Desporto

domingo, 16 de dezembro de 2012

Chapéu de chuva


Correio da Manhã 15 de Dezembro de 2012, pág. 33

"Quando aqui cheguei a decisão já estava tomada pelo árbitro", observou, e negou interesse em contratar Izmailov e Labyad (Sporting), mas não fez o mesmo em relação ao central Reyes - está na rota do Benfica (ver pág. 32) -, considerando-o "interessante". Abordou, ainda, as críticas às arbitragens: "Fala-se sempre, enquanto existir o Gomes da Silva [vice do Benfica]. Estar sempre a falar dos árbitros é ridículo e estúpido."

A preocupação de Pinto da Costa em informar apressadamente os jornalistas de que nada tivera a ver com a decisão do adiamento do jogo, revela a perfeita consciência que tem da convicção geral do ascendente que detem sobre toda a estrutura do futebol, estrutura essa que não ousa contrariar os seus explícitos ou implícitos desígnios. Revela ainda ser do interesse do clube que dirige o adiamento do jogo com o Vitória de Setúbal, clube historicamente amigo.

Acredito que tenha havido razões regulamentares para o adiamento mas não confio no juízo de Pedro Proença que se tem revelado condicionado em momentos capitais de alguns jogos que decidiram campeonatos em favor do clube do engenheiro-chefe. E sei, sabemos todos, que o relvado encharcado favorece a equipa técnica e táticamente menos dotada. A “exemplar estrutura” não corre riscos, mesmo com adversários amigos. Por isso é “exemplar”. A compulsiva e proverbial aquiescência das estruturas e agentes do futebol aos seus insanos interesses constitui uma agressão a todos os outros pseudoconcorrentes, impotentes ante tão revoltante discriminação desportiva.

Numa ilustração contundente, Joaquim Oliveira protege Pinto da Costa dos pingos da chuva - não vá o Sr Pinto constipar-se - e ao fazê-lo, ilustra o seu papel ao serviço da “exemplar estrutura”; segurar o chapéu de Pinto da Costa, poupando-o dos pingos da chuva! Entenda-se; proteger o clube da fruta de percalços financeiros, de adversários desalinhados, de comentadores incómodos; garantir ao clube dos rebuçadinhos a docilidade dos adversários, a anuência dos órgãos institucionais, a cumplicidade envergonhada ou descarada de agentes políticos e judiciais garantes da impunidade geradora de indignação e revolta dos Portugueses de Lei.

 A negação do interesse nos atletas do Sporting não convence os que não reconhecem a tal personagem nobreza de caráter suficiente para respeitar um adversário em grave crise desportiva e financeira, convictos de que, qual abutre, não hesitará em tirar partido da desgraça alheia para a qual, afinal, deu precioso contributo, ainda que indireto. O interesse por Reys faz parte da obsessão visceral que tem pelo Benfica, mais fazendo supor ser este clube o verdadeiro amor da sua vida.

Indignado com a “inoportunidade” das críticas ao desempenho das equipas de arbitragem a quem o clube dos chocolatinhos tantos títulos deve, atribuidas a Rui Gomes da Silva, mas não ao ponto, suponho, de o mandar castigar com 11 meses de suspensão nem de o mandar espancar à porta de um qualquer restaurante do "seu" território guardado a seu contento  por uma diligente PSP, o Sr Pinto parece ter-se esquecido de que, muito antes do Sr Rui Gomes da Silva, já ele era “catedrático” na matéria.

Em vez de dizer baboseiras, o Sr Costa prestaria um excelente serviço ao futebol e aos Portugueses de Lei, se lhes conseguisse explicar a razão pela qual só progridem na carreira os árbitros que erram em benefício do seu clube. Parece que o Sr Costa só “consente” críticas a árbitros efetuadas por si próprio ou pelos seus correligionários, revelando-se incapaz de entender a sua crescente e inexorável insignificância à qual em breve se juntará o compulsivo remorso, visto que ninguém pode ser feliz semeando ódio.

Faria bem o Sr Pinto, se esclarecesse as dúvidas que pairam no espírito de muitos portugueses acerca das razões que o levaram, há cerca de vinte a trinta anos, a recuar na sua decisão de abandonar o futebol, que tão benéfica teria sido para quase todos. É que, há quem recorde as notícias veiculadas na imprensa da época atribuindo tal facto a um alegado pedido de última hora do Sr Guterres, por escrito, propondo o estabelecimento de uma estratégia comum com vista à regionalização, para a qual seria importante o seu contributo dada a sua suposta capacidade de controle “politico-desportivo” dos adeptos do clube  a que preside e dos portuenses em geral. Eventos posteriores de natureza política parecem corroborar tal tese e seria bom que esse assunto fosse esclarecido de uma vez por todas para ficarmos a saber quem é quem, nesta debochada democracia.

Sr Costa, apesar de não faltar quem lhe segure o chapéu, mais cedo que tarde a chuva cair-lhe-á em cima, libertando finalmente o futebol do seu nefasto contributo.

AB

Benfica-Marítimo (4-1)


Simpatizo com o atual Marítimo, sobretudo pelo estilo do seu treinador, o Pedro Martins; competente, respeitador e defensor do seu clube e respetivos atletas. Pôs o Marítimo a praticar bom futebol mesmo após a contrariedade que representou a atribulada saída do Kléber empenhando-se no seu trabalho em vez de andar por aí a lamentar-se das contingências da vida de Treinador. Os seus comentários ao jogo de hoje na flash-interview confirmaram a sua sobriedade, algo raro nos treinadores portugueses, reconhecendo a superioridade do Benfica recusando a desculpa fácil da grande-penalidade para justificar o peso da derrota.

O jogo iniciou-se numa toada moderada, com o Benfica a assumir o comando da partida procurando chegar cedo ao golo da tranquilidade. Apesar da posse de bola e dos sucessivos lances ofensivos, tal como referiu Jesus, a dinâmica era algo pastosa tornando os lances previsíveis confirmando o padrão característico desta época de frequentes falhas de concretização por má qualidade do último passe.

Num lance algo fortuito mas sempre ocorrível, como são todos os de bola parada sobre a área, o Marítimo faz o 1-0 contra a corrente do jogo. Sem se perturbar, a equipa do Benfica continuou a desenvolver o seu jogo com grande destaque para o jovem Matic, que mais parecendo ter quatro pernas, aparecia em todo o lado, recuperando bolas e propulsionando a equipa ofensivamente, onde o inevitável John fazia a cabeça em água aos pobres defesas adversários, sacando naquele seu estilo blues, sucessivos cruzamentos geralmente mal direcionados contrariamente ao que lhe é habitual.

Foi assim que o golo do empate surgiu com naturalidade e com qualidade desde a construção pelo neófito Gomes à assistência in-extremis por Sálvio e ao encosto fatal do inevitável Cardozo. Bem poderíamos ter chegado ao intervalo a vencer pelo menos pela diferença mínima mas, quer o acerto da defesa maritimista, quer a sorte do jogo da mesma, quer a falta de intensidade e precisão nos lances por parte dos avançados benfiquistas, tal não sucedeu.

A equipa do Marítimo não trouxe o autocarro; pressionou alto, colocando dois ou três jogadores na área do Benfica e povoou bem o meio campo, tentando recuperar cedo a bola e impedir a construção ofensiva adversária, trocando a bola com racionalidade e abrindo bem a frente de ataque onde os extremos não raro faziam estragos, sacando alguns cruzamentos bem venenosos. Porém, a superioridade técnico-tática da equipa do Benfica foi-se impondo com naturalidade, encostando  o adversário à sua área por longos períodos.

A sufocante dinâmica ofensiva benfiquista acabaria por gerar o lance da grande-penalidade, concretizada pelo Cardozo no seu novo estilo soupless, ficando os maritimistas reduzidos a dez unidades, mais preocupados a partir de então em evitar a goleada do que a tentar empatar a contenda, apesar dos esforços do rápido Sami e do David Simão. Seguiu-se o terceiro pelo matador da partida e o quarto, num lance de grande categoria concluído a preceito pelo talentoso Rodrigo. Esperara o poker, que esteve ao alcance do Tacuara, e torci pelo golo do Lima, que não se poupando a esforços, marcando ou não, sempre faz mossa em qualquer defesa.

A equipa de arbitragem cometeu alguns erros irrelevantes, face ao desfecho do jogo, mas que poderiam e deveriam ter sido evitados; dois foras de jogo mal assinalados ao John e ao Matic (salvo erro) em lances de grande perigo, fora de jogo não assinalado no lance de golo do Marítimo, grande penalidade mal assinalada já que precedida de falta de Matic - puxou o braço ao defesa - e grande penalidade não assinalada sobre Maxi pelo Ricardo.

Faço votos para que a renovação das equipas de arbitragem continue a processar-se, acabando o mais rapidamente possível com as arbitragens assassinas, dos proenças, xistras, vascos, olegários, elmanos, dias e quejandos, que atraiçoam o trabalho de Dirigentes, Técnicos e Atletas, bem como as legítimas espetativas dos adeptos do futebol, ao decidirem a sorte das contendas e das provas.

Fora com toda essa gente que há décadas envenena o futebol graças à complacência de um país eminentemente corrupto. 

AB