Desporto

sábado, 29 de novembro de 2014

O que é o futebol, hoje?

      Algo entre a genuína paixão do adepto e a sofreguidão insaciável  de dirigentes, empresários e jogadores nos quais é difícil descortinar o fascínio que a arte deste desporto comporta. O valor de um atleta já não reside na beleza intrínseca dos lances que proporciona mas no valor monetário que encerra. "É preciso trazer dinheiro novo para o futebol", dizem os altos dirigentes, não percebendo que tal resulta da incapacidade deste se bastar a si próprio. Todo o dinheiro é benvindo, não importa donde desde que sejam salvaguardadas as aparências. E ele vem de toda a parte, da China, da Rússia, dos EUA, do México, do sector energético, do jogo....Os oligarcas compram clubes e transacionam atletas, compram afetos na busca do reconhecimento social que não conseguem pelo simples exercício da sua atividade de origem. Chegamos ao absurdo de assistir a jogos entre equipas cujos clubes têm o mesmo proprietário ou o mesmo financiador, como aconteceu ontem na 1ª Liga inglesa,  ficando o espectador sem perceber o que efetivamente se passa no terreno de jogo quando o avançado remata ao lado, o guarda-redes não chega á bola, o médio falha um passe, ou o árbitro assinala uma grande-penalidade, um fora-de-jogo ou invalida um tento.  Inicia-se - na verdade iniciou-se - a decadência, com jogadores, empresários e dirigentes a engordar as respectivas contas bancárias, e os clubes a definhar, iludindo-se os seus dirigentes na teia do endividamento, da multiplicação de jogos e no fervor dos "exigentes" mas ingénuos adeptos que pouco a pouco acabarão por se afastar, desiludidos e descrentes mas indiferentes às consequências do seu abandono.
 
      Por tudo isto não me causaram espanto as críticas do Presidente da Federação Alemã à FIFA, decorrentes do escândalo da atribuição dos próximos mundiais ao Qatar e à Rússia, nas quais chegou a recomendar à UEFA  o seu afastamento daquela organização. Na verdade, a FIFA age à rédea solta, parecendo não prestar contas a quem quer que seja, como se fosse um autêntico Estado; com leis, tribunais e receitas próprias, indiferente às denúncias que, cada vez com mais frequência, brotam um pouco por toda a parte. Tal circunstância transmite a ideia de impunidade constituindo um incentivo à prática da corrupção em toda a estrutura do futebol. Não é, pois, só a FIFA que merece crítica, também a UEFA e as federações nacionais suscitam as mais sérias desconfianças, nomeadamente pelo patente empenho no fomento do elitismo clubista. Nem a UE escapa; empenhada na defesa da livre circulação de pessoas e bens, parece não reparar ou não se interessar pelo drama dos clubes intermédios, que, para fazerem face à violenta sucessão de jogos e competições e à inevitável rotação de atletas, têm que sobredimensionar os seus quadros, comprometendo o hipócrita "fair-play" financeiro e a competitividade desportiva em benefício dos "tubarões" que com seus previsíveis ronaldos e messis, acabarão por saturar o adepto do futebol, menos interessado em artistas de circo, do que em mágicos da bola, de facto.
     
       A realidade atual do futebol português, apesar da convergência inesperada entre Benfica e Porto, suscita as maiores reservas, já que, a pré-falência da Liga se deveu ao afastamento cúmplice ou cobarde dos seus patrocinadores perante um projeto que visava a irradicação da doença que o devora e que tem raízes profundas num regime político anacrónico, claramente em fim de prazo.
 
      Quanto a mim, confesso que tenho dificuldade em acreditar no que vejo tal como parece ser desde que comecei a observar o lado oculto do futebol, seja a partir do célebre "Golpe de Estádio" de Marinho Neves, do "Máfia do Futebol" de Declan Hill, do caso da fruta ou a partir dos relatos dos casos dos manipuladores de de Singapura. Nada me parece ocasional e espontâneo. Pode ser defeito; admito. 
 
      Por exemplo, o Guimarães ganhou ontem ao Moreirense, segundo crónica do CM, graças a uma grande penalidade mal assinalada e a uma invalidação polémica de...Cosme Machado de um golo que seria o do empate, já no final da partida! Com esta vitória ascendeu o Guimarães, provisoriamente ao 1º lugar, pressionando o Benfica que regressa desgastado e desmoralizado pela derrota com o Zénit. Ora, os erros acontecem, é verdade, mas alguns dão que pensar; o FCP, tem sempre uma "lebre", para desgastar o seu principal rival, o Benfica. Desta vez é o Guimarães, que, rivalizando com o Braga, de candidato à descida na era anti-porto, passou à de candidato ao título na fase pró-porto subsequente. Por coincidência, o Secretário de Estado do Desporto e Juventude é Vimaranense e distinguiu-se pelo silêncio relativamente à demora da resposta da ERC à queixa da Liga contra a Olivedesportos e por fazer aprovar a Lei de Bases da Federações Desportivas que funcionou como "espada de Dâmocles" relativamente à Liga e aos clubes não afetos ao "sistema".  Também por coincidência, o Presidente do Guimarães foi um dos candidatos à sucessão de Mário Figueiredo alinhado com o grupo dos contestatários ao lado de Pinto da Costa.
 
      Por outro lado, quando observamos, na comunicação social, notícias de envolvimento de instituições governamentais, regionais ou municipais no financiamento, direto e implícito, dos "seus" clubes de futebol, percebemos que, nas quatro linhas, ocorrem fenómenos bem distintos do simples jogo da bola que, de fascinante, se torna entediante.

CORRUPÇÃO NO FUTEBOL PORTUGUÊS

 
 
 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A propósito da legionella pneumóphila (2)

      Condensadores ou torres de refrigeração interferem directamente com a qualidade do ar exterior e só indirectamente com a qualidade do ar interior. Esta, porém, é fortemente influenciada pelas unidades interiores das pequenas unidades monobloco ou bi-bloco - split -, que regulam a temperatura e, implicitamente, a humidade relativa do ar efectuando simultaneamente a filtragem deste  de aerossóis diversos e, nas unidades mais sofisticadas, a neutralização de bactérias, devendo, como já foi referido, ser sujeitas a limpeza e desinfecção regular por técnicos credenciados para o efeito.
 
      Posto isto, é nos sistemas centralizados de climatização constituído  por unidades compactas de tratamento de ar - UTAS - e condutas, característico dos grandes edifícios, que é maior a dificuldade do tratamento da qualidade do ar interior. De facto, apesar da elevada qualidade do ar que as UTAS podem proporcionar, através da pré-filtragem, filtragem, arrefecimento, aquecimento, controlo directo da humidade relativa, e regulação do caudal geral e individual, não possível garantir plenamente a passagem de contaminantes para a rede de condutas - incluindo gotículas de água, apesar da bateria separadora respectiva -, onde se vão acumulando e proporcionando condições para a formação das colónias de bactérias, sobretudo nas juntas, uniões, curvas e protuberâncias várias.
 
      A minimização do risco começa com um projecto que potencie a qualidade da filtragem, a eficiência da separação de gotas, a qualidade dos materiais usados no fabrico da UTA  - em especial o tabuleiro e o tubo de escoamento de condensados, que não deverão ser corrosivos - o traçado e acessibilidade das condutas e acaba - ou começa - com uma manutenção competente e a monitorização da qualidade do ar.
 
      De facto, em edifícios públicos de grande dimensão, deve controlar-se periodicamente a qualidade do ar interior, medindo-se a concentração de poluentes como o CO2, o CO, o ozono, partículas, formaldeídos, compostos orgânicos voláteis diversos, e efectuar-se a medição das colónias de bactérias e vírus. Tal exige ferramentas e técnicas apropriadas conhecidas dos especialistas.
 
      Assim, seja periodicamente, seja em consequência dos resultados das medições, deve proceder-se à manutenção e higienização do sistema que consiste, grosso modo, na limpeza e desinfecção dos filtros de ar, baterias, tabuleiros, envolventes, terminais de ventilação, e...do interior das condutas. E é "aqui que a porca torce o rabo"!, ou seja, há, hoje, técnicas apropriadas para o fazer; tubos telescópicos flexíveis munidos de câmara e iluminação para inspecção do interior das condutas, e dispositivos de escovagem e aspiração, os mais diversos, para o efeito. Mas então qual o problema?, o problema é que, por razões óbvias, ninguém pode garantir uma eficiência de 100%. Nem o "mais pintado". O problema é que, ainda que tal fosse possível, os custos, directos e indirectos, do serviço serão elevadíssimos para os sistemas com grandes redes de condutas instaladas em tetos falsos. O problema é que, provavelmente, os custos de instalação, de operação e manutenção, tornam economicamente inviável grande parte dos grandes edifícios, perdendo-se oportunidades de desenvolvimento económico.
 
      Eis-nos pois chegados à razão de ser deste texto; O Sistema de Certificação Energético (SCE) que foi revogado pelo actual Governo e substituído por outro, quanto a mim, mais eficiente e justo, impunha, acima de certa carga térmica - salvo o erro acima de 25 KW - o recurso aos sistemas centralizados do tipo referido, bem como auditorias periódicas bidisciplinares, qualidade do ar interior e índice de intensidade energética, a realizar por peritos qualificados - geralmente a cada 2 anos - e um técnico especializado dedicado. Isto depois de um complexo processo de acompanhamento e monitorização do projecto e da construção, quanto a mim excessivo, dispendioso e injusto. O caso é que, o SCE refletia nada mais nada menos que a tendência dos interesses técnicos e institucionais dominantes, em prejuízo de todos os outros. Ainda assim, ficaram os malfadados Certificados Energéticos que, nada mais são que um novo imposto para os proprietários que alimenta mais um ramo da economia parasita sob a qual definha o país.
 
      Sou pois defensor, por múltiplas razões de segurança, incluindo risco de incêndio e  múltipla contaminação, dos sistemas de água refrigerada associados a condutas de insuflação e extracção de ar exclusivamente para respiração confortável  das pessoas, nos grandes sistemas. Desta forma pode garantir-se quase em absoluto a ausência de humidade do interior das condutas - principal factor de risco da profusão bacteriana -, tal como a eficiência da desinfecção dos ventiloconvectores e terminais de ventilação.  Acresce a vantagem de dimensionamento mínimo das condutas, e, diga-se em abono da verdade, a perda de eficiência energética do sistema devido ao duplo diferencial térmico em jogo - no ventiloconvector e no evaporador.
 
   Face a tudo isto, nos edifícios de pequena e média dimensão, especialmente residenciais, e hotéis,  salvaguardado o arquitectónico, ganham relevância a utilização dos sistemas monosplit ou multiplit, que proporcionam acesso a uma manutenção eficiente; simples, económica e segura, permitindo ainda ao operador racionalizar os consumos energéticos aos ciclos de ocupação anuais, bem como programar a renovação faseada destes equipamentos, faseando os correspondentes encargos maximizando a capacidade operacional. Claro que isto não é do interesse das grandes empresas instaladoras a quem, pela via regulamentar, se está a entregar o sector, em nome da alegada e sacrossanta produtividade que tudo parece justificar; até a violação grosseira de disposições constitucionais, como o da igualdade de oportunidades e da não admissão do abuso de posição dominante.      

Zenit-Benfica (1-0)

      A equipa do Benfica evoluiu muito desde o anterior jogo com o Zenit o que justificava alguma esperança na vitória. Não aconteceu, mas, efectivamente, verificou-se que era possível. Com zero a zero ao intervalo - não vi a 1ª parte -, o Benfica entrou na 2ª parte a dominar, chegando mesmo a "asfixiar" com autoridade o adversário, o qual não arriscava muito além do seu meio-campo, por incapacidade ou por estratégia. Por três ocasiões os encarnados poderiam ter marcado mas disso não pode imputar-se responsabilidade ao adversário. Após os trinta minutos iniciais, o Zenit mudou de tática; subiu no terreno, povoou o meio-campo e abriu a frente de ataque, contando, eventualmente, com alguma desconcentração e desgaste físico do Benfica, o que veio a verificar-se no lance do golo em que Danny actuou sem marcação - mérito seu -, e Ulk, livre de pressão, fez o cruzamento fatal. Consumado o golo, o Zenit voltou ao registo anterior, colocando os seus jogadores nos primeiros quarenta metros aguardando tranquilamente pelo fim do jogo, a escassos dez minutos, ciente de que a ansiedade roubaria discernimento ao adversário.
      Julgo que faltou intensidade à equipa do Benfica, especialmente no período em que dominou, uma vez que se verificou algum descontrolo dos jogadores do Zénit, e faltou maturidade tática, quer neste período em que a concretização falha por défice de leitura de jogo - não houve acompanhamento dos lances -, quer no período subsequente em que se falharam vários passes e no lance do golo em que houve falta de marcação ao Danny.
      O Benfica fica assim de fora da Liga dos Campeões julgo que por ter sido apanhado em falso no início da competição em que a equipa estava em formação. Sorte para o Zénit e para o Bayer Leverkussen. Enfim, apesar de tudo foi uma equipa personalizada que tem ainda potencial de crescimento. Com algumas diferenças - Talisca esteve em baixo -, os jogadores encarnados, em geral estiveram bem - Luisão deveria ter rematado com o pé esquerdo ao 2º poste, ou com o pé direito ao 1º poste ou ter assistido o avançado, e César pareceu-me mal batido. 
      A equipa do Zénite mostrou maior disciplina táctica e beneficiou da excelente qualidade dos intervenientes no golo.
      Quanto à equipa de arbitragem, por momentos cheguei a pensar que o árbitro era o 12º jogador do Zénite, embora não tenha identificado erros grosseiros.
      Agora há que apontar as baterias para o campeonato e começar a planear adequadamente a próxima época.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A tragédia de um homem que condenou Portugal ao vexame! (Créditos a "O Corta Fitas")


por José Mendonça da Cruz, em 25.11.14
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 Os primeiros ministros não são todos iguais; os corruptos também não
O engano começou quando um pateta cunhou a frase «É a primeira vez que um primeiro-ministro é preso em democracia», e continuou quando outros o imitaram. A frase seria uma mera constatação de facto e, como tal,  irrelevante, se não viesse carregada da intenção de desculpar generalizando aquilo que é particular, como se a estrutura e a circunstância pessoal, política e moral de Sócrates fosse a mesma de Cavaco, Soares, Barroso, Guterres, Mota Pinto, ou Santana Lopes. Como se a Justiça, cega e volúvel, tivesse decidido ter agora um capricho ad hominem. Sejamos claros: o que realmente se passa tem pouco a ver com «a primeira vez que um primeiro-ministro foi preso em democracia»; e tem tudo a ver com a primeira vez que um primeiro-ministro suscita suspeitas fundadas de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro no exercício do seu mandato.
O engano continuou quando algum Teixeira ou algum Marcelino, ou alguma SicNotícias ou alguma TSF proclamaram que havia uma crise do regime, manifestada na sucessão de crises, a dos vistos gold e agora esta. A mesma intenção generalizadora e desculpabilizante preside a estes lamentos. E só essa intenção explica que se compare um caso (grave, sem dúvida, mas restrito a um domínio administrativo) de corrupção de altos funcionários do Estado  (os vistos gold) com aquilo que será, caso Sócrates venha a ser declarado culpado, a actuação de um primeiro-ministro cuja governação seria determinada não pelo bem público mas pela vontade de enriquecimento pessoal, acompanhada de manobrismo para ocultação dos meios ilícitos para esse enriquecimento.
 
soc e costa.pngO regime não está em crise. Com a justiça a funcionar e a penalização dos negócios obscuros que antes eram a norma, o regime está, sim, em rejuvenescimento -- como se viu no desmascaramento do BES, no ruinoso fim dos enredos da PT, e ainda mais claramente se suspeita que está a acontecer agora.
 
 Não se trata apenas de uma questão judicial; ela é política, política, política
Sob alegação de defesa da autonomia energética e de promoção da modernidade e das energias renováveis, os governos Sócrates outorgaram rendas excessivas a alguns operadores, submetendo os consumidores a tarifas pesadas e a um esquema absurdo em que pagam mais ainda que consumam menos. Mas, agora, é legítimo perguntar se as intenções virtuosas com que foi justificado esse sistema irracional e injusto não seriam apenas disfarces para uma vontade de proporcionar ganhos ilegítimos aos beneficiários da decisão, as eléctricas, e compensações pessoais para o decisor político.
Sob alegação de combate à interioridade, de modernização, de criação de emprego, de incentivo ao crescimento, os governos Sócrates promoveram Parcerias Público-Privadas rodoviárias com encargos líquidos futuros da ordem dos 8,7 mil milhões de euros, cujo peso se começaria a fazer sentir em 2014. Depois, inexplicavelmente, o governo Sócrates renegociou alguns desses contratos aumentando os ganhos dos privados e agravando os custos para o Estado. E, agora, é legítimo perguntar se estávamos apenas perante uma vontade de mostrar obra adiando os custos para futuros governos -- se estávamos perante mera leviandade, se estávamos perante mera e inexplicável incompetência -- ou se havia uma intenção de gerar negócios e colher percentagens.
Sob alegação de «estímulo à economia» o governo Sócrates aprovou em 2009 um pacote de investimento de dois mil milhões de euros -- obtidos a crédito no exterior porque nem Estado nem privados tinham já poupança interna suficiente --, aplicando a maior fatia na Parque Escolar, no que com irresponsabilidade ululante Maria de Lurdes Rodrigues classificou de «uma festa» para as escolas e para o país. Mas, hoje, é legítimo perguntar se a festa não terá sido mais unipessoal e clandestina.
Sob a alegação de «política de crescimento», os governos Sócrates lançaram Portugal na ruína económica e financeira (suspeitando-se hoje, enquanto Sócrates enriquecia). Esta política de TGVs, aeroportos e auto-estradas, esta política de vulgata keynesiana mal digerida, estes estímulos de milhões, estas «políticas de crescimento» saldaram-se (ao menos em termos nacionais) num falhanço retumbante e ruinoso. A taxa de crescimento do PIB per capita a preços constantes em 2009 era negativa: - 3,07%. O défice montou a 10%, fora as parcelas ocultas. A dívida pública subiu 20 pontos.
Ora estas políticas, estes métodos, estes resultados foram defendidos e em alguns casos até protagonizados pelo presidente do grupo parlamentar socialista e muitos deputados socialistas, por muitos membros da direcção do PS, e pelo novo líder socialista, António Costa. António Costa foi o número dois do primeiro governo Sócrates. Defendeu, protagonizou, subscreveu e promoveu estas políticas e estes caminhos. Defende-os e subscreve-os ainda agora, em declarações públicas e na sua moção ao congresso socialista. É, portanto, legítimo exigir de António Costa que explique como é que políticas falhadas teriam sucesso quando repetidas, e que razões tão prementes tem para insistir nelas.
Não, os membros do governo Sócrates e os dirigentes e militantes socialistas não serão todos criminalmente responsáveis caso José Sócrates venha a ser considerado culpado. Mas são todos responsáveis politicamente, e essa responsabilidade é ainda menos relevável no caso dos que protagonizaram, defenderam e ainda defendem as políticas do primeiro-ministro da bancarrota. No mínimo, avaliaram mal o carácter do primeiro-ministro e a bondade das suas políticas. No máximo, foram cúmplices.
(E, se se confirmar a culpa de Sócrates, e após considerarmos os corolários políticos, devemos exigir que a justiça se ocupe do que se passou... na justiça e na investigação criminal. Ou seja, qual foi ou não foi o papel de Pinto Monteiro, na PGR, de Noronha do Nascimento, no STJ, e de Candida de Almeida, no DCIAP, nos estranhos obstáculos, prescrições, arquivamentos e destruição de provas em processos que envolviam José Sócrates.)
 
 Ainda há votos para os profetas do passado?
imagesCT2Z8SLD.jpgTêm razão Vasco Pulido Valente e Fátima Bonifácio, tem razão o primeiro-ministro francês Manuel Valls, o socialismo é arcaico (e presunçoso), e perdeu qualquer utilidade ou papel no mundo moderno, que não compreende e enjeita. É assim em todo o lado. Os socialistas do nosso torrão penduram-se em alguns estribilhos: a «solidariedade», as «políticas de crescimento», a «defesa do Estado Social». São noções vazias de sentido, ou que falharam sempre que foram tentadas, e que sempre pressupõem uma redistribuição da riqueza que não existe. Perante essa falência, e para se preservarem alguma noção de vanguarda, os socialistas enveredam por «questões fracturantes», as quais, além de lhes proporcionarem um pouco com que se engalanarem, produzem sobretudo desarticulação nas sociedades, nomeadamente envelhecimento da população, decréscimo da população activa e das contribuições sociais, e desestruturação das famílias e das comunidades. Politicamente, o socialismo é passado. Economica e financeiramente, o socialismo é a ruína. Mas os estribilhos e as ilusões ainda embalam muita gente. Legitimamente, devemos perguntar-nos hoje quantos serão os iludidos, e quantos e quem serão os venais e cínicos escondidos sob a capa da demagogia.
Em 2005, votaram num Sócrates que nada recomendava 2 588 312 eleitores. Em 2009, votaram num Sócrates que tudo recomendava que fosse afastado 2 077 695 eleitores. Pode ser que em 2015 o número de iludidos e burros (e a hoste dos corruptos) ainda ultrapasse o milhão.

"Há sempre alguém que resiste..." (Créditos a António Balbino Caldeira em O Portugal Profundo)


Prisão de Sócrates: análise e novos factos



A.B.C. (2009). Cela da Priogione Nuova. Palazzo Ducale, Venezia.


Pronto!

No histórico dia 21-11-2014, pelas 22:45, no aeroporto de Lisboa, vindo de Paris, José Sócrates foi detido a pedido do procurador Rosário Teixeira(que liderou o inquérito, com uma equipa de procuradores e peritos da Autoridade Tributária) e por decisão do juiz Carlos Alexandre, alegadamente por indícios da prática dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Com ele, e no âmbito daOperação Marquês, foram detidos: o seu velho amigo e alegado testa de ferro, Carlos Manuel Santos Silva; o advogado Gonçalo Ferreira; e o seu motorista, João Perna.

Comento: primeiro, faço uma análise política; depois, refiro e relaciono alguns factos novos. Devido à abundância de fontes publicadas, reduzo os linques ao essencial.


1. A análise política
A detenção de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa culmina uma batalha de nove anos e nove meses travada neste blogue, desde o meu poste de 22-2-2005, «Os cursos de Sócrates» (dois dias depois de ter tomado do Governo). Nesta batalha também sofri a SLAPP de um processo no habitual jogo de «assédio, intimidação e diversão», e silêncio forçado durante seis meses, enquanto durava a presidência de Portugal da União Europeia, desde o 15-6-2007 quando ironicamente fui constituído arguido por fax, por queixa apresentada pelo «cidadão José Sócrates e primeiro-ministro enquanto tal» no inquérito judicial que desencadeou contra mim (ver o meu livro «O Dossiê Sócrates», pp. 40-47)  até ao 24-1-2008, quando foi noticiado pela TVI que o processo contra mim tinha sido arquivado (e eu desapareci na direção do pôr-do-sol), não tendo o primeiro-ministro recorrido do despacho de arquivamento nem deduzido acusação particular contra mim, lá saberá ele porquê. E, na sequência disso, o meu livro «O dossiê Sócrates», de setembro de 2009, sobre o percurso académico do primeiro-ministro, que a editora Leya desistiu de publicar (veja-se o meu poste «Os amigos são para as ocasiões», de 9-3-2010). Apenas me interessou o político, a sombra da corrupção e a crueldade ditatorial. Nenhum mal quero à pessoa - rezei por ele neste sábado - e desejo que, depois de cumprir o que a justiça lhe determinar, possa ter, fora da política, uma vida longa e feliz - é este o disclaimer moral que aqui prego.

José Sócrates escapou, entre outros, aos seguintes casos e processos:
  1. Sovenco, empresa de distribuição de combustíveis na Amadora, em que foi sócio com Armando Vara, Fátima Felgueiras e Virgílio de Sousa.
  2. Progitap, quando trabalhou nesta empresa dos irmãos Geraldes Pinto, na angariação de clientes (câmaras municipais);. 
  3. Resin, empresa que ganhou várias concessões de recolha e tratamento de resíduos urbanos, alegadamente mediante as ligações a José Sócrates e Fátima Felgueiras; 
  4. Cova da Beira, de aquisição de um terreno polémico para um aterro sanitário, e projeto e seleção de construtoras pelo seu grande amigo António José Morais, a Conegil do seu amigo Santos Silva ganhou o concurso; 
  5. Siresp, do seu amigo Horácio Luís de Carvalho (HLC), num contrato polémico, renegociado pelo seu governo, de 485 milhões de euros (e que alegadamente deveria ter custado um quinto desse valor) para o sistema de comunicações das forças de segurança.
  6. Licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente: releia-se, além do que consta do meu livro, o despacho das procuradoras Cândida Almeida e Carla Dias, de 31-7-2007, de arquivamento do inquérito por queixa do advogado José Maria Martins sobre alegada utilização de documento falso, o certificado de licenciatura da Universidade Independente, datado de 26 de agosto de 1996, com timbre com indicativo telefónico «21» e código postal com sete dígitos que só vieram a ser criados cerca de dois anos depois; e o rápido despacho de arquivamento, da coordenadora da então coordenadora do  DCIAP Cândida Almeida e da procuradora Carla Dias, datado de 3 de abril de 2012, datado de 3 de abril de 2012, sobre a participação criminal do advogado Alexandre Lafayette, em 20 de março de 2012, estando no tribunal administrativo de Lisboa em análise a eventual declaração de nulidade da sua licenciatura, com base emqueixa do ex-vice-reitor Rui Verde, em 29-4-2013.
  7. Freeport, apesar de denunciado, por alegadamente ter recebido 2,5 milhões de euros para licenciamento de um centro comercial, não chegou sequer a constituído arguido, apesar dos indícios e evidências que se podem ler no acórdão de 20-7-2012 e certidão extraída, do Tribunal do Montijo do Círculo do Barreiro, presidido pelo desassombrado juiz Afonso Andrade. Na sequência desse processo, José Luís Lopes da Mota, do Eurojust, em consequência de umapartipação interposta pelo Movimento para a Democracia Direta, em que fomos depois representados pelo advogado Alexandre Vieira, no âmbito de um inquérito disciplinar, sancionado pelo Conselho Superior do Ministério Público com um mês de suspensão, em dezembro de 2009.
  8. Face Oculta, onde chegou a ser suspeito por ter ordenado a compra à PT, de Zeinal Bava, dos meios de comunicação nacional que não controlava - TVICorreio da Manhã Público.
  9. Taguspark: alegado pagamento de 750 mil euros ao ex-jogador Luís Figo para o apoio deste à campanha eleitoral de José Sócrates nas legislativas de 2009.
Pode ver-se uma súmula breve de alguns destes casos feita por Micael Pereira, no Expresso de Ricardo Costa, «As sombras de Sócrates», sendo curioso o facto de na peça se escrever: «Um blogue [sic!].esteve na origem da divulgação do caso, em março de 2007».

Os motivos da prisão de Sócrates conhecidos são vários:
  1. O alegado negócio de venda a si próprio, através do seu amigo Carlos Santos Silva (colocado no Grupo Lena), da casa onde morava sua mãe, na esquina da Rua Brancamp com a rua Castilho, em Lisboa,para justificar a sua fortuna com a herança (que era relativamente modesta) da sua mãe, que terá dado origem ao processo, após «comunicação bancária» (CGD).
  2. O financiamento do seu luxuoso apartamento com «250 metros quadrados (...) à beira do rio Sena», em Paris (que comprou por 2,8 milhões de euros e já pôs à venda por quatro milhões), onde até constou que tinha mordomo, mas «por muitas outras coisas», presume-se mais ainda do que o Correio da Manhã e o Sol (e no passado «O Crime», de José Leite) têm profusamente listado. 
  3. A aprovação, no Orçamento de Estado para 2010, do Regime Excecional de Regularização Tributária (RERT II) de exoneração de obrigações tributárias mediante o pagamento de 5% (em vez dos quase 40% que teriam de ser aplicados no imposto sobre rendimento de milhões) de que, alegadamente, beneficiou ele mesmo (tal como havia feito em 2005), através da vinda a Portugal, nesse ano, para serembenzidos, 20 milhões de euros, depositados no banco suíço UBS, alegadamente obtidos em luvas de negócios corruptos de Estado. 
  4. As alegadas «faturas forjadas» para justificar transferências de dinheiro, num alegado esquema complicado de lavagem de dinheiro que, alegadamente, envolve o administrador da Octapharma Portugal, Joaquim Paulo Lalanda de Castro, para a qual Sócrates trabalharia como Presidente do Conselho Consultivo para a América Latina (um título pomposo e vazio, à medida de Sócrates...), mais o seu testa de ferro Santos Silva e o seu advogado Gonçalo Ferreira, que alegadamente lhe levantam e entregam todos os meses 10 mil euros em numerário, além de Santos Silva transferir mensalmente 12 mil euros da sua/dele conta para offshore inglesa em nome de Paulo Castro (para pagar a avença da Octapharma a Sócrates, que seria simulada para fisco ver?). Porque um dos problemas de Sócrates era justificar o dinheiro desbaratado numa vida faustosa, como Felícia Cabrita conta no Sol, de 22-11-2014, «entre viagens de férias, velhos vícios e a renda do andar em Paris», sendo que este utilizaria preferencialmente «no dia-a-dia dinheiro vivo». 
  5. financiamento do mestrado em Ciência Política, na Sciences-Po, na investigação do qual terá colaborado o fisco francês.
  6. A alegada participação do motorista de Sócrates no esquema de fornecimento de dinheiro vivo ao ex-primeiro-ministro, João Perna: no CM, de 24-11-2014, «Motorista caçado com malas de dinheiro» e noPúblico, também de hoje, que titula «Motorista de Sócrates ia de carro levar o dinheiro a Paris», o que fazia periodicamenteO motorista parece ter funcionado como «correio do dinheiro» (DN, 24-11-2014) para Sócrates, que não arriscava o transporte de grandes somas. A equipa de investigação liderada por Rosário Teixeira, e com supervisão do juiz de instrução Carlos Alexandre, usou o método utilizado pela CIA para apanhar Ossama ben Laden: vigiar o correio eseguir os seus movimentos.
  7. CM, de 24-11-2014, titula ainda «Apanhado nas escutas do "Labirinto"», referindo-se à operação do DCIAP/TCIC sobre a venda ilegal de vistos dourados. Em 20-11-2014, já tinha feito, neste blogue, a ligação entre o setor mendista e o setor socratinono poste «sistemalabiríntico», uma matéria que o jornalista José António Cerejo explorou no Público, de 23-11-2014, p. 12, «Arguido dos vistos dourados está ligado á multinacional em que Sócrates trabalha».
  8. Além destes factos, a curiosidade demonstradora da sua personalidade, de, alegadamente, segundo o Sol, de 22-11-2014, ter comprado trinta mil exemplares do próprio livro que publicou «A confiança no mundo», de forma a fazer subir o livro no ranking de vendas nacional. 
O inquérito e a detenção do ex-primeiro-ministro foram possíveis porque perdeu a proteção dos aparelhos de poder: procuradoria, Governo e Presidente da República. Porque os serviços de informação não tiveram força suficiente para o defender e falharam a manobra concertada dossocialistas e dos mendistas para destituir Passos Coelho. Porque o DCIAP de Amadeu Guerra não é o mesmo que o de Cândida Almeida, tal como Joana Marques Vidal não é Fernando Pinto Monteiro. Ainda que Sócrates pareça ter tido informação interna das diligências da investigação, que o terá eventualmente levado a uma alegada manobra de ilusão, após ter feito o check-in em Paris, estando a equipa de detenção à sua espera no aeroporto de Lisboa e com o seu advogado logo no dia seguinte a manifestar a disponibilidade para Sócrates prestar esclarecimentos ao DCIAP (CM, 22-11-2014) - é a essa  fuga de informação que tem de se dar prioridade eminquérito na Procuradoria... De outro modo, os corajosos magistrados do Ministério Público, com Rosário Teixeira à cabeça, e o destemido juiz Carlos Alexandre, sofreriam uma «canelada» (como pretendia Ferro Rodrigues sobre o processo Casa Pia, em 2003) e seriam afastados indiretamente do caso.

A solidez dos factos enunciados e a impopularidade da fortuna de José Sócrates levaram ao seu isolamento político mesmo no Partido Socialista e na Maçonaria. António Costa foi cauteloso, como não foi em 2003, no caso Casa Pia quando interferia no processo, nomeadamente em 21-3-2003: «Pá, talvez o teu irmão seja altura de procurar o Guerra». O PS parece não querer arriscar outra campanha rosa-choque contra a justiça. Na verdade, a detenção de Sócrates dá jeito a António Costa, um general que tem acesso a dinheiro (por isso, não abandona a câmara municipal de Lisboa), mas não tem tropas: dependia de Sócrates e continua a depender dos ferrosos. Uns e outros é que lhe arranjaram os sindicatos de voto que lhe permitiu ganhar a António José Seguro. O ex-líder socialista, Seguro, aliás, devia agora falar da corrupção que soube, da espionagem e pressão de que foi alvo e dos sindicatos de voto que o derrotaram, para percebermos como foi tramado.

Do lado de Sócrates, apenas alguns fiéis: Edite Estrela, João Soares,Marinho e Pinto e a bastonária da Ordem dos Advogados Elina Fraga e ovice-bastonário Rui da Silva Leal que sem conhecer o processo afirmou que «a detenção é absolutamente ilegal» por, em sua opinião, não estarem cumpridos os requisitos da mesma (!), Clara Ferreira AlvesSão José Almeida, o socialista ferroso Pedro Adão e Silva, Pedro Marques Lopes e mais um ou outro em justificações nuancées. O objetivo de desviar a atenção da substância dos factos para a vitmização mediática do ex-primeiro-ministro parece estar a falhar, apesar da intervenção subreptícia dos editores de confiança.

Mas o desfecho de sexta-feira, que como disse o nosso comentador A Mim Me Parece «morreu politicamente», também só foi possível, pelo combate patriótico persistente e apoio à autonomia da justiça por muitos (e esqueço tantos...): blogueiros, como este Do Portugal Profundo, enriquecido com os contributos de tantos comentadores, o irmão José da Porta da Loja, Helena MatosVítor Cunha e outros no Blasfémias, André Azevedo Alves e outros no Insurgente, o Manuel da saudosa Grande Loja do Queijo Limiano, Joaquim do Palavrosavrus Rex, Rui Costa Pinto do Mais Atual, Fernando Melro dos Santos da Caverna Obscura, Ana Mendes da Silva, Luís Botelho Ribeiro, Ramiro Marques e tantos outros; jornalistas como Manuela Moura Guedes,Carlos EnesAna Leal, José António Cerejo, António José VilelaPaulo Pinto MascarenhasJosé Leite e Alte PinhoOctávio RibeiroJosé António Saraiva, José Manuel Fernandes no Público e agora no ObservadorFrancisco José Viegas, e outros; e opinadores, como Eduardo Cintra TorresJoão Miguel TavaresPaulo Morais, Alberto Gonçalves, o falecido poeta Manuel António Pina e outros, além dos sacrificados, como Fernando Lima, fora magistrados e polícias que arriscaram o serviço corajoso de investigar e julgar o Mal. Esse fluxo teimoso de informação e de opinião, que muitos desprezavam como persecutório, mas que tinha o objetivo político do bem público, produziu o ambiente de resistência patriótica à corrupção de Estado e à deriva autoritária do socratismo e da entente cordiale que, após sair do poder, o abrigou, até na televisão pública. Agora, como dizia um professor meu (Tempo de Vésperas, 1971, pp. 19-201), é o tempo dos «trabalhadores da undécima hora»:
«[Os velhos lutadores] lembram-se de debates onde a esses não lhes escutaram palavra; recordam-se de combates onde eles não correram para alinhar à chamada; falam de tempos magros em que não os viram participar das carências; apontam riscos passados onde os mesmos sempre chegaram a tempo a lugares seguros. (...) Os trabalhadores da undécima hora só prosperam quando as batalhas forem ganhas, os tempos cumpridos, os sonhos realizados. Não são os que ficaram silenciosos, os que não participaram na acção, que fizeram o mundo em que vivemos. Acontece que estão lá na época da colheita. Os que fazem o mundo são outros, são os que transformam as ideias em pa­lavras e as palavras em acção. Uma máxima antiga que é bom lembrar de tempos a tempos. É porque os velhos lutadores estiveram nos debates, responderam à chamada para o combate, participaram das carências, correram todos os riscos, que chega algum dia em que batem as pancadas da undécima hora. Os construtores do mundo, de uso não têm mais do que dez horas para viver. A colheita em regra não lhes pertence.»
Sic transit gloria mundi: os mesmos que o carregavam na sedia gestatoria de papa do sistema são aqueles que agora juram que sempre o criticaram e recomendam severidade no castigo. Ou, estando mais comprometidos, calam-se e escondem-se: surpreende como o seu amigo Daniel Proença de Carvalho se resguarda (apesar de lhe defender o motorista, através de Daniel Bento Alves) e Sócrates tem de recorrer a João Araújo para o defender. Porém, está Paula Lourenço, natural da Covilhã e alegada amiga de Sócrates, que foi chamada a defender Charles Smith (o do que foi apanhado num video, no caso Freeport, a afirmar que Sócrates «is corrupt» e que lhe fazia chegar «brown envelopes» com três e quatro mil euros, por causa do licenciamento do centro comercial) e que os média noticiaram que defende, pelo menos, dois dos outros três arguidos. Como já foram ouvidos, os outros três arguidos (o testa de ferro Carlos Santos Silva, o seu advogado Gonçalo Ferreira e o motorista João Perna), e Sócrates é o único a ser ouvido na manhã de 24-11-2014, parece ter havido a necessidade urgente de esquecer as aparências (salvo no sorriso ostensivamente encenado de Sócrates na saída do TCIC e entrada nos calabouços da PSP...), parar com a diversão de João Araújo (que estava a correr mal, segundo se viu das reações aos média...), centralizar a defesa e destapar a artilharia.


2. Factos, factos, factos!
O problema de José Sócrates é que, tendo uma infância sofrida (deixado ao pai, pela sua mãe, que ficou com o seu irmão) e uma adolescência e juventude com pouco dinheiro, não abdica dos prazeres, a que o seu estilo o compele. Em contraste com a maioria daqueles que obtém ilegalmente grandes fundos e que, pelo menos em Portugal, procuram não exceder um nível de vida que os rendimentos declarados permitem, e de políticos que se conformam com o poder, que tudo permite, Sócrates não abdica do dinheiro e do fausto que os milhões alegadamente arrecadados lhe permitem, seja em restaurantes e hotéis de nomeada, seja nos «velhos vícios» (que Felícia Cabrita refere no Sol, de 22-11-2014).

Em contraste com os 2,25 milhões, segundo o Público, de 23-11-2014, que constituíriam os rendimentos obtidos entre 1987, quando chegou a Lisboa como deputado, depois de trabalhar como engenheiro técnico na Covilhã, e 2014, Sócrates teria um património de 23,2 milhões de euros (incluindo os 20 milhões que o jornal diz estarem na Suíça, na conta do amigo, e a casa de Paris). Segundo Felícia Cabrita, em notícia do Sol, de 22-11-2014, dos 20 milhões de euros do dinheiro de Sócrates, «com o resgate do BES e a passagem para o Novo Banco, metade da fortuna já foi transferida para outra instituição bancária». E se assim foi, como se diz, arriscaria José Sócrates (o alegado dono do dinheiro da conta de Carlos Manuel Santos Silva, um ex-falido construtor civil da Covilhã, um «bom rapaz», conforme me descreveu uma fonte local), ou outra pessoa, manter todo o seu dinheiro em Portugal, à mercê das autoridades? Ainda em cima, nesta hipótese imprudente, manteria a sua alegada fortuna no BES, um banco cuja circunstância precária tinha obrigação de conhecer? Não serão os alegados 20 milhões de euros apenas o pocket money para Sócrates viver dos juros em Portugal, mantendo-se o grosso da fortuna em paraísos fiscais mais seguros do que a nova Suíça?

Não conhecendo senão o que vem nos jornais, e portanto sem saber o que foi investigado e conseguido, creio que devo contribuir referir alguns factos para investigação sobre José Sócrates:
  1. Apurar a aquisição das valiosas obras de arte que José Sócrates possui. Se for provada a origem ilegal dos fundos e do património, apreender a sua coleção de arte, com urgência.
  2. Apurar a sua intervenção nos casos da venda da Vivo e de compra da Oi, no Brasil. O saldo na venda da participação da PT de 30% da Vivo, entre o veto de Sócrates ao negócio, usando a golden share do Estado, em 30 de junho de 2010, e a sua permissão, 28 dias depois, é de 350 milhões de euros (7.500.000.000 - 7.150.000.000 = 350.000.000). Também a compra da Vivo suscitou dúvidas em Portugal e no Brasil.
  3. Apurar a sua intervenção na centena de parcerias público-privadas, além dos negócios feitos com o grupo Lena em Portugal e no estrangeiro (Venezuela).
  4. Apurar o papel de Sócrates, se existiu, na tomada do BCP pelos seus amigos, nomeadamente Armando Vara, com a concessão pela Caixa Geral de Depósitos a Joe Berardo de 500 milhões para aquisição de ações do banco (decidida por administradores da Caixa que meses depois transitaram para... a administração do BCP).
  5. Apurar o relacionamento de José Sócrates com o grupo Espírito Santo, referido, pelo CM, de 21-10-2012, nomeadamente Ricardo Salgado, atendendo a uma conversa do ex-primeiro-ministro com José Maria Ricciardi do grupo BES, numa conversa em que se tratam por tu (!), Sócrates lhe diz que não consegue falar com Ricardo (Salgado) e lhe pede que «não se esquecessem do amigo que está em Paris». 
  6. Apurar a sua intervenção, se houve, na alteração do Regulamento do Parque Natural da Arrábida que determinou a modificação do regime de exploração das pedreiras de cimento da Secil no Outão, em 23-8-2005.
  7. Apurar a utilização dos cartões de pagamento do Tesouro (Visa IGCP Carge Card), não apenas os usados pelo chefe de gabinete e pelo assessor administrativo de Sócrates, mas também pelos ministros, secretários de Estado e membros dos seus gabinetes, dos seus governos, com plafonds muito elevados, um processo por queixa da Associação Sindical de Juízes Portugueses, liderada pelo juiz António Martins, em fevereiro/março de 2012, que aparentava estar parado no DIAP e que só em junho de 2014 foi noticiado algum avanço.
  8. Apurar a sua intervenção, se alguma, na venda de títulos de dívida pública pelo IGCP (de Alberto Soares), na época de subida da taxa de juro portuguesa, que culminou no pedido de resgate financeiro do País à União Europeia e FMI, feito por José Sócrates em 6-4-2011.
  9. Apurar a regularidade da sua inscrição no mestrado em Ciência Política na Sciences-Po, e a validade do título se vier a ser decretada a nulidade da sua licenciatura, e como foi elaborado o seu mémoire, escrito em francês (!) ou em português com tradução para francês, e se contou com a ajuda de alguns nègres conhecidos, ou não. 
  10. Apurar o seu controlo, a sua tutela e a sua orientação, dos serviços de informação do Estado que procederam a ações claramente ilegais de perseguição de cidadãos inocentes durante os seus anos de poder e que continuaram, aliás, depois disso, através das suas toupeiras rosa e seus aliados salmão.

Nestes factos, como no caso em inquérito e noutros, importa apurar a verdade. Se Sócrates nada fez, melhor para ele; se infringiu a lei, que cumpra o que for determinado. Não se trata de vingança - a qual não pratico, nem aceito. Trata-se de justiça e de sanção pedagógica para a limpeza do Estado. Justifica-se que fique em prisão preventiva, tendo em conta a gravidade dos factos e, para lá do alarme social de que os média nacionais e internacionais dão conta, a forma como se moveu relativamente à investigação.

A guerra patriótica de limpeza do Estado não termina com esta batalha de nove anos e meio, nem com o vazio da vitória. Continua. Porque corrupção de Estado há muita: não tem apenas a anterior tonalidade rosa-choque nem a futura rosa-salmão, mas todas as cores do espectro do abuso, compreendendo também o laranja escura e o azul celeste e o vermelho. Este desfecho de uma etapa, não pode iludir os portugueses de que o problema da corrupção de Estado fica resolvido. A democracia representativa está no estertor em Portugal, Espanha, França e um pouco por todo o Ocidente e verifica-se a oportunidade de uma democracia direta, com eleições primárias nos partidos para todos os candidatos a cargos eletivos no Estado (deputados, presidentes de câmara municipal, etc.) maior responsabilização dos políticos e referendos mais frequentes. Mas nem a democracia direta, por si só, sem vigilância, eliminará o mal. Mais, se falharmos a reforma da democracia, podemos ser vencidos pela emergência do autoritarismo. Aqui, e na vida, nunca distingui, nem distinguirei cores, nem protagonistas, no penoso esclarecimento da verdade e no sacrificado serviço do Bem. E, enquanto Deus me permitir, assim continuarei o trabalho patriótico por um Portugal livre, digno e justo.


Pós-Texto (22:36 de 24-11-2014): Prisão preventiva
O TCIC comunicou há pouco, cerca das 22:30, em transmissão em direto das TVs, as diligências efetuadas na detenção e na inquirição dos arguidos daOperação Marquês, os crimes de que são acusados e as medidas de coaçãao aplicadas, promovidas por Rosário Teixeira e decididas pelo juiz de instrução Carlos Alexandre. Notes-se que a demora na comunicação há-de ter sido devida a incidências processuais e não pode ser sacada ao juiz e a referência aos tempos de inquirição úteis para a reçaão da legalidade observada.

Os crimes de que os arguidos foram indiciados são:

  • José Sócrates e o seu amigo Carlos Manuel dos Santos Silva estão indiciados dos crimes de corrupção, de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais.
  • O motorista João Perna está indiciado dos crimes de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais e ainda detenção de arma proibida.
  • O advogado de Carlos Santos Silva, Gonçalo Teixeira, está indiciado dos crimes de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais. 
As medidas de coação decretadas pelo juiz Carlos Alexandre foram:
  • a José Sócrates foi aplicada a prisão preventiva e vai cumpri-la no estabelecimento prisional de Évora;
  • a Carlos Manuel Santos Silva, amigo e alegado testa-de-ferro do ex-primeiro-ministro, foi aplicada a prisão preventiva;
  • ao motorista João Perna foi aplicada a prisão preventiva;
  • ao advogado de Carlos Santos Silva, Gonçalo Ferreira, foi aplicada a apresentaçãao bisemamanl no DCIAP e proibição de contacto com os arguidos do processo.

Nesta momento de vitória numa batalha muito longa e contínua, de nove anos e nove meses, é o momento de saudar os heróis da magistratura, o procurador Rosário Teixeira e a sua equipa de procuradores, os peritos da Autoridade Tributária e polícias envolvidos, e o juiz Carlos Alexandre. Procurador Rosário Teixeira que há-de ter tido a coragem de propor e o juiz Carlos Alexandre que assumiu perante o País a responsabilidade e a firmeza de de decretar, sem medo, a prisão preventiva.

Há um juiz em Lisboa! Um juiz que só, isolado senão pelo apoio que os patriotas sem poder sempre mantiveram, arrostou com a perseguição sinistra e vigilância ditatorial dos serviços de informação, que sofreu intrusão em sua casa, de roubo e de ameaça de morte dos seus filhos, de tentativa de assassinato de sua mulher, de escutas, de assédio das antenas do PS e da Maçonaria, e seus aliados, nos órgãos superiores das magistraturas. Um homem sem medo, destemido perante suspeitos de corrupção nacionais e estrangeiros, objeto de perseguição pessoal de serviços estrangeiros em Portugal em ligação aos serviços portugueses (!), vítima de difamação em jornais de Luanda criados especificamente para o atacar, com textos claramente escritos em Portugal por defensores sem lealdade nem caráter.

Há procuradorés em Lisboa e no resto do País, como o paciente e obstinado Rosário Teixeira, sem ceder perante as dificuldades da prórpia lei enviesada pelo sistema, o resto da sua equipa, e todos aqueles procuradores e juízes que, ao longo dos anos, foram castigados por ter ousado pôr em causa o modus operandi do socratismo.

E há a desvergonha dos média controlados, dos editores dependentes dosistema, alguns sentindo o fim do seu poder, dos opinadores viciosos amigos que tentam desviar a atenção da gravidade das imputações de fortuna inexplicada e de corrupção para a forma da detenção, o mediatismo que eles próprios organizam para vitimização e da inquirição e das medidas de coação.

E há um Estado para recriar num País farto de corrupção, de falta de democracia e da perseguição da liberdade de informação e de opinião, É nesse trabalho cívico que temos de persistir, orque não temos ilusões: temos vontade. E temos uma missão de serviço da Pátria que nos move.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

As teias da FIFA: créditos a Raquel Vaz-Pinto em Malomil

Malomil: Crime no Expresso de Zurique-Moscovo-Doha:       aqui     A 2 de Dezembro de 2010 o Expresso da FIFA saiu de Zurique em direcção a Moscovo e, finalmente, Doha. ...

domingo, 23 de novembro de 2014

A equipa de andebol do Benfica está de parabéns


Aqui vai o meu grande abraço de parabéns à equipa de andebol do Benfica. Foram uns bravos; cheguei a pensar que iam levar duas  valentes coças, ontem e hoje, mas mostraram carácter, lutaram sempre e venceram perante equipas fortíssimas, apurando-se para a fase seguinte da prova. Muito bem; é desta matéria que o Benfica é feito.

sábado, 22 de novembro de 2014

Benfica-Moreirense (4-1)

      Boa dinâmica inicial, sobretudo a nível ofensivo, com dois golos de alta nota artística, seguido-se algum abrandamento e "empastelamento" do resto da partida até ao excelente golo de Sálvio, perante uma boa equipa que, embora moderadamente, teve de se abrir, sofrendo as consequências da ousadia, como qualquer outra que o faça perante o Benfica.
 
      Os jogos a eliminar, em geral, traduzem-se em maior dinâmica, abertura e espetacularidade que os de campeonato, onde cada equipa já tem um ponto antes de o jogo se iniciar.
 
E siga!

A propósito da legionella pneumóphila (1)

      Com a crise finalmente controlada, na qual aas autoridades públicas revelaram um desempenho exemplar, ficou claro para o público em geral que a bactéria legionella, se alojada nos pulmões pode matar, desenvolvendo-se em ambientes aquosos entre os 20 ºC a 45 ºC. Todos os locais de produção de aerossóis aquosos àquelas temperaturas representam riscos sérios que importa prevenir. A nível doméstico além da adequada higiene geral da habitação, devem purgar-se regularmente os terminais menos usados dos circuitos de água quente e fria e desinfectar-se regularmente os prelectores das torneiras e os chuveiros. Nos espaços públicos deve ser tratada e monitorizada com regularidade adequada a água de balneários, piscinas, fontes, cascatas, pântanos (especialmente urbanos), dispositivos de rega, etc. A nível industrial, antes demais deve controlar-se suficientemente a qualidade das águas não provenientes da rede pública e proceder-se à higienização de todos os aparelhos relacionados, entre os quais os dispositivos de arrefecimento por efeito evaporativo; torres de arrefecimento e condensadores evaporativos, produtores por excelência de aerossóis aquosos, estes, veículos capazes de transportar a bactéria centenas de quilómetros por acção do vento, dificultando a identificação do local de emissão.
 
      Mas para que servem aqueles equipamentos?, serão indispensáveis?
 
      Utilizam-se no processo de condensação dos sistemas frigoríficos ou de ar condicionado de elevada potência térmica ou de arrefecimento de fluidos, nos mais diversos processos, fazendo uso do elevado calor latente da água - 540 Kcal/Kg  - cerca de 30 vezes o calor dissipado pela variação de 5 ºK da água a 25 ºC  - 4,182 Kj/Kg.K  - e cerca de 62 vezes o calor dissipado pela variação de 10 ºK de ar seco a 20 ºC - 1,012 Kj/Kg.ºK . Isto constitui uma das principais vantagens do processo evaporativo que, para a mesma potência térmica se traduz numa redução substancial de superfície de permuta e de dimensões globais do condensador ou arrefecedor. Mas não é só; o efeito evaporativo permite reduzir a temperatura de condensação/arrefecimento com ganhos importantíssimos de eficiência do respectivo sistema. Por exemplo; a temperatura de condensação, utilizando como meio arrefecedor o ar seco a 30 ºC e 40 % de humidade relativa, é de 40 ºC, considerando um diferencial de 10 ºK - condição de projecto do condensador, mas será de 30 ºC utilizando um condensador evaporativo uma vez que, para as condições do ar indicadas, a correspondente temperatura de bolbo húmido é de 20 ºC (ver diagrama psicométrico do ar). Daqui resulta um importante ganho de eficiência de todo o sistema - 10 % a 15 %, grosso modo -, valor relevantíssimo na factura energética em unidades desta envergadura, conferindo-lhes importância estratégica no "combate" ambiental  em curso pela eficiência energética.
 
   Mas não é tudo. A decadência do uso dos fluidos frigorigénios antropogénicos, nomeadamente, os hidrofluorocarbonetos, durante décadas considerados um dos grandes "milagres" da ciência, aos quais, actualmente, se atribui parte da responsabilidade do malfadado efeito de estufa e da degradação da camada de ozono, veio dar aos "velhos e anacrónicos" frigorigénios naturais - amoníaco anidro, dióxido de carbono e hidrocarbonetos -, reforçada projecção,  cuja utilização nos é imposta pela UE que tal como a ONU e a maioria das nações,  segue religiosamente a duvidosa cartilha do PIAC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) liderado pelos fundamentalistas do Greenpeace com o contributo de alguns pseudo-cientistas. Ora, o amoníaco anidro, tendo propriedades termodinâmicas muito favoráveis aos sistemas frigoríficos de compressão mecânica, sem impacto na camada de ozono nem no efeito de estufa, apresenta temperaturas de compressão relativamente altas, especialmente nos sistemas de baixa temperatura, que pode conduzir à sua degradação por decomposição - que se verifica acima dos 100ºC -, do respectivo compressor e à perda de eficácia todo o processo. Por aqui se vê a importância do uso dos condensadores evaporativos nestes sistemas nos países de temperatura média/alta, como é o caso de Portugal durante a época estival.
 
Eis-nos então chegados à  razão deste texto; os imperativos ambientais vigentes induzem a proliferação do uso do amoníaco e dos condensadores evaporativos e com isso aumenta exponencialmente o risco de acidentes pessoais por acção da legionella. Confesso que a tentação do recurso à ironia é irresistível; embora não assumido abertamente pelas comunidades política, científica e ambientalista, a crer na "doutrina" predominante, a razão primordial dos alegados distúrbios ambientais reside na excessiva carga humana do planeta, que, a mal ou a bem, terá de ser controlada. Nesta perspectiva, nós, europeus já vamos à frente, com uma taxa de natalidade negativa aumentamos o potencial de acidentes mortais dos exemplares  cidadãos. Sempre em frente!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014