Desporto

sábado, 25 de maio de 2019

Benfica, um caso político (conclusão)


Benfica, um caso político

Capítulo 7 (conclusão) 

   Somos diferentes, ouço dizer por aí aos adeptos do Benfica. E não gosto. Não gosto, antes de mais, porque parece significar que nós somos os bons e os outros os maus. E não é verdade; há maus entre nós e bons dos outros lados. Mas compreendo que se pretende aludir a limites comportamentais que nos recusamos a ultrapassar por ser essa a cultura do nosso clube. É certo que - pelo menos para mim -, o Benfica é sinónimo de arte, excelência, coragem e respeito pelos outros, valores que devem nortear o mundo benfiquista no dia-a-dia.

   Mas é verdade que “somos diferentes” no sentido da militância; por exemplo, do arrumador de carros ao magistrado, passando pelo agente das forças de segurança, pelo professor universitário, pelo político, pelo escritor, enfim, pelo profissional anónimo, os adeptos do Porto defendem, incondicionalmente, sistematicamente, o seu clube, cada um há sua maneira.

   Nós somos diferentes de duas formas; em geral temos um grau de militância comparativamente baixo, por outro lado concentramo-nos quase exclusivamente na crítica interna. A nossa militância raramente vai além da refilice, do desabafo, do impropério; fazemos barulho inconsequentemente, apesar dalgumas iniciativas individuais mais afoitas nunca efetuámos uma ação coletiva em defesa do nosso Benfica e, ou, dos seus Dirigentes.

   O nosso Estádio foi alvo de sucessivas interdições - cinco ou sete? - ainda pendentes nos  processos judiciais em curso e  consta que o Ministério Público pede a suspensão do clube das competições desportivas entre 6 meses a 3 anos. Isto demonstra que os inimigos do Benfica tudo têm feito para o destruir e têm sido secundados institucionalmente. Devem ser levados a sério, pois as instituições em causa têm poder para o efeito.

   Confiamos nelas e aguardamos, de braços cruzados, o desfecho dos processos, esperando que tais absurdos não cheguem a concretizar-se por ocorrência dum acesso de bom senso em qualquer estádio do processo. Não estou certo disso. 

   Não posso deixar de recordar que foi um juiz, ao que constou, dragão de ouro, que condenou Vale e Azevedo ao cúmulo jurídico de 17,5 anos de prisão - diz-se por aí que tem mais 10 anos para cumprir! Um sério aviso à “nação benfiquista” do poder do longo braço do rival do norte. Uma afirmação de poder institucional. Recentemente, o assassino de um jovem adepto benfiquista foi, condenado a 12 anos de prisão “por ofensas à integridade física agravadas por morte da vítima”! Em seis anos, ou menos, estará em liberdade condicional!

    A Vale e Azevedo, perseguido como um animal raivoso, foi negado, desumanamente, esta prerrogativa geral, tendo cumprido toda a pena até ao último minuto! Donde vem tanta raiva? Se a filosofia penal moderna radica na reabilitação social do condenado, no caso do malogrado ex-Presidente do Benfica, a motivação é a vingança, o castigo, o desejo de fazer sofrer. É, acima de tudo, o Benfica que se pretende atingir. Estou contra e acuso os fautores desta barbaridade.

   Aldrabões muito piores, hoje mesmo, andam por aí a rir-se na cara dos portugueses na sequência de falcatruas avultadíssimas, penalizadoras de todos os cidadãos honrados! Alguns até foram agraciados com as mais altas condecorações da República! Que país este!

   A não interdição dos estádios de Alvalade e do Dragão revela discricionariedade por parte da FPF, intenção de fazer mal ao Benfica - só os prejuízos de bilheteira situar-se-iam entre os 1,5 a 3,5 milhões de euros, acrescidos dos cerca de 500 mil euros de multas anuais; idênticos atos dos rivais foram “agraciados” com penas de multa marginais, ridículas.

   Enquanto isso os adeptos encarnados são implacavelmente esmifrados para ver o seu clube jogar, com a cumplicidade da LPFP, e, muitas vezes, impedidos de usar símbolos do clube e até de o apoiar de forma mais exuberante, como sucedeu recentemente em Braga! E ninguém se escandaliza! Andam a gozar connosco.

   Não tenho a menor dúvida de que, tivessem sido os rivais penalizados de igual forma, assistiríamos a vigílias à porta da FPF (Federação Portuguesa de Futebol e da LPFP (Liga Portuguesa de Futebol Profissional), manifestações, declarações públicas inflamadas de vários quadrantes na defesa das “vítimas”, e sabe-se lá que mais.

   Nós aguardamos pacientemente que o sistema funcione apesar de sabermos que, ele, “o sistema” é contra o Benfica. Temos gente qualificada entre nós, podemos, por exemplo, fazer um abaixo-assinado e, ou, uma petição para apresentar na FPF, na LPFP, até na Assembleia da República, denunciando as arbitrariedes praticadas sistematicamente, contra o clube do qual somos sócios, exigindo a demissão dos responsáveis implicados, fazer comunicados à imprensa, fazer manifestações pacíficas às portas da FPF e LPFP, etc.. Podíamos constituir um movimento cívico de apoio ao Sport Lisboa e Benfica. A nossa passividade é a força motriz dos inimigos do nosso clube.

   Privilegiamos a crítica interna, muitas vezes irrefletidamente. Responsabilizamos os Dirigentes, em particular o Presidente, por tudo o que é negativo e exigimos-lhes, insensatamente, resposta a todas os casos, a superação de todas as adversidades, esquecendo, muitas vezes, que o seu êxito depende da qualidade do nosso apoio.

   É certo que a crítica interna é, antes de mais, um recurso que um bom gestor não deve dispensar, apesar do inevitável desconforto que provoca. É dessa turbulência de ideias, mesmo as mais disparatadas, que surgem combinações donde brotam princípios de bons projetos. Aliás é este o princípio da criação de sinergias, base da gestão moderna, que permite a ultrapassagem da decadência inerente aos ciclos naturais das instituições sujeitas à gestão tradicional.

   Crítica interna sim, com ideias estruturadas ou amalucadas, sem dúvida, recusa do messianismo, sim, exigência máxima, sim, mas sem prejuízo do apoio institucional e da defesa externa do clube. Muitos de nós exercemos a crítica interna como forma de fuga ao desconforto do confronto externo perante os detratores do nosso clube, havendo até casos, paradoxais, em que se chega ao ponto de elogiar sociopatas que fazem da disseminação do ódio ao Benfica o seu projeto de vida. A dissidência interna não deve implicar ausência de solidariedade e, muito menos, implícita ou explicitamente, alinhar no jogo dos inimigos do Benfica.

  Por mim, não tenho dúvidas; rejeitando o messianismo, sem prejuízo do dever de dissidência, solidarizo-me com os órgãos do clube na defesa externa este. E, no âmbito político não perdoo; penalizarei nas urnas do voto os que prejudicam ou permitem que outros prejudiquem o meu clube. Sei que não passo dum grão de areia, mas, como diz o poeta, também sei que: “l’areña es un puñadito…pero hay montañas de arenã!

   Peniche 12 de Maio de 2019
   António Barreto

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Benfica, um caso político (Capítulo 6)


Benfica, um caso político
Capítulo 6 

   Aos clubes está legalmente vedado o exercício de atividade política. Mas não aos seus adeptos. Contudo, aqueles têm o direito de cotejar as várias propostas de âmbito nacional na área do desporto com os seus próprios projetos e de, pelos meios legais, influenciar os promotores daqueles, mantendo informados os seus associados. 

   Quanto aos adeptos, podem e devem integrar a área desportiva no seu exercício de cidadania, de forma a perceberem quais as propostas que melhor garantem os direitos consignados constitucionalmente a todos os cidadãos, aplicados ao desporto. Há, entre a classe política, uma espécie de nojo do mundo do futebol - exceto quando se trata de grandes celebrações -, atitude que, à mistura com uma certa promiscuidade de bastidores, tem contribuído para a degradação do desporto em Portugal, para o exacerbamento das rivalidades e para a emergência da violência.

   A classe política desistiu do futebol por considerar os adeptos uma espécie de subcidadãos indignos do seu empenho. Na verdade, quer a prática do desporto quer a fruição do espetáculo desportivo, fazem parte da vida, física e socialmente saudável, do ser humano e, por isso, constituem um direito fundamental do Homem vinculativo da ação das forças políticas. Algo vai mal numa democracia quando se ouve um político de relevo - no caso, Rui Rio - aconselhar publicamente os seus congéneres a “não se meteram com o futebol”! Como se este fosse habitado por leprosos. São episódios destes que definem a qualidade de um regime político e ajudam a perceber as causas do estado caótico do desporto em Portugal.

Peniche, 12 de Maio de 2019

António Barreto

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Benfica, um caso político (Capítulo 5)


Benfica, um caso político

Capítulo 5

   É este contexto que legitima a suspeita de concertação, ou aliança implícita, entre os Dirigentes do Porto (Futebol Clube do Porto) e alguns dos partidos defensores da regionalização. Suspeita essa que sai reforçada com a frequente adesão, dissimulada, de alguns políticos, às causas daquele clube. E são figuras do Partido Socialista que, neste particular, mais se têm destacado.

   Pois não constou, nos idos de 82, que foi António Guterres a dissuadir Pinto da Costa de abandonar o futebol? Sendo verdade, não é lícito admitir que, nessa altura, se terá estabelecido uma aliança de bastidores entre eles, que tem perdurado até aos dias de hoje?

   Não foi José Sócrates, ainda Secretário de Estado do Governo de António Guterres, que, publicamente, afirmando-se benfiquista, declarou-se disponível para fechar o clube, quando este atravessava a maior crise da sua história?

   Não foi Ana Gomes, deputada no Parlamento Europeu, que, há uns anos - talvez três - alertou a opinião pública para a necessidade de investigar o que se passava com um “raio” de um jogador sul-americano desconhecido, associando-o ao Benfica em qualquer transação alegadamente espúria?

   Não foi Helena Roseta que, no consulado de António Costa, levantou o facho da revolta, no caso dos benefícios fiscais da CML (Câmara Municipal de Lisboa) atribuídos ao Sport Lisboa e Benfica em resultado da aplicação do protocolo estabelecido entre a autarquia e todos os clubes da cidade? Este museu era uma antiga aspiração dos benfiquistas, prometida por várias Direções do clube e nunca concretizada! Não é a história do Benfica relevante na história da cidade? Não é o museu importante na dinamização social e económica da de Lisboa? Não beneficiam os lisbonenses de toda uma vasta panóplia de atividades desportivas proporcionada pelo Sport Lisboa e Benfica, contrastando com a escassa oferta pública municipal neste domínio? Manifestou-se, aquela Vereadora, nalgum dos muitos casos polémicos de esbanjamento financeiro frequentemente noticiados pela comunicação social naquela autarquia? Não notei! E é por isso que concluí que se tratou de um ato demagógico e persecutório, cuja motivação foi de natureza partidária.

   Não é novamente Ana Gomes, ainda deputada no Parlamento Europeu, que está na berlinda por apoiar publicamente e exuberantemente na praça pública, um sujeito confesso adepto do Porto, preso à ordem do Tribunal por se ter apropriado ilicitamente de documentação confidencial de entidades ligadas ao desporto nacional e também da correspondência comercial e técnica do principal rival do seu clube, e cuja alegada motivação seria a de combater a corrupção no futebol? Não foi Ana Gomes que se apresentou na cadeia de lenço azul a entregar ao pirata informático um prémio que ela própria promoveu em Bruxelas pelas criminosas façanhas? Não foi Ana Gomes que disse nada perceber de futebol, justificando a sua falta de interesse nos episódios desportivos em curso indiciadores de corrupção desportiva efetiva? Não têm os Deputados Europeus meios, disponibilizados pelo seu Parlamento, para contratar especialistas que os ajudem nos seus trabalhos? Estará, efetivamente, Ana Gomes, interessada no combate à corrupção no futebol? Suspeito que a sua motivação seja de natureza político-partidária e consistirá numa estratégia de aproximação do seu Partido ao eleitorado portista e, por extensão, ao eleitorado portuense. Porém, é possível que esteja, também, empenhada numa ação de militância clubista. Da fama não se livra.

     Não é Fernando Gomes, militante histórico do Partido Socialista, ex-Presidente da CMP (Câmara Municipal do Porto), membro do Conselho de Administração da SAD do Porto? E não é razoável admitir que, neste cargo, tem a função de servir de elo de ligação entre esta SAD e o seu Partido?

   Finalmente, não há uma coincidência intrigante entre os ciclos políticos e os do futebol, em que, nos governos socialistas, geralmente, se verifica a ascensão desportiva do Porto? Há! E eu acho que não é coincidência.

Peniche, 10 de Maio de 2019
António Barreto

sábado, 18 de maio de 2019

Benfica, Um caso político (Capítulo 4)



Benfica, um caso político

Capítulo 4


   Há algo errado, sim. O Sport Lisboa e Benfica representa a materialização microcósmica do projeto político do Estado Novo; o da construção de uma nação pluricontinental e multirracial. O Benfica foi tudo isso, com a particularidade do enorme sucesso desportivo em que derramou pelos relvados do mundo a excelência da arte de jogar futebol suscitando o fascínio geral, até dos adversários. Disso beneficiou o regime enquanto fator de propaganda do Portugal imperial. Que saiba, o único benefício que o Benfica e os seus adeptos e associados tiveram do regime de Salazar foi o do impedimento da saída do Eusébio para Itália. Foi a visão e capacidade realizadora dos dirigentes do Benfica a partir dos anos cinquenta - década em que o Sporting Clube de Portugal dominou internamente com os seus famosos cinco violinos -, que catapultou o clube da Luz para o galarim do mundo nas décadas de sessenta e setenta.

   Com o derrube do antigo regime em 74 e a ascensão duma democracia minimalista, de matriz socialista, em 76, o Sport Lisboa e Benfica, é visto por alguns setores políticos, como uma estrutura identitária conservadora, geradora de resistências à difusão das novas ideias de reconstrução das estruturas sociais, à semelhança do mundo rural, do catolicismo ou da família. A nova matriz social - em marcha - implica o enfraquecimento dos elementos estruturantes da “velha ordem”. Neste contexto um Benfica forte não é bem-vindo. Pelo contrário, o seu enfraquecimento e a emergência do domínio desportivo dos rivais, pretensamente, evidenciará, no âmbito desportivo, a dinâmica do novo regime, pretensamente, rumo à prosperidade e à justiça social.

   Fator político mais prosaico está relacionado com o assunto; a regionalização, uma prescrição constitucional não realizada. É neste âmbito que o Futebol Clube do Porto exerce uma missão de natureza política porventura congeminada nos corredores do poder; a de definir geograficamente e socialmente a Região Norte, agregando os cidadãos da zona em torno do clube e trilhando o caminho do facto consumado, à “boa” maneira de Gene Sharp. Neste contexto, o Sport Lisboa e Benfica, com a força agregadora que o caracteriza, representa o centralismo que urge enfraquecer. Uma certa passividade das autoridades, forças de segurança e entidades administrativas e judiciais locais, perante sucessivos casos de perturbações de natureza social - ameaças, agressões e atos de vandalismo - por elementos ligados ao FCP, cria na opinião pública o sentimento de que, para aquelas bandas, a ordem pública tem natureza diferente da do resto do país.

Peniche, 10 de Maio de 2019
António Barreto

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Benfica, um caso político (Capítulo 3)


Benfica, um caso político

Capítulo 3

   A realidade histórica do Sport Lisboa e Benfica no Antigo Regime tem sido caracterizada por adeptos do futebol - historiadores do desporto, políticos e sociólogos -, como um raro exemplo de democraticidade; uma ilha democrática em plena ditadura. Um espaço aberto a todos, sem distinção de raça, credo, condição social ou ideologia. Uma organização de base popular, participada pelos seus associados, cuja estrutura social espelhava os cânones próprios das democracias.

   Alguns casos denotam o tipo de pessoas direta ou indiretamente vinculadas ao clube. Um dos mais notáveis pelo que representou na luta da pela emancipação feminina e pela universalidade do voto, é o da Dr.ª Beatriz Ângelo, natural do Fundão, médica, feminista, e mulher do 3º Presidente do Sport Lisboa, Dr. Januário Barreto; impôs ao Governo pela via judicial, o reconhecimento do seu direito de voto após enviuvar. Só aos chefes de família, homens, era reconhecido esse direito. Perante a recusa do Governo em reconhecer-lhe essa qualidade, avançou com uma ação judicial contra o Governo cuja sentença lhe foi favorável. E votou. Foi a primeira mulher a fazê-lo. De imediato o Governo republicano alterou a lei eleitoral para impedir o voto das mulheres.

   Outro caso é o de Ribeiro dos Reis, jogador de futebol do Benfica de 1913 a 1925, depois técnico e dirigente do mesmo clube, selecionador nacional jornalista e fundador do conhecido Jornal A Bola (juntamente com Cândido de Oliveira), um republicano que suscitou a desconfiança do Estado Novo pela isenção da reportagem que fez nos célebres jogos olímpicos de Berlim em 1939 (sinopse da sua biografia por Astregildo Silva), tendo-se constado que terá desempenhado ações de espionagem a favor dos aliados, durante a 2ª Guerra Mundial.

   Episódio interessante é o de António Borges Coutinho, irmão de Duarte Borges Coutinho - ex-Presidente do Benfica de 1969 a 1977 e 4º Marquês da Praia e de Monforte. António, advogado, adepto das ideias de António Sérgio e Agostinho da Silva, foi apoiante da candidatura de Humberto Delgado, conheceu o drama dos calabouços do Estado Novo - quando, em 1961, procurou alertar a opinião pública para as verdadeiras causas do sequestro do paquete Santa Maria. Nesta ocasião tornou-se membro da Oposição Democrática pelo Distrito de São Miguel, sua terra natal, juntamente com Melo Antunes - o suposto ideólogo do MFA. Não sendo marxista distinguiu-se como ativo seguidor do Partido Comunista, a partir de 1978 (wikipédia).

   Há ainda o caso de Santana, célebre jogador da equipa de sessenta; o Benfica tê-lo-á livrado dos vários “contratempos” com a PIDE devido à ligação que tinha com a Frelimo.

   Apesar de tudo isto, quando constatamos o crescendo de hostilidade que tem ocorrido, nas últimas décadas, no espaço público, relativamente ao Sport Lisboa e Benfica, percebemos que há algo errado. Descontando os excessos, compreende-se que, perante a ascensão competitiva do Benfica, os dirigentes e alguns adeptos dos seus principais rivais se empenhem na guerra mediática em benefício próprio. O que não se compreende é uma sistemática passividade das autoridades públicas perante os excessos; difamação e segregação desportiva e social de que têm sido alvo quer o Sport Lisboa e Benfica, quer os seus adeptos e apoiantes. As próprias forças de segurança e outras autoridades têm revelado posturas diferenciadas, com episódios de violência extrema ante adeptos do Benfica. Faz todo o sentido perguntarmo-nos o que pode haver de politicamente errado que possa justificar tal enviesamento institucional.

Peniche, 9 de Maio de 2019

António Barreto

sábado, 11 de maio de 2019

Benfica, um caso político (Capítulo 2)


Benfica, um caso político

Capítulo 2
 
   As receitas da formação e o novo contrato dos direitos desportivos permitiram ao Benfica ultrapassar os constrangimentos de financiamento referidos no capítulo 1 - resolução do fundo de investimento de jogadores e liquidação substancial do passivo bancário. Porém há mais de uma década que a Administração da SAD procedia à diversificação e dispersão das fontes de financiamento; captação de novos patrocínios e recurso ao mercado obrigacionista. A independência financeira tornou o clube-SAD menos vulnerável aos jogos de bastidores do sistema bancário - recordo que BES e BCP congelaram as contas do Benfica no tempo de Vale e Azevedo atirando o clube para uma crise sem precedentes. Com este quadro percebia-se que o passo seguinte na guerra financeira movida ao Benfica seria de natureza reputacional. Era necessário promover a desconfiança de patrocinadores e dos investidores de forma persistente. Mais uma vez foi o ex-Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, a dar o primeiro alamiré logo no início do seu turbulento consulado; em plena operação de subscrição pública obrigacionista do Benfica, aquele dirigente, afirmou na comunicação social, que o Benfica estava falido! Foi evidente a intenção de suscitar a retração da procura dificultando o financiamento do rival. Afinal, este caso, configura a metáfora dum certo Portugal; a inveja e a falta de nobreza que consiste em preferir enfraquecer o outro em vez de aceitar o desafio da superação. Fracassada a tentativa seguiu-se o assunto dos vouchers, com o labéu da corrupção agregado. Todas as instâncias jurisdicionais desportivas decidiram contra o requerente mas o que importou foi degradar a credibilidade pública do velho rival. Em geral, a comunicação social entrou no jogo, esmiuçando-lhe todos os detalhes com honras de primeira página. Esgotado o tema, logo emergiu o caso dos mails roubados, como que saído de um qualquer automatismo secreto; um marginal com habilidades tecnológicas, que se afirmou empenhado em combater a corrupção no futebol, acedeu, à margem da lei, a documentação do clube que acabou manipulada e exposta no espaço público. As autoridades, céleres, fustigaram as instalações do clube da Luz com sucessivas e espalhafatosas buscas, de que resultaram novos danos reputacionais deste. E tudo isto ocorreu quando, em certos jogos do campeonato, os indícios de corrupção eram percetíveis à vista desarmada do comum dos mortais, sem que tal tivesse suscitado - que saiba - qualquer reação por parte das mesmas autoridades! É este quadro que suscita reflexão mais ampla; será que “o regime” político vigente tem algum problema com o Benfica? Eu acho que tem e que é necessário denunciá-lo, olhos nos olhos. Até porque é um caso extrapolável a outros setores da sociedade.  

Peniche, 8 de Maio de 2019
António Barreto
 
 

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Benfica, um caso político


Benfica, um caso político

Capítulo 1

  
Foi em 1993, com o ataque do Sporting aos melhores jogadores do Benfica - “roubar” jogadores ao Benfica é o ADN daquele clube desde os primórdios -, culminando um longo período de segregação desportiva iniciado com o consulado de João Santos, que o sistema tentou liquidar o clube fundado por Cosme Damião, bicampeão europeu e mais titulado do desporto nacional, o Benfica.

    A conquista do tetra-campeonato abalou o sistema que não demorou a reagir. O Presidente do Porto (Futebol Clube do Porto), transtornado com a possibilidade de o Benfica igualar o seu clube na conquista de cinco campeonatos consecutivos, logo apelidou o campeonato 2016/2017 de Liga Salazar. Foi o princípio de um novo ciclo de ataques ao Benfica, em moldes surpreendentemente sofisticados, envolvendo múltiplas cumplicidades, quer nos organismos da tutela desportiva, quer nos da administração pública. Abalar a reputação do clube, provocar-lhe constrangimentos financeiros e suscitar-lhe drásticas sanções disciplinares e judiciais conducentes ao seu afastamento das competições desportivas é o objetivo.

     No longo período de recuperação encetado pela atual Direção, com prejuízo da competitividade desportiva em todas as modalidades em especial no futebol, foram criados os alicerces infraestruturais e económicos capazes de catapultar o clube a um novo patamar competitivo. O quarto título consecutivo no futebol sénior e a pujança do setor da formação no futebol são provas disso mesmo. Urgia um novo ataque. Que não tardou.

   Este novo ciclo hostil, numa primeira fase, tal como em 93, visou a asfixia financeira; exigiu-se a extinção dos fundos de jogadores - almofada financeira que permitia adquirir e manter durante 2 a 3 anos, grandes jogadores -, o que veio a ocorrer por determinação da FIFA e foi reivindicado por Bruno de Carvalho desde o início do seu consulado no Sporting (Sporting Clube de Portugal). Num ápice, obrigada a resolver o fundo, a Direção do Benfica viu-se confrontada com a necessidade de obter 95 milhões de euros para o efeito. A formação salvou o Benfica; a geração de Bernardo Silva estava pronta para o mercado e permitiu a realização do capital necessário. A primeira batalha estava ganha.

   O segundo embate ocorreu na sequência das crises bancárias; fustigados pelas imparidades e pressionados pelo BCE (Banco Central Europeu) e UE (União Europeia) a banca nacional, restringiu drasticamente o financiamento e a renovação dos créditos aos clubes de futebol. Não sei exatamente o que aconteceu entre a banca - Novo Banco e BCP - e o Benfica, mas suponho que este deve ter sido pressionado por aqueles para liquidar a dívida bancária - o tema da banca estava, e está, na ordem do dia da luta partidária. Terá sido esta a razão pela qual a equipa foi amputada na sua competitividade e não competentemente compensada, causa primeira de o tetra ter escapado ao Benfica. Para a liquidação da dívida montou-se uma operação de engenharia financeira recorrendo ao factoring mediante a qual, a troco de certo encargo - cerca de 16 milhões de euros - se anteciparam as receitas de três anos de direitos desportivos - cerca de 100 milhões de euros -, na sequência do novo contrato celebrado com o novo operador. Mas a dívida bancária foi paga e a titularidade do estádio regressou ao clube.

   Com esta vitória, reconfortante para os adeptos, simultaneamente e paradoxalmente, criaram-se as condições de fortalecimento do rival Porto. O contrato com os acionistas da Sport TV permitiu a reconstituição de um dos principais pilares estratégicos do Porto; a capacidade de controlar, ainda que por interposta entidade, o financiamento de grande parte dos concorrentes.

   A aquisição dos direitos desportivos dos clubes que - conforme propalou a imprensa há semanas - serviu de colateral ao sindicato bancário para a viabilização financeira do grupo Olivedesportos. Um caso estranho em que os próprios bancos - os mesmos que “terão exigido” a liquidação dos créditos ao Benfica -, desistiram da cobrança dos seus créditos à Controlinveste - empresa com os mesmos proprietários da Olivedesportos com ligações ao Porto -, colaborando na reestruturação do grupo. Passaram os ativos da Controlinveste para a Olivedesportos e pediram a insolvência daquela. Assim, os bancos colaboraram na alienação, pelo menos parcial, dos seus créditos sobre a Controlinveste, ficando o grupo livre do avultado passivo bancário, que segundo a imprensa, globalmente, andaria pelos 500 milhões de euros. Nada disto parece ter incomodado a classe política. Nem Ana Gomes se pronunciou, que saiba.

   Tudo mudou a partir daí, de novo capturado pelo sistema, o Benfica tem sido alvo de uma perseguição sem precedentes, mesmo considerando os tempos do Apito Dourado, dentro e fora dos relvados. Arbitragens absurdamente parciais, comportamentos suspeitos de certos jogadores e de certas equipas nos jogos com o Porto, tolerância zero das instâncias desportivas relativamente ao Benfica - sucessivas multas, absurdamente altas, e castigos a Técnicos e Dirigentes, foi o caso dos voucheres, mastigado e alimentado à exaustão apesar das sucessivas decisões do foro judicial desportivo e foi o caso do correio eletrónico difundido abundantemente na praça pública, apesar de obtido ilicitamente e manipulado por entidades ligadas ao Porto. O empenho que múltiplas entidades, na comunicação social, na polícia judiciária, no Ministério público, nos Tribunais e até na esfera partidária, têm dedicado a este processo, ignorando os fortíssimos indícios de corrupção no campeonato em curso, suscita a suspeita da conspiração contra o Benfica e tal, quanto a mim, tem raízes de natureza política. Tal será objeto de análise no capítulo 2.

Peniche, 1 de Maio de 2019
António Barreto