Desporto

sábado, 13 de julho de 2013

Abel Xavier; um senhor!

A imagem que guardo de Abel Xavier é a do tremendo cabeceamento que só a trave, milagrosamente, salvou um super Barthez e a seleção francesa da derrota naquela meia-final do europeu de 2000, (era Treinador Humberto Coelho). Um lance dos que elevam o futebol a desporto de eleição, apenas ao alcance dos  grandes jogadores. Fantástico!
 
Também no célebre Leverkussen - Benfica - dos 4-4, (era Toni o Treinador) - que, recentemente, passou na Benfica TV, Abel Xavier foi o autor de um dos mais belos golos, com um remate fortíssimo, do "meio da rua", a reduzir o marcador para 2-1, com assistência milimétrica desse grande jogador e Benfiquista que foi e é Rui Costa. 

Após a longa "travessia do deserto" na sequência dos incidentes no final do jogo com a seleção francesa, que haveriam de custar-lhe severo castigo desportivo, e a imagem algo exótica que assumiu, fizeram-me pensar que Abel Xavier estava definitivamente perdido para o futebol. Passou-se, pensei! Enganei-me! Reergueu-se e prosseguiu a sua carreira em clubes de topo europeu! Não é para qualquer um! Além da qualidade desportiva é necessário ter um caráter muito forte para superar tamanhas contrariedades.

Porém, foi na entrevista que deu à Benfica TV no Zona de Decisão, que percebi em maior extensão a insuspeita solidez e coerência do seu discurso quanto aos temas do futebol e fiquei a conhecer a determinação com que  na adolescência, marcada pela escassez material característico no Vale do Jamor, lutou pelos seus objetivos, que, com lucidez, descobriu no futebol. Nesta entrevista, ficou bem patente a importância que teve para si o suporte familiar e a amizade-solidariedade. Surpreendentemente, revelou que a sua adesão ao islamismo não foi mais uma aberração exótica, mas antes, uma espécie de regresso às referências religiosas da infância, conformes à tradição familiar dos seus progenitores em Moçambique, como, aliás, era corrente por aquelas paragens.

Tudo isto vem a propósito do anúncio do início da sua carreira de Treinador na equipa da Olhanense. É mais um desafio para o qual apresenta as credenciais de uma carreira de relevo, de uma história de vida digna, de uma retórica coerente e do carisma, que, com engenho, soube cultivar. Porém, num clube com fortes ligações ao Porto nos últimos anos, como interpretar a contratação de um Técnico afetivamente ligado ao Benfica? Será mais um sintoma da ansiada regeneração do futebol português? A constatação do início da inexorável decadência da trafulhice que tem minado o desporto nacional?  O início da libertação dos clubes "menos grandes" do jugo do sistema materializado pela Olivedesportos e quejandos? A ver vamos. Certo é que, hoje, todos os clubes têm uma alternativa de financiamento até aqui quase exclusivamente dependente do "sistema", sabe-se lá a que custos. Nós Benfiquistas, bem sabemos o que nos tem custado. Esperemos que seja o princípio do fim da pouca vergonha.

BOA SORTE!