Desporto

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ultima hora: O golo de Matic faz disparar o PIB


Com o rigor científico do costume, posso garantir que o nosso esquelético PIB subiu uns, vá, 0,25% quando o aríete eslavo furou as redes da agremiação norte-coreana. Assim que se consumou, aquela geometria metafísica desenhada por Gaitán, Melgarejo, Lima, Cardozo e Matic animou os bolsos da pátria. Só em consumo de cerveja e tremoço, a economia teve ali um estímulo como há muito não tinha. Porque aquele golo não é apenas um golo. Aquele golo tem de ser descrito no plural: são e serão sempre seis linhas rectas unidas pela fé e pela memória. Daqui a 20 anos, várias conversas regadas a cerveja e rodeadas de cascas de tremoços começarão com o "lembras-te daquele golo do Matic quando fomos campeões em 2013?". Aquilo é um recorte de memória para emoldurar, tal como a trivela de Kulkov em Leverkusen, tal como a cabeçada de César Brito nas Antas, tal o míssil de Isaías em Londres, tal como a bicicleta de Miccoli em Liverpool.

Como dizia há pouco, o golo de Matic já está na memória do futuro mas também está na fezada aqui e agora. O jogo reforçou a minha fé na vitória no campeonato. Os nervos do clube rival são, aliás, um bom sinal. Cresci com o Benfica a ser esmagado pela agremiação norte-coreana. Há uns 10 anos, se levasse um golo logo aos 5 minutos, o Benfica sairia do estádio com uma goleada. No domingo, vi uma coisa diferente, vi o Benfica dar a volta frente aos norte-coreanos. E isso é uma ruptura epistemológica, pá, é o mesmo que ver uma bola subir uma rampa sozinha, desafiando todas as regras da gravidade. A equipa aguentou-se, virou duas vezes o resultado e podia ter vencido com toda a justiça. Sim, com toda a justiça. Ai, ai, o adversário controlou o jogo, blá-blá-blá, ai, a semiótica do meio-campo, ai, a cultura da posse de bola, blá-blá-blá.

Jogar à bola é rematar à baliza ou é andar a brincar com ela? Na segunda parte, o Benfica teve as únicas chances de golo. Se tivesse rins, Jardel teria rodado para o golo; se tivesse olhos, Salvio teria metido a bola num Cardozo tão isolado como um homem honesto no parlamento; se não tivesse a cabeça nas arábias, Aimar teria cabeceado para um golo anulado pelo bandeirinha; se um raio tivesse fulminado Helton, Cardozo teria feito o golo da sua carreira. Enquanto o Benfica dava este espectáculo de desperdício, o adversário não rematou à baliza na segunda parte. Acabámos por cima, com o guarda Abel a fazer substituições defensivas. Ah, pois, a semiótica do meio-campo, já me esquecia.

PS: já agora, a semiótica do meio-campo deu 50% para cada lado. Mas a ladainha pegou. Parece que o Benfica tem de comprar um Barthes para o meio-campo.