Desporto

sábado, 17 de novembro de 2018

O 25 de Abril visto da História (notas, P10)

 O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais

…Ora São Francisco de Assis fez igualmente a sua opção de classe – pelos pobrezinhos. Só que ele, ao fazê-la, fê-lo abdicando dos seus privilégios – o que não sucede com muitos destes militantes que, não contentes em preservar os seus privilégios de natureza social e económica, pretendem ainda alarga-los a privilégios de natureza ideológica, fazendo-se a si próprios “condutores da classe operária”. (JAS)

   Tudo resumido, já se percebeu que a ânsia de justiça social e económica, não passa em muitos casos - para não dizer todos -, de um veículo de desbravamento dos caminhos do poder; a velha compulsão primordial das sociedades humanas. (AB)

A Descolonização e os jogos do poder:

….Nascido em 1921, o PCP não conseguiria entretanto até 1926 expressão nacional significativa. Ilegalizado pouco tempo depois, o PCP vai, por isso, ser um partido que se estrutura quase inteiramente na clandestinidade. Isto conduz imediatamente a que a “osmose” entre o partido e o corpo da sociedade portuguesa seja escasso….(JAS)

O que ainda hoje, em democracia, se verifica e contrasta com o poder de facto que detém através dos sindicatos da administração pública que lhe permitem manter sequestrada a sociedade civil. Um preço demasiado elevado da liberdade política incondicional. (AB)

...A URSS passa a funcionar para o PC Português como Roma para os católicos. (JSA

   Com a particularidade de a URSS prover generosamente ao seu financiamento – segundo li por aí da ordem dos 10 milhões de dólares por ano. Isto põe em causa o autoproclamado patriotismo do PCP. Ao obedecer às diretivas comunistas para Portugal, o PCP não tinha em conta os interesses nem dos operários nem dos camponeses, antes, servia-se deles pm nome da difusão do imperialismo soviético. (AB)

…Repare-se aliás - a mero título de curiosidade – que a viragem política em Portugal só começaria verdadeiramente uma vez praticamente resolvida, a favor do MPLA, a resolução da questão angolana….(JAS)

   Fui-me apercebendo desta versão, há não muito tempo, há medida que fui diversificando as leituras sobre os acontecimentos político-militares da época. De facto, se o PCP detinha o controlo avassalador da maioria das forças militares, o recuo de Cunhal, na “hora da verdade”, quando confrontado por Costa Gomes, é surpreendente. Ou estaria a contar com diferente desfecho. O certo é que Otelo hesitou, temendo, talvez, as consequências duma guerra civil, deixando sem ordens as forças afetas aos comunistas, entre as quais os fuzileiros - força decisiva na insurreição republicana de 1910 -, tendo sido rapidamente neutralizado por Ramalho Eanes. Sabemos também que a abdicação de Cunhal teve a ver com a promessa de integração do PCP na democracia por Melo Antunes - comunista desde os tempos da Academia Militar, onde foi colega de Alpoim Galvão. E sabemos, segundo o testemunho de Zita Seabra que ter-se-á justificado perante os membros do comité central, com um recuo estratégico que permitiria avanços maiores no futuro “um passo atrás para, mais tarde, dar dois passos à frente”. O primeiro passo à frente foi dado com a sua admissão às eleições constituintes e posterior permanência no sistema democrático. O segundo passo parece em curso induzindo a desagregação dos serviços públicos e agravando os conflitos de classe, nomeadamente entre setor público e setor privado. O que é certo é que, Angola e Moçambique, foram entregues de mão beijada aos movimentos guerrilheiros comunistas, através de um ato eleitoral que não passou de uma encenação. (AB)
Foto: Peniche, Marginal de norte
Peniche, 9 de Novembro de 2018
António J R. Barreto