Desporto

sábado, 25 de maio de 2019

Benfica, um caso político (conclusão)


Benfica, um caso político

Capítulo 7 (conclusão) 

   Somos diferentes, ouço dizer por aí aos adeptos do Benfica. E não gosto. Não gosto, antes de mais, porque parece significar que nós somos os bons e os outros os maus. E não é verdade; há maus entre nós e bons dos outros lados. Mas compreendo que se pretende aludir a limites comportamentais que nos recusamos a ultrapassar por ser essa a cultura do nosso clube. É certo que - pelo menos para mim -, o Benfica é sinónimo de arte, excelência, coragem e respeito pelos outros, valores que devem nortear o mundo benfiquista no dia-a-dia.

   Mas é verdade que “somos diferentes” no sentido da militância; por exemplo, do arrumador de carros ao magistrado, passando pelo agente das forças de segurança, pelo professor universitário, pelo político, pelo escritor, enfim, pelo profissional anónimo, os adeptos do Porto defendem, incondicionalmente, sistematicamente, o seu clube, cada um há sua maneira.

   Nós somos diferentes de duas formas; em geral temos um grau de militância comparativamente baixo, por outro lado concentramo-nos quase exclusivamente na crítica interna. A nossa militância raramente vai além da refilice, do desabafo, do impropério; fazemos barulho inconsequentemente, apesar dalgumas iniciativas individuais mais afoitas nunca efetuámos uma ação coletiva em defesa do nosso Benfica e, ou, dos seus Dirigentes.

   O nosso Estádio foi alvo de sucessivas interdições - cinco ou sete? - ainda pendentes nos  processos judiciais em curso e  consta que o Ministério Público pede a suspensão do clube das competições desportivas entre 6 meses a 3 anos. Isto demonstra que os inimigos do Benfica tudo têm feito para o destruir e têm sido secundados institucionalmente. Devem ser levados a sério, pois as instituições em causa têm poder para o efeito.

   Confiamos nelas e aguardamos, de braços cruzados, o desfecho dos processos, esperando que tais absurdos não cheguem a concretizar-se por ocorrência dum acesso de bom senso em qualquer estádio do processo. Não estou certo disso. 

   Não posso deixar de recordar que foi um juiz, ao que constou, dragão de ouro, que condenou Vale e Azevedo ao cúmulo jurídico de 17,5 anos de prisão - diz-se por aí que tem mais 10 anos para cumprir! Um sério aviso à “nação benfiquista” do poder do longo braço do rival do norte. Uma afirmação de poder institucional. Recentemente, o assassino de um jovem adepto benfiquista foi, condenado a 12 anos de prisão “por ofensas à integridade física agravadas por morte da vítima”! Em seis anos, ou menos, estará em liberdade condicional!

    A Vale e Azevedo, perseguido como um animal raivoso, foi negado, desumanamente, esta prerrogativa geral, tendo cumprido toda a pena até ao último minuto! Donde vem tanta raiva? Se a filosofia penal moderna radica na reabilitação social do condenado, no caso do malogrado ex-Presidente do Benfica, a motivação é a vingança, o castigo, o desejo de fazer sofrer. É, acima de tudo, o Benfica que se pretende atingir. Estou contra e acuso os fautores desta barbaridade.

   Aldrabões muito piores, hoje mesmo, andam por aí a rir-se na cara dos portugueses na sequência de falcatruas avultadíssimas, penalizadoras de todos os cidadãos honrados! Alguns até foram agraciados com as mais altas condecorações da República! Que país este!

   A não interdição dos estádios de Alvalade e do Dragão revela discricionariedade por parte da FPF, intenção de fazer mal ao Benfica - só os prejuízos de bilheteira situar-se-iam entre os 1,5 a 3,5 milhões de euros, acrescidos dos cerca de 500 mil euros de multas anuais; idênticos atos dos rivais foram “agraciados” com penas de multa marginais, ridículas.

   Enquanto isso os adeptos encarnados são implacavelmente esmifrados para ver o seu clube jogar, com a cumplicidade da LPFP, e, muitas vezes, impedidos de usar símbolos do clube e até de o apoiar de forma mais exuberante, como sucedeu recentemente em Braga! E ninguém se escandaliza! Andam a gozar connosco.

   Não tenho a menor dúvida de que, tivessem sido os rivais penalizados de igual forma, assistiríamos a vigílias à porta da FPF (Federação Portuguesa de Futebol e da LPFP (Liga Portuguesa de Futebol Profissional), manifestações, declarações públicas inflamadas de vários quadrantes na defesa das “vítimas”, e sabe-se lá que mais.

   Nós aguardamos pacientemente que o sistema funcione apesar de sabermos que, ele, “o sistema” é contra o Benfica. Temos gente qualificada entre nós, podemos, por exemplo, fazer um abaixo-assinado e, ou, uma petição para apresentar na FPF, na LPFP, até na Assembleia da República, denunciando as arbitrariedes praticadas sistematicamente, contra o clube do qual somos sócios, exigindo a demissão dos responsáveis implicados, fazer comunicados à imprensa, fazer manifestações pacíficas às portas da FPF e LPFP, etc.. Podíamos constituir um movimento cívico de apoio ao Sport Lisboa e Benfica. A nossa passividade é a força motriz dos inimigos do nosso clube.

   Privilegiamos a crítica interna, muitas vezes irrefletidamente. Responsabilizamos os Dirigentes, em particular o Presidente, por tudo o que é negativo e exigimos-lhes, insensatamente, resposta a todas os casos, a superação de todas as adversidades, esquecendo, muitas vezes, que o seu êxito depende da qualidade do nosso apoio.

   É certo que a crítica interna é, antes de mais, um recurso que um bom gestor não deve dispensar, apesar do inevitável desconforto que provoca. É dessa turbulência de ideias, mesmo as mais disparatadas, que surgem combinações donde brotam princípios de bons projetos. Aliás é este o princípio da criação de sinergias, base da gestão moderna, que permite a ultrapassagem da decadência inerente aos ciclos naturais das instituições sujeitas à gestão tradicional.

   Crítica interna sim, com ideias estruturadas ou amalucadas, sem dúvida, recusa do messianismo, sim, exigência máxima, sim, mas sem prejuízo do apoio institucional e da defesa externa do clube. Muitos de nós exercemos a crítica interna como forma de fuga ao desconforto do confronto externo perante os detratores do nosso clube, havendo até casos, paradoxais, em que se chega ao ponto de elogiar sociopatas que fazem da disseminação do ódio ao Benfica o seu projeto de vida. A dissidência interna não deve implicar ausência de solidariedade e, muito menos, implícita ou explicitamente, alinhar no jogo dos inimigos do Benfica.

  Por mim, não tenho dúvidas; rejeitando o messianismo, sem prejuízo do dever de dissidência, solidarizo-me com os órgãos do clube na defesa externa este. E, no âmbito político não perdoo; penalizarei nas urnas do voto os que prejudicam ou permitem que outros prejudiquem o meu clube. Sei que não passo dum grão de areia, mas, como diz o poeta, também sei que: “l’areña es un puñadito…pero hay montañas de arenã!

   Peniche 12 de Maio de 2019
   António Barreto