Desporto

sábado, 25 de janeiro de 2014

Benfica-Gil Vicente (1-0)

Num jogo em que o Benfica apresentou uma equipa pouco rodada, o Gil Vicente, que já mostrou, esta época, bom futebol, remeteu-se a uma defesa maciça demonstrando, mais uma vez, o estado deplorável em que se encontra o futebol nacional, caracterizado pelo pobre espetáculo desportivo resultante da enorme diferença desportiva entre grande parte dos concorrentes. Também aqui, as reformas necessárias são inviabilizadas, precisamente, pelo clubes menos competitivos. É o designado nivelamento por baixo que, de modo geral e salvo exceções, tem afetado a sociedade portuguesa nas últimas décadas, razão primeira do estado de exiguidade a que chegámos.
 
Muita dinâmica dos vermelhos, naturalmente desejosos de mostrar serviço ao Técnico, sempre na busca do golo. Pressão sobre a bola, amplitude e profundidade. Algum atabalhoamento nos cruzamentos, meia-distância interessante e jogo aéreo incipiente. Em especial, interessava-me ver o Steven, o Djuricic, o Mori, o Bernardo e o Hélder. O lance que precedeu o golo foi bonito de ver; o Mori merecia o golo naquela entrada de cabeça ao cruzamento de Cavaleiro à qual sucedeu a recarga portentosa de Suleimani, que não brinca em serviço. Na grande penalidade, aquele, denunciou o remate, que o excelente GR contrário não teve dificuldade em defender. Muito bem estiveram Amorim e Cavaleiro induzindo roturas no adversário, cada um ao seu estilo. Bernardo e Hélder protagonizaram bons apontamentos no reduzido tempo que estiveram em campo. Ainda tenho dúvidas no lance do canto direto de Gomes; terá a bola ultrapassado a linha de baliza?, este, mais uma vez, mostrou a sua aptidão para os remates de meia-distância dos quais a equipa tem andado carenciada.
 
Como referi acima, a equipa do Gil Vicente defendeu com tudo, muito recuado, abusando do anti-jogo e de alguma complacência do árbitro da partida.
 
Enfim, ganhando, os jogadores deram boas indicações ao Treinador, alargando o leque de alternativas para a equipa principal. Uma boa utilidade dos jogos da Liga. 

Promoção do jogador nacional; hipocrisia e cinismo

Longe vão os tempos em que os jogadores de futebol portugueses afirmavam, com alguma razão, sentir-se mercadoria na mão dos clubes. Hoje, invertidos os papeis, parecem não se importar com a  condição de mercadoria nem com a sorte dos clubes que os acolheram, desde que daí retirem benefício. Por isso, em geral e salvo exceções, não têm autoridade moral para formular juízos de natureza ética relativamente aos clubes que lhe pagam os salários. Nem os seus representantes; empresários ou sindicalistas. 
 
Antes de mais, compete aos Estados criar condições para a promoção desportiva da população, seja através do desporto escolar seja através do apoio  às Associações Desportivas, algo que Portugal, desde sempre, negligencia, revelando-se incapaz de perceber a importância do desporto na educação da população, apesar de, há já dois mil e tal anos a sociedade helénica ter por adquirido. São os clubes, com todas as suas fraquezas que tratam da formação e promoção dos atletas em todas as modalidades. Sem clubes, o desporto em Portugal seria pouco mais que nulo.
 
Gerir um clube de futebol, hoje, é tarefa ingrata, devido aos inúmeros fatores aleatórios que a condicionam. Como em qualquer outro caso, um clube de futebol deve ser gerido por critérios de racionalidade, e, se há cada vez menos jogadores nacionais nas equipas principais dos maiores clubes, talvez a causa não resida exclusivamente na alegada irracionalidade dos seus dirigentes. De todo o modo, Joaquim Evangelista poderá sempre fundar o clube do Sindicato e mostrar-nos como se faz, concorrendo nas inerentes provas desportivas. Então sim, ganharia a admiração de todos. Protestar e reivindicar, sendo necessário quando justo, não passa de hipocrisia e cinismo quando injusto; como é o caso. 
 
É a União Europeia, os Estados, a FPF, a UEFA e a FIFA, que têm a maior quota de responsabilidade na situação atual. Não se valorizam jogadores com fracas equipas. O Sporting é um caso paradigmático; não tira proveito da excelente formação que tem devido às equipas pouco competitivas que apresenta. Os jovens atletas, logo que começam a despontar, receosos da estagnação nas suas carreiras, pela mão de ambiciosos e oportunistas empresários, com desculpas hipócritas, apressam-se a procurar outras paragens sem o menor escrúpulo pelo clube que, esperançosamente os financiou e promoveu a sua formação. Os exemplos são muitos e bem conhecidos, não só no Sporting mas também no Benfica.
 
Evangelista - alegadamente, sportinguista - deixou este clube de fora da sua crítica, como se não soubéssemos todos que o  contingente de jovens portugueses que apresenta na equipa principal se deve ao grave estado de penúria financeira em que se encontra. Que a atual brisa de ar fresco que parece pairar sobre o clube e o futebol português talvez se deva ao iminente incumprimento daquele face aos seus credores, os efetivos mandantes do futebol, os quais, quem sabe, terão percebido, finalmente, o esgotamento do modelo da batoteira preponderância portista, à vista da inevitável  falência global do futebol nacional.
 
Cerca de dez milhões de euros por ano é o que custa a formação num grande clube!, na altura de colher os frutos pacientemente cultivados, são os empresários e os atletas que, cinicamente ofendidos, se apressam a recolhê-los, deixando os clubes de mãos quase a abanar. Para bem do jogador Português, do futebol nacional e do senhor Evangelista! Ter-lhe-á ocorrido que, moderando os salários talvez fosse possível maior recrutamento de jogadores nacionais?...provavelmente não, ou, se ocorreu, logo se levantou o argumento do mercado, ou seja; o atleta pode jogar com o mercado, já o clube não!
 
Desconhece Evangelista que, apesar dos contratos, os clubes se tornaram, hoje, reféns dos jogadores, estes aplicando-se como lhes convém e ao seu empresário?, estabelecendo compromissos secretos, por ilegais, com quem quer que seja, incluindo rivais do clube de origem, a troco de maior estipêndio? No entanto, se, efetivamente, se pretende - e deve - valorizar o jogador nacional, torna-se necessário proteger o clube formador. Que faz o sindicalista, para moderar esta situação?, nada!, que eu saiba. Porém, protagonismo não lhe falta.
 
Perceberá Evangelista os danos na formação e na promoção do jogador nacional causados pela subjugação do futebol aos interesses do Porto e dos clubes do norte em geral, em detrimento de todos os outros?, perceberá que o hiato na formação do Benfica se deve, em última análise, a essa circunstância?, perceberá que o definhamento do Sporting tem muito a ver com ela?, percebendo, que contributo tem sido o seu para contrariar o atual estado de coisas?
 
Não devemos, porém, ignorar as consequências da integração no espaço europeu, da qual emerge o conceito de cidadão europeu, cujas inevitáveis consequências se traduzem - por enquanto - na relativização dos nacionalismos e, por extensão, dos clubes nacionais. Como testemunho disto mesmo, assistimos, cada vez com maior frequência e sem espanto, ao recrutamento de jovens formandos nos clubes nacionais por parte dos colossos europeus.
 
Claro que aqueles, devem apostar mais nos jogadores portugueses...mantendo-se solventes e competitivos. No atual contexto, é uma tarefa que extravasa em muito a sua competência.
 
Não é assim Sr Evangelista?