Desporto

sábado, 22 de outubro de 2022

Quem Traíu o 25 de Abril?

 

Quem traiu o 25 de Abril?

 

   Mostra-nos a História que, em geral, os vencedores contam-na à sua maneira, invariavelmente enaltecendo os seus feitos contra as forças do mal, inevitavelmente defendidas pelos vencidos, ocultando as suas próprias fraquezas e os eventuais méritos daqueles.

   A independência incondicional das Províncias e Estados ultramarinos portugueses, era uma solução possível entre outras, dependente da escolha das populações.

Ora vejamos o que pensavam alguns dos protagonistas do pós-25 de abril:

Almeida Santos; Ministro da Coordenação Interterritorial, 21/5/1974, República:

“Lourenço Marques, 21, O Ministro Português da Coordenação Interterritorial, António de Almeida Santos, que a independência será uma das opções de um referendo as realizar em Moçambique dentro de um ano.

   Disse que o referendo que vai ser organizado em cada um dos territórios ultramarinos dentro de um ano seria “mais ou menos baseado no princípio de um homem, um voto”.

   Depois de informar que os menores de 18 anos não votariam, acentuou que não se trataria de um referendo adequado caso fosse seguido o sistema anterior de apenas votarem as pessoas que sabem ler e escrever.

   A respeito da luta que há dez anos grassa no território contra os guerrilheiros da Frelimo, o dr Almeida Santos afirmou estar “absolutamente fora de questão”, admitir a possibilidade de não se chegar a acordo com os dirigentes da Frelimo.”

(O sublinhado é meu)

Mário Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros, O Século, 23/5/1974:

   “Mário Sares sublinhou que Portugal pretende a descolonização (e não o neocolonialismo) e que procura contactos bilaterais com os movimentos africanos, a fim de acelerar o processo para a autodeterminação.”

Palma Carlos, Primeiro-Ministro, em entrevista a La Vanguardia, Diário de Notícias, 18/5/1974:

   Barcelona, 17. “A criação de um estado federal é uma solução óptima a considerar, mas tal fórmula depende das circunstâncias. (…)

   É um problema muito delicado, em que o Gabinete começou já a trabalhar e a seu tempo poderemos dar a resposta.”

General Costa Gomes, em Antuérpia, 7/6/1974, Diário de Notícias:

   Antuérpia, 6 – “Estou convencido de que Angola decidirá continuar portuguesa. Em Moçambique a situação é mais complicada, mas o espírito português será decisivo”, declarou o general Costa Gomes em entrevista a To The Point International, revista de expressão inglesa publicada em Antuérpia.”

   Estas declarações ajudam-nos a perceber melhor as causas da demissão de Palma Carlos Primeiro Ministro do I Governo Provisório e do descalabro das unidades militares enviadas para os territórios ultramarinos nesse período; Portugal ficou sem poder negocial, por sua própria iniciativa.

   Os ideais do primitivo MFA foram defraudados pela dinâmica partidária de esquerda que prevalecia na época, com a população eufórica e embevecida com o fim do “fascismo” e o advento da “liberdade” e “prosperidade”.


Peniche, 22 de Outubro de 2022

António Barreto