Desporto

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A República, de Platão



Aos 380 anos AC, conta Platão:
 
SÓCRATES — Fui ontem ao Pireu com Glauco, filho de Aríston, para orar à deusa, e também para me certificar de como seria a festividade, que eles promoviam pela primeira vez. A procissão dos atenienses foi bastante agradável, embora não me parecesse superior à realizada pelos trácios. Após termos orado e admirado a cerimônia, estávamos regressando à cidade quando, no caminho, fomos vistos a distância por Polemarco, filho de Céfalo. Ele mandou seu jovem escravo correr até nós, para nos pedir que o esperássemos. O servo puxou-me pela capa, por trás, dizendo:— Polemarco pede que o esperem.
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Foi assim que Sócrates e seus amigos-discípulos, Trasímaco, Adimanto, Glauco e outros, ainda entusiasmados pelas festas da cidade, dedicaram boa parte do dia ao desporto que mais lhes agradava praticar refletindo em grupo e disciplinadamente acerca dos mais variados temas, alguns dois quais bem atuais.
 
Desta feita, a certa altura, discutindo-se a Justiça, face à convicção geral da superioridade da injustiça constatada pelos discípulos, resolveram estes desafiar o mentor a demonstrar o contrário. Sem grande relutância, aceitou Sócrates o pesado fardo e, após algumas considerações preliminares, obtido o acordo dos interlocutores, adotou como método o de constituir uma cidade a fim de, passo a passo, materializar o seu conceito de Justiça determinando a sua concreta superioridade sobre a injustiça, fazendo de seguida a extrapolação para o indivíduo concluindo, finalmente, das vantagens do Homem justo sobre o injusto.
 
Assim nasceu esta fascinante obra - Arte, segundo Tolstoi -, que nos permite acompanhar o processo de arquitetura constitucional de uma cidade pretensamente justa, descobrindo, surpreendentemente, como, há quase dois mil e quatrocentos anos se trataram esclarecidamente, temas ainda hoje melindrosos - como o da igualdade de género -, da educação, da defesa, da família e do governo.
 
E não é que a primeira preocupação de Sócrates é com a educação dos jovens, retirando-os aos 10 anos da influência perniciosa dos pais e enviando-os para campo  onde durante os 10 anos seguintes se dedicariam à ginástica - um corpo harmonioso é sinónimo de alma virtuosa - , à música - excluindo algumas harmonias certamente da família do nosso fado -, à geometria, cálculo e astronomia - não é que o bacano considerava o cálculo necessário ao conhecimento de todas as ciências e artes?, não é que considerava ainda que o ensino não devia ser imposto sob pena de total ineficácia?, e não é que centrava o processo educativo na descoberta da vocação de cada um?  Pois é, era!, mas não só - como diz o Mantorras - o caso é que o bom do Sócrates considerava que só a Filosofia proporciona a sabedoria necessária a uma governação competente e por isso atribuia aos que se tivessem revelado mais aptos, 10 anos adicionais a filosofar! Porém, completado este ciclo e para temperar eventuais tendências aleatórias ou elitistas, os nossos filósofos tinham que exercer a função de guerreiros ativos durante 15 anos, pelo que, os sobreviventes, estariam finalmente aptos para a governação e as honrarias populares aos 50 anos.
 
Mais considerava Sócrates, que era imperativo prevenir a ambição de riqueza dos guerreiros a fim de garantir a sua dedicação plena à causa da defesa da República contra ameaças externas. Para tal, seriam destituídos de património, assumindo os cidadãos os plenos encargos da sua manutenção e das respetivas famílias. Note-se que, no lote dos guerreiros, Sócrates, incluía as mulheres em pé de igualdade com os homens, limitando-se, gentilmente, a poupá-las aos trabalhos mais pesados devido à sua menor robustez muscular, pois considerava que a condição da maternidade, sob nenhum pretexto, deveria ser motivo de descriminação. Por esta razão, as mulheres, deveriam receber educação semelhante, nomeadamente na ginástica, onde a nudez não constituiria motivo de embaraço dado que a virtude substituiria as vestes!, pelos vistos, naquela época, na Grécia, os ginastas exercitavam-se nus para se livrarem do condicionamento do vestuário (ainda não tinham sido criadas a Adidas nem a Nike!). Aqui chegados temos de considerar que, há dois mil trezentos e oitenta anos, neste particular, se registava um enorme avanço civilizacional..
 
Curioso mesmo era a conceção do processo de acasalamento, casamento, da comunidade dos filhos e das mulheres. Se bem percebi, na idade ativa, todos tinham direito de acasalar e casar, mediante um processo de escolha espontânea...condicionada por um processo de sorteio aparentemente universal pelo qual, manhosamente, os menos aptos iam ficando para trás, sem perceberem a tramoia, garantindo-se assim, à República renovação geracional de qualidade superior!, esta é forte e serviu de inspiração ao racismo moderno! Para suprimir os egoísmos com origem nos laços familiares tradicionais e, por outro lado, difundir o afeto e a solidariedade próprias das mesmas famílias, estabeleceu que os casamentos seriam coletivos e que os filhos emergentes em certo período, seriam comuns a todas as mulheres e todos os homens que tivessem casado no período relacionado, previamente definido. Assim, constituir-se-ia uma comunidade onde todos respeitariam todos, por força dos laços afetivos comuns. (Interessante!). Antes da idade ativa - 20 anos - seria criminalizado o relacionamento sexual. Depois desta - 50 anos - seria permitido o acasalamento, mas fora do grupo familiar de origem! (interessante!).
 
Já que estamos com a mão na massa, refira-se que, o nosso Sócrates, dividia a população em castas, designando-as, ouro, prata, bronze e feno, considerando que, estas não deveriam misturar-se visto que daí resultaria decadência genética!, (está visto que Hitler devia ter ascendentes gregos desta época!). Mas atenção; o nosso filósofo, que permanentemente buscava a sabedoria, considerava necessário dispensar cuidados médicos apenas aos cidadãos mais promissores!, todos os que apresentassem moléstias incapacitantes, deveriam ser abandonados nos campos para evitar a degradação social da República!, (hoje cortam-se-lhes as pensões embora haja para ai campos abandonados com fartura!).
 
Relativamente ao modo de governo considerava quatro modelos, a saber; Monarquia, Timocracia, Oligarquia, Democracia e Tirania, sendo o primeiro o mais virtuoso e o último o mais iníquo. Muito interessante, aliás, interessantíssimo, é acompanhar o seu raciocínio na explanação dos mecanismos de degradação social que conduzem, digamos assim, ao decaimento da Monarquia até à Tirania. E é interessantíssimo porque parece um relato fiel do que se passa hoje em dia, por exemplo, em Portugal e na Europa. Se Sócrates estiver certo, as democracias ocidentais encontram-se num processo de degradação que, fatalmente, acabarão em regimes tirânicos, ou seja, em linguagem "náutica", estamos a enrolar o cabo.
 
Engraçado é verificar o fraco conceito que tinha de Homero - seu amigo de infância -, apesar das sua profusa obra poética. Isto porque considerava os poetas, pintores e outros artistas como imitadores, já que detinham um conhecimento de terceiro grau, demasiado afastado, portando do conhecimento autêntico e, como tal, aleatório e perigoso. Apesar disto, o nosso Sócrates, estava disposto a aceitar os poetas e a sua poesia desde que não desvirtuassem os princípios virtuosos estabelecidos constitucionalmente. (ora cá está; a censura pode ser boa!). A demonstrar que Homero não era grande coisa, invocava Sócrates a inexistência de discípulos próprios e a relativa indiferença das cidades, razão da sua itinerância declamatória como recurso de obtenção do fraco sustento (desconhecia Sócrates a tradicional  incompreensão dos génios na sua época!).
 
Muito mais curioso é constatar a sua convicção relativamente à imortalidade da alma e a forma como a fundamenta. Tal como, aliás, o seu conhecimento do Hades, transmitido por Der, quando por lá parece ter andado durante a semana em que permaneceu em morte aparente em pleno campo de batalha, da qual ressuscitou, já em plena pira, com grande lucidez de memória. Foi assim, que, ficou a conhecer o processo da reencarnação, onde cada alma, homem ou animal, escolheria o que queria ser na vida futura, por ordem de chegada e de acordo com a origem; do céu ou do inferno - ou equivalente.
 
Uma obra fascinante, sem dúvida, digna de revisitação - como foi o caso -, com partes chatíssimas, onde podemos constatar a relatividade de certas verdades, a importância da justiça, bem como alguns fundamentos e vicissitudes das sociedades modernas. Particularmente interessante, a metodologia de análise por dedução e analogias sucessivas previamente acordadas pelo o interlocutor, cuja validação das conclusões condicionava a progressão do processo. 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Benfica-Gil Vicente (1-0)

Num jogo em que o Benfica apresentou uma equipa pouco rodada, o Gil Vicente, que já mostrou, esta época, bom futebol, remeteu-se a uma defesa maciça demonstrando, mais uma vez, o estado deplorável em que se encontra o futebol nacional, caracterizado pelo pobre espetáculo desportivo resultante da enorme diferença desportiva entre grande parte dos concorrentes. Também aqui, as reformas necessárias são inviabilizadas, precisamente, pelo clubes menos competitivos. É o designado nivelamento por baixo que, de modo geral e salvo exceções, tem afetado a sociedade portuguesa nas últimas décadas, razão primeira do estado de exiguidade a que chegámos.
 
Muita dinâmica dos vermelhos, naturalmente desejosos de mostrar serviço ao Técnico, sempre na busca do golo. Pressão sobre a bola, amplitude e profundidade. Algum atabalhoamento nos cruzamentos, meia-distância interessante e jogo aéreo incipiente. Em especial, interessava-me ver o Steven, o Djuricic, o Mori, o Bernardo e o Hélder. O lance que precedeu o golo foi bonito de ver; o Mori merecia o golo naquela entrada de cabeça ao cruzamento de Cavaleiro à qual sucedeu a recarga portentosa de Suleimani, que não brinca em serviço. Na grande penalidade, aquele, denunciou o remate, que o excelente GR contrário não teve dificuldade em defender. Muito bem estiveram Amorim e Cavaleiro induzindo roturas no adversário, cada um ao seu estilo. Bernardo e Hélder protagonizaram bons apontamentos no reduzido tempo que estiveram em campo. Ainda tenho dúvidas no lance do canto direto de Gomes; terá a bola ultrapassado a linha de baliza?, este, mais uma vez, mostrou a sua aptidão para os remates de meia-distância dos quais a equipa tem andado carenciada.
 
Como referi acima, a equipa do Gil Vicente defendeu com tudo, muito recuado, abusando do anti-jogo e de alguma complacência do árbitro da partida.
 
Enfim, ganhando, os jogadores deram boas indicações ao Treinador, alargando o leque de alternativas para a equipa principal. Uma boa utilidade dos jogos da Liga. 

Promoção do jogador nacional; hipocrisia e cinismo

Longe vão os tempos em que os jogadores de futebol portugueses afirmavam, com alguma razão, sentir-se mercadoria na mão dos clubes. Hoje, invertidos os papeis, parecem não se importar com a  condição de mercadoria nem com a sorte dos clubes que os acolheram, desde que daí retirem benefício. Por isso, em geral e salvo exceções, não têm autoridade moral para formular juízos de natureza ética relativamente aos clubes que lhe pagam os salários. Nem os seus representantes; empresários ou sindicalistas. 
 
Antes de mais, compete aos Estados criar condições para a promoção desportiva da população, seja através do desporto escolar seja através do apoio  às Associações Desportivas, algo que Portugal, desde sempre, negligencia, revelando-se incapaz de perceber a importância do desporto na educação da população, apesar de, há já dois mil e tal anos a sociedade helénica ter por adquirido. São os clubes, com todas as suas fraquezas que tratam da formação e promoção dos atletas em todas as modalidades. Sem clubes, o desporto em Portugal seria pouco mais que nulo.
 
Gerir um clube de futebol, hoje, é tarefa ingrata, devido aos inúmeros fatores aleatórios que a condicionam. Como em qualquer outro caso, um clube de futebol deve ser gerido por critérios de racionalidade, e, se há cada vez menos jogadores nacionais nas equipas principais dos maiores clubes, talvez a causa não resida exclusivamente na alegada irracionalidade dos seus dirigentes. De todo o modo, Joaquim Evangelista poderá sempre fundar o clube do Sindicato e mostrar-nos como se faz, concorrendo nas inerentes provas desportivas. Então sim, ganharia a admiração de todos. Protestar e reivindicar, sendo necessário quando justo, não passa de hipocrisia e cinismo quando injusto; como é o caso. 
 
É a União Europeia, os Estados, a FPF, a UEFA e a FIFA, que têm a maior quota de responsabilidade na situação atual. Não se valorizam jogadores com fracas equipas. O Sporting é um caso paradigmático; não tira proveito da excelente formação que tem devido às equipas pouco competitivas que apresenta. Os jovens atletas, logo que começam a despontar, receosos da estagnação nas suas carreiras, pela mão de ambiciosos e oportunistas empresários, com desculpas hipócritas, apressam-se a procurar outras paragens sem o menor escrúpulo pelo clube que, esperançosamente os financiou e promoveu a sua formação. Os exemplos são muitos e bem conhecidos, não só no Sporting mas também no Benfica.
 
Evangelista - alegadamente, sportinguista - deixou este clube de fora da sua crítica, como se não soubéssemos todos que o  contingente de jovens portugueses que apresenta na equipa principal se deve ao grave estado de penúria financeira em que se encontra. Que a atual brisa de ar fresco que parece pairar sobre o clube e o futebol português talvez se deva ao iminente incumprimento daquele face aos seus credores, os efetivos mandantes do futebol, os quais, quem sabe, terão percebido, finalmente, o esgotamento do modelo da batoteira preponderância portista, à vista da inevitável  falência global do futebol nacional.
 
Cerca de dez milhões de euros por ano é o que custa a formação num grande clube!, na altura de colher os frutos pacientemente cultivados, são os empresários e os atletas que, cinicamente ofendidos, se apressam a recolhê-los, deixando os clubes de mãos quase a abanar. Para bem do jogador Português, do futebol nacional e do senhor Evangelista! Ter-lhe-á ocorrido que, moderando os salários talvez fosse possível maior recrutamento de jogadores nacionais?...provavelmente não, ou, se ocorreu, logo se levantou o argumento do mercado, ou seja; o atleta pode jogar com o mercado, já o clube não!
 
Desconhece Evangelista que, apesar dos contratos, os clubes se tornaram, hoje, reféns dos jogadores, estes aplicando-se como lhes convém e ao seu empresário?, estabelecendo compromissos secretos, por ilegais, com quem quer que seja, incluindo rivais do clube de origem, a troco de maior estipêndio? No entanto, se, efetivamente, se pretende - e deve - valorizar o jogador nacional, torna-se necessário proteger o clube formador. Que faz o sindicalista, para moderar esta situação?, nada!, que eu saiba. Porém, protagonismo não lhe falta.
 
Perceberá Evangelista os danos na formação e na promoção do jogador nacional causados pela subjugação do futebol aos interesses do Porto e dos clubes do norte em geral, em detrimento de todos os outros?, perceberá que o hiato na formação do Benfica se deve, em última análise, a essa circunstância?, perceberá que o definhamento do Sporting tem muito a ver com ela?, percebendo, que contributo tem sido o seu para contrariar o atual estado de coisas?
 
Não devemos, porém, ignorar as consequências da integração no espaço europeu, da qual emerge o conceito de cidadão europeu, cujas inevitáveis consequências se traduzem - por enquanto - na relativização dos nacionalismos e, por extensão, dos clubes nacionais. Como testemunho disto mesmo, assistimos, cada vez com maior frequência e sem espanto, ao recrutamento de jovens formandos nos clubes nacionais por parte dos colossos europeus.
 
Claro que aqueles, devem apostar mais nos jogadores portugueses...mantendo-se solventes e competitivos. No atual contexto, é uma tarefa que extravasa em muito a sua competência.
 
Não é assim Sr Evangelista?
 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

domingo, 19 de janeiro de 2014

Benfica-Marítimo; 2-0

Eusébio branco?, não sei, mas lá que há algumas semelhanças é verdade, como bem ilustra a foto.

Oblak é o GR que o Benfica procura há vários anos!, com ele, a história do final da época passada teria sido outra.
 
Como se esperava, Hugo Miguel fez asneira da grossa; não assinalou fora de jogo no lance que precedeu o 2º golo, não assinalou uma GP clara contra o Marítimo, mostrou indevidamente o amarelo a Markovic e ofereceu vários lances ofensivos ao Marítimo assinalando erradamente várias saídas de bola. Lembremo-nos que é graças a ele que o Benfica tem menos dois pontos do que devia - estaria agora a 5 pontos do Sporting.
 
O Benfica foi uma equipa laboriosa solidária, racional e arguta; na primeira-parte e no final da segunda, empurrou o adversário para o seu meio-campo baixo onde este se acantonava com muitos jogadores muito próximos entre si, e, depois de alguns ameaços, acabou por fazer o primeiro tento numa potente recarga de pé esquerdo de Rodrigo, que não pede licença para rematar nem se perde em inúteis rodriguinhos frente à baliza.
 
O Marítimo é uma boa equipa e o Pedro Martins é um bom Treinador, mas, lá está; bloco baixo, chegando a apresentar seis defesas em linha e dois trincos!, esta postura é invariável nos jogos com o Benfica e enquanto for dominante não atrairá mais público nem mais investidores ao futebol nacional. Apesar disso não se coibiram, os maritimistas, de atacar coletivamente sempre que recuperavam a posse da bola; ficaram-me na retina dois belos lances, um na primeira parte com um remate colocadíssimo de Eldon ao primeiro poste a que Oblak correspondeu com soberba defesa, outro já na segunda parte num remate frontal - não fixei o autor -, mais uma vez desviado sobre a barra, em grande estilo, por Oblak.  
 
Lima trabalha muito para a equipa mas continua desinspirado no momento da concretização, tendo desperdiçado uma bela oportunidade, rematando à figura do GR, quando se encontrava isolado. O que faltará?, um golo?, condição física?, conhecimento é que não é.
 
Fejsa esteve bem tal como Enzo e Gaitan, não se tendo feito sentir a falta de Matic. De recordar o tremendo remate de cabeça do Enzo a cruzamento de Maxi - salvo o erro -, desviado pela trave. Entrou bem o Ruben, a dar mais solidez e criatividade ao meio-campo, num período de grande assédio do Marítimo, que assim, teve que se preocupar mais com a sua baliza. Gomes e Cavaleiro ainda fizeram uns minutinhos para aquecer e animar.
 
A defesa esteve bem, à exceção do lance em que Maxi perdeu a posição para Eldon e quase deu golo. Não há dúvida que Siqueira manda na esquerda e Maxi está a recuperar a forma, tal como Luisão - com cortes soberbos - e Garay. Oblak  inspira confiança e isso otimiza o desempenho de toda a equipa. Um grande reforço, sem dúvida!
 
Lima, Rodrigo e Markovic  formam um trio ofensivo muito dinâmico e criativo ainda em busca do melhor sincronismo, deixando boas perspectivas para o futuro tendo ainda em conta a inclusão de Cavaleiro.
 
Não há dúvida que a equipa do Benfica está mais madura e confiante, adotando os modelos de jogo mais adequado a cada período, gerindo o esforço, embora seja necessária maior segurança na fase passiva bloqueando o adversário mais longe da sua área.
 
Muito bem; sobriedade e eficácia.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Benfica-Leixões 2-0

Vitória simpática contra o histórico e popular Leixões,  que no passado remoto foi berço de excelentes jogadores, entre os quais se destacou o talentoso extremo Praia, que viria a alinhar ao serviço do Benfica.
 
Jogo rasgadinho, sob grande aguaceiro, mostrando um Leixões aguerrido e bem arrumado em bloco baixo, soltando-se ofensivamente com amplitude sempre que recuperava a posse do esférico. O Benfica, como convinha, rodou jogadores menos utilizados que deram, bem, conta do recado batendo-se com empenho, aqui e ali com pinceladas de bom futebol. Tal foi o caso dos lances de golo, ambos de bom recorte técnico, com destaque para o segundo, numa excelente jogada coletiva culminada com o poderoso remate de Cavaleiro após primorosa simulação sobre um adversário. Também o primeiro golo resultou de lance coletivo na sequência de um livre indireto onde Djuricic, mais uma vez, mostrou sagacidade ao rematar forte e colocado a tempo de evitar a entrada dos dois defesas que tinha pela frente.
 
Artur mostrou alguma ansiedade inicial numa fífia que poderia ter sido fatal, Vitória ia molhando a sopa num remate acrobático de costas para a baliza a que o guardião contrário respondeu com excelentes reflexos, John deambulou pelos flancos debitando boas assistências entre elas a do primeiro tento e Cavaleiro mostrou os argumentos que já se lhe conhecem, força, técnica, coletivo e decisão. De resto, em geral, todos estiveram bem, exceto nalguns descuidos defensivos.
 
A equipa de arbitragem não parece ter feito avaria e, disse Jesus, haver algo errado com o relvado.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

E depois de Eusébio?

Julgo que foi António Costa que disse ter sido o fim de um ciclo. Referia-se ao ciclo colonial de Portugal, um ciclo que marcou cinco séculos da nossa história e que se refletiu no futebol nacional a partir do final da 2ª guerra mundial, onde, sobretudo no Sporting e no Benfica brilharam vários atletas provenientes das províncias ultramarinas de Angola e Moçambique; Peyroteu, Hilário, Coluna, Santana, Costa Pereira, José Águas, Eusébio, Nelson, Néné, Jordão, etc. Na verdade,  alguns destes extraordinários atletas, felizmente, continuam entre nós, o que nos leva a indagar da razão pela qual alguns vêm no desaparecimento do Pantera Negra o fim de um ciclo. Logo nos ocorre dever-se tal sorte ao prestígio e popularidade impares alcançado pelo Rei em virtude das suas extraordinárias façanhas desportivas. Porém, há algo de mais profundo, relacionado com o pavor que algumas forças políticas  têm perante o fracasso do regime que ajudaram a promover e que as sustenta. Fracasso que leve as pessoas a indagar da fiabilidade da doutrina sociopolítica dominante e a procurar conhecer melhor o regime anterior, em especial a primavera marcelista. Pavor de que as pessoas descubram, por fim, que, afinal, as coisas não são bem como lhes tem sido dito. E é por isso que tais forças têm desenvolvido especial atenção ao desmembramento dos elementos conservadores, como sejam os relacionados com a tradição, a igreja, o mundo rural e a família. E o Benfica e Eusébio; os últimos grandes símbolos do Portugal imperial, multirracial e multicultural. Esses, sentir-se-ão, finalmente, aliviados, apesar das lágrimas de crocodilo. Ao referir o fim de um ciclo, saltou-lhes o pé para o chinelo, visto que, tal apreciação não tem a menor relevância face à perda.
 
Um vazio emergiu após o desaparecimento de Eusébio e, ao olhar em volta, surge-nos a obra de Filipe Vieira. Enquanto o Benfica tem sido, artificialmente, ano após ano, relegado para 2º plano, Filipe Vieira tem mantido o ânimo dos Benfiquistas, enaltecendo a sua história e os seus atletas, enquanto tem construído o Benfica do futuro. Eusébio já cá não está, mas está o seu legado e uma obra notável que nos permite lutar de acordo com o estatuto granjeado pelo nosso clube durante décadas. E isso é obra do atual Presidente do Benfica. Estou-lhe grato por tal mas sobretudo pela forma honrosa como conduziu as cerimónias  fúnebres.
 
É o fim de um ciclo para o Benfica, sim; é tempo de correr a cortina translúcida do passado e olhar para a frente. Olhar com inteligência e persistência para o que nos rodeia e perceber quais são as alavancas da excelência, mobilizando-as; os melhores Técnicos, os melhores Atletas, a melhor Motivação, os melhores Adeptos, os melhores Aliados, etc. É tempo de abolir uma certa falsa cultura de excelência que reina entre os adeptos e que mais não é do que patetice disfarçada, e fomentar a união por um Benfica maior e melhor onde a crítica inteligente é indispensável. É este o desafio após Eusébio; voltar a subir a montanha da glória.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Reconhecimento:

Ao Real Madrid, Ao Manchester United, ao Sporting Clube de Portugal e ao Marítimo, pela forma como souberam homenagear Eusébio. Com este gesto, conquistaram a minha simpatia, sem desprimor para os restantes, em especial o Real Madrid; foi bonito de ver Butraguenho e Amâncio entre nós partilhando a nossa mágoa. Amâncio; o temível génio da bola entre Puskas, Di Stefano, Santa Maria & Cª tantas vezes adversário de Eusébio.
 
 
 

 
 

 
 

 

domingo, 12 de janeiro de 2014

O derradeiro jogo de Eusébio

O Pantera Negra, intencionalmente ou não, uniu e motivou atletas, dirigentes e adeptos do seu clube, impondo, simultaneamente, respeito aos adversários, em especial, ao do jogo desta tarde. Os atletas puxaram pelo público e o público puxou pelos adeptos, a vitória aconteceu e foi bonita. Não menos bonito foi ver os valores que unem todos os antagonista desportivos, para além da vitória, desde logo, o do respeito, que esteve patente até nas bancadas. Pela derradeira vez, isto foi-nos mostrado por EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA. Obrigado Eusébio.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A minha "verdade" sobre Eusébio.

Sem dúvida, um homem simples que, sendo iletrado era culto. E era culto porque, conhecendo a essência do seu ofício, com ele se fascinava e contagiava todos os outros, elevando o desporto que praticava à qualidade de Arte. E Arte, é cultura da boa! Tal, foi e é reconhecido pelos melhores entre os seus pares; de ontem e de hoje. Colegas de equipa ou adversários. Tal fascínio derrubou os muros da rivalidade e do nacionalismo trazendo novos adeptos ao desporto e provocando um sentimento de alegria e união coletiva. Tal, foi o que se constatou nas cerimónias fúnebres entre os seus concidadãos e por todas as remotas paragens do planeta que, alguma vez, tiveram o privilégio de assistir, ainda que indiretamente, às suas exibições.
 
Arte, sim; bailado com causa, com bola, é no que se transforma o futebol quando praticado por alguns atletas. Atletas como Eusébio. Arte, sim, pelo respeito que sempre demonstrou pelos colegas, adversários ou não. Ser culto não é, pois, necessariamente, conhecer muitas coisas, mas conhecer a essência do que é, efetivamente, importante a um grande número de pessoas. É o que foi Eusébio. E é por isso que foi um Homem de cultura.
 
Não sei porque morreu Eusébio; dizem que foi paragem cardiorrespiratória, referem ter ele dito estar cansado de viver devido às dores. Sabemos que tinha fortes limitações de natureza cardiovascular. Testemunhámos, nos últimos meses, o seu mal disfarçado decaimento físico. Tudo isso será verdade, mas, quanto a mim, Eusébio morreu de desgosto. Desgosto pelo enxovalho de que nos últimos tempos estava ser alvo por parte de uma comunicação social enfeudada aos interesses dos principais rivais do seu clube do coração, que, despeitadamente e desrespeitosamente, ousaram pôr em causa o oficioso título de "rei" que lhe fora carinhosamente atribuído  pelos comentadores da época, virtualmente ratificado pela generalidade da população e que lhe era caro.
 
Um desfecho com forte contribuição da Federação Portuguesa de Futebol, desde há várias décadas subjugada aos interesses do atual maior rival do clube de Eusébio, pelo frequente agendamento de jogos de preparação da seleção nacional com seleções de 3ª ou 4ª categoria, a fim de proporcionar a superação do seu máximo de golos pelos avançados subsequentes, como se verificou.
 
Eusébio morreu, porque não quis assistir à intensificação do enxovalho público em curso, após a entronização de Ronaldo, com  a iminente atribuição da 2ª bota de ouro. Na sequência do falecimento de Eusébio, alguns terão a consciência pesada, como estou convicto será o caso de Madail, Pauleta e Ronaldo. 
 
Esta é a minha verdade!

domingo, 5 de janeiro de 2014

Eusébio da Silva Ferreira, meu Deus; publicado em Janeiro 5, 2014 por Manuel S. Fonseca

 
 

 eusebio_chora

Se Eusé­bio mor­reu hoje, como dizem as infa­ti­gá­veis notí­cias, mor­reu hoje o que res­tava dos meus anos 60 e o que res­tava de Por­tu­gal ter sido um império.
E embora mor­rendo hoje, como dizem as indes­men­tí­veis notí­cias, as cores do mito – esse belo negro da sua pele, esse ver­me­lho vivo da sua cami­sola – não dei­xa­rão nunca mor­rer Eusé­bio. E nem é pre­ciso dizer aqui a pala­vra Ben­fica, por­que a pala­vra Eusé­bio e a pala­vra Ben­fica beijam-se, fundem-se, são uma com­bi­na­ção amo­rosa de que a gra­má­tica tem ciúmes.
 
Eusé­bio era feito da mesma terra ver­me­lha dos heróis. A força de per­nas de um Hér­cu­les, veloz como Ulis­ses, o joe­lho onde Aqui­les tinha o cal­ca­nhar. Há romance, mis­té­rio e aven­tura em toda a sua vida. Vejam como, da cidade colo­nial de Lou­renço Mar­ques, o tra­zem para Lisboa.
Numa noite de tró­pi­cos, um jipe leva-o à porta do avião. Clan­des­tino quase. E em Lis­boa escondem-no da bruxa má. Tudo por­que Eusé­bio, per­so­ni­fi­ca­ção da bon­dade, fez o que um filho deve fazer, a von­tade à sua mãe. O clube onde jogava que­ria mandá-lo à expe­ri­ên­cia para outro clube. Mas a mãe, como todas as mães, deci­diu pela von­tade do filho: recu­sar vir à expe­ri­ên­cia por­que, como todos os ver­da­dei­ros humil­des, Eusé­bio sabia o que valia.
 
E o que valia Eusé­bio? Outros dirão muito melhor do que eu. Eu conto-vos só as minhas per­ple­xi­da­des. Eu nunca con­se­guia saber se era o seu pé esquerdo, se o seu pé direito que chu­tava. Por­que, em boa ver­dade, não era ele que chu­tava. A velo­ci­dade rema­tava por ele. E já estou a men­tir ou a enganar-me, por­que, em boa ver­dade, foi com Eusé­bio que a velo­ci­dade apren­deu a jogar à bola. Num tempo em que os car­ros tinham qua­tro velo­ci­da­des, Eusé­bio já tinha a sexta.
 
Dei­xem deliciar-me ver­go­nho­sa­mente no vício das minhas recor­da­ções. Estou a vê-lo, em Ams­ter­dão, ali­nhado com Águas, Coluna, Simões, antes da final com o Real Madrid come­çar. Está per­fi­lado, a cara­pi­nha cor­tada quase rente, a cabeça redonda de menino, pre­ci­o­sa­mente dese­nhada e bonita, a pele negra bri­lhante, nobre, afri­cana. E era, menino de Moçam­bi­que, o melhor joga­dor por­tu­guês. E eu tenho muito orgu­lho em que o melhor joga­dor por­tu­guês seja um afri­cano, raio de um ex-império que nem um depu­tado negro con­se­gue ter.
 
Nesse jogo, mar­cou dois golos, os dois, juram-me, e eu não teria tan­tas cer­te­zas, com o pé direito. Pus­kas, Gento e o semi-deus que era Di Ste­fano caí­ram aos seus pés. Eusé­bio, herói com­pas­sivo, foi ao chão bus­car a cami­sola de Di Ste­fano. Pediu-lha, a esse semi-deus aba­tido. Di Ste­fano deu-lha, con­so­lado por aquele pedido de menino, e Eusé­bio guardou-a, por­que Eusé­bio é o guar­dião de todos os símbolos.
 
Eusé­bio foi o pri­meiro fute­bo­lista a jus­ti­fi­car os 110 metros de com­pri­mento de um campo de fute­bol. Se não fos­sem já essas as medi­das, o campo teria de ser esti­cado. Eusé­bio comia com ale­gria metros de relva. Eusé­bio era um bicho dos gran­des espa­ços, uma pan­tera que que­ria savana. Foi com ele que o fute­bol des­co­briu que a África existia.
 
Cor­ria em linha recta ou em elipse, fazendo meias-luas, rápi­das mudan­ças de direc­ção, rein­ven­tando a velo­ci­dade, baixando-a, subindo-a. Percebia-se assim, final­mente, por que razão um campo de fute­bol deve ter 75 metros de lar­gura, uma área de 8250 metros qua­dra­dos. Cor­ria e nas per­nas dele cor­ria a pala­vra Ben­fica. Mas tam­bém a pala­vra Portugal.
 
Foi em 1966, não dou novi­dade nenhuma a nin­guém. Mas vejam outra vez as cores do mito a pin­tar Eusé­bio. Houve um sor­teio dos núme­ros das cami­so­las. Saiu-lhe o 11, ao peque­nino e mara­vi­lhoso Simões o 13. Simões que­ria jogar com o seu habi­tual 11 e, com a ver­dade, deu a volta a Eusé­bio: “Já viste o que é, se joga­res com o 13 e fores, como vais ser, o melhor mar­ca­dor e o melhor joga­dor do mundo?” E foi, com esse número que devia ser fatí­dico, com esse número da fei­ti­ceira Circe, o melhor mar­ca­dor, o melhor joga­dor, o Melhor. As cores do mito, os núme­ros do mito, escolhem-no, querem-no como filho dilecto.
 
Vi o segundo golo dele ao Bra­sil num filme exi­bido no cinema Impé­rio, em Luanda. Uma obra de arte gigan­tesca em que potên­cia e explo­são se enla­çam. Um golo que ajo­e­lhou o Bra­sil, esse impé­rio romano do fute­bol. De novo e sem­pre as cores do mito: com esse golo, aos pés ala­dos de Eusé­bio, caía Pelé, uma lança espe­tada no flanco.
 
No jogo com a Coreia do Norte, Eusé­bio car­re­gou, como Hér­cu­les, o mundo aos ombros. Ainda nem a meio da pri­meira parte íamos e a Coreia, aba­lando a ordem do céu e terra, de mares e ares, ganhava por três a zero. Eusé­bio recons­ti­tuiu minu­ci­o­sa­mente a ordem do mundo, todo o uni­verso. Agar­rou nos des­tro­ços e com per­se­ve­rança jun­tou as par­tes. Cor­reu, dri­blou, foi atin­gido vio­len­ta­mente, mas triun­fou. Qua­tro golos foram os tra­ba­lhos de Eusé­bio nessa tarde de gló­ria que aca­ba­ria, dias depois, nas lágri­mas de Wem­bley, momento mais bonito, mais lírico ou ele­gíaco do que qual­quer vitó­ria. Lágri­mas de Eusé­bio que a cami­sola de Por­tu­gal reco­lhe e esconde. Nenhum outro gesto, outras lágri­mas, pode­rão ser tes­te­mu­nho de mais amor.
 
Mor­reu hoje Eusé­bio da Silva Fer­reira, meu Deus.
 
 
eusebio slb

O LEGADO DE EUSÉBIO PERMANECERÁ




 

  
 





















 










 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
  
 
 
 
 
 

 
 

Eusébio da Silva Ferreira, o "Pantera Negra" (1942 - 2014) 

Para ele, a minha mais solene oração;

 
 
 
Eusébio da Silva Ferreira, GCIH, GCM (Lourenço Marques, 25 de Janeiro de 1942) é um ex-futebolista português, de origem moçambicana. É considerado um dos melhores futebolistas de todos os tempos. Marcou 733 golos em jogos oficiais e 1137 golos na carreira. Nascido na então Lourenço Marques, hoje Maputo, capital da colônia portuguesa de Moçambique, ficou conhecido como Pantera Negra. Eusébio, como também é conhecido, é descendente de pai natural de Malange, província angolana situada no norte do país. Desde cedo, Eusébio mostrou uma ligação muito forte ao chamado "desporto-rei", tendo mesmo entrado numa pequena equipa de bairro criada para as crianças se divertirem e passarem o tempo com uma ocupação útil. A equipa chamava-se "Os Brasileiros", em honra dos heróis das crianças, que actuavam na selecção "canarinha". A admiração pelos craques era tal que as crianças adoptaram como alcunhas, os nomes pelos quais eram conhecidos os internacionais da selecção sul-americana. No que toca a Eusébio, adoptou o nome de "Didi". Para muitos, Didi foi o grande craque da seleção brasileira "pré-Pelé", e jogava no meio-campo, essencialmente com uma função de criador de jogo. Mais tarde, Eusébio procurou inscrever-se no clube "O Desportivo", mas não foi aceite. A vontade de jogar futebol falou mais alto do que o clubismo, por isso, dirigiu-se ao Sporting de Lourenço Marques. Tendo sido aceite nesta filial moçambicana do clube leonino de Lisboa, Eusébio jogou de leão ao peito até à sua ida para Portugal. O negócio da transferência do menino de 18 anos ficou mais tarde marcado pela polémica, devido à luta que houve entre os dois rivais de Lisboa para conseguir o passe do rapaz. No entanto, o Sport Lisboa e Benfica ofereceu mais por um contrato, e Eusébio rumou à Luz. Corria o ano de 1960. Logo na primeira época de camisola vermelha vestida, o "Pantera Negra" ajudou o Benfica a conquistar a sua segunda Taça dos Campeões Europeus consecutiva. Foi pouco antes do Natal de 1960 que chegou a Lisboa depois de ter assinado um contrato de 350 contos com o Benfica. Estreou-se no Estádio da Luz a 23 de Maio de 1961, num jogo amigável contra o Atlético em que marcou 3 dos quatro golos do Benfica. As peripécias que se sucederam desde a sua chegada atrasaram a assinatura do contrato, o que iria impedir de estar presente em Berna, na noite do primeiro triunfo europeu do Benfica. A sua fama internacional vem do jogo da segunda final europeia do Benfica em 1962, contra o Real Madrid. Não só marcou dois golos como fez uma exibição de luxo com as características que o iriam tornar famoso: a velocidade estonteante e o remate fortíssimo. o France Footbal considera-o já ,nesse ano, o segundo melhor jogador do mundo. Os convites para jogar no estrangeiro obviamente surgiram. A Juventus oferece-lhe 16000 contos, em 1964, numa altura em que ganhava 300 contos no Benfica. A tentação era tão grande que o governo de então o envia para a tropa, não permitindo que se venda um tesouro nacional deste tamanho. O Benfica acabaria por lhe aumentar o salário para 4000 contos. No mundial de 1966 em Inglaterra, torna-se definitivamente uma estrela mundial, um digno rival de Pelé. O epíteto de "Pantera Negra" vai correr o mundo. A facilidade em marcar golos torna-o no melhor marcador do mundial com 9 golos, ajudando a levar Portugal ao terceiro lugar. Após o mundial, os italianos fazem uma nova oferta a Eusébio: 90000 contos... Quando parecia que desta vez nem o governo poderia impedi-lo de aceitar, surge a notícia que os clubes italianos deixam de poder contratar jogadores estrangeiros. A carreira de Eusébio foi recheada de lesóes, tendo sido operado 6 vezes ao joelho esquerdo e 1 ao direito. Nunca deixou de jogar, mesmo em condições dolorosas, até porque sabia que o Benfica dependia muito dele e que os espectadores não aceitariam bem a sua ausência. Realizaram-lhe uma festa de despedida, em Setembro de 1973, mas continuou ainda a jogar até 1979. Em 1975, aventurou-se nos EUA , mas ao fim de 5 meses estava de volta a Portugal. Jogou ainda pelo Beira-Mar e pelo União de Tomar. Foi 1 vez campeão europeu e 3 vezes finalista europeu, ganhou 11 campeonatos nacionais e 5 taças de portugal, recebeu 7 vezes a bola de prata, como melhor marcador do campeonato nacional e duas vezes a bota de ouro como melhor marcador europeu. Em toda a carreira marcou 733 golos em 745 jogos, de referir, que ao contrário de outros jogadores de fama internacional, Eusébio não contabilizou os golos realizados nas categorias de base, também de salientar, que, os golos marcados antes de Eusébio se transferir para o Sport Lisboa e Benfica, não estão contabilizados, o que significa que oficialmente para efeitos estatisticos a carreira de Eusébio, apenas começa após a sua transferência para o Sport Lisboa e Benfica, facto esse, que vem prejudicar a contagem oficial dos golos marcados pelo jogador. Estreou-se então na seleção portuguesa a 8 de outubro de 1961. Em 1966, vestindo a camisola das quinas, foi um dos principais protagonistas do Campeonato do Mundo jogado em Inglaterra. Com uma prestação fenomenal, Eusébio foi uma das principais armas portuguesas para uma das melhores campanhas internacionais de sempre. Logo no primeiro Mundial, Portugal chegou aos quartos-de-final, deixando pelo caminho equipas como a da Coreia do Norte (a grande surpresa do torneio, logo depois de Portugal), Hungria (do grande Puskas) e Brasil (um dos principais favoritos, sendo que de entre uma equipa genial se destacava o número 10, Pelé). Portugal acabou por sair derrotado contra a equipa da casa, num jogo que ficou conhecido pelo "Jogo das Lágrimas", e que ficou marcado por contestações à organização do torneio. A marca de Eusébio no Mundial de 66 chegou ainda à lista dos melhores marcadores de golos, tendo ficado no topo da lista como o maior goleador da prova. Eusébio obteve a sua última internacionalização a 13 de Outubro de 1973. Em outubro de 1963 foi seleccionado para representar a equipa da FIFA no festival das "Bodas de Ouro" da "Football Association", no Estádio de Wembley. Já em final de carreira, Eusébio teve passagens rápidas e menos brilhantes por equipas menores, nomeadamente o Beira-Mar e duas equipas norte-americanas. Em 2004, foi eleito o melhor futebolista de Portugal dos 50 anos da UEFA, nas Premiações do Jubileu da entidade e eleito o terceiro melhor jogador do século atrás de Pelé e de Maradona. Terminou a carreira em 1979, e actualmente faz parte da comitiva técnica da Seleção Nacional Portuguesa

A entrevista de Filipe Vieira; 2ª parte

As razões que apresentou da manutenção de Jorge Jesus ao leme da equipa técnica para esta época, revelam a fria racionalidade patente na subida do ranking europeu da equipa - de 23º para 5º -, desde o início da "era" JJ. Mas também coragem. A coragem de enfrentar a ira dos adeptos rejeitando bodes expiatórios, a coragem da solidariedade nas horas difíceis e a coragem de "amarrar" o sucesso da sua longa presidência à do Treinador derrotado. É de homem! Fácil teria sido despedir o Treinador e culpá-lo de todas as desgraças de final de época. Considero porém ter cometido um erro gravíssimo ao permitir a permanente dúvida relativamente à manutenção de JJ para esta época. Pode ter sido essa a razão do desastroso final de época pela dúvida e desconfiança que acabou por se instalar entre os atletas e entre os adeptos. O Benfica não deve estar, nunca, dependente de uma decisão deste tipo  por parte de um Treinador, seja ele quem for, quando se disputam provas da maior relevância. Este sim foi um erro grave. Seis meses antes de expiar o contrato propunha a renovação num prazo máximo de trinta dias. Era uma decisão difícil; as consequências desportivas poderiam não ser melhores do que as que se verificaram, mas a autoridade do Presidente e a consciência do primado do clube sairiam reforçadas e galvanizariam todos. No final da época era demasiado tarde.
 
Quanto a Cardozo, ficou claro que teria saído se o Fenerbace tivesse apresentado garantias adequadas. Porém, como foi possível desenvolver um esforço de negociação tão prolongado sem ter percebido a fragilidade financeira do comprador?, parece displicência!, porque não pediram informações bancárias antes de iniciarem as conversações?, é o tipo de coisas que não pode ocorrer, devido, sobretudo, aos elevados custos implícitos para a organização.
 
No que diz respeito ao afastamento de António Carraça, justificou-o com intromissões desestabilizadoras deste no balneário. Será verdade, mas não a verdade substancial. De facto, ao criar a figura de Diretor Técnico, afastou-se da equipa Técnica e introduziu um elemento desestabilizador, distorcendo a qualidade da comunicação  e degradando a competitividade do grupo.  A haver Diretor Técnico no Benfica, deverá ser uma figura de grande prestígio entre os adeptos, cuja presença por si só transmita a determinação do clube. Afinal voltou a fazer-se precisamente o contrário!, Filipe Vieira, ou não percebeu ou tem medo que lhe façam sombra. É este tipo de atitudes que o fragilizam junto dos adeptos.
 
Os elevados compromissos financeiros estão a destruir a competitividade da equipa; com Witsel, o final da época passada teria sido bem diferente. Sem Matic corremos o risco de repetir a dose!
 
Tem razão quanto aos sérvios; a escola sérvia é, efetivamente, excecional. Sou seu adepto desde há muitos anos. Desta fornada vão sair grandes craques; há que ter paciência. 
 
No tema do Arouca perdeu a oportunidade de denunciar o atual quadro competitivo do futebol profissional que tende a nivelar por baixo a qualidade das equipas devido às disparidades orçamentais. O projeto de Mário Figueiredo que foi rejeitado pelos clubes, era muito bom para o desenvolvimento do futebol nacional.
 
Já no plano institucional revela grande prudência ao manter todas as vias em aberto. Tal poderá revelar tanto sagacidade como indecisão. Da política de relacionamento com o Sporting e o Porto não surgiram novidades, destacando-se o caso, já conhecido, da existência de contactos regulares com a estruturas administrativas deste. Relativamente à Olivedesportos mantém o critério económico como origem da decisão tomada relativamente aos direitos desportivos. Já quanto à Liga e à Federação, parece jogar nos dois tabuleiros; por um lado elogia Mário Figueiredo pelo empenho no cumprimento do seu programa, em particular pelo enfrentamento dos poderes instalados, por outro, elogia Fernando Gomes pela profissionalização da arbitragem e pela criação da casa das seleções. Esta, não me tinha ocorrido!, sempre me pareceu que deveria assumir, embora mitigadamente, a defesa do projeto de Mário Figueiredo ressalvando os interesses dos direitos desportivos do Benfica, e opor-se frontalmente ao consulado de Fernando Gomes até agora totalmente subjugado aos interesses portistas. Esta atitude associada à confiança que aparenta, parece revelar que pode haver algo mais no reino do futebol nacional, com vista à sua regeneração, do que se conhece. Quem sabe se não estará aí a motivação das renovação com JJ?, afinal todos sabemos que, com um pouquinho, só um pouquinho menos de erros grosseiros das equipas de arbitragem, a equipa do Benfica teria sido campeã nos últimos anos.
 
Há algo porém que gostaria de ver alterado na retórica de Filipe Vieira; o apelo à determinação em vez de à resignação. E que olhasse de frente sempre que o questionam. E, de ver mais benfiquistas no Benfica.
 
Boa vitória a desta noite.


sábado, 4 de janeiro de 2014

A entrevista de Filipe Vieira; 1ª parte

Com o campeonato parado e as vendas a cair, os jornais desportivos enchem as suas páginas com temas relacionados com o Benfica.  Foram os casos de "O Record" e "A Bola" na semana que agora finda, destacando-se, neste, uma grande entrevista de Filipe Vieira, que aqui apreciamos.
 
De tudo o que foi dito nada de novo se revelou. Filipe Vieira aparece confiante no desenvolvimento do seu projeto de longo prazo, promovendo incrementos contínuos de competitividade desportiva em todas as modalidades - com destaque para o futebol sénior -, sustentado no controlo financeiro, no crescimento económico, no fomento de modernas infraestruturas, no desenvolvimento da formação, na cordialidade institucional e na expansão social. Poderemos apontar muitos erros, alguns deles graves, à Direção de Filipe Vieira; a falta de projeto e de coragem não estão entre eles.
 
No domínio das infraestruturas anuncia a já conhecida intenção de construção de um centro social para antigos atletas e de ampliação do parque desportivo no Seixal, com mais três campos de treino. O primeiro caso aprofunda a solidariedade e coesão benfiquista, o segundo alarga a base de recrutamento e formação potenciando a competitividade global.
 
Após o sucesso da "impossível" TV, a difusão e agregação social  do benfiquismo e dos benfiquistas, continua no topo das suas prioridades, agora com o anúncio da intenção de avançar para uma rádio própria, desbravando caminho, mais uma vez, aos seus congéneres. Destaco a substancial diferença estratégica face aos dirigentes portistas, os quais têm preferido parasitar - salvo seja - meios de comunicação já em marcha -  Jornal de Notícias, Porto Canal o Jogo e outros -, na perspetiva de captar novos mercados e na minimização de custos tirando proveito do equívoco regionalista que pretende resumir o Norte à cidade do Porto e esta ao Futebol Clube do Porto.
 
Neste projeto, a sustentabilidade financeira futura e a competitividade desportiva  está dependente da consistência da qualidade dos novos atletas da formação, que proporcionarão uma inversão na estratégia de recrutamento reduzindo o recurso  a mercados externos, abrindo a possibilidade de redução do endividamento, que, a verificar-se, induzirá novo fator de competitividade desportiva. Não há dúvida de que os atletas da casa sentem o clube de forma muito especial e tal reflete-se nas provas, caracterizando-se por uma vontade indomável de vencer, cimentada por muitos anos da águia ao peito. Aqui reside, efetivamente, o verdadeiro, 12º jogador. Sem dúvida. Mas os perigos são muitos!, desde logo, o parasitismo empresarial - salvo seja -, e, não menos importante, a sagacidade do Técnico principal e dos Dirigentes.  Efetivamente, é necessário, mas demasiado arriscado blindar o jovem atleta antes de este despertar a cobiça dos clubes depredadores. Quem de direito, deve implementar medidas para proteção dos clubes formadores, proporcionando as condições para a respetiva melhoria de competitividade. Não faltam os maus exemplos; vejam-se os mais recentes de Bruma que poderá ser replicado por William e até por Sancidino. Recordemos Edgar, Hugo Leal, Maniche e Moutinho. Então?, censuram-se os clubes pela falta de formação e, quando estes a fazem, gastando fortunas - o SCP gasta cerca de 9 ME/ano! -, e conseguem formar um atleta com potencial, quando o clube, depois de pelo menos uma década de formação - 90 ME! -, tem a possibilidade de ressarcir-se do investimento efetuado, fica sem ele?, que moralidade têm estes atletas, para abandonarem o clube ou exigirem mundos e fundos, após terem-se servido de toda uma estrutura e conhecimento acumulado em décadas?, e que moralidade têm os que, de braços cruzados, exigem formação aos clubes? Algo tem, aqui, que mudar! Até lá é fundamental garantir a competência de toda a estrutura da formação e o conhecimento perfeito da legislação aplicável. Tudo isto abona  em nome da necessidade de manutenção de todas as opções de recrutamento em aberto, como afirmou Filipe Vieira. Porém, o êxito desta estratégia está, sempre, dependente de uma equipa competitiva, que, por sua vez, exige a manutenção de um núcleo de atletas emblemáticos durante três a seis anos. Veja-se, mais uma vez, o exemplo do SCP!; forma bons atletas mas não consegue tirar proveito deles por falta de competitividade da equipa sénior!, os próprios atletas, servem-se da sua formação e, logo que estão prontos, "raspam-se" para outras paragens.
      Para que tudo funcione, a equipa do Benfica deve ter, sempre, três a quatro jogadores de grande gabarito e todos os outros bons,  cada um com a sua particularidade, precisamente para que os jovens tenham orgulho em jogar com eles, a ser acarinhados pelos adeptos e tenham orgulho no seu clube. Não se tem orgulho num clube que não ganha!
      Isto traz para o centro da estratégia a política de recrutamento que, quanto a mim, revela grandes e graves lacunas. Não sei ao certo quantos jogadores profissionais tem o clube, noticiou-se há dias 104!, por mim não deveria ultrapassar 34. A redução de encargos correspondente - estimo que à volta de 6 a 7 ME ano em salários e 5 a 10 ME ano em direitos -, permitiria segurar os melhores atletas durante mais tempo e maximizar todas as receitas adjacentes, gerando um ciclo virtuoso, com impacto competitivo. Não tenho dúvidas quanto a isto.
      No entanto, Filipe Vieira, refere que a estratégia atual gera recursos adicionais ao clube pela comercialização de direitos dos atletas emprestados, proporcionando adicionalmente a rodagem necessária à maturidade dos mesmos com vista à integração na equipa principal. Apesar da aparente racionalidade desta estratégia parece-me óbvio que a necessidade de alargamento da base de recrutamento, radica no reconhecimento da dificuldade de identificação eficaz dos talentos recrutáveis de que a equipa necessita. E esta é uma das maiores fragilidades da Direção Desportiva do Benfica! É inquestionável!, desde há muitos anos, tem sido um drama para preencher qualquer posição na equipa! Tenha paciência, caro Filipe Vieira, enquanto não for resolvida esta lacuna não ganharemos e todo o projeto ruirá, neste caso, por falta de telhado. É imperioso comprar menos e melhor.
      Não referiu Filipe Vieira, a importância  na diplomacia desportiva da estratégia do empréstimo de atletas a outros clubes, subtraindo-os à órbita do Porto, clube que dela tem tirado  proveitos tão importantes  como despudorados. Porém, não faz parte da ética benfiquista controlar pelo financiamento direto ou implícito o desempenho dos adversários em seu proveito, pelo que, esta, não me parece uma opção prioritária para o clube.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014