Quando o Governo socialista tomou posse, em 26 de Novembro de 2015, pensei
“com os meus botões”, que o Benfica iria ter problemas. Não me enganei. Depois
de várias peripécias, assistimos, estupefactos, em 07 de Julho de 2021, à
detenção do Presidente do Benfica, à ordem do Ministério Público, suspeito de
ilícitos vários (abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude
fiscal e branqueamento de capitais) no âmbito das investigações às dívidas ao
Novo Banco, conduzindo ao seu afastamento voluntário da Presidência do clube.
Ao longo dos anos, a complacência institucional, desportiva e não desportiva,
judicial e política, relativamente aos repetidos casos de adulteração das
competições desportivas, fez-me nascer a ideia de que, a certa altura, se
estabeleceu um consenso implícito entre alguns atores desportivos e políticos,
quanto à necessidade de reorientar o ordenamento desportivo dominante do país.
Há que enfrentar os factos e denunciá-los; o Benfica é visto, por alguns
setores políticos como um símbolo do salazarismo. Um clube que projetou
Portugal no mundo, envolto num aura de sucesso e fascínio, pela coragem,
cortesia e qualidade da sua arte. Um microcosmos do Portugal multicultural e
pluricontinental com que Salazar sonhava, capaz de enfrentar os colossos
europeus e mundiais de futebol. Uma ponte emocional que parece não agradar aos
protagonistas da nova ordem, eventualmente mais interessados na ascensão das
alegadas “vítimas desportivas”, finalmente “libertas das garras da ditadura”.
Por outro lado, a característica agregadora do popular clube de Eusébio,
Coluna, Simões e Cª, não é vista com bons olhos para os que se têm empenhado em
desmantelar a matriz cultural tradicional do país, algo hoje bem à vista de
todos cada vez com mais evidência.
Numa
frase metafórica, arrisco dizer que “Os “deuses” estão contra o Benfica”.
Empossado o novo Governo, não tardou a ser anunciada, pela Comunicação
Social, turbulência no Ministério Público relacionada com “rotação” de
procuradores e respetivas hierarquias. Não sei como se processam estas
movimentações e até me parece normal que ocorram por ocasião das mudanças de
Governo, salvaguardados os trâmites legais. No entanto, pensei, novamente “com
os meus botões”, que, a máquina socialista estava a tratar de prevenir a defesa
das suas hostes.
Não sei se é verdade ou não, mas o que é facto é que, a partir daí,
choveram queixas no Ministério Público contra o Benfica, todas elas
investigadas com grande aparato, muitas tendo como denunciante o, então,
Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho. Um caso emblemático foi o dos vouchers, investigado inúmeras vezes, apesar
dos sucessivos arquivamentos. Outro foi o da publicação de correspondência do
clube, graças à rejeição da providência cautelar pelo juiz do Tribunal de Primeira
instância do Porto, com a alegação surpreendente de que tais publicações não
resultariam numa perda de adeptos para o clube. Durante cerca de oito meses, o
nome do clube foi arrastado na lama, só terminando quando o Tribunal da Relação
do Porto deu provimento à Providência Cautelar. É neste contexto que, mais uma
vez, vem a público a socialista Dr.ª Ana Gomes, defender com unha e dentes o pirata
informático envolvido neste episódio, apresentando-o como herói nacional e mundial,
lançando acusações veladas ao Presidente do Benfica, ignorando os danos que, à
margem da lei, estavam a ser feitos ao clube e seus sócios e adeptos. Cabe aqui
recordar que foi a sua colega de partido, Arquiteta Helena Roseta que, anos
antes, se insurgiu, na Câmara de Lisboa, contra os benefícios fiscais atribuídos
pelo município ao clube relativos à construção do seu Museu, apesar de definidos
em protocolo com todos os clubes da cidade. A mensagem é clara; Lisboa não tem
interesse num museu do Benfica na cidade.
Cabe aqui recordar, sumariamente, outros episódios anteriores através
dos quais percebi que o clube iria ser vítima de ataques reputacionais. O
primeiro foi a resolução do Fundo de Investimento de Jogadores ordenada pela
F.I.F.A. - e pedida por Bruno de Carvalho desde que chegou à presidência do
rival. Em tempo recorde o clube teve que se desfazer de uma solução que lhe
permitia contratar jogadores de craveira mundial, mercê de um esforço
financeiro elevadíssimo, cerca de 95 milhões de euros, obtidos, in extremis, com a venda de jogadores
da formação. Outro foi o das restrições ao financiamento bancário aos clubes de
futebol ordenadas pelo Banco Central Europeu, na sequência da crise bancária de
2011. Neste caso o clube substituiu, com sucesso, os bancos pelo mercado
obrigacionista. Para mim ficou claro que o próximo passo consistiria no ataque
à reputação do clube. Afinal foi o que foi feito no tempo de Vale e Azevedo;
recusa de financiamento e congelamento das contas bancárias. Não me enganei.
Ele aí está em grande força. O que tem “graça” é que a alegada proibição de
empréstimos dos bancos aos clubes não se aplicou a todos eles. Pelo menos o
rival Sporting continuou a ser financiado e beneficiado com sucessivos perdões
de dívida, como se se tratasse de um dos desígnios nacionais. Enquanto isso, o
Benfica saldava quase na totalidade a sua dívida bancária num montante idêntico!
Bem vistas as coisas, o Benfica parece ter sido o colateral do financiamento
dos rivais.
É demasiado para eu acreditar em coincidências.
Vejamos agora o caso do ex-Presidente do Benfica Filipe Vieira. Se
estava a ser investigado desde 2018, como foi noticiado, porque foi detido
exatamente quando decorria uma operação obrigacionista? Mais uma coincidência,
claro! Pode ser, mas eu não acredito. Estou convencido de que o propósito primário,
ou secundário, era o de fazer fracassar o financiamento do clube e comprometer
a nova época. Esta suspeita ganhou mais força hoje mesmo, ao ser anunciada na
imprensa uma investigação ao projeto de internacionalização do Benfica, alegadamente
suspenso em virtude da crise pandémica que atravessamos. O caso é que tal
ocorre quando o clube está no meio do processo de qualificação para a Liga dos
Campeões. Bate tudo certo. Ou não? A entrada nesta Liga proporcionará farta
receita ao clube, indesejada pelos rivais e seus “amigos”.
Vejamos ainda; como é possível que, no campeonato transato, em 34 jogos,
o Benfica tenha tido apenas duas grandes penalidades a favor sem levantar o
protesto geral da opinião pública, em particular dos comentadores desportivos,
alegados defensores da verdade competitiva? Pois é! É possível porque ao fim de
tantos anos, pelas razões aduzidas acima, se estabeleceu uma espécie de
consenso geral contra o clube, como se se tratasse de um “justo acerto de
contas” “das autoproclamadas vítimas do fascismo”.
Por mim, jamais darei o meu voto, ao político ou partido que fizer mal
ao meu clube, nem a quem não tenha projeto idóneo para restituir a
credibilidade ao desporto nacional. É tempo de acabar com os preconceitos
políticos no desporto, tratando todos por igual.
PS: Espero que o projeto de internacionalização do clube vá para a
frente, não só porque tal proporcionará o seu crescimento económico e
competitivo, como possibilitará a participação desportiva de eventuais participadas
em campeonatos de outra dimensão.
Cabe aos benfiquistas defender o
seu clube.
Amadeo de Sousa Cardoso e Emmérico Nunes (Paris, França).
Data de produção da fotografia, 1907
Peniche, 21 de Agosto de 2021
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