Desporto

sábado, 18 de julho de 2015

Heróis do Mar



   Zé, Barreto tinha  16 anos; ia ao mar pela primeira vez, ao imbale. Sua mãe não queria; era demasiado novo e o mar estava puxado. Para seu pai, mais um quinhão fazia geito...e depois, estava lá para o proteger. Zé queria ir, queria ser um homem. Com o pai juntou-se à companha. Ajudou a pôr a lancha abaixo; a areia estava fria, quase fazia doer os pés, tudo aquilo o fascinava. - Agora, agora, agora.... - Gritava o arrais para aproveitar o enchio. Os da proa foram os primeiros a saltar, armando os remos e remando com força para fora enquanto os restantes empurravam a lancha e iam saltando p'ra bordo. Zé foi dos últimos, já com a água pelo joelho; era ágil, não tinha medo e queria fazer figura. Agarrou-se ao remo da ré manobrando para manter a lancha direita ao mar, atrás de si um grito de aflição; - agarra-me aqui, Zé, agarra-me aqui que não sei nadar! - gritava em pânico o Quim da Maçarica, pendurado na borda, sem forças para subir. Sem tirar os olhos da proa, após um relance, Zé, rápido, agarrou o camarada pela gola com o braço livre e puxou-o com quanta força tinha enquanto, com o outro, segurava o remo e mantinha a lancha aproada à vaga. - Estou safo, Zé, disse o Quim, refazendo-se do susto, já na lancha. Força Zé, disse o camarada mais próximo dando-lhe uma palmada nas costas. O último foi o arrais; ia ao leme e orientava a manobra da rede. - Ó rema...ó rema...ó rema...assim como vai! - Marcava o arrais, sentado na popa agarrado ao leme, perscrutando o horizonte. - Está mar alto lá fora, o mar está partido; temos que apanhar o liso p'ra sair da cala;  com trinta homens e o estrafego, a lancha está pesada; uma volta de mar, e a gente não se aguenta...

   Com seu pai ao lado Zé remava com entusiasmo intrigado com o estranho brilho que a areia da borda do mar produzira ao caminhar sobre ela. - Atão Zé, aguentas-te?, olha sempre p'rá proa para não enjoares e...quando estiveres mal disposto deita a carga ó mar!, tem que ser...não é preciso fazer muita força...ficas com foles nas mãos e vais-te abaixo...basta acompanhar! - Disse João ao filho para o reconfortar pois sabia que, no fundo, devia ter medo.... O mar estava puxado; já estava arrependido de o ter trazido! - Se isto dá para o torto...pensava João, com o coração pequenino! Ele aguenta-se, isto não é nada...repetia para consigo lembrando-se que o último cabaz de sardinha salgada já ia meio...e eram nove!

   - Estamos a chegar...devagar ao remo...aguenta...vem aí liso.... - Ia dizendo o arrais já às portas da cala. - Agora, agora, agora, rema com força que tá liso, força, rema...ó, vai, ó, vai, ó, vai...- a lancha está atravessada, rema de bombordo que vem mar, rema de bombordo....ah ladrão que me mataste....- vociferava o Tio Francisco ao ver a lancha adornar sob o  impacto da vaga: - Rema, rema, rema, que morremos aqui todos! - Agarra-te a mim, Zé, agarra-te a mim! - Gritava João ao filho ao ver a derradeira vaga que se aproximava. - Não escapamos desta. - Pensou, procurando agarrar Zé sob os gritos de aflição dos camaradas que, varridos pelo mar, procuravam desesperadamente agarrar-se à lancha, aos bancos, aos remos, a tudo a que podiam deitar a mão. Dois tinham-se enfiado debaixo da tilha, três foram varridos borda fora desaparecendo, emaranhados nas redes, os outros agarravam-se à lancha como pilados. Ficaram afundados à tona e à deriva. Sem barco à vista, com mar alto, ninguém se sentia com forças para ir a terra pedir ajuda. Zé ainda quis ir, mas seu pai dissuadiu-o: - Não vais filho, está mar à borda...não se vê vivalma na praia...não tens quem te acuda...vamos agarrados à lancha, se não aparecer ninguém, damos através; o mar leva-nos à praia.

   - A água estava fria e a corrente puxava para fora e para sul, ouvia-se o bater de dentes, orações, impropérios; - ai os meus ricos filhos...salvai-nos Jesus...Senhora da Encarnação nos acuda...ai que eu morro...pai nosso que estais no céu...avé maria cheia de graça...Deus é vida...Deus é vida...- pouco a pouco, as vozes iam esmorecendo até deixarem de se ouvir, enquanto, um por um, os homens iam desfalecendo. - A praia, pai!, a praia parece mais perto, vou pedir ajuda a terra ou morremos todos. - Zé largou-se da lancha e nadou na direção da praia; estava frio, muito frio, já não sentia os pés nem as mãos. Fazia-lhe bem nadar; deixara de sentir frio, tinha de chegar a terra...tinha de chegar à praia...faltava-lhe o ar....engolira muita água...faltavam-lhe as forças mas continuava a atirar os braços para a frente, como se nadasse...sentia-se a ir ao fundo...sentia-se desfalecer.....Amanhecia, o sol radioso despontava no horizonte. João viu o filho a esbracejar a meio caminho de terra e foi atrás dele; nadou com quanta força tinha, já tolhido: - ajuda-me Senhor, aguenta-te filho. Chegou a tempo de lhe deitar a mão, puxou-o para si; - abraça-te a mim filho, abraça-te a mim... - Tirou a cinta dos calções, passou-a à volta de ambos, atou-a e começou a nadar em direção à praia - Se chegarmos à rebentação, as ondas levam-nos para terra. - Pensou e nadou até desfalecer.

   Mas chegaram à praia, à praia de Vieira de Leiria; deram através!, o mar devolvera-os a terra; João Simões Barreto, da Praia de Buarcos da Rua dos Pescadores, sobreviveu. Sua mulher nunca lhe perdoou. João era meu avô.  Zé era meu tio.

      A lancha também deu através, horas depois. Morreram dezasseis tripulantes. Chamava-se Primavera.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Adeus, Máxi

   Quando Máxi Pereira começou a jogar no Benfica poucos diriam que viria a ser uma referência da equipa e do clube, tal a forma desajeitada com que tratava a bola. Havia mesmo quem dissesse que "não sabia jogar". Engano; serenamente, paulatinamente, foi-se afirmando através da garra, da concentração e da oportunidade, tendo sido decisivo muitas vezes, conquistando o afeto dos adeptos, que viam nele "um jogador à Benfica"; dos que "sentem" a camisola!
 
   Constitui, por isso, uma decepção para todos os benfiquistas a sua ida para o Porto, havendo até considerações excessivas embora compreensíveis. Porém, tivemos o "nosso" Máxi, irrepetível; que exultou e sofreu connosco e que agora segue o caminho que lhe garante, e ao seu empresário, melhores condições que as que o Benfica lhes disponibilizou. Nem o Máxi viverá no Porto o que viveu no Benfica, nem o Porto terá o Máxi que o Benfica teve.
 
   Talvez Máxi Pereira ainda não tenha percebido que a razão pela qual foi contratado não se prende com os seus dotes técnicos, eventualmente em decadência, mas tão só com a insegurança da Direcção portista que, deste modo, julga fragilizar anímicamente o universo benfiquista. Pobre Máxi!
 
   Por outro lado, Pinto da Costa e seus correligionários, que dão mostras de descontrolo, ainda não perceberam que este Benfica não é aquele de que faziam gato-sapato dentro e fora das quatro linhas, muito graças à esplêndida estratégia da fruta. Os Dirigentes do Benfica, ofereceram a Máxi o que entenderam adequado à sua estratégia, não se deixando chantagear, salvo seja, pelo seu empresário. Prevenindo-se a tempo, têm no plantel soluções e disponibilidade para recrutar substituto à altura,  ou melhor, na prossecução do processo de rejuvenescimento que se impõe.

   Ademais, no Benfica de hoje ninguém é indispensável.  
 
Serenidade, racionalidade e dignidade pautaram a acção do Benfica, neste caso. E eu gosto.
 
Quanto a Máxi; amigo não empata amigo.

sábado, 11 de julho de 2015

Próximas razões da decadência de Portugal

   
Laura Ferreira, mulher do atual Primeiro Ministro, apareceu numa cerimónia pública ao seu lado ostentando a falta de cabelo consequência dos tratamentos a que tem sido sujeita no âmbito da grave doença que lhe foi diagnosticada, suscitando críticas "ácidas", de pessoas afetas aos opositores políticos de Passos Coelho. Acusam-no de usar a doença da mulher para fins políticos; entenda-se apelo implícito à moderação crítica e simpatia do eleitorado e dos manipuladores da opinião pública. 
   Fugir da desgraça ou escondê-la é um ato compulsivo de sobrevivência humana contrariado, por exemplo, pelos valores cristãos que nos interpelam à compreensão e apoio dos desafortunados da vida. Todos sabemos que certas coisas "más" nos baterão à porta um dia, mas não queremos saber quando nem como. Por isso detestamos os que de tal nos lembram ainda que implicitamente. Uma certa repulsa, é, pois, compreensível e deveria ter pesado na decisão de Laura Ferreira. Porém, esta, optou por não prescindir da sua vida normal nem usar subterfúgios estéticos, numa atitude afirmação pessoal desmistificadora do grave infortúnio que lhe bateu à porta.
   Só de má fé ou por superficialidade pode acusar-se de calculismo político o Primeiro-Ministro neste caso!, quem é atingido por uma desgraça destas fica devastado, incapaz de pensar em tais artimanhas desejando apenas sossego e discrição. Respeito e admiro a coragem de Laura Ferreira, uma mulher bonita que não se importa de passar por feia mantendo-se no seu posto, tal como respeito e admiro Passos Coelho que, estou certo, apesar de dizimado emocionalmente mantém-se com serenidade inusitada na tarefa governativa a que se propôs na sequência do sagrado mandato popular. É de Homem e não é para todos!, não quer isto dizer que não tenho críticas a fazer ao seu consulado à frente do Governo. Tenho!, e graves! É outra história.
   Mas...algumas pessoas, arrogando-se, porventura, do "inquisitorial" direito de definir e fiscalizar a moralidade pública, esquecem-se que o respeito pelos outros é o primeiro requisito para o triunfo de qualquer sociedade humana. Laura Ferreira e Passos Coelho, merecem, pelo menos, respeito e reserva neste assunto. Critiquem-no "ferozmente" se necessário, e ao seu Governo como e quando quiserem no âmbito das prerrogativas democráticas mas...neste assunto respeitem-nos.
   Sem respeito pelos outros nenhuma sociedade vinga...seja qual for o regime. 
   Incluindo a portuguesa!   

As incongruências de Marco Ferreira

   O árbitro Marco Ferreira (MF) ao ter conhecimento da sua eminente despromoção e consequente perda das insígnias da FIFA, indignou-se publicamente e denunciou alegadas pressões do Presidente do Conselho de Arbitragem da LPFP, Vitor Pereira, em vésperas do jogo Rio Ave -Benfica, subentendendo-se que tal visava obter favorecimentos aos encarnados durante a partida - que estes acabariam por perder. Compreende-se a decepção e o despeito de MF, até porque, o padrão dos seus equívocos é precisamente o mesmo que conduziu à promoção de colegas como Olegário Benquerença, Pedro Proença e muitos outros. 

   Não havendo forma de comprovar as alegadas pressões de Vitor Pereira - esperemos que entretanto, este, faça algo a esse respeito -, resta-nos um simples exercício de reflexão para perceber que algo não bate certo nas declarações de MF: Sendo MF uma pessoa honesta que às vezes se engana, perante as alegadas pressões de VP para conduzir o seu desempenho em benefício de uma das equipas, teria de imediato denunciado tais atos a quem de Direito e, ou, tê-los-ia denunciado publicamente. Não o tendo feito, leva-nos a concluir que, a terem existido, não os entendeu na ocasião, não tendo sido afetada a sua conduta no jogo; conduta essa que, quanto a mim, esteve na base da derrota do Benfica. 

   Claro que, também podemos pensar que, de mente toldada pelo despeito, vendo a "terra a fugir-lhe debaixo dos pés", ciente da impossibilidade de comprovação, inventou as alegadas pressões, ou interpretou abusivamente eventuais recomendações de Vitor Pereira. Mas como MF é honesto, afastamos esta hipótese.

   Por mim, face ao que me foi dado observar nos jogos Braga-Benfica, em que os de Braga iam arrancando a cabeça a Talisca, e do Rio Ave Benfica, em que Ukra fez o que quis à margem das leis  no lance que precedeu a grande penalidade fatal, é bem despromovido.

   Tal não significa que confie em Vitor Pereira, precisamente por ter nomeado MF para esses jogos do Benfica - que lhe custaram 6 pontos - e também por ter escalado para os jogos mais difíceis do Porto, árbitros que, por norma, lhe são mais favoráveis.  

Arriba Benfica (como diz o Di Maria)

terça-feira, 7 de julho de 2015

COOL IT (Bjorn Lomborg)

Alguns extratos:

"É indiscutível que nos últimos séculos, a humanidade provocou um aumento substancial dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo assim para o aquecimento global. O que é, porém discutível é se a histeria e os gastos precipitados em programas extravagantes de redução de CO2, por um preço sem precedentes, é a única reacção possível."
 
"Actualmente, qualquer pessoa que não apoie as soluções mais radicais contra o Aquecimento Global, é considerado um proscrito, é chamada de irresponsável e é vista como sendo, possivelmente, um fantoche corrupto do lóbi do petróleo."
 
"A União Europeia considera-o um dos problemas mais ameaçadores actualmente....Tony Blair encara-o como "o problema mais importante"....Angela Merkel prometeu que a questão das alterações climáticas seria uma prioridade máxima em 2007, tanto no âmbito dos G8, como no âmbito da União Europeia e o italiano Roman Prodi encara as alterações climáticas como a verdadeira ameaça para a paz internacional.

"Ursos Polares"

   A imagem de um urso polar sozinho em cima de uma massa de gelo flutuante a derreter, procurando em vão o próximo bocado de gelo para onde saltar, publicada pela revista Time em 2006, numa reportagem especial sobre o aquecimento global, anunciando o fim próximo dos ursos polares, é avassaladora. A simpatia que aquele animal suscita na generalidade das pessoas e a antevisão do seu afogamento iminente, induz de imediato no leitor a convicção da inevitabilidade do apocalipse global. Está pronto para absorver e aceitar todas as restrições ao quotidiano, que lhe queiram impor.

   Várias outras entidades se referiram ao tema em moldesidênticos; Al Gore, o Fundo Mundial para a Vida Selvagem, o The Independent, o Fundo Mundial para a Natureza e A Comissão de Avaliação do Impacto Climático no Ártico. Estas duas últimas entidades apoiavam-se em estudos do Grupo de Especializado no Urso Polar da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. 

   Acontece porém que, este Grupo, apurou que, das vinte diferentes subpopulações de Ursos Polares, uma, ou, possivelmente, duas, estavam a diminuir na Baía de Buffin; que mais de metade eram estáveis, e que duas subpopulações estavam mesmo a aumentar no mar de Beaufort. Por outro lado verificou-se um aumento extraordinário daquelas populações nos anos anteriores; de cinco mil membros nos anos 60 para vinte e cinco mil em 2007. Surpreendentemente as duas populações em decréscimo verificam-se numa zona onde as temperaturas têm baixado nos últimos cinquenta anos, enquanto as duas populações em crescimento habitam em zonas onde tem feito mais calor. Nada disto tem sido referido!

  O alarme que a redução de 17% da população de ursos polares na costa ocidental da Baía de Hudson, entre 1987 e 2004, suscitou - de 1200 para 950 -, não teve em conta que, após 1981, em que a população era de 500, se verificara um aumento vertiginoso da população. Omite-se também que, anualmente, são abatidos entre trezentos a quinhentos ursos, contando-se em cerca de quarenta e nove na costa ocidental da Baía de Hudson. Em suma, podemos admitir que enquanto perdemos anualmente cerca de 15 ursos devido ao aquecimento global, são abatidos todos os anos quarenta e nove!

   Interessante é a projeção da Comissão da Avaliação do Impacto Climático no Ártico, segundo a qual o aquecimento global se traduzirá neste continente num aumento da riqueza das espécies e a uma maior produtividade do ecossistema, com menos deserto polar, mais florestas, mais aves nidificantes e mais borboletas!

   A emotividade com que o tema do aquecimento global tem sido tratado, concentrando o esforço na redução de emissão de gases com efeito de estufa, o qual poderá salvar, talvez, 0,06  ursos por ano, impede-nos de adotar a solução de maior benefício e menor custo que consiste no maior controlo da caça, que poderá salvar até cerca de quarenta e nove ursos por ano.

   E é assim que Bjorn Lomborg lembra que o nosso objetivo final consiste em melhorar a qualidade de vida e o ambiente e não em reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e o aquecimento global em si mesmos, e que aqueles objetivos são mais fáceis da atingir por outros meios.
 outras vias. 

domingo, 5 de julho de 2015

A Crise greco-europeia

   Já se disse tudo e mais alguma coisa acerca da crise grega e europeia. Neste momento decorre o referendo; os dados estão lançados e, seja qual for o resultado, nada ficará como antes. Hoje, é claro o irrealismo negligente que consistiu na adesão ao euro de países com economias de baixa competitividade, forçados a adotar as regras impostas pelos  novos parceiros, estes, com economias altamente competitivas.  O acesso aos fundos estruturais e a financiamento de baixo custo associado à insanidade demagógica partidária na compulsiva compra de votos e à incompetência dos sucessivos governos no desenvolvimento de projetos reprodutivos, conduziu ao descalabro económico daqueles países, extinto que foi o "fogo de palha" das suicidárias obras públicas. Neste tragédia, ninguém tem as mãos limpas.
 
   Foi a prepotência, a atitude persecutória dos tecnocratas de Bruxelas; os novos "sacerdotes"  dos "amanhãs que cantam" da "sua" europa, os iluminados "conhecedores" do caminho do paraíso dos europeus, esquecidos já dos seus compromissos com os cidadãos, que atiraram os gregos para os braços dos demagogos e irresponsáveis políticos do Siryza que nada têm para oferecer, a não ser o propósito de pôr os cidadãos dos outros países europeus a pagar as gigantesca dívida e as crónicas insuficiências orçamentais da Grécia.

   Independentemente das consequências que possam advir para os gregos do resultado do referendo, qualquer que seja, está em causa o tremendo esforço dos outros países intervencionados, sobretudo Portugal, que, paulatinamente, leva a cabo a reestruturação da sua dívida, convertendo a de curto prazo em longo prazo a taxas de juro inferiores, alcançadas graças ao desconfortável ajustamento interno e à política expansionista do BCE. Esta estratégia, se continuada por mais um ou dois anos poderá conduzir a um alívio significativo no encargo com os juros, talvez da ordem dos 50%, cerca de 4 MME, que por sua vez, poderia sustentar um alívio fiscal e consequente alavancamento da economia através de maior rendimento disponível das famílias e das empresas. É isto que o Syrisa está a pôr em causa. É difícil perceber se, como dizem, pretendem defender o povo grego dos "terroristas" de Bruxelas, ou estão a usar a austeridade para combater e desmantelar a UE, conforme a doutrina e estratégia de todos os partidos europeus de ideologia marxista ou marxista-trotskista.

   Apesar disso, têm fundamento muitas das acusações que fazem aos políticos da UE; a prossecução obstinada da competitividade, da produtividade e do fundamentalismo ambientalista, tem destruído as economias dos países de economia mais frágil, criando cada vez mais dificuldades no acesso das populações ao trabalho, sob os mais variados pretextos, criando reserva de mercado para as suas economias, silenciando as respetivas elites aliciando-as com sucessivos programas de financiamento aos quais estas têm mais facilidade de acesso, distorcendo, descaradamente, as regras da livre concorrência que tanto dizem defender.

  Os europeus estão divididos entre os que defendem uma rápida integração com adoção das mesmas normas em todos os Estados da União e os que preferem uma União de Estados soberanos, como o Reino Unido; uma confederação. Estou nesta última categoria. O Tratado de Lisboa, com a consignação da extinção do direito de veto de alguns países, entre os quais Portugal, destruiu o projeto europeu. Se a construção europeia contempla um projeto elitista, profundamente centralizado, com um controlo asfixiante de cidadãos e empresas a todos os níveis controlado por um núcleo restrito de países, economicamente desenvolvidos, estou contra. Não há dinheiro que pague a Liberdade, não há bem-estar sem Liberdade e, esta, já está , efetivamente, ausente em Portugal.

Há um país!

      Confesso que não dei muita importância à decisão de trasladação de Eusébio para o panteão nacional, cheguei até a pensar que estaria melhor numa capela a erguer no Estádio da Luz, próximo do seu Benfica e dos benfiquistas. Até hoje!, ao ver, na BTV, a solenidade da cerimónia...emocionei-me e ocorreu-me de imediato o sentimento de que, afinal, ainda há um país!, um país de afetos, um país de causas, um país com capacidade para se unir desde que valha a pena!, um país submerso nas águas do oportunismo, da prepotência e da desumanidade, seja dos poderes formais, nacionais e europeus, seja  dos poderes de facto, partidários, económicos, corporativos, etc. Foi, e é, esta, a grande força de Eusébio da Silva Ferreira, o seu último golo;  a sua memória mostra-nos que ainda podemos ter esperança enquanto Nação. Obrigado Eusébio.
 
   Iniciaram-se os trabalhos no Seixal, é reconfortante saber que parece estar tudo em ordem, apesar de subsistirem algumas indefinições quanto a entradas e saídas de jogadores. No animado jogo de iniciação, Guedes foi o primeiro a "molhar e sopa" e Nelson Oliveira marcou dois ou três. Constatando a imponência da figura de Rui Vitória, trajado a preceito, enquanto observava o jogo, ocorreu-me de imediato que, desta vez, ninguém vai ousar prometer um "punhetazo" ao Treinador do Benfica.
 
   A Liga foi a reboque do SCP e do FCP na questão dos árbitros, aprovando o sorteio, faltando agora a ratificação por parte da FPF. Apesar de não me chocar o método - julgo mesmo que é benéfico para o Benfica, tendo em conta alguns casos da época transata -, tal revela um ainda elevado nível de desconfiança nos órgãos das instituições desportivas e como é longo e árduo o caminho que ainda falta percorrer até restituir ao futebol, a credibilidade de que necessita.
 
   Operação Phoenix, é o nome da acção policial contra um grupo de segurança muito especial, com ligações ao FCP, na qual foram detidos vários elementos e apreendida documentação diversa, tendo sido constituído arguido Antero Henrique, Vice-Presidente portista. Aleluia!, há muito que todos sabemos - salvo seja -, que é neste tipo de estruturas que reside a louvada eficácia da, hipocritamente designada, "exemplar estrutura". De facto, quem é o "doido", árbitro, jogador próprio ou alheio, dirigente, agente, que ousa opor-se aos interesses do FCP, consciente da capacidade operacional destas estruturas paralelas? Parece que, finalmente, algo está a mudar.
 
   Para mal dos nossos pecados, quando uma sensação de alívio se vislumbra perante a eminência do fim do tenebroso ciclo de futebol nacional iniciado à cerca de trinta anos, graças à proximidade do final de carreira de Pinto da Costa, eis que,  em desespero de causa, surge Bruno de Carvalho, imitando-lhe o estilo, que não a substância, prometendo um novo ciclo de conflitos e crispação, para gáudio dos seus correligionários e dos meios de comunicação social que deles se alimentam, prontos a esquecer as mais grosseira prepotência e de falta de ética. De facto, se é verdade que, no SCP há capital de origem obscura, de que se fala, Bruno de Carvalho, tal como a UEFA e a FIFA, perdeu toda a autoridade moral que reivindicou quando se insurgiu contra os fundos de investimento.
Afinal, capital bom é o nosso, seja qual for a origem, o dos outros, é sempre mau! Valha-o Deus.
 
   Terminou a travessia do enorme deserto para Octávio , ao ser convidado para a estrutura do seu SCP. Fez mal em aceitar. Revela incoerência. De facto insurgiu-se contra Pinto da Costa por deslealdade e, implicitamente, sancionou a maldade que Bruno de Carvalho fez a um colega, Marco Silva, que a não merecia. Destruiu o capital de simpatia que tinha granjeado com a sua frontalidade. Uma pena.
 
   Boa sorte Benfica!