, deputado e barão em 1836, alinhou contra os cartistas, na Revolta dos Marechais, ao lado do Conde do Bonfim. Marechal de Campo recolheu-se a sua casa até à Revolta da Maria da Fonte, em 1846, altura em que foi nomeado Governador de Trás-os-Montes.


Com os Cabrais exilados em Espanha e a conspirar contra o novo Governo do conciliador e nobre Duque de Palmela, a rainha D. Maria II, despeitada - tivera que ceder às exigências dos revoltosos -, temendo perder a coroa, manobrava no sentido do seu regresso, destituindo Palmela e nomeando - em segredo , o Duque de Saldanha para Ministro do Reino.


Tal daria lugar à Guerra da Patuleia, que só terminaria em Junho de1847 com a Convenção de Gramido. Uma guerra sangrenta que se estendeu a todo o país, devastando-o, em mortes e recursos.


Para trás ficavam cerca de cinquenta anos de guerras sucessivas; a Campanha do Rossilhão, - 1793 a 1795 - em que tropas portuguesas, ao abrigo do Tratado de Amizade, combateu ao lado da Espanha contra a França - a Espanha declarara guerra à França, na sequência o guilhotinamento de Luís XVI -, a Guerra das Laranjas – em 1801; a 1ª invasão napoleónica – em que Espanha concertada com a França invade Portugal - custando-nos Olivença -, a devastadora Guerra Peninsular - de 1807 a 1814 -, a Campanha de Montevideu - de 1816 a 1823 - de que emergiria o Uruguai, onde os portugueses da Europa e do Brasil foram heroicos e louvados pelos líderes locais, a frustrante e, economicamente devastadora, independência do Brasil, em 1822, as guerras liberais, de 1820 a 1834, a Revolta da Maria da Fonte - em 1846 – e agora, a guerra da Patuleia.


Falhada a invasão de Lisboa pelas forças dos setembristas - tal como as tropas de Massena, esbarraram nas Linhas de Torres , o Conde das Antas regressara ao Porto, anunciando o heroísmo dos seus soldados, apesar da derrota. Em sua perseguição, o marechal Saldanha, acabaria por ficar em Oliveira de Azeméis preocupado com as guerrilhas miguelistas - aliados daqueles, que tinham recrudescido as suas ações.


Com Lisboa determinada a liquidar a Junta do Porto, Casal, destacado para o efeito, após treze dias de resistência da cidade às movimentações das suas tropas, acabara por retirar sem disparar um único tiro. De regresso e contra sua vontade, o barão de Casal envolve-se, em Braga, em luta com uma guerrilha miguelista comandada pelo general Macdonnell.


Após renhida luta as forças leais à rainha infligem pesada derrota às milícias miguelistas, que sofrem grande número de baixas, e tomam a cidade. Casal não fez prisioneiros; disse um contemporâneo:


Casal não queria bater-se mas a patuleia realista forçou-o ao combate. Pelejou heroicamente, venceu e não deu quartel. Apenas perdeu uns cinquenta homens, ficando dos realistas e povo inerme trezentos ou mais sobre o campo de batalha. Casal não fez um único prisioneiro. Passou tudo ao fio da espada. Quem visitasse então aquela cidade veria cruzes pintadas nas esquinas das ruas, alumiadas de noite e os fiéis rezando pelos mártires da fé.”


Macdonnell, que fugira a 26 de Dezembro de 1846 acabaria por morrer em Sabroso a 30 de Janeiro de 1847, facto determinante na aproximação dos miguelistas à Junta do Porto.


Com a anuência da rainha e sob protestos da Junta, que acreditava na vitória, admite-se a necessidade de intervenção estrangeira ao abrigo da Santa Aliança, nos termos do Congresso de Viena realizado em 1815.


Um esquadra inglesa, a 31 de Maio de 1847, bloqueou e apreendeu uma esquadra, com tropas e material de guerra, com que o conde das Antas planeava reforçar as forças da junta estacionadas em Setúbal, a fim de tomarem Lisboa.


A 19 de Junho entra em Portugal, por Mirandela, o tenente-general D. Manuel de La Concha com um exército espanhol. Estabeleceu-se em Bragança e a 25 de Junho, deslocou-se para as imediações do Porto, pronto a tomar a cidade. Outras praças portuguesas, junto da fronteira foram ocupadas por forças espanholas.


A 29 de Junho de 1847, realiza-se a Convenção de Gramido, onde o coronel Wylde, apresentou os termos do armistício, num documento subscrito pelo general Concha e pelo coronel Buenaga, em representação de Espanha, pelo coronel De Wylde pela Grã-Bretanha, pelo marquês de Loulé e pelo general César de Vasconcelos pela junta do Porto. As tropas espanholas ocuparam a cidade e os fortes, enquanto aos ingleses ocuparam o Castelo da Foz.


Finalmente, a 7 de Julho de 1847, entra na cidade do Porto o Marechal Saldanha com as forças realistas.


O regresso de Costa Cabral ao poder, dois anos depois, inviabilizou o cumprimento integral da Convenção, motivando o golpe de Estado de Saldanha, em 1851, a que se seguiu o ciclo da Regeneração e, finalmente, a estabilidade política do país.


D. Maria II

Peniche, 4 de Agosto de 2024

António Barreto


segunda-feira, 6 de maio de 2024

Reparações da Descolonização

 

Reparações da Descolonização



As infelizes recentes declarações do Sr Presidente da República em que refere a obrigação moral de Portugal proceder às reparações da descolonização, revelam total indiferença daquele pelo que de bom foi feito pelo país e total desvalorização da violência e dos vexames de que os portugueses, as Forças Armadas e o país, foram vítimas, nomeadamente no decurso das negociações para as independências.


Onde havia tribos, Portugal formou Estados com fronteiras definidas, internacionalmente aceites, pelas quais, ao longo da história, de várias formas, lutou. Forneceu, ao povos das colónias, uma da mais eficientes e prestigiadas línguas do mundo, a portuguesa, apoiou, com o seu conhecimento e experiência a construção das estruturas normativas, administrativas e constitucionais dos novos países, concedendo-lhes sucessivos perdões de dívida, e tem participado ativamente em variados planos de cooperação económica, política e cultural.


No decurso da “colonização” - a reforma constitucional de 1971 atribuiu a Angola e Moçambique a designação de Estados, dotando-os de órgãos legislativo, jurisdicional, administrativo e executivo com ampla autonomia, e nacionalizando todos os residentes dos territórios ultramarinos - Portugal, cujas contas-correntes com estes, incluindo os agora Estados, foram sempre deficitárias -, construiu estradas, caminhos de ferro, barragens - Cabora Bassa era e julgo que ainda é, a maior barragem de toda a África - escolas, hospitais, mercados, piscinas, cinemas, hotéis, aldeias, vilas, cidades, desenvolveu a indústria, a agricultura, a mineração, etc., num ambiente multirracial de envolvimento crescente das populações locais nos aparelhos administrativos e governativos das respetivas regiões.


Agostinho Neto, Eduardo Mondlane, Samora Machel, Amílcar Cabral, Joaquim Chissano, João Van Dúnem, e muitos, muitos outros, formaram-se nas escolas e universidades portuguesas! Quantos negros “saíram das cubatas” para as cidades, as escolas, as universidades? Que valor é que isto tem? Como se calcula?


Diz o bom povo que “Dívida falada não é paga”! Que legitimidade têm de exigir reparações a Portugal, quem fuzilou, chacinou, violou, esventrou, incinerou e confiscou os bens dos portugueses, pretos, brancos e mulatos?


Quem ficou com o dinheiro - cerca de cinco mil milhões de euros - do alegado desfalque no BESA?


Passo a transcrever um extrato do ambiente que se viveu em Moçambique durante a “exemplar” descolonização, relatado por quem a viveu e testemunhou de muito perto:


No acto de posse, o Presidente da República conferiu-lhe a missão de “conduzir o processo de descoloniza ção de Moçambique, em paz, em ordem, com dignidade, com patriotismo, no respeito pelo nosso passado, pelos nossos maiores em África, e, acima de tudo, pela bandeira verde-rubra da Pátria, para que o novo Estado de Moçambique venha a ser efectivamente uma nação de expressão lusa e indestrutívelmente ligada à Mãe-Pátria” (cito de um semanário lisboeta, de 14 de Setembro de 1974).

Foi isto que o Alm. Vitor Crespo jurou, solenemente, por sua honra, fazer.

E foi isto que não fez.

Logo em 21 de Outubro seguinte, aconteceu que uma unidade de “comandos” (farta de insultos incompatíveis com a sua dignidade) tomou desforço, quando foi provocada nas ruas de Lourenço Marques. Daqui nasceu retaliação horrorosa que causou centenas de mortos entre a população indefesa, conforme os insuspeitos relatos da imprensa internacional. Houve carros incendiados, com os seus ocupantes dentro. Houve violações e violências em que todos os excessos se cometeram. Houve corpos trucidados em condições horripilantes.

O primeiro-ministro Joaquim Chissano chorou convulsivamente no hospital Miguel Bombarda ao deparar com o macabro espetáculo que os médicos lhe mostraram….

O Alto Comissário, a quem competia a responsabilidade de defender a ordem pública (nos termos do acordo Machel - Antunes), não fez um movimento para proteger essa pobre gente que foi chacinada. Consentiu que os “comandos” fossem indignamente acusados de “irresponsáveis drogados” e não teve uma palavra de conforto para as vítimas imoladas. Nem um só dos responsáveis pelos morticínios foi detido, inculpado e presente a tribunal.

Os monumentos portugueses, que eram património luso em Moçambique, foram apeados antes da independência. Alguns foram mutilados ou tratados sem qualquer respeito pelo que representavam….

Numa entrevista que veio a dar, filosofando sobre a descolonização, referiu que, os que tiveram que deixar Moçambique, não passavam de “racistas”, “exploradores” e “reacionários”.


Em: “Moçambique, Terra Queimada” - De Jorge Jardim


É disto que nos devemos orgulhar?


É disto que os “libertadores” africanos e europeus, se orgulham?


Como se “reparam” as famílias dos que morreram às mãos dos guerrilheiros e populares?


Como se “reparam” todos os que, para salvar a vida, deixaram no Ultramar todos os seus bens?


Como se reparam todos os desnacionalizados que os “libertadores” de abril transformaram em párias?


Nesta infeliz declaração pública do “representante de todos os portugueses” não se vislumbra a preocupação de evitar a divisão desta quase milenar nação, invocada para a justificar a decisão de não comemorar o 5 de Novembro! Data em que o regime português adquiriu algumas semelhanças com a democracia.


Pelo contrário; por muito menos, ao longo da história, nasceram guerras civis em distintas geografias.


Razão pela qual me pergunto se o atual Presidente da República está empenhado num hipotético ajuste de contas com os portugueses, incluindo os que o elegeram.


E, se não há, devia haver um mecanismo constitucional de destituição do Presidente da República quando dá manifestos sinais de incoerência política, capazes de lançar o país num conflito civil de proporções imprevisíveis.


    Mário Soares e Samora Machel

Peniche, 6 de Maio de 2024

António Barreto

quarta-feira, 1 de maio de 2024

O Legado de Pinto da Costa

 

O Legado de Pinto da Costa



Cheguei a pensar que a saída de Pinto da Costa da presidência do Futebol Clube do Porto só ocorreria quando Deus, ou o Diabo (Deus me perdoe), o chamassem.


Eufóricos com as sucessivas vitórias, indiferentes às suspeitas de manipulação de jogos, intimidados pelas ameaças da “milícia” protetora do Presidente, convictos dos inevitáveis sucessos futuros, os associados foram incapazes de criar alternativas de governo do seu clube.


Pinto da Costa dedicou a sua vida a derramar um supremo e incontido ódio ao maior e mais fascinante clube do país e do mundo, o Benfica, sem perceber as causas de tal realidade.


Foi o momento em que o futebol se revestia de romantismo, foi a alegria, o cavalheirismo, a elegância e a arte de jogar e ganhar aos melhores e mais ricos clubes da época, que fizeram do Benfica o que é; um clube, respeitado e admirado em todo o mundo.


Pinto da Costa não percebeu que a popularidade dum clube está associada à sua cultura. O ódio, o medo, a vingança, a ostentação que propagou em todo o seu consulado gerou bajulação, hipocrisia, ressentimento, mas nunca a adesão de quem ama o desporto nem a sã convivência entre clubes e adeptos.


Talvez incentivado por alguns setores partidários, quis fazer do FCP um instrumento de aglomeração da população regional, de fratura social, “esgravatando” um fosso de hostilidade entre portugueses que se foi tornando cada vez mais desconfortável. Arvorou-se em paladino e vingador de reais ou imaginárias injustiças históricas de que o clube ou a cidade teriam sido vítimas.


Presidente do maior clube da cidade, com raízes familiares nas suas elites, Pinto da Costa, assumiu o papel de líder político, da mesma e, por inerência, de toda a região adjacente.


Aqui residia o seu poder, do poder do FCP; na congregação de corporações económicas, sociais, religiosas e políticas, bem como de instituições públicas, administrativas e judiciais, regionais e até governamentais, em torno do clube, pela causa regional.


Ainda não há muito tempo os Conselhos, de Administração da SAD e Consultivo, eram uma constelação de figuras notáveis da economia, da finança, da academia, da Justiça, de corporações e institucionais!


Ao misturar desporto com política, Pinto da Costa e seus apoiantes conseguiram o contrário do que pretendiam; provocar um sentimento de hostilidade geral relativamente ao clube e à ideia de regionalização.


A extrapolação foi uma consequência inevitável; o ambiente de crispação, insegurança, injustiça e de prepotente ascendente desportivo do FCP, gerou, entre a população, receio no projeto político subjacente.


A estratégia de permanente desafio, insulto e ameaça, prejudicou mais o objetivo da regionalização do que décadas de centralismo administrativo e político.


O Benfica era e é, o meu clube, mas, tempos houve em que tal não me impediu de admirar outros clubes; Sporting, Porto, Belenenses, Setúbal, Guimarães, Braga, Cuf, Barreirense, Académica, etc, e os bons jogadores; Marinho, Alexandre Batista, Peres, Keita, Yazalde, Damas, Hernâni, Futre, Juary, Cubillas, Madger, Jacinto João, Tomé, Perrichon, Vítor Campos, Gervásio, Maló, Vítor Manuel, Matateu, José António, etc, etc..


Vibrei com a vitória do Sporting na Taça das Taças e na primeira vitória do Porto na Taça dos Clubes Campeões Europeus, contra o Bayern! Com orgulho, como se tivesse sido o meu Benfica! Isso hoje não é possível e muito se deve ao ambiente criado entretanto no desporto, no qual Pinto da Costa e seus apoiantes e instigadores, tiveram papel determinante. Parece que o fracionamento social do país é do interesse de certos quadrantes político-partidários.


Foi esse o legado do agora ex-Presidente do Futebol Clube do Porto; a par de um conjunto de vitórias do seu clube envoltas em suspeitas, muito contribuiu para a descrença e hostilidade geral no desporto, onde já ninguém acredita em nada, onde o comum espetador tem, frequentemente, a impressão, de que os resultados dos jogos e competições foram combinados nos bastidores, em função de incertos e “superiores” interesses! Tal o descaramento!


Por fim, não menos importante, ficou, junto da população, em geral, um ambiente de desconfiança e descrença no projeto da regionalização, que impede e contamina o importante e salutar debate do tema.


Quando Fernando Gomes anunciou a saída da SAD, percebi que algo poderia estar em marcha. Quando Madureira e seus acólitos foram presos, a ideia consolidou-se. E, surpreendentemente, confirmou-se com as eleições, deixando no ar a ideia de condicionamento de eleições anteriores pela inefável claque, agora, finalmente, ao que parece, desativada.


Não sei o que fará Pinto da Costa, mas conhecendo-lhe o caráter, receio bem que, nos bastidores, continue o seu nefasto contributo de fomento de guerrilha no desporto. Pode até ser mais perigosos por falta de escrutínio público.


Quanto ao novo Presidente, o seu incontido ódio ao Benfica, publicamente proclamado, deixa-me sérias reservas na sua ação futura.


Porém, tendo granjeado algum prestígio no exterior, provavelmente desprovido da inserção social e de determinação, comparável ao seu antecessor, tenho alguma esperança que ocorra uma descrispação do ambiente e, finalmente, de alguma paz no desporto.


Quem sabe se não voltarei a ter orgulho nos rivais do meu querido clube, com quem aprendi a respeitar a arte do futebol, e do desporto em geral, donde quer que ela venha.



Peniche, 1 de Maio de 2024

António Barreto



quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de Abril em 2024

 

25 de Abril em 2024



Poucos sabiam o que estava a suceder. Percebeu-se a queda do regime quando correu a notícia do sequestro de Marcelo Caetano no quartel do Carmo. A dúvida e o medo, entre a população, atenuou-se com a passagem simbólica do poder para o General Spínola, cuja fama de guerreiro e patriota se instalara entre a população.


Anunciou-se a Liberdade, simbolizada nos cravos vermelhos; o fim de todos os constrangimentos coletivos e pessoais. Tudo parecia possível! Uma onda de esperança varreu o país de lés a lés; os mais céticos rendiam-se, ao novo desígnio.

O espaço mediático inundou-se de canções esperançosas, cujas estrofes ainda povoam o imaginário de quem as ouviu; “E Depois do Adeus”, um convite à reflexão metafísica; “Grândola Vila Morena”, o paradigma do poder popular; “ Liberdade” onde o autor, a certo passo, em jeito de promessa e aviso, diz que não há liberdade a sério enquanto não houver, a paz, pão, habitação, saúde, e educação para o povo.


Tudo o que tinha sido negado pelo anterior regime seria uma realidade futura, graças à instauração de qualquer coisa que ainda não sabia bem o que era. Nesta ideia radicava a esperança, reiterada, sucessivamente, pelos novos protagonistas político-militares do país e pelos encómios internacionais ao êxito da Revolução”. Uma ideia, cega, indefinida, abstrata, mas real, que calou bem no coração dos portugueses.


A esperança deu lugar à euforia e esta ao desvario; com o incentivo e participação de ativistas políticos desarticulou-se a administração pública e o aparelho económico; ocuparam-se repartições, empresas e propriedades agrícolas e urbanas.


Paralisaram-se escolas, universidade e empresas - muitas das quais entraram e autogestão e falência -, a anarquia instalou-se nos transportes públicos. Insegurança, incerteza e turbulência social, instalaram-se no país. Por toda a parte velhos ressentimentos pessoais, sob o pretexto dejustiça social” clamavam por vingança.


Era o tempo dos saneamentos, da caça aos “fascistas” - os novos “hereges” -, das denúncias e prisões arbitrárias, dos mandatos de prisão assinados em branco pelo “herói” do momento, o estratega” do golpe militar, o futuro alegado mentor e fundador do grupo terrorista conhecido por FP25.


Finalmente, 53 anos após a fundação do seu partido, os comunistas portugueses tinham a sua revolução Leninista, cuja simbologia se apressaram a imitar; a chegada triunfal à estação de Santa Apolónia e a a comemoração da vitória em cima de uma chaimite.


O reconhecimento do direito dos dos povos à autodeterminação, consignado no Programa do M.F.A, foi transformado, pelos proeminentes dirigentes partidários e militares da época, em reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação e independência.


A prometida e “indispensável” consulta às respetivas populações ou aos seus “indiscutíveis” representantes foi considerada desnecessária pelo eminente jurista, ex-Secretário de Estado de Salazar, chefe do partido mais perseguido e violentado da época, considerado, então, e atualmente, fascista; Freitas do Amaral.


Para a negociação dos “indiscutíveis representantes” dos povos, foram, não eleitos, à boa maneira democrática, mas, segundo o método Estalinista, designados pelos novos protagonistas político-militares, entre os dirigentes dos grupos de guerrilheiros em confronto militar com Portugal. E quando os não houve, “inventaram-se” como foram os casos de São Tomé e de Timor.

O mesmo “eminente jurista” - que, mais tarde, então Vice-Presidente dum Governo Provisório, ante a queixa de alta-traição, apresentada em Tribunal, contra aos principais agentes da descolonização exemplar”, declararia que a classe política - ou o Governo -, jamais consentiria num julgamento, que só à História caberia fazer -, contra a expetativa das promessas do M F.A e de outros políticos (Almeida Santos) - de respeito pela vontade das populações -, perante a estupefação dos próprios militares, declarou, do “alto da sua cátedra” e da sua “imensa” cultura democrática, desnecessário esperar pelas eleições para avançar com a descolonização.


E esta fez-se, entregando “de mão-beijada”, após um simulacro de negociações - em Lusaka, em Alvor e em Argel -, os territórios ultramarinos, num ambiente de humilhação para o Governo de Portugal e de vexame para as FAP.


Desnacionalizaram-se centenas de milhar de portugueses transformando-os em párias. Abandonaram-se as populações à sua sorte, desarmando-as e ordenando a passividade das Forças Armadas - que, de braços cruzados, assistiram aos massacres e enxovalhos de Portugal e dos portugueses. Recorreu-se ao eufemismo Retornados para esconder a verdadeira condição de Refugiados dos que tiveram que fugir à morte, abandonando décadas de trabalho.


A prova de que o respeito pela vontade das populações nunca esteve no horizonte dos líderes políticos de então, está no caso de Timor, em que a respetiva população foi abandonada, apesar de, reiteradamente, ter afirmado a vontade de continuar a viver sob a bandeira das quinas.


Quem pode orgulhar-se disto? O Mário Soares!

Em defesa da pátria do ultramar, entre Março de 1961 e Abril de 1974, morreram 4788 portugueses de todas as cores e raças, enquanto que na Grande Guerra (e nas duas frentes) morreram 7908 (do livro A Vitória Traída)”


“ E com a “descolonização exemplar”? Não está feita a estatística, mas só em Timor se fala em 90000! E em Angola mais de 100000!”


“Houve largas centenas de milhares de mortos e de vítimas de violações e torturas!...e cerca de milhões de refugiados!”


“Segundo O Tempo de 4/3/76, o país gastou 178 milhões de contos em defesa do Ultramar e e despendeu 172 milhões de contos com a sua entrega - e só até àquela data!”


“Segundo Pompílio da Cruz, no livro Angola - Os Vivos e os Mortos…, os portugueses deixaram em Angola, em investimentos privados e públicos, 1 bilião e duzentos milhões de contos! Com Moçambique e o restante Ultramar, a perda rondará os 2 biliões de contos!


Guiné: centenas de “comandos” fulas foram desarmados e entregues ao PAIGC, sabendo-se perfeitamente que iam ser trucidados por terem defendido a pátria comum, sob o comando de Carlos Fabião – o próprio que, depois, os entregou à morte, sendo Encarregado do Governo.”


“Angola: Ainda a província era Portugal e já estava ocupada por soldados cubanos….A independência deu-se a 11 de Novembro de 1975 e no Verão desse ano o exército cubano desembarcou em Angola. Quem autorizou esse desembarque? Quem autorizou que os aviões escalassem as Lajes? Quais os responsáveis que colaboraram com os cubanos e os apoiaram? Costa Gomes negou o facto numa entrevista – mas O Diabo replicou: “Costa Gomes mente”.


“Moçambique: Disse Samora Machel em Nampula ainda antes da independência: “Enfrentamos generais portugueses corajosos como Caeiro Carrasco e Kaúlza de Arriaga”, que nos teriam derrotado. Mas, não queremos em Moçambique depois da independência, esses oficiais e soldados que se renderam cobardemente, nem sequer defenderam aquilo porque morreram tantos dos seus.”


Com a coragem que é seu apanágio, o prof. António José Saraiva escreveu num artigo publicado no Diário de Notícias em 26/1/79:

“Os militares, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando portugueses e africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória depois de Alcácer Quibir.””


É disto de que devemos orgulhar-nos no 25 de Abril?


E Hoje?

Temos eleições por sufrágio direto e universal - o lado bom - num modelo representativo que favorece os maiores partidos, a liberdade de expressão condicionada mercê de subterfúgios vários, a liberdade de acesso às profissões e de mobilidade espacial cada vez mais restrita, o aparelho judicial disfuncional, onde a promiscuidade salta à vista, a população refém das corporações de que depende o Estado Social, uma Administração Pública paralisante e insaciável devoradora de recursos, uma dívida pública e privada comprometedora do desenvolvimento futuro, uma classe política que reserva os melhores cargos públicos para os seus e uma população angustiada com sucessivos e sobrepostos complexos de culpa; políticos, ambientais, coloniais, económicos, sanitários, etc. etc.


Quanto aos slogans de Abril, 50 anos depois:


“A Paz”: Não havendo já guerra colonial vivemos em permanente estado de quase guerra civil, com o nosso modo de vida ameaçado, não se podendo, pois, afirmar, que alcançámos a paz.


O Pão”: Com cerca de dois milhões de pobres e outros tantos no limiar de pobreza, há demasiada gente com fome.


“Habitação”: Seja por arrendamento, seja por aquisição de casa própria, está cada vez mais inacessível ao comum dos cidadãos, asfixiado em impostos, num contexto de perseguição aos proprietários e agravamento contínuo dos custos de construção.


“Saúde”: Gratuita e acessível a todos, de Jure, mas não de facto, com os mais pobres resignados ao SNS, e os restantes compelidos a subscreverem planos de saúde privados.


Educação”: à massificação do ensino sucedeu a degradação da qualidade do mesmo e a escassez de empregos no setor privado, esmagado por insana regulamentação, e condicionada pelo preconceito e pesada fiscalidade.


Tudo isto num contexto de regressão demográfica - em que a taxa de reposição é muito inferior é necessária para manutenção do contingente populacional atual -, de elevada taxa de emigração, que só encontra paralelo nos anos 60 do século XX e no século XIX, de modulação cultural, com a introdução acelerada do “wokismo” e de negação dos valores cristãos - e de empobrecimento relativo do país face aos seus parceiros europeus.


Não é séria a comparação do Portugal de hoje com o de há 50 anos, cuja economia, desde os anos 50, crescia a ritmo galopante - incluindo as das províncias ultramarinas, em especial de Angola e de Moçambique.


Ninguém, honestamente, é capaz de dizer que o país ficaria, económica e politicamente estagnado. e que a integração europeia não seria uma realidade. Afinal, o processo de adaptação das economias do espaço português - metrópole e ultramar - era objeto de negociação com a CEE.


Para cumprir Abril, falta-nos mais democracia, mais desenvolvimento e mais liberdade, o que só é possível com partidos, políticos e corporações vinculados ao interesse nacional e sem os privilégios próprios do Antigo Regime.


Créditos:

- Os Descolonizadores e o Crime de Alta Traição à Pátria. Ulisseia. Silvino Silvério Marques, Luís Aguiar e Gilberto Santos e Castro.

- Livro negro do 25 de Abrol – FP editor. José Dias de Almeida da Fonseca. Citações.

- As Causas do Atraso Português – D. Quixote. Nuno Palma.




Peniche, 25 de Abril de 2024

António Barreto