Desporto

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Benfica-Paok (3-0)

O Paok pratica bom futebol, tem bons jogadores e trouxe a lição bem estudada. Por duas vezes esteve próximo de igualar a eliminatória; valeu-nos Artur, ainda na primeira parte, numa defesa a dois tempos salvando em cima da linha de golo, anulando remate fortíssimo de meia-distância. Já na segunda parte, foi Maduro que chegou tarde a um remate cruzado de cabeça de Katsuranis, rente ao segundo poste, no qual bastaria encostar para marcar. Toda a preocupação da equipa consistiu em evitar sofrer novo golo do Benfica na primeira-parte, mantendo-se muito compacta e disciplinada atrás na linha da bola, saindo muito rapidamente, tentando surpreender. Na segunda-parte, então sim, sem nada a perder, subiu no terreno aproximando-se da área encarnada, na esperança de virar a eliminatória. Foi-lhe fatal. Nenhuma equipa, hoje, joga aberto com o Benfica impunemente.
 
O Benfica apresentou-se com uma equipa menos rotinada - Artur, André Gomes, Djuricic -, e alguns regressos muito saudados - Máxi, Garay, Sálvio e Cardozo -, com o objetivo claro de poupar boa parte dos habituais titulares e dar minutos aos restantes. Resultou numa robusta vitória, algo pesada para o Paok mas merecida para o Benfica. Apesar do bom posicionamento e atitude geral, a equipa acusou falta de poder de combate e de criatividade no meio-campo, revelando dificuldade em abrir espaços no bloco defensivo adversário. Apesar disso, ainda criaram duas ou três boas oportunidades de golo.
 
Na segunda parte, com a equipa do Paok mais aberta e subida no terreno, abundavam os espaços no seu meio-campo convidando a nova dinâmica ofensiva do Benfica, o que aconteceria com a entrada de Lima, Markovic e, mais tarde, Rodrigo. Em dois lances de rotura os dois primeiros provocariam o primeiro e o terceiro golos, com o bom do Katsuranis a ser expulso no primeiro deles. A Inteligência e tecnicismo de Gaitan fariam um belo golo em que o excelente guarda-redes contrário ficou preso ao relvado a ver o esférico anichar-se junto ao poste contrário, apesar da barreira. Com menos um jogador e a perder, perante a avalanche vermelha, o Paok  defendeu como pode, acabando goleado.

Lima marcou a grande penalidade com grande segurança e eficácia; não é fácil enganar daquela maneira um bom guarda-redes, como foi o caso. Markovic fez o terceiro num belo lance em que, imparável e intuitivo, bateu a defesa contrária, atirando sem demora, com grande frieza, para desespero do guarda-redes que saíra para fazer a mancha.
 
Não gostei do árbitro; ajudou um bocadinho os gregos.
 
Missão cumprida e não vejo euforias.
 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ETERNA GRATIDÃO

 
 
 
 
OBRIGADO MÁRIO COLUNA

Benfica-Guimarães (1-0)

Mais importante que a vitória foi a forma como foi obtida; com serenidade e convicção, resultado da plena assimilação de processos coletivos e consciência da excelência individual.
Markovic foi o homem do jogo, trazendo-nos o perfume dos tempos em que Chalana e colegas nos encantavam fazendo do futebol aquilo que deve ser; um belo espetáculo. E é esta a maior responsabilidade do Benfica; ganhar e encantar. Tal é a razão da sua grandeza. Se foi sublime o chapéu de Markovic, igualmente sublime foi a rotação e passe de Rodrigo no lance antecedente.  
 
A equipa do Benfica, com Suleymani e Silvio nos lugares de Gaitan e Maxi, entrou com grande intensidade, acantonando a do Vitória, desorientada, na sua área, adivinhando-se o golo, evitado in extremis pelo seu guarda-redes na sequência de colocadíssimo remate de Rodrigo a finalizar excelente cruzamento de Silvio. Curiosamente, foi um lance atípico, em que um violento choque das cabeças de Jardel e Enzo deixou ambos fortemente abalados, em especial Jardel que andou o resto do tempo de cabeça entrapada após vários minutos fora do jogo, que salvou o Vitória. Tal permitiu a Rui Vitória reorganizar a equipa que por sua vez teve, finalmente, algum descanso, enquanto, por outro lado, os jogadores do Benfica arrefeceram muscularmente e, no reatamento, mostraram menor concentração tática e menor intensidade. O Vitória subiu, compacto, no terreno pressionando com grande eficácia, num meio-campo muito povoado, praticando bom futebol, mas sem criar grandes situações de golo. Excepção a um remate venenoso, colocadíssimo, do seu avançado, sempre muito perigoso, a que Oblak respondeu com soberba defesa, mostrando aos colegas que podiam confiar nele. É aqui que começa a tal serenidade e confiança.
 
Todos estiveram bem na defesa, com destaque para Luisão, que esteve soberbo em todo o jogo, fosse no jogo aéreo, fosse rente à relva, mas também Sílvio, autor de estupendo remate na 2ª parte a que o guarda-redes contrário respondeu, mais uma vez, em grande estilo, também Siqueira fechando o seu corredor com grande eficácia e o esforçado Jardel, em missão de sacrifício, sem comprometer, apesar de, por vezes, parecer um pouco indeciso com a bola nos pés. Muito bem Fejsa ao seu estilo, muito bem Enzo que iniciou a jogada do golo. Muito bem Suleymani que poderia ter feito melhor naquele remate cruzado já bem dentro da área ainda na 1ª parte, bem Lima, trabalhando muito para a equipa, mas que poderia, também, ter feito melhor já na ponta final, assinando o que teria sido o golo da tranquilidade. É certo que, a certa altura, entre a lesão de Jardel e o golo, me pareceu ver o espetro da ansiedade na equipa, que, felizmente, não se confirmaria.
 
Foi, efetivamente, um bom jogo de futebol, proporcionado pela postura do Vitória de Guimarães, que mostrou bons argumentos, individuais e coletivos, apesar de abusar do jogo faltoso.
 
A equipa de arbitragem cometeu alguns erros, que, felizmente, acabariam por não ter influência no resultado. Deixou jogar, mas deixou por sancionar uma falta grave sobre Enzo num lance que bem poderia resultar em golo. Assim não vale.
 
Estamos no caminho certo, mas, todo o cuidado é pouco.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Contos Proibidos, de Rui Mateus; curiosidades V

O escancaramento definitivo das portas do governo e do regime ao PCP e à geoestratégia soviética, segundo Mateus, teria sido proporcionado pela  insensata renúncia de Spínola ao mandato de Presidente da República na sequência do fracasso do 28 de Setembro em que tentara "tomar o poder autoritariamente", criando, assim, as condições para o rocambolesco processo da pseudo-eleição de Costa Gomes para a Presidência da República,  que viria a consumar-se graças ao decisivo voto de Rosa Coutinho então Alto-Comissário em Angola cujo poder entregaria ao MPLA e disso se vangloriaria mais tarde. Mais uma vez Rui Mateus culpa a direita destes incidentes. Em plena época de saneamentos, confiscos, perseguições, agressões e prisões discricionárias, atribuir à direita a responsabilidade de neutralização do avanço comunista é profundamente desonesto; afinal, foi o que Spínola tentou fazer quando percebeu o logro em que estava envolvido. Porém, é verdade que ainda hoje, a direita, tem medo de denunciar e se opor ao asfixiante e intolerante "complexo de esquerda" prevalecente judiciosamente plantado pelos comunistas e socialistas autoproclamando-se de verdadeiros vencedores de Abril e  legítimos arquitetos desta exígua terceira República.
 
Interessante é verificar como, no primeiro congresso legal do Partido Socialista realizado de 13 a 15 de Dezembro de 1974, Mário Soares, que viria a integrar a lista vencedora dos históricos, fazia também parte da lista vencida de Manuel Serra, que tinha nomeado diretor de segurança e de propaganda do partido, e com a qual Partido Comunista planeara "colonizar"  aquele. Tal, denuncia a incompreensão de Soares da dinâmica política interna e o seu alheamento da organização do partido, obcecado com a difusão da sua imagem externa, afinal, trave mestra de toda a sua carreira política. Talvez em razão do espúrio vínculo de "pacto de governo" que estabelecera com Cunhal ainda no exílio, afirmou Soares na sua visita a Moscovo enquanto Secretário Geral reeleito, que "Portugal adere à política de paz e segurança praticada pela União Soviética" e que Portugal "terá de reorganizar todo o seu anterior sistema socioeconómico e construir uma estrada para o socialismo" recordando que "nesse caminho, Portugal encontrou novos amigos dos quais um dos primeiros foi a União Soviética"! Aqui, eis, os fundamentos primordiais da constituição que em 76, manietaria o país, atirando-o por três vezes para a condição de exiguidade financeira e política, em que ainda nos encontramos.
 
Segundo Mateus, devemos a Salgado Zenha "um dos nossos raros homens de Estado", a derrota do "sonho bolchevique", por ter empunhado a bandeira da revolta contra a lei da unicidade sindical de Carlos Carvalhas, então Secretário de Estado, através de um artigo publicado no Diário de Notícias. Tal provocaria o abandono de Manuel Serra e mudaria o rumo dos acontecimentos salvando o país de uma ditadura e Mário Soares de vir a desempenhar o papel de Kerensky que Henry Kissinger lhe preconizara em Outubro de 1974.
 
 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Contos Proibidos, de Rui Mateus; curiosidades IV

Considera Mateus que o herdeiro do 25 de Abril teria sido Sá Carneiro se  tivesse criado um partido social-democrata conforme a filosofia política que professava. Efetivamente, a enorme popularidade de Sá Carneiro e da sua Ala Liberal resultavam da permanente agitação política que promoviam no âmbito da Assembleia Nacional, exigindo, entre outras coisas, uma nova constituição conforme a necessidade de democratização do regime. Infelizmente, o Partido Comunista, com uma estrutura solidamente implantada, tendo infiltrado o movimento dos Capitães e algumas altas patentes das Forças Armadas - mais de metade dos Capitães, Tenentes e Sargentos, pensavam como o PCP e seguiam as suas instruções - rapidamente tomou conta das operações, com a preciosa ajuda do então ingénuo e oportunista Soares e o seu PS, e de Spínola, mais habituado à disciplina e aos salamaleques militares que aos jogos políticos.
 
Vejamos o que diz Mateus:
 
Uma simples análise dos factos demonstraria que a impreparação dos liberais, o colaboracionismo inicial dos socialistas, a dispersão e pavor da direita, e a pavorosa mediocridade política do General António de Spínola terão sido os fatores que conduziram à supremacia dos comunistas, a qual em matéria de organização política, rapidamente se tornou evidente. Esta supremacia organizativa induziria inúmeros militares "politicamente analfabetos", de repente convencidos dos seus gloriosos actos revolucionários e das promessas de um futuro pleno de fortuna e glória, ao seu alinhamento com o PCP....
 
Pouco se conhecia a respeito da personalidade de Rosa Coutinho, apesar de bem visto pelos americanos após um curso que frequentara naquela país. Costa Gomes, que posteriormente viria a ser aliciado para o campo comunista, atingindo mesmo o mais baixo grau de subserviência ao dar cobertura às atividades da estratégia soviética através do Conselho Mundial da Paz, era inicialmente parte do establishment ocidental, tendo mesmo sido ele o primeiro a propor o general Spínola para presidente da Junta.
 
Segundo Mateus, a inclusão de Soares no primeiro governo provisório, apesar das reservas de Spínola, teria ficado a dever-se a Raul Rego  "distinto jornalista socialista", enquanto a insensatez da inclusão de Cunhal no mesmo parece ter sido imposição de Soares, com o propósito de abrir caminho à pasta dos estrangeiros que tanto necessitava para se promover internacionalmente, apesar da desorganização do partido, e de nele haver dirigentes melhor preparados para o efeito, como eram os casos de  Francisco Ramos da Costa e Manuel Tito de Morais. Contudo, Rui Mateus, atribui ainda maior responsabilidade a Spínola e à direita, nomeadamente a Freitas do Amaral e a Sá Carneiro, aquele por ter influenciado a aceitação de Cunhal, este por ter se ter deixado arrastar por Spínola. Certo é que, tal "boa vontade" decorrente da ingenuidade coletiva do espírito de Abril lançou o país nos braços do PCP e da União Soviética, deixou o mundo ocidental perplexo com destaque para a  Escandinávia, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, comprometendo a participação de Portugal na Nato, cuja proposta de expulsão chegou a ser equacionada por alguns parceiros, o que teria constituído grave humilhação e o regresso ao tão propalado "orgulhosamente sós", agora de sinal contrário.
 
Entretanto, o Partido Comunista, através de Manuel Serra e do MES procurava infiltrar e controlar o Partido Socialista, que se encontrava sem direção efetiva, enquanto o dinheiro "chovia" nos cofres das fundações socialistas proveniente do "movimento sindical norueguês" , do PSD da Dinamarca, do partido social-democrata sueco, da fundação Ebert, de Kadhafi e até da Venezuela, entre muitos outros impossíveis de determinar em virtude da total ausência de escrituração dos mesmos, prática, pelos vistos, ainda hoje em voga em Portugal, em virtude da alegada opacidade das leis da transparência do financiamento partidário.
 
Mais uma vez, tem a palavra Rui Mateus;
 
Vinte anos após o 25 de Abril, ao ser preso por alegado desvio de fundos públicos, o ex-presidente da Venezuela Carlos Andrés Perez, declararia que uma parte desses fundos teria sido entregue a Mário Soares. Foi a primeira vez que eu ouvi falar do assunto, que foi confirmado à agência Lusa por uma fonte não identificada do Palácio de Belém.
 
Quanto a mim, fiquei elucidado acerca das causas remotas da proximidade que existiu entre o último governo Socialista de Portugal e o da Venezuela de Chavez; uma questão de velhas e perpétuas solidariedades entre famílias políticas, afinal, o PS nunca renegou a sua matriz marxista. 

Contos priobidos, de Rui Mateus; curiosidades III

Ficamos a saber, preto no branco, que, segundo Mateus, Mário Soares, só não foi ministro de Marcelo Caetano porque este o convidara apenas para deputado da Ação Nacional Popular, o que nos leva a  supor que, ou as convicções "patrióticas" de Soares seriam algo aligeiradas ou, efetivamente, este, via no marcelismo, uma brisa primaveril, tal como, afinal, os dirigentes sociais-democratas nórdicos de então.
 
Pelos vistos, o financiamento de Mário Soares exiliado em Paris, além de consultor do Banco d'Outre mer de Manuel Bullosa e de professor na Universidade de Vincennes, contava também com o contributo, embora modesto, do Governo Sueco, do malogrado Olof Palme, o qual em 10 de Julho de 1973 teria anunciado um apoio financeiro à Frelimo de 5 milhões de coroas. Palme, já aos 22 anos, enquanto Secretário da União de Estudantes Suecos, promovera uma bolsa de estudos para africanos tendo sido Eduardo Mondlane, fundador da Frelimo de quem viria a tornar-se grande amigo, um dos primeiros beneficiários, em 1949. Por mim, não suspeitava da dimensão da influência na política africana e europeia do pequeno e simpático país social-democrata sueco, como aqui se vislumbra.

Por altura da fundação em 19 de Abril de 1973, o Partido Socialista não teria mais de cinquenta filiados em todo o mundo, razão pela qual o SPD alemão não acreditava na massificação do PS nem na queda do regime português. 

Decisivo para a afirmação internacional de Mário Soares e o isolamento do regime de Marcello Caetano parece ter sido o massacre de Wiriyamu em Moçambique, por altura da visita deste a Inglaterra, contestada pelos trabalhistas britânicos, que chegaram a pedir a sua anulação. Não refere Mateus o alegado episódio relatado na época pela RTP que ainda recordo, segundo a qual Soares, a título de protesto, terá espezinhado publicamente a bandeira de Portugal, atitude que jamais lhe perdoarei; combater um regime é uma coisa, humilhar uma Nação é outra bem diferente. Até a atual constituição qualifica de crime atos deste tipo.

Diz Mateus:

O Partido Socialista com os seus cinquenta militantes e o seu acordo de governo com o Partido Comunista, iriam ser, sem o imaginarem, e sem terem para isso contribuído, os grandes beneficiários da miopia do sucessor de Salazar e da revolta militar que culminaria com o 25 de Abril.

Sobre Manuel Bullosa:

 http://www.infopedia.pt/$manuel-boullosa;jsessionid=G4olM1Ux4-9VbsYvMYa1Cw__
 

Contos Proibidos, por Rui Mateus; curiosidades II

Rui Mateus disse:
 
"Segundo Tito de Morais, todas as respostas que eu procurava estavam contidas no livro que era forçoso ler e divulgar, de Vitorino Magalhães Godinho, "O Socialismo e o Futuro da Península". Vitorino Magalhães Godinho era considerado em 1970, o "nosso teórico" mas, curiosamente, acabaria por cair praticamente no "esquecimento". Não será alheio a isto, mais do que o seu radicalismo, a sua oposição a Mário Soares, que ele considerava "não ter uma ideia consistente"....
 
"A precursora do Partido Socialista não tinha qualquer passado histórico. Nascera na década de 60 um pouco como quem regista uma patente por iniciativa de um grupo de conspiradores e de "operacionais" na sua maioria ligados à Maçonaria, e de alguns teóricos ligados ao PCP, como foi o caso de Salgado Zenha e do próprio Vitorino Magalhães Godinho. A evolução teórica do movimento mais de três décadas após a sua constituição, é assim essencialmente caracterizada mais por razões empíricas de conveniência dos seus operacionais do que pelas teses dos seus "ideólogos" ou pelos princípios doutrinários que emanam do socialismo democrático."...
 
A entrada (da Ação Socialista Portuguesa) na Internacional Socialista ter-se-á verificado em 1972, tendo sido o Partido Socialista fundado em 1973 em Bad Munstereifel, na República Federal da Alemanha sob os auspícios da Fundação Friederich Ebert, uma poderosa instituição de lobbyng através da qual a Alemanha promove os seus interesses por esse mundo fora, descobrindo e financiando aliados influentes.
 
Refere Mateus que, subsistia nos dirigentes do Partido Socialista um complexo de inferioridade relativamente ao PC, que os levava a fazer declarações mais para agradar à esquerda festiva pequeno-burguesa sem qualquer "noção dos acontecimentos históricos em que participavam", defendendo o Marxismo como "inspiração teórica predominante" contra qualquer tentação "social-democrata". Mário Soares parece ter sido, então, o fundador do conceito de "socialismo democrático", que lhe haveria de custar o menosprezo dos parceiros nórdicos, e que consistia numa sociedade onde os meios de produção seriam coletivizados ao serviço de todos, enquanto os poderes de decisão seriam democraticamente controlados pela base. Tal parece ter sido a razão do entendimento da necessidade de subalternização relativamente ao Partido Comunista por parte dos dirigentes Socialistas, com destaque para Mário Soares, que só não teria acontecido devido à "miopia" de Álvaro Cunhal e seus correligionários e não à oposição lúcida daqueles.
 
Mateus atribui aos socialistas e restantes forças democráticas de então o fracasso do estabelecimento de uma democracia em Portugal em 1945, pela incapacidade de relacionamento internacional, que teria conduzido o Partido Comunista à quase exclusiva implantação e que a tem inviabilizado. Exilado em França com o apoio económico do industrial Manuel Bullosa a título de serviços de consultadoria, influenciado pela plataforma unitária Mitterrand-Marchais, Mário Soares passaria a advogar o estabelecimento de um "contrato político" com o Partido Comunista dando lugar a um "pacto de governo", em reunião clandestina e restrita realizada em Paris em Setembro de 1970 entre os dois partidos. E foi este equívoco que esteve - está -, na génese das vicissitudes que ameaçaram e ameaçam a viabilidade do atual regime. À ingenuidade da adesão ideológica dos primeiros tempos, sucedeu o interesse estratégico, disfarçado de tolerância, apresentando-se o Partido Socialista perante a população, com a paradoxal função de charneira política, o inviável fiel da balança; simultaneamente, a esperança da contenção do avanço comunista e a esperança das progressivas conquistas socialistas. Um logro, afinal. Seria, por sinal, Salgado Zenha, o primeiro a perceber e denunciar o perigo da colonização comunista, opondo-se veementemente à unicidade sindical, o que lhe valeria o afastamento progressivo do velho amigo Mário Soares e uma posição cada vez menos relevante no partido, até à autoexclusão. Zenha não vendeu a alma. Honra lhe seja.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Contos proibidos de Rui Mateus; curiosidades I

Percebem-se as razões da tradicional postura de "donos do regime"patenteada por parte dos mentores do PS ostentando correntemente, uma "superioridade" moral, afinal, imoral, perante os restantes cidadãos. Surpreendente para mim, o estatuto de referencia moral que diz ter constituido Salgado Zenha para o PS, ultrapassado pelo mediático e egocêntrico Soares. Face ao que temos assistido nos últimos anos já não constituem surpresa as a denúncias de obscurantismo político, as alegações de atitude manipulatória que atribui ao Ministério Público, nem tão pouco as referências ao "temível estado dos juízes" figuras cada vez mais preponderantes e, muitas vezes, tenebrosas. Como corrigir este estado de coisas é uma tarefa árdua, muito para além das forças de um pequeno e pobre país como Portugal.
A palavra a Rui Mateus:
 
"Em Portugal, neste pequeno país periférico, diminuído pela indigência e obscurecido pela opacidade , ensaia-se um sistema político-partidário moldado pelo Partido Socialista onde só duas décadas após o restabelecimento da democracia se começa a discutir o tráfico de influências, a transparência e, enfim, o cidadão. Discussão envolvida em tanta hipocrisia e por métodos tão falaciosos que poderemos considerar que o nosso pais, neste capítulo, se encontra num espaço cultural de transição entre o fascismo e um " estado de juízes", que não vislumbra um regime de verdadeiro controlo e legitimação democrática das instituições."...
 
"A democracia portuguesa, no atual contexto ocidental, embora irreversível na sua aparência formal, resvala perigosamente para "um corpo de funcionários sem legitimação democrática direta ou indireta, como é, entre nós, o corpo de magistrados, que é dominado "por certas correntes que professam uma concepção militante, radical e fundamentalista da magistratura, a qual, geralmente aliada ao protagonismo político de alguns, tem subjacente uma cultura de intervenção, quando não de contrapoder e confronto com os órgãos de soberania politico-representativos". Á semelhança do que acontece em Itália, berço do pensamento e acção fascistas que assolariam a Europa nos anos 30, também hoje é legítimo perguntar se "o governo dos juízes", recentemente convertidos à democracia, tem feito impunemente os seus progressos perante uma cada vez mais amedrontada "classe política"."...
 
"De Salgado Zenha este partido herdaria a "consciência moral" que ainda lhe resta. Mário Soares seria eleito Presidente da República e Salgado Zenha abandonaria o partido, incompatibilizado com o seu velho amigo. Durante algum tempo, o PS iria ser um partido à deriva. Recuperaria eleitoralmente, contudo, com o seu atual líder, António Guterres. Mas, curiosamente, essa recuperação só aconteceria quando este fiel discípulo de Zenha se converteu ao soarismo."...
 
"O meu livro, assim o espero, ajudará a compreender como o triunfo de alguns se faria à custa do sacrifício de outros. O "estado dos juízes" está "atento " ao passado dos atuais políticos e, não hesitará, no momento oportuno, em colaborar para a sua decomposição."...
 
"O início da luta dos Movimentos de Libertação contra o colonialismo português na Guiné, em Moçambique e em Angola, empurrados pela miopia e desinteresse ocidental para os braços da União Soviética, dariam lugar ao chamado "Movimento dos Capitães" que a 25 de Abril derrubaria, para surpresa de todos dentro e fora de Portugal, a ditadura iniciada com o Estado Novo, em 1933, por António de Oliveira Salazar."...
 
"Hoje, visto de fora para dentro, Portugal regressou ao seu estado de país insignificante e receptor. Não foram conseguidos os grandes objetivos da Revolução de Abril e o País encontra-se entre a Europa e a mediocridade. Parece que o Povo Português não consegue libertar-se do fatalismo da I República."...
 
"Um pouco à semelhança dos "pilares morais do regime", a Maçonaria e a Opus Dei, tudo se decide às escondidas, como se o direito dos cidadãos à informação completa e rigorosa de como são financiadas as suas instituições e dos rendimentos dos seus governantes e dos seus magistrados, fosse algo suspeito, algo subversivo."...
 
"Acontecerá então, para mal de todos nós, a conversão do já em si negativo "triunfo da política" no temível "estado dos juízes".
 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Paok-Benfica (0-1)

Um jogo muito bem controlado pelo Benfica que se apresentou com vários atletas menos utilizados - Artur, Jardel, Sílvio, André Gomes, Sulejmani e Djuricic - e que marcou o tão desejado regresso de Sálvio à equipa. Foi uma equipa personalizada, ostentando uma serenidade característica do amadurecimento de processos coletivos e da consciência da sua eficácia.  Foi, assim, com segurança e paciência que a equipa do Benfica manietou a do Paok, esperando o momento certo para matar o jogo, que aconteceu já na segunda parte num fuzilamento de Lima, na sequência de uma bonita e eficaz assistência de peito de Djuricic a passe de Enzo. Um daqueles lances que o público de todo o mundo sempre espera do Benfica. Markovic teria marcado se tivesse imprimido um pouco mais de velocidade à bola, naquele lance em que, em posição frontal, proporcionou vistosa defesa ao guarda-redes adversário quando a bola, numa bela trajetória, se dirigia ao ângulo superior esquerdo.
 
O Paok mostrou uma equipa arrumadinha, conhecedora dos princípios do jogo, ocupando bem o terreno, muito preocupada em fechar o seu meio-campo sempre que o Benfica tinha a posse da bola, procurando soltar-se ofensivamente, chegando a incomodar Artur uma ou duas vezes, quando o Benfica, na ponta final do jogo, recuou excessivamente no terreno. Individualmente, os encarnados também foram superiores, ganhando habitualmente nos lances de um para um.
 
Deu-se um passo importante rumo à eliminatória seguinte, não sendo conveniente facilitar no jogo da segunda mão; apesar deste adversário não se revelar especialmente perigoso, há dias maus.
 
Nada tenho a dizer quanto à arbitragem, que ajuizou bem alguns lances em que os "artistas" gregos tentaram "cavar" grandes penalidades deixando-se cair na área. Convém não esquecer que pode sempre aparecer algum proença ou similar.

"Memórias de um PS desconhecido" de Rui Mateus

Inesperadamente, numa visita descontraída a uma feira de Artesanato na Figueira da Foz, entre várias inutilidades à venda numa tenda de uma associação de solidariedade, deparei-me com um exemplar do célebre livro de Rui Mateus, cujos trinta mil exemplares da primeira edição desapareceram sem deixar rasto, sem que, apesar disso, se tenha feito nova edição. Paguei 3,5 euros!, nem queria acreditar. Marinho Pinto afirmara recentemente não haver um único exemplar no mercado, a ponto de, gracejando, ter oferecido um doce a quem encontrasse um que fosse. O livro parecia intacto. Acabei de o ler.
 
Rui Mateus, oriundo da média burguesia da Covilhã, exilou-se cedo na Suécia onde se licenciou e casou, depois de ter passado pelos Estados Unidos onde frequentou um colégio de referência, ao abrigo de uma bolsa de estudos. A guerra do Vietname constituiu razão suficiente para recusar a permanência naquele país, optando então pela Inglaterra e depois Suécia onde viveu e se integrou social e profissionalmente longos anos. Fundou na Inglaterra o primeiro núcleo do, à época, insignificante Partido Socialista, repetindo o feito posteriormente, na Suécia. Neste partido, destacou-se enquanto dirigente do departamento de relações internacionais, área da sua formação, promovendo e dinamizando a realização de múltiplos eventos de natureza política ao mais alto nível, decisivos para a expansão internacional daquele partido, destacando-se o seu contributo para a integração deste, então, ainda Acção Socialista Portuguesa, na Internacional Socialista, organização que viria a dispor de enorme poder no contexto mundial. Toda a obra mostra uma pessoa politicamente convicta e leal ao partido e respetivo líder, Mário Soares, até ao célebre caso despoletado pelo "Fax de Macau", pelo qual viria a ser condenado a quatro anos de prisão por alegada participação num plano de corrupção do então Governador de Macau, Carlos Melancia, razão primeira da obra em causa.
 
Segundo Mateus, teria sido implementado um esquema de financiamento do Partido Socialista e suas fundações através de Macau, via Emáudio, empresa dirigida por conhecidos socialistas, proveniente de entidades que assim procurariam suscitar a "boa vontade" por parte das autoridades macaenses relativamente à adjudicação de várias obras, nomeadamente a do aeroporto de Macau e outras. Uma destas empresas "benfeitoras" a Wiedleplan, sentindo-se defraudada, terá exigido a devolução dos donativos via fax, entretanto intercetado e enviado pelo próprio Rui Mateus à imprensa, despoletando todo o imbróglio conhecido. Mateus, juntamente com outros fundadores do partido, teriam sido os bodes expiatórios do processo, a fim de despistar eventuais ligações ao diretório do Partido Socialista e a Mário Soares, à época, Presidente da República.
 
O que aqui me choca é a descrição que faz do funcionamento da justiça, nomeadamente do Ministério Público e dos Tribunais, neste caso. Chocam-me as denúncias de atitude persecutória que atribui ao Procurador Geral Adjunto Rodrigues Maximiano, por quem tenho extrema admiração, a parcialidade alegadamente demonstrada na separação dos processos permitindo desfechos opostos em Tribunais diferentes perante a mesma matéria de facto, as mesmas provas e as mesmas testemunhas demonstrando a discricionariedade dos juízes na pronúncia das sentenças que, segundo Mateus, neste caso, nem se dignaram em fundamentar, alegadamente, compelidos por vínculos ideológicos. Esta é, aliás, uma acusação frequente aos Tribunais e aos Juízes, nomeadamente por Marinho Pinto, que nos deixa aterrados e a suspeitar de que, o Direito, um dos pilares civilizacionais das sociedades modernas, não passa afinal, de retórica, tendo regredido à prática das sociedades primitivas, onde apenas os sábios e os feiticeiros conheciam a verdade a que todos tinham que obedecer.
 
Ler esta obra é também mergulhar profundamente nas turvas águas partidárias onde se desenrolam permanentemente lutas internas muitas vezes sórdidas, onde se destroem solidariedades que pareciam eternas, onde o interesse individual, muitas vezes, sobreleva o do partido e do País, afinal, causa primeira da fundação daquele. Aqui se pode constatar aquela que constitui uma das maiores chagas dos regimes democráticos a que muitos atribuem a principal origem da corrupção; a insaciável necessidade de financiamento partidário que acaba por tornar os partidos, ainda que, às vezes, subtilmente, reféns dos seus financiadores. Mostra a tremenda importância que os países nórdicos tiveram  - têm - no rumo político de Portugal e no mundo, através dos abastados e contínuos programas de financiamento dos "movimentos de libertação" das colónias e dos partidos da oposição, em especial, do Partido socialista. Mas não só; nunca me passaria pela cabeça que este partido pudesse ter sido financiado por Kadhafi e por Sadam Hussein!, percebo agora porque um dia, disse Mário Soares; "o terrorismo tem causas"!, mas também os Estados unidos o financiaram bravamente através de mecanismos vários, envolvendo a CIA! Ficamos aqui a saber que a União Soviética financiava o Partido Comunista com dez milhões de dólares por ano permitindo-lhe manter uma estrutura de duzentos funcionários deixando uma herança ainda hoje bem viva, que tanto tem contribuído para a instabilidade política em Portugal.
 
Rui Mateus destapa o véu dos mecanismos de financiamento partidário internacionais - fundações e quejandos - com que os grandes blocos económicos controlam as economias dos países, conduzindo-nos a refletir acerca do conceito de Liberdade comummente atribuído aos regimes democráticos. Como pode considerar-se livre um país onde os seus principais agentes políticos obedecem aos seus financiadores sob pena de soçobrarem politicamente?, livre é aquele país no qual os seus governantes  agem exclusivamente na defesa do interesse nacional e do bem comum, graças à independência financeira, ainda que conseguida com alguma dor. É assim que, afinal, o "orgulhosamente sós" pode ser, paradoxalmente, sintoma de liberdade.
 
Claro que o visado central desta obra é Mário Soares, emergindo aqui, para mim sem surpresa, com um perfil profundamente egocêntrico e prepotente, subordinando tudo e todos ao seu exacerbado desejo de notoriedade, incluindo o seu partido e o próprio país, de cujo primeiro governo constitucional, reconheceu ter sido um mau primeiro-ministro.
 
Não sei o que faz hoje Rui Mateus; imagino-o a dar aulas na "sua" Suécia ou nos Estados Unidos. Um homem amargurado, desiludido e revoltado, que me pareceu honesto ao longo de toda a obra, aliás, escrita num estilo muito leve e interessante.
 
Uma obra que muito contribui para o descrédito do sistema partidário hoje profundamente abalado, necessitando de soluções que aproximem o cidadão dos líderes políticos e os mantenham focados na persecução do bem comum e da tão famigerada e permanentemente ludibriada igualdade de oportunidades.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Marco Fortes nos campeonatos mundiais de pista coberta; parabéns Marco. Força!

"Marco Fortes, o melhor lançador português de todos os tempos, ainda não havia atingido mínimos de participação nos próximos Mundiais de pista coberta, que no início de Março se desenrolam em Sopot, na Polónia, mas neste domingo remediou com muito brilho essa situação.
Faltava-lhe chegar este ano ainda aos 20m e passou-os claramente, numa série em crescendo. De resto, o quinto ensaio valeu-lhe a melhor marca do ano, com 20,41m, e permitiu-lhe superar os 20,30m exigidos para ir a Sopot, num cenário de obtenção de mínimos reiteradamente dificultado para as disciplinas mais técnicas. O último ensaio, de 20,32m, veio confirmar a subida de forma de Marco Fortes, que acabaria por ganhar o concurso com larga vantagem sobre o sportinguista Francisco Belo (17,63m).
 
Com este resultado, Fortes passou a ser o 11.º mundial da lista anual, liderada com 21,37m pelo americano Ryan Whitting, e o sexto europeu." (in notícias do Google)

P. Ferreira-Benfica (0-2)

Vitória num campo tradicionalmente difícil, num jogo chato onde os golos foram os melhores apontamentos. Não dá; este futebol é suicidário, aceitável entre amadores, deplorável no âmbito profissional. Ponham termo a isto, ff; retomem a proposta de Mário Figueiredo, estudem-na e aperfeiçoem-na de forma a restituir o espetáculo ao público.
 
Resume-se por isso, o jogo, à história dos golos. Precisão nos passes, nos cruzamentos, nos remates e sincronismo. Foi o caso do primeiro, resultante de um centro colocadíssimo de Amorim a sobrevoar a defesa para cabeceamento mortífero de Garay. Gostei especialmente do segundo; recuperação de Amorim seguido de lançamento em profundidade para Rodrigo que não conseguiu evitar  o corte incompleto do defesa, seguindo-se a recuperação de Markovic que acompanhara o lance e, decido como habitualmente, rematou colocadíssimo ao primeiro poste, batendo o esforçado guarda-redes.
 
Julgo que o Benfica deveria ter colocado mais intensidade logo de início, promovendo passes de roptura junto da área adversária, forçando o erro da sua defensiva. Faltou meia-distância, mais jogo aéreo e mais amplitude. A opção por sucessivos toquezinhos frente a um adversário teimosamente recuado, fatalmente, acaba em sucessivas e perigosas perdas de bola. Enfim; a perder, lá subiu o Paços, sem grande convicção, não tendo criado uma única oportunidade de golo. A ganhar, o Benfica, ficou na expectativa do contra-ataque, que lhe renderia o golo da tranquilidade. Pareceu-me contudo ter havido a preocupação de evitar lesões e excessivo desgaste físico face ao próximo compromisso europeu.
 
O árbitro não esteve bem; mostrou, mal, o amarelo a Siqueira, quando deveria, no mesmo lance, ter mostrado o segundo amarelo ao jogador do Paços. Outros casos houve em que não sancionou o jogo violento dos canarinhos. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Benfica-Sporting (2-0)

O jogo de hoje foi um dos raros exemplos, em Portugal, nas últimas décadas, do caminho a trilhar para a sustentabilidade do futebol. Um ambiente de sã rivalidade substituiu a tradicional provocação incendiária implantada nos últimos tempos por gente sem talento, permitindo aos vários agentes concentrarem-se nas respetivas tarefas, com destaque para os jogadores. Sóbrias e pragmáticas foram as declarações de vários intervenientes, antes e após o jogo. É assim que deve ser; ganham os adeptos, ganham os clubes, ganha o futebol. Parabéns a todos, em particular aos Presidentes dos dois clubes.
 
O Benfica foi superior ao longo dos noventa minutos colocando grande intensidade na disputa dos lances; sufocante na primeira parte tentando marcar cedo, e solidário e letal na segunda; tapando os caminhos da sua baliza e procurando a do adversário sem delongas, uma vez na posse do esférico. Honra à equipa do Sporting que, jogando compacto e com agressividade, apesar de não ter tido boas oportunidades de golo, apesar de, por vezes, apresentar uma linha defensiva de cinco jogadores, e o meio campo sempre muito povoado, quis ganhar. E é isso que o público gosta de ver; duas equipas a tentar ganhar o jogo...à inglesa. 
 
Apesar da evidente determinação dos jogadores do Benfica e da excelência de alguns lances que produziram, faltou sincronismo nalguns deles e, noutros, serenidade na concretização. Gaitan poderia ter marcado no lance em que tentou fazer um chapéu de trivela, ainda na primeira parte, e Rodrigo, que tanto quis marcar, poderia tê-lo feito por duas vezes, já na segunda. É verdade que, em ambos os casos, Patrício, quanto a mim o melhor do Sporting a par de Heldon, tem o seu mérito. 
 
Não há dúvida que Oblak transmite grande segurança à equipa e aos adeptos pela eficácia com que intervém nos lances. Luisão destacou-se na defesa, tal como Máxi,  apesar de, já na segunda parte, se ter deixado ultrapassar pelo Heldon, o que poderia ter sido fatal. Aquele, com um cruzamento excecional, proporcionou a Gaitan o explêndido primeiro golo. Porém, também Siqueira e Garay estiveram à altura. Muito bem estiveram Fejsa e Gaitan, sobretudo este, pela sua faceta mais criativa e emotiva, bem patentes no magnífico segundo golo em que deixou Patrício pregado ao solo naquele soberbo remate. Na frente, todos trabalharam muito, destacando-se em Rodrigo a determinação de marcar, parecendo, por vezes, Markovic meio perdido e com défice de potência no remate. Já na ponta final, Amorim, fez o seu trabalho habitual de controle do meio-campo e Cardozo ainda aqueceu a camisola, que não as botas. A vitória nunca esteve em perigo, mas poderíamos ter feito mais um golito.
 
Cheguei a recear a equipa de arbitragem, mas...tudo correu bem, apesar de alguns erros sem consequências.
 
Estamos no bom caminho.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Penafiel-Benfica (0-1)

Fiquei deveras surpreendido com o bom estado do relvado; parabéns ao Penafiel. Foi um jogo tranquilo, felizmente sem lesões e sem casos, que revelou as tão famosas características dos jogos da Taça, as, quais, durante muito tempo, julguei conversa fiada. Não é. Efetivamente, apesar das diferenças competitivas entre equipas em confronto, o jogo é sempre mais aberto do que seria se se tratasse da Liga. Isto porque, na Taça, só quem ganha passa, e na Liga, no início do jogo, ainda sem fazer coisa nenhuma, cada equipa já tem um ponto!, portanto, a mais fraca defende com tudo  destruindo o espetáculo. Isto deveria mudar. Descobrir como, é um excelente desafio.
 
O Penafiel bateu-se bem, muito compacto e agressivo, sobrepovoando o meio-campo e pressionando alto com vários jogadores, levando, apesar disso, esporadicamente, a bola até à área, sobretudo nos lances de bola parada. O Benfica, alinhando com vários jogadores menos habituais - Artur, Jardel, Sílvio, André Gomes, Djuricic, Ivan Cavaleiro, Sulimani e Cardozo -, esteve muito pêrro, sobretudo na primeira parte; em inferioridade numérica no meio-campo, com falta de criatividade, com o flanco direito pouco ativo, sem meia distância nem jogo aéreo e Cardozo ainda muito preso, apesar do bom sentido posicional. Cedo percebi, não sei bem porquê (uma fezada resultante da elevada concentração e soluções técnicas que apresenta no decurso do jogo), que Suleimani iria ser a chave da eliminatória. E foi. A forma como recebeu, trabalhou e rematou para o golo, distingue a sua elevada qualidade técnica.
 
Jardel deve jogar com maior racionalidade pois faz muitas faltas em zonas perigosas, Sílvio abanou fazendo temer uma recidiva felizmente, não confirmada, já que voltou ao jogo. Max parece em forma, André Gomes anda à procura dela, da forma, Amorim fez minutos, tal como Djuricic de quem esperava mais e melhor. Ivan esteve bem e deve jogar mais, tal como Suleimani, Rodrigo, Lima e Markovic, trouxeram maior dinâmica ofensiva. Artur respondeu bem nas poucas situações em que foi convocado. Talvez tenha havido alguma contenção, devido ao próximo e importante dérbi com o SCP.
 
Capela e a sua equipa, pareceram-me bem, apesar de alguns casos duvidosos, tais como a marcação frequente de faltas ofensivas e defensivas ao Benfica.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Gil-Vicente-Benfica (1-1)

E lá vão mais dois pontos!, de sua exclusiva responsabilidade, o Benfica, soma um total de seis pontos perdidos para a concorrência em jogos com equipas "menores"; Belenenses, Arouca e Gil-Vicente. O padrão é comum; a consciência de inferioridade competitiva leva os adversários à prática do anti-jogo, que acaba por os beneficiar, graças à complacência dos árbitros. Nada, porém, justifica alguma displicência dos vermelhos, cujas causas devem ser identificadas e debeladas. Neste particular identifico a excessiva rotação de jogadores nucleares como uma delas, pelo desgaste motivacional que provoca nos restantes, bem como nos adeptos.

O péssimo estado do terreno agravou os fatores de risco, já que, como sabemos, atenua grandemente a dinâmica de jogo da equipa mais evoluída. Perde o espetáculo, ganha a mediocridade, perde o futebol. Este é o tipo de terreno que exige massa muscular e compacticidade. Faltou mais consistência no meio-campo - Ruben Amorim - e mais músculo na frente - Ivan Cavaleiro. Este não é jogo para Markovic. Deveria ter-se recorrido com mais frequência ao jogo aéreo. Na grande-penalidade que daria a vitória, Cardozo denunciou o remate, o que era previsível dado o prolongado tempo em que esteve fora de competição. Apesar disso, o seu efeito e o do Cavaleiro aumentaram claramente o poder ofensivo da equipa. Muito bem o Lima na GP. Muito mal Siqueira provocando a sua expulsão; sem controlo emocional, no Benfica, perdem-se pontos, no Porto, ganham-se os ditos.
 
Paixão esteve mal; muito mal ao não sancionar disciplinarmente sucessivas faltas e agressões dos gilistas. Deveria ter sido expulso o jogador que pontapeou Gaitan nas costas, no lance da primeira GP. Deveria ter sido assinalada GP e expulso o jogador que impediu Rodrigo de rematar, na pequena área, agarrando-o. Lá está; apesar dos erros próprios, o Benfica teria ganho. É o que me parece. Quando é que isto muda de vez?