Desporto

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Violência pelo futebol

Os episódios de violência que todos os dias, dramáticamente, ocorrem, demonstram que, apesar do tremendo desenvolvimento tecnológico, económico e social das sociedades humanas, a natureza humana, na sua essência, parece permanecer imutável. Por outro lado, também a violência tem causas que importa, urgentemente, identificar e prevenir entre as quais se destacam a disputa pelo poder e a defesa da sobrevivência. Legítima defesa, defesa da paz, último recurso na defesa de direitos fundamentais, são circunstâncias que podem justificar o uso da violência.


O episódio, noticiado hoje, da agressão a Pedro Proença por um alegado adepto do Benfica, merecendo o meu veemente repúdio, impõe alguma reflexão no sentido de lhe apurar as causas. O evento parece ter sido ocasional e a sua mediatização deve-se ao facto de Pedro Proença - alegado Benfiquista - ser uma figura pública e o agressor ser adepto do Benfica. A gravidade do caso reside no perigo de alastramento, dado o clima de grande tensão que se verifica no futebol Português e o ambiente geral de grande frustração que o País atravessa - sem fim à vista.


A condenável atitude do agressor não me impede, porém, de identificar outras causas, mediatas:

Desde logo, a passividade das autoridades de segurança, perante inúmeros e reiterados casos de violência associada ao desporto que tem funcionado como incentivo aos agressores e "lastro" de indignação às vítimas e cidadãos comuns. Legitima até a população a ver essa passividade como consentimento tácito ou covardia. Porém, há eventos onde as forças de segurança se mostram lestas a desancar espetadores desportivos a torto e a direito; homens, mulheres e crianças, sem motivo à vista, suscitando indignação pelo desproporcional uso da força, dando a ideia de que, para as autoridades, há violência boa e má dependendo da sua origem. Assim se semeiam os ventos da violência.

Também as autoridades desportivas e os seus órgãos, muitas vezes, se têm demitido da responsabilidade de sansionar com equidade os causadores de graves e repetidas agressões verificadas nos recintos desportivos, contribuindo assim para o clima de impunidade incentivador da violência, frustação dos adeptos e falência do futebol.

A associação dos árbitros tem a sua quota parte de responsabilidade, na medida em que, perante os erros grosseiros dos seus associados, geralmente, assume incondicionalmente, com arrogância e picardia, a sua defesa, em vez de apelar à compreensão geral pela inevitabilidade dos erros, anunciando medidas preventivas e/ou corretivas.

Igualmente responsáveis são aqueles Árbitros que parecem não se preocupar com as consequências dos erros grosseiros que por vezes cometem, destruindo projetos de milhões de euros dos clubes e justas espetativas de milhares ou milhões de adeptos, que sentem nesta atitude uma violenta agressão.

Não podem porém desresponsabilizar-se alguns dirigentes desportivos militantes que, numa atitude persistentemente fundamentalista não hesitam em "crucificar" públicamente todos os que na sua ótica prejudicam o respetivo clube, incluindo árbitros, "esquecendo-se", muitas vezes, de reprovar sem ambiguidades os atos de violência praticados pelos seus adeptos. Ou seja, a nossa violência é boa e a vossa é má.


Igualmente para alguns comentadores desportivos e editores de comunicação social que acicatam a controvérsia desportiva certos do efeito potenciador das vendas que provoca.

Responsabilidades têm também os tribunais ao ilibar arguidos de ilícitos na área desportiva, sem que a fundamentação subjacente seja entendível pelo cidadão comum, corroendo o caráter geral e universal da lei.

E quando um Procurador se demite da função defendendo em pleno Tribunal o arguido que lhe competia acusar está a dececionar o Povo que com ele conta para punir os criminosos.

E mais responsabilidades têm os agentes políticos da área do poder, Governo e oposição, ao fazerem aprovar leis que permitem anular elementos de prova que seriam decisivos para a condenação dos arguidos, ficando a ideia de que, por vezes, se legisla por medida, subordinando o Estado de Direito às conveniências políticas, económicas ou outras.

Concluo, constatando que, a condenável agressão foi apenas mais um episódio no clima geral de intolerância e violência que alguns têm vindo a promover na sociedade Portuguesa e que as autoridades não conseguem apaziguar, certo de que, desta vez, o agressor terá exemplar punição, por ser adepto do Sport Lisboa e Benfica.