Desporto

segunda-feira, 31 de março de 2014

Braga-Benfica (0-1)

Porque raio de carga de água foi Rodrigo marcar a grande penalidade?, a lição de Gil Vicente não chegou? Rodrigo está em grande forma mas não tem rotina de marcação destas faltas, ao contrário de Lima, que, tendo apurado a técnica e o controlo emocional, dá mais garantias. Em vez de ficarmos a penar até ao último instante, tinha-se resolvido logo ali o assunto.
 
De resto, foi um bom jogo, com o Braga, mesmo sem vários dos habituais titulares, a mostrar bom futebol, pressionando forte à saída da área do Benfica  e no meio-campo, trocando bem a bola e explorando os flancos a preceito, donde saiam os cruzamentos para os avançados que, por pelo menos duas vezes, iam fazendo estragos na baliza de Oblak.
 
Respondeu bem o Benfica, com uma disciplina tática e um coletivo assinaláveis, quer a pressionar alto quer a recuperar bolas a meio-campo, sempre com grande entreajuda, fechando linhas de passe ou, simplesmente, lutando pelo esférico. Gaitan, que de resto esteve muito bem em todo o jogo, ia molhando a sopa bem cedo falhando apenas na rotação após ter ultrapassado Eduardo. O lance do golo foi mais um hino à competência; recuperação por Enzo com lançamento para o extremo Rodrigo, que, depois de ludibriar o indeciso defesa, teve a supina arte de levantar a cabeça antes de fazer o passe bem a jeito de Lima, o qual, por sua vez antecipando o lance, ganhou posição aos defesas sem perder de vista o posicionamento de Eduardo, para então, com rotação, encostar, sem hipótese de defesa. Há nesta jogada, desde o início, toda uma série de pequenos detalhes que constituem a causa do sucesso; por um bocadinho se marca, por um bocadinho se falha.
 
Gostei muito do Siqueira - cuidadinho com o cotovelinho que pode dar amarelinho ou mesmo vermelhinho -, e do Sílvio - que está a ganhar o lugar. Luisão teve momentos de deficiente leitura de jogo, Fejsa sendo um lutador, deve ter mais cuidado com as faltas, Markovik defendeu muito bem, Gaitan, Lima e Rodrigo estiveram soberbos. Enzo esteve no lance do golo e não percebi bem o que o deixou prostrado no relvado alguns minutos, que parece tê-lo debilitado para o resto do jogo. Nalguns casos houve injustificada cerimónia no remate; diz o aforismo que o ótimo é inimigo do bom e bem sabemos que, na área, não há tempo para procurar a melhor condição para finalizar. Sem remate à baliza, não há golo com certeza.
 
Quanto a Proença e sua equipa, fiquei admirado, pois não me recordo de erros grosseiros - tenho dúvidas na falta causadora da grande penalidade.
 
Parece haver algo diferente no ar...elogios ao Benfica do Treinador do Braga, depois de Manuel Machado ter feito o mesmo...vitória com Proença...!,terão finalmente compreendido que, sem idoneidade, o futebol e os clubes morrem?, terá o desfecho da época passada contribuído para isso?, quanto valerá o futebol nacional sem o entusiasmo dos benfiquistas?´
 
Há ainda um longo caminho a percorrer, nada de foguetório antes do tempo.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Porto-Benfica (1-0)

Derrota tangencial que deixa a eliminatória em aberto para o segundo jogo a realizar na Luz, no qual a equipa do Benfica poderá usar os seus melhores argumentos desportivos, sobretudo se a questão do título estiver em conformidade com os seus intentos. A equipa do Benfica apresentou-se sem seis dos habituais titulares - Oblak, Siqueira, Enzo, Gaitan, Markovic e Lima -, resguardando-os para o próximo compromisso do campeonato, enunciada primeira prioridade para esta época. No entanto, nada justificava a passividade patenteada durante toda a primeira parte, contrastando com a elevada intensidade com que o Porto entrou e que viria a decidir o desfecho do jogo. Tal, é o resultado do antecedente discurso de desvalorização deste encontro por parte dos Técnicos do Benfica. É certo que pode ter-se conseguido melhorar a competitividade de alguns jogadores, com ganhos futuros, mas também é certo que o resultado reduz o diferencial anímico entre as duas equipas, com algum conforto para os azuis, atenuando uma época mal conseguida. E deveria ter sido ao contrário; este jogo deveria ter servido para o Benfica afirmar a sua indiscutível superioridade. Ao colocar mais velocidade na segunda parte, especialmente após as entradas de Gaitan, Lima e Markovic, a equipa equilibrou a partida tendo-se superiorizado durante alguns períodos, conseguindo mesmo algumas boas oportunidades de golo já com o adversário desnorteado, duas delas anuladas em última instância por Fabiano, ficando demonstrado que com um pouco mais de intensidade outro resultado teria acontecido. 
 
Suleymani trabalhou muito, Sálvio aproxima-se da boa forma, Cardozo ainda está longe dela, Sílvio trabalhou muito e bem e Artur esteve bem, com algumas boas defesas e sem responsabilidade no lance do golo; a bola foi rápida e muito bem colocada. Do lado do Porto houve muita intensidade com agressividade, tendo criado algumas boas oportunidades além da do golo, dominando durante toda a primeira parte e perdendo o controlo da partida na segunda, especialmente na última meia-hora, em que alguma desorientação foi notória.
 
A equipa de arbitragem deixou por sancionar atletas que praticaram jogo violento - Herrera e Fernando poderiam ter lesionado gravemente Fejsa e Sálvio -, perdoou uma grande penalidade ao Porto cometida sobre Luisão e deveria ter assinalado falta de Martinez sobre Garay no lance do golo.
 
Enfim, há que aguardar pelo segundo jogo na Luz para acerto de contas, sem esquecer que, de momento, o mais importante é concentrar forças para o jogo de Braga onde a vitória abriria o caminho para o almejado título. 

segunda-feira, 24 de março de 2014

Aquecimento global retroativo?

Espectador interessado: Boletim meteorológico para ontem: Foi o título que roubei da  crónica de José Diogo Quintela no Público de ontem, a propósito deste estudo  sobre o "clima" em Port...

Benfica-Académica 3-0)

Afinal não foi assim tão difícil. A equipa do Benfica respira confiança e talento individual e coletivo. Não que a Académica tenha sido uma equipa fácil, porque não o foi; tentou discutir o jogo conseguindo ainda tirar a tinta ao poste na primeira parte e um remate de cabeça muito perigoso já na segunda. O caso é que o Benfica está a jogar bem, com excelente dinâmica, trocando a bola a preceito, bom posicionamento e talento qb a fazer a diferença no momento certo. Oblak libertou o potencial futebolístico da equipa, há muita solidariedade e concentração. E assim deve continuar até ao fim.  O cruzamento para o 2º golo foi um primor de execução; fantástica aquela trajetória curva a pedir encosto de Lima. Lima que, qual águia real, fizera já o primeiro num lance de grande oportunidade e concentração. Muito bem. Também o 3º resultou de um belo trabalho de equipa e muita garra e serenidade de Enzo que, embora em queda, soube enviar a bola para o fundo da baliza, num belo gesto técnico. Não fora a barra e Sérgio Conceição, que respeito, teria ficado ainda mais triste, pois quer o remate de Sálvio quer o de Rodrigo mereciam melhor sorte.
 
O árbitro pareceu-me bem, apesar de ter perdoado uma grande penalidade ao estudantes - faz de conta -, numa falta sobre Lima ainda na primeira parte.
 
Enfim, demos mais um passo em frente rumo ao título. Esta equipa sabe o que quer...e o que nós, adeptos, queremos.

sábado, 22 de março de 2014

sexta-feira, 21 de março de 2014

José Luis Merlín - Suite del Recuerdo; A magia da guitarra sulamericana...





Manuel Beninger: Entrevista concedida por SAR o Duque de Bragança à...

Manuel Beninger: Entrevista concedida por SAR o Duque de Bragança à...: Entrevista concedida por S.A.R. o Duque de Bragança à edição de hoje do Diário de Notícias, a propósito dos 40.º aniversário do 25 de Abri...

Benfica-Tottenham (2-2)

Apesar do susto dos últimos quinze minutos, a equipa do Benfica confirmou a sua maior valia perante um adversário de respeito; leal e generoso. Confortável com o resultado do primeiro jogo, fiel aos princípios já enunciados, Jorge Jesus manteve apenas o setor defensivo e Ruben Amorim, aproveitando o jogo para melhorar os índices competitivos de vários atletas - André Gomes, Slimani, Djuricic, Sálvio, Cardozo -, cujo contributo se espera valioso na reta final da época.
 
Reagindo à pressão inicial do Tottenham, foi com naturalidade e classe que  o Benfica fez o primeiro golo, mais uma vez, num esplêndido cabeceamento de Garay, neste caso respondendo a um magnífico centro de Sálvio. Sentindo a eliminatória na mão, a equipa entrou em processo de controlo, fazendo circular a bola em todo o campo com intensidade moderada, dando a certa altura a impressão de que o adversário estava conformado. Erro grave que poderia ter sido fatal; já na ponta final do jogo, o Tottenham empata num belo lance individual virando o resultado logo a seguir, com o golo obtido em posição de fora de jogo. E lá ficámos aflitos, e com razão; apesar da evidência da superioridade da equipa do Benfica, em três ocasiões o empate da eliminatória esteve à vista e só não aconteceu graças a Oblack e a Luisão - mais uma vez fantásticos. Foi Lima - que substituira Cardozo - que, na exemplar conversão de uma grande penalidade, colocou um ponto final na contenda. Que sirva de lição. Mais uma vez.
 
Sálvio parece próxima da boa forma, como ficou patente em várias arrancadas pelo seu flanco, culminando uma delas com o cruzamento do golo. Cardozo parece ainda algo perro tendo chegado a ensaiar o seu potente pé esquerdo. Muito bem Slimani, André Gomes e Djuricic, os quais, sem terem efetuado jogadas vistosas, trabalharam muito para a equipa. Markovik entrou na reta final substituindo Sálvio, tendo mantido o seu flanco bem ativo. Julgo que Máxi, tendo jogado bem, necessita de maior concentração na abordagem dos lances - faz muitas faltas - e na recuperação da posição, após as perdas de bola.
 
O Tottenham, foi uma equipa generosa, direta e muito física que, parecendo conformada, induziu algum relaxamento no adversário, que lhe ia sendo fatal, ficando aqui provada a importância da estratégia.
 
A equipa de arbitragem não me pareceu mal, contudo, a validação do 2º golo dos ingleses poderia ter originado a reviravolta na eliminatória. Na tal ponta final também fiquei com dúvidas em vários lances, dos quais o Benfica saiu prejudicado.
 
Enfim, a exigência vai aumentando e a equipa vai correspondendo com grande serenidade. Parecem todos muito concentrados. Oxalá o tema do campeonato fique resolvida cedo para então se concentrar esforços nesta prova, que por pouco nos escapou na época transata.
 

terça-feira, 18 de março de 2014

BLOG DE LESTE: É MAIOR QUE PORTUGAL

BLOG DE LESTE: É MAIOR QUE PORTUGAL

Presidente da Liga ferido em acidente rodoviario

Presidente da Liga ferido em acidente rodoviário



Mário Figueiredo, um homem de coragem no futebol, vítima de tentativa de homicídio?, não me admirava mesmo nada, estórias não faltam!, numa democracia exígua, não se enfrenta o sistema impunemente.






domingo, 9 de março de 2014

Benfica Estoril (2-0)

A equipa do Benfica mostrou, neste jogo, que quer e pode ser campeão nacional esta época. Era o que se impunha. Aumentam os níveis competitivos da equipa induzindo maior respeito nos adversários, sobretudo pela sobriedade da atitude de todos.
 
A amarga recordação do jogo da época anterior na Luz com o Estoril e a excelente época, deste, em curso, com destaque para a recente e surpreendente vitória sobre o Porto, fazia temer um jogo bem difícil. Não foi. A equipa do Benfica entrou determinada marcando cedo dois belíssimos golos. Fantástico o cabeceamento de Luisão - poderoso e descendente  -, e soberbo o remate de primeira de Rodrigo a dar sequência ao fabuloso cruzamento de Siqueira. Uma palavra define ambos os lances: competência. No posicionamento, no cruzamento e na finalização. Muito bem! Igualmente soberbo foi aquele que teria sido o terceiro tento, por Lima, a culminar bonito lance coletivo, não fosse o juiz de linha ter errado na avaliação do fora-de-jogo (será o mesmo que, na época passada, deixou por assinalar o fora-de-jogo no lance que deu o golo do empate ao Estoril e que nos custou o campeonato?). Na retina ficou ainda a tremenda arrancada de Rodrigo, já na 2ª parte, a bater três adversários, não logrando desfeitear o guarda-redes contrário, cujo posicionamento pedia chapéu, em vez do remate direto.
 
A ganhar por 2-0, a equipa acionou o jogo passivo; entregou a bola ao adversário, baixou as linhas e preparou-se para o contra-ataque. Resultou, mais uma vez, apesar de nos ter sujeitado a alguns calafrios. Fiquei com a impressão de que, nesta fase, alguns jogadores apresentaram alguma displicência devido a passes injustificadamente falhados e à não recuperação das respetivas posições quando a equipa perdia a bola. Com alguma sorte não sofremos golo no livre que levou a bola ao poste após desvio na barreira. Oblack nada podia fazer, visto que estava no lado contrário. Não pode ser; baixar o ritmo implica maior concentração tática e não o contrário. A equipa do Estoril sabe jogar, tem boa atitude, tem jogadores com qualidade e assume o jogo em todo o campo. Ora, hoje, qualquer equipa que o faça contra o Benfica, arrisca-se a perder. E o Estoril, bem que poderia ter sofrido mais um ou dois golos.
 
Oblack teve pouco trabalho, mas, mesmo nos lances simples, a segurança com que atuou transmitiu confiança à equipa e aos adeptos. Luisão e Siqueira estiveram soberbos, tal como Fejsa, Enzo, Gaitan - fantástico canto -, Lima, Rodrigo e Markovick. Todos estiveram bem, mas continua a ser necessário mais eficácia na finalização.
 
Temi por Paulo Batista e sua equipa, pelo histórico "azarento" nos jogos do Benfica, mas, apesar de alguns erros - um deles grave -, acabou por não pôr a vitória em causa...mas podia!
 
À margem do jogo, na semana anterior, foi anunciado pela comunicação social haver, eventual acordo verbal entre Marco Silva e os Dirigentes do Porto, com vista à sua contratação para a próxima época. Verdade ou não, o propósito era o habitual; instabilizar a equipa do Benfica e induzir os seus Dirigentes a dar um passo em falso, que, nesta altura, poderia deitar tudo a perder. Ainda bem que Filipe Vieira se aguentou.
 
A simpática equipa do Estoril - donde vieram os seus dirigentes? -, tal como várias outras da primeira liga, ostenta o patrocínio BIC, banco com acionistas conhecidos como indelevelmente ligados ao FCP. Tratar-se-á de uma espécie de prémio pelo desempenho no jogo da época anterior na Luz que acabou por ser decisivo no desfecho do campeonato?, não sei, mas...suspeito que sim.
 
Há mosquitos por cordas na Liga, como sempre houve e haverá quando o Porto não ganha. Figueiredo, para bem dos clubes e do futebol, está a pôr em causa o negócio principal da Sportinveste - um dos pilares do "sistema" - e "tem que ser afastado" - como foi Cunha Leal e Hermínio Loureiro -, e os estatutos novamente alterados. Tudo porém seria mais fácil se o Porto, com seus satélites, organizassem uma liga própria; então poderia  ganhar sempre e ninguém contestaria.
 
Espero que, os clubes, em particular o Benfica e o SCP, não se deixem levar na cantiga mais uma vez; o passado fala por si.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Contos Proibidos, de Rui Mateus VI

Segundo Mateus, a influência de Frank Carlucci terá sido decisiva para o desfecho do 25 de Novembro. Contrariamente a Henry Kissinger que preferia sacrificar Portugal aos comunistas a título profilático, Carlucci, então ao serviço da CIA, ter-se-á empenhado na defesa do regime democrático, dissuadindo as altas patentes marxistas (Costa Gomes) dos seus intentos totalitários e congregando aliados internos e externos na promoção da democracia, quer na frente diplomática, quer na mobilização de meios militares a partir dos EUA e do Reino Unido através do designado "Plano Callaghan". Pouca importância atribui Mateus ao "Plano Global de Operações" no desfecho do 25 de Novembro, liderado por Ramalho Eanes na frente militar e Manuel Alegre na frente partidária, tendo aquele organizado a reação das forças militares e civis democráticas à investida comunista. Um processo donde emergiria, a coragem e lealdade de Edmundo Pedro na sequência do caso das armas  entregues por Ramalho Eanes ao PS, que o haveria de conduzir à cadeia, perante o vergonhoso silêncio de Ramalho Eanes, Mário Soares e Manuel Alegre, alegadamente co-responsáveis nesse processo, tendo sido adoptado pelos dirigentes socialistas um vergonhoso pacto de silêncio.
 
A palavra a Rui Mateus:
 
"Mas, graças ao acordo de governo com o PCP, Brown (Irving Brown; agente da CIA para o controlo da Federação dos Sindicatos Livres) acabaria por considerar Mário Soares "um traidor à causa ocidental"....
 
"Mário Soares, então perfeitamente alinhado com o PCP na sua verborreia anti-imperialista, ainda acreditava mais no seu antigo partido do que no seu próprio e afirmava a quem o quisesse ouvir que "se não temos, em Lisboa, um programa comum, a falta deve-se unicamente aos comunistas, que recusaram todos os convites para progredir nesse sentido."...
 
"É muito provável que a estratégia Carlucci, ao triunfar em Portugal com o 25 de Novembro de 1975, tenha mesmo representado o primeiro passo para a queda do muro de Berlim e para o descrédito do comunismo em todo o mundo."...
 
Interessante é a revelação do apelo ao voto em branco de Jorge Sampaio e do seu grupo (MES) nas eleições para a Assembleia Constituinte realizadas em 30 de Setembro de 1974, com o intuito de favorecer as posições do MFA e PCP, demonstrando uma peculiar e tardia conversão à democracia representativa. Por outro lado, terá sido o resultado eleitoral desfavorável ao PCP e seus aliados, nestas eleições, que precipitou a cavalgada totalitária que se lhe seguiu. Quanto à descolagem de Mário Soares relativamente ao PCP, defende Mateus ter-se devido à sua imensa vaidade pessoal em virtude de, no 1º de Maio, ter sido afastado da tribuna  onde Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal, colhiam o aplauso delirante da multidão. Diz Mateus que, a não suceder tal divergência, ter-se-ia assistido à cisão do Partido Socialista em 1975, com o afastamento do seu Secretário-Geral. Também o egocentrismo político e o pseudo-patriotismo de Soares ficaria bem expresso na recusa que impôs à Internacional Socialista de convidar "outros políticos" e representantes do MFA para a sua reunião ordinária que se realizaria em Londres a 5 de Setembro, sob os auspícios de Harold Wilson e James Callaghan, zeloso da exclusividade do seu partido. Tal como revelaria o seu entendimento de "ética republicana" quando, perante a proibição interna de financiamentos estrangeiros a partidos políticos e face à menção aos donativos daquela organização ao Partido Socialista, recomendar o uso do termo "Democracia" em vez de PS.  Por esta altura, o dinheiro, informalmente, das mais variadas proveniências, entrava a rodos, "Naquele período, a resistência ao PCP representava um verdadeiro sorvedouro de dinheiro, que Mário Soares ia mandando entregar por intermédio dos seus colaboradores", permitindo-nos perceber o histórico desprendimento de Soares relativamente ao vil metal, bem patente na escandalosa expressão "o dinheiro logo aparece", com que respondeu ao repórter, que, por altura da inauguração da Casa da Música o questionou sobre a não menos histórica derrapagem orçamental respetiva.
 
Da escalada que conduziria ao 25 de Novembro, refere o cerco ao Ministério do Trabalho ordenado pelo PCP a 7 de Outubro, a ordem deste de contra-ofensiva das forças populares a 9 do mesmo mês, a destruição do emissor da Rádio Renascença a 7 de Novembro ordenada pelo Conselho da Revolução, o sequestro durante 36 horas do Primeiro-Ministro e dos Deputados da Assembleia Constituinte - findo o qual os Deputados comunistas terão sido aplaudidos após terem recebido tratamento especial -, seguido de imponente manifestação do PCP com a extrema esquerda contra o Governo. Refere a revelação de Melo Antunes a 23 do mesmo mês ao Nouvelle Observateur acerca dos planos do PCP de tomada do poder contra a democracia e a convocação da Intersindical para uma greve geral a realizar a 25 de Novembro. No comício realizado na Alameda D. Afonso Henriques o PS exige a clarificação de Costa Gomes, afeto ao PCP, e na madrugada de 25 de Novembro, Mário Soares, sua família e Manuel Alegre retiram para o Porto enquanto as sedes do PS armadas por elementos do Grupo dos 9 se preparam para o confronto. O golpe militar iniciou-se com a tomada das bases aéreas à volta de Lisboa pelos paraquedistas, tendo o Conselho da Revolução declarado a sua oposição pelas 1800 horas e pelas 2100 horas a declaração de Estado de Sítio pelo Presidente da República. Em consonância com o relato do Capitão Sousa e Castro, Costa Gomes inviabilizaria o golpe ao mandar chamar Otelo a Belém - por Sousa e Castro - onde aquele ficaria detido, batendo o PC em retirada estratégica, tendo-se seguido a detenção em Belém do Capitão Dinis de Almeida no dia seguinte, seguindo-se a rendição dos soldados revoltosos.
 
Estranhamente, ignora Mateus o precioso contributo da Companhia de Comandos da Amadora que, comandada pelo, injustamente esquecido, José Apolinário, chegou em tempo recorde ao quartel da Policia Militar, então sob comando do famoso Major Tomé, cercando-o e impedindo a saída dos seus ativos, operação da qual resultou um ferido mortal. Mas refere a fatídica declaração de Melo Antunes perante as câmaras da RTP da indispensabilidade da participação do PCP na construção do socialismo o que nos remete para a histórica expressão de Cunhal perante os seus acólitos - testemunhada por Zita Seabra - de que, para o PCP, se tratava de dar um passo atrás para mais tarde dar dois passos em frente e, perante a imprensa, de que Portugal nunca teria uma democracia parlamentar normal. E assim aconteceu. Com o país à porta da insolvência, está o PCP a tentar o fatídico segundo passo.
 
Diz Mateus que, em resultado da intensa ação diplomática de um tal Comité de Apoio à Democracia Portuguesa, o poderoso Leonid Brezhnev, perante a ameaça de denúncia dos acordos de Helsínquia, terá aconselhado moderação ao seu camarada e amigo Álvaro Cunhal (esse grande patriota).
 
Diz ainda Mateus, e segundo Sousa e Castro, é verdade, que, se o PCP tem mandado avançar os seus aliados militares e a Intersindical, de nada teria valido a Lisboa o "Plano Global de Operações"  (de Eanes) mas acionaria o Plano Callaghan, a partir do norte do país. Plano este que, conduzido pela CIA e o MI6, após identificar as forças militares e civis anticomunistas, lançariam uma série de operações clandestinas e garantiriam apoio logístico aos militares portugueses fiéis ao regime democrático. Tal plano, teria sido negociado por Mário Soares e utilizaria meios aéreos e marítimos para abastecimento e manutenção da resistência da zona norte efetuando-se raides aéreos contra posições comunistas na zona de Lisboa, tendo ficado no ar a dúvida quanto ao verdadeiro líder do contragolpe. Quanto a mim, não tenho dúvidas; Eanes esteve na frente de combate coordenando as forças leais à democracia e Soares foi para o Porto com a família.

domingo, 2 de março de 2014

Nova era no Futebol nacional

Tudo tem um fim; até a longa carreira dirigente de Pinto da Costa. Sairá compulsivamente, por razões de saúde, para vergonha dos adeptos portistas e de todo o universo nuclear e periférico do futebol nacional, incluindo dirigentes políticos e governantes. Apesar de ilibado no processo do "Apito Dourado", face às escutas correlacionadas vindas a público, seja no youtube, seja na comunicação social, Pinto da Costa acabou condenado no Tribunal da opinião pública, tal como os Tribunais e o regime político vigente. Face a todas as incongruências associadas ao processo, o cidadão comum não afeto ao FCP, acabou por concluir que interesses de natureza político-económica, contaminando o poder judicial e governamental, acabaram por conduzir à ilibação, apesar da declaração hipócrita de que tal não corresponde a reconhecimento de inocência. Dada a mediatização e acessibilidade pública do caso, a extrapolação para o sistema judicial e para o regime político por parte do cidadão não afeto ao FCP, foi imediata, contribuindo para destruir um dos mitos mais caros à retórica democrática; a igualdade de todos perante a lei. Ficou claro também neste caso, que, sendo todos nominalmente iguais perante a justiça, efetivamente, no atual regime, há uns mais iguais que outros. Não presta. Parafraseando Maria José Morgado "os Tribunais julgam os casos e os casos julgam os tribunais". Neste caso, os Tribunais foram condenados. Disse Octávio Machado, um dos mais ilustres futebolistas nacionais, e bem, que Pinto da Costa destruiu o trabalho honrado de muitas centenas de atletas e dirigentes que, hoje, graças àquele processo, carregam o estigma da dúvida relativamente aos seus efetivos méritos. Surpreendente é verificar que, em cerca de trinta anos de indícios de favorecimento desportivo - afinal bastaria ter visto alguns jogos para o perceber -, nenhuma das figuras ilustres daquela agremiação levantou a voz para os denunciar e combater ou, ao menos, pedir esclarecimentos. Perante os "sucessivos" êxitos e outras manifestações dissuasoras, compreende-se a conveniência do silêncio, mas não a aceitação da subjugação de pessoas reconhecidas como dignas, que contribuíram, pelo silêncio, para o descrédito da instituição que amam e de si próprios. Citando Jean Paul Sartre, a expressão "Odeio as vítimas que respeitam os seus carrascos" aplica-se como uma luva a todo o universo do futebol, jornalístico e desportivo que, não só consentiram, mas têm enaltecido os espúrios "sucessos" de Pinto da Costa e do FCP, na esperança de camuflarem a sua própria falta de coragem e garantirem para si próprios algum conforto, ou, ausência de inconvenientes. Salvaguardando as distâncias, nem Salazar faria melhor.
 
 
Perante a eminência da saída de Pinto da Costa do cargo que ocupa há mais de 30 anos,  paira sobre o universo azul o estigma da dúvida, a consciência da exiguidade do manto protetor, afetando verticalmente as estruturas do clube, aumentando a incerteza no decisivo momento do remate, do passe ou da intersecção. Os barões do clube contam espingardas com vista à sucessão abrindo fissuras na velha e já bolorenta nau. Outras razões porém convergem para o propileu da nova ordem; a consciência geral de que o atual modelo acabará por destruir o futebol nacional por falta de credibilidade e, inerentemente, por falta de público. Finalmente, a percepção de que a causa da regionalização só tem a perder com a aliança de gente sem escrúpulos. Só pessoas idóneas, respeitadas, atuando nos fóruns próprios, a poderá fazer vingar. A vantagem do FCP sobre todos os outros clubes tem residido na dimensão política que, oportunisticamente, foi "usurpada" por Pinto da Costa e consentida por todos, na presunção de que é o dono do clube e da cidade. É tempo de acabar com isto. Ao futebol o que é do futebol, à política o que é da política e o clube aos sócios.
 
Há nuvens no céu azul; os 50% do orçamento anual provenientes da venda de jogadores estão em causa ameaçando a capacidade de recrutamento e o sucesso desportivo. Sem uma presença regular na liga dos campeões, os ativos do FCP, inevitavelmente, desvalorizar-se-ão. Com a decadência financeira da Sportinveste e a perda do controlo na LPFP, dois dos pilares que têm garantido o sucesso desportivo do FCP toda a teia do seu poder de influência de bastidores, ameaça desmoronamento. Com efeito, sempre que perdeu o controlo da LPFP - Cunha Leal e Hermínio Loureiro (nenhum deles fez mais de uma época) -, o Porto, perdeu os respetivos campeonatos. Com a passagem da arbitragem e de Fernando Gomes para a FPF, o menosprezo daquela está a revelar-se fatal. Ao contrário de Hermínio Loureiro - que ainda hoje vai a fugir das ameaças de que foi alvo -, Mário Figueiredo, surpreendentemente, apresentou projetos de reforma interessantes e sólidos, quer quanto ao modelo competitivo, quer quanto ao modelo de financiamento, visando aumentar a competitividade das provas e as receitas dos clubes, eliminando simultaneamente, o garrote financeiro com que o Porto dissuade os concorrentes dissidentes; os que se recusam a alterar as convocatórias ou as táticas, por opção técnica e lhe têm permitido passear no campeonato nacional - como aconteceu no caso de Mourinho -, e valorizar os seus ativos na liga dos campeões.
 
Foi o Benfica de Vieira que, com a Benfica TV e a "utopia" da gestão própria dos direitos desportivos do clube, que abanou um dos principais pilares do "sistema". Transferindo grande parte das receitas de bilheteira dos clubes para os seus cofres graças ao monopólio das transmissões dos jogos da primeira liga e da Seleção Nacional, tendo beneficiado durante muitos anos de apoios públicos indiretos - através da RTP até há pouco obrigada, governamentalmente, à transmissão semanal de alguns jogos -, a Sport TV, pela mão de Joaquim Oliveira, principal acionista do grupo e acionista de referência da SAD do Porto, rapidamente e hipocritamente, se transformou no "FMI" dos clubes, como há tempos referiu António Oliveira; motivo suficiente para levar os adeptos de futebol mais atentos a suspeitar do condicionamento desportivo em benefício do Porto, por parte de alguns clubes "intervencionados".

 E no entanto "eles" movem-se. A nomeação de Carlos Magno, indefectível portista, para Presidente da ERC, o fim da obrigatoriedade de transmissão semanal pela RTP de jogos da primeira liga  e a nomeação do atual Secretário do Desporto, parecem revelar uma "colagem" do atual governo aos interesses portistas. A Controlinveste, principal acionista da Sport TV - e de várias SAD de clubes de futebol -,  face às responsabilidades financeiras, perante o défice de exploração e a sangria de subscritores do seu canal, acabou de concluir um longo processo de reestruturação e recapitalização ganhando aliados de peso, com aparente perda de influência de Joaquim Oliveira. Aparente, sim. A constatação da presença de Proença de Carvalho como Presidente do Conselho de Administração e Vitor Ribeiro - alegadamente proveniente do grupo Amorim - na Presidência da Comissão Executiva, sugere-nos a intenção de articulação com os universos político-governamental e financeiro. Se podemos estranhar a presença de Proença neste meio, o mesmo não se pode dizer relativamente a Vitor Ribeiro, dada a sua alegada ligação a Américo Amorim, este, uma das permanentes e mais poderosas "muletas" de Pinto da Costa e do FCP. Neste quadro surge ainda António Mosquito,  personagem cada vez mais influente em Portugal, com ligação a Isabel dos Santos, que por sua vez tem várias parcerias com...Américo Amorim - membro do Conselho Consultivo do FCP -, uma das quais o Banco BIC - curiosamente, patrocinador de clubes de futebol tidos como aliados do...FCP -, mas também com...Belmiro de Azevedo - membro, vejam só, do Conselho Consultivo do FCP - na Zon-Otimus, precisamente, um dos parceiros da Sport TV. Como se vê, a luta vai ser dura.

Também na Liga há mosquitos por cordas. A alteração dos estatutos "ardilosamente" introduzida por Fernando Gomes quando por lá passou - só até à transferência do Conselho de arbitragem para a FPF -, presidencialisando e verticalizando  a estrutura diretiva, deixou de ser adequada quando a Presidência escapou ao controlo do FCP. Mais que discutir projetos interessa-lhes o afastamento de Mário Figueiredo, precisamente porque tem ideias próprias contemplando o interesse geral, não se deixando subjugar aos seus desígnios. A relação de poder vai decidir as alianças e os destinos do futebol para os próximos anos. Merece aplauso a postura dos Dirigentes do SCP nesta matéria apresentando em local próprio interessantes trabalhos de fundo a nível legislativo e regulamentar sobre desporto. Oxalá os clubes não se deixem "enrolar" pelo paleio hipócrita dos azuis e, por outro lado, os Dirigentes Benfiquistas, congregando esforços, saibam elaborar e, ou, optar por propostas que, demolindo as vicissitudes do atual sistema, promovam a competitividade e a transparência, e com elas, a sustentabilidade deste desporto a dos clubes e a satisfação dos adeptos.