Desporto

sábado, 1 de agosto de 2015

A "chafurdice" do futebol

   
Desenganem-se os que esperam que, as pessoas, as instituições ou as nações se movem por princípios éticos; não é verdade. A retórica da ética, do humanismo, da solidariedade, não passa disso mesmo, salvo honrosas excepções. O interesse é o motor de todas as dinâmicas pessoais ou institucionais. Dizem as teorias liberais que estas são as dinâmicas do progresso, caracterizadas por uma turbulência resultante do permanente conflito de interesses.  Toda a entropia social e política a que assistimos actualmente constituiria pois o processo de ascensão a um novo patamar sociopolítico. Pode ser. Pode ser que também seja assim no futebol. No entanto, quando o poder moderador do Estado é capturado por uma ou algumas das partes, o resultado só pode ser o retrocesso. E é assim que estamos; no futebol e no país. 

   Como se previa, o "dragão de oiro" Pedro Proença foi eleito para a Presidência da Liga e, como se esperava, disse logo ao que vinha; retirar o controlo da arbitragem da Liga e entregá-la a nova instituição participada pela Liga e pela Federação. Naturalmente "para bem do futebol". E em que consiste o bem do futebol?, simples; nas vitórias do Porto!, na Pax portista!

   Proença subiu na arbitragem graças aos títulos que as suas actuações proporcionaram àquele clube e continuará a fazê-lo, seja na Liga, seja na UEFA, onde integra o Comité de arbitragem. Recordemos que o Porto perdeu todos os campeonatos sempre que lhe escapou o controlo da Liga; Cunha Leal, Hermínio Loureiro e Mário Figueiredo-Luis Duque. Falhada a tentativa de afastamento de Vitor Pereira do Concelho de Arbitragem, reconstituída a Sport TV, fácil foi arregimentar aderentes à causa, clubes cronicamente insolventes, prontos a prestar vassalagem ao poder do momento.

      O projecto de Mário Figueiredo é o único caminho para a viabilização do futebol nacional; maximização das receitas pela concentração na Liga da negociação dos direitos  dos clubes, abertura a vários operadores, distribuição mais equilibrada, reforço da competitividade e incerteza nas provas, supressão do controlo "remoto" da Liga e dos clubes por qualquer entidade externa, afastamento dos clubes sem autonomia. Projecto fracassado pela cobardia da maioria dos clubes, que abandonaram quem elegeram, e dos patrocinadores, que retiraram os financiamentos, apavorados com o previsível confronto dos poderes que há décadas dominam o futebol nacional, graças à influência política, ao potencial financeiro e ao domínio dos bastidores do futebol. 

   Qual Phoenix, a Sport TV reformulou a sua estrutura e o seu poder, com o contributo do "perdão de dívida"  do BCP e do BES - na verdade, conversão de dívida em capital -, com a adesão dos principais operadores do cabo, o contributo de capitais angolanos, o apoio de Amorim na direcção executiva e a supervisão de Proença de Carvalho, o homem que abre todas as portas. Noutra vertente, depois do desmantelamento do grupo  Pidá, outra organização estava já no terreno - ao que consta com 200 homens só em Lisboa -, ambos com ligações informais ao Porto, constituindo, ainda que implicitamente, importante meio de dissuasão de elementos com influência desportiva capazes de prejudicar os interesses daquele clube. Com a Liga na mão, com o apoio dos idiotas úteis, outros passos se seguirão até ao regresso do domínio total. Voltará então ao discurso da inevitabilidade e naturalidade dos erros humanos e da estupidez dos críticos. 

   Tal como o país relativamente a Bruxelas, também os clubes desistiram de si próprios, preferindo a paz podre conferida pela subjugação aos tiranos, na expectativa de umas migalhas ou de menor exposição às inevitáveis agressões por dissidência.

   Confesso porém, que, por vezes, chego a pensar que tudo isto não passa de uma enorme encenação. Razões não faltam. O futuro se encarregará de o demonstrar. A ser verdade, o futebol, inapelavelmente, caminha para o abismo. Ou talvez não!, afinal, o povo sempre gostou de circo.

PS. Luis Duque foi instrumentalizado com o fim de afastar Mário Figueiredo da Liga. Agora foi atirado borda fora sem apelo nem agravo. O Presidente do Benfica, mais uma vez, foi ultrapassado, graças à sua postura conciliadora; tem obrigação de saber que com Pinto da Costa, os acordos são sempre para perder. Deveria ter assumido frontalmente a posição de Mário Figueiredo e ter-se afastado do processo subsequente. Quanto ao sorteio ou nomeação dos árbitros, tendo em conta o campeonato transacto no qual o Porto foi o mais beneficiado, também preferia o sorteio. Mas não realizado pela Liga; teria de ser um processo público por entidade idónea e método insusceptivel de manipulação.