Desporto

domingo, 22 de maio de 2022

Insultos ao Benfica

 

Insultos ao Benfica

  

   Os insultos ao Benfica proferidos por jogadores do Futebol Clube do Porto (FCP) em plena comemoração da vitória no recente campeonato resultam da consciência do seu imerecimento e do complexo de inferioridade que os atormenta relativamente ao clube da Luz.

   De facto, após cerca de 40 anos de supremacia futebolística seria de esperar a atitude cordial própria dos vencedores, de que são exemplo o próprio Benfica e todos os grandes clubes por essa Europa fora.

   Porém, esse tipo de grandeza provém não da quantidade de vitórias alcançadas mas da forma como foram obtidas. O traço comum dos grandes clubes reside no confronto leal, no respeito pelo adversário, antes, durante e depois do embate desportivo.

   Se há algo que caracteriza o FCP moderno é precisamente o oposto; uma cultura de hostilidade, de agressividade, de intimidação, numa atitude de afirmação regional, não apenas aos adversários, mas também dos agentes da tutela desportiva e até dos governos.

  A supremacia desportiva do FCP no atual regime foi alcançada através do controlo que adquiriu nas estruturas do futebol, que lhe permitiu beneficiar, explícita e implicitamente, de decisões dos respetivos órgãos, nos jogos, e nas áreas normativa e jurisdicional.   

   Paradoxalmente, quando, no 25 de Novembro, o país conquistou a liberdade política, sob a capa da democratização estabeleceu-se uma ditadura inamovível no desporto em geral e no futebol em especial, decorrente da maior densidade demográfica no norte do país, e, no caso do futebol, dominada pela Associação de Futebol do Porto.

   No plano formal, tudo se tem feito para diluir esse poder, sempre sem sucesso.

   Constituiu-se a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) dispersando o direito de voto por todos os intervenientes desportivos, mas a verdade é que esta só funciona quando os seus dirigentes são do agrado do FCP.

   Instituiu-se o vídeo-árbitro (VAR) com o propósito de apoiar as decisões dos árbitros, e o que temos assistido é ao seu uso em benefício direto ou implícito do FCP.

   Nos espaços desportivos e nos meios de comunicação social, instala-se uma espécie de guerra civil sempre que o FCP não ganha, numa militância transversal, acérrima e incondicional dos seus adeptos, vinculados ou não ao clube, sendo correntes os rumores de ameaças a árbitros e seus familiares por meliantes inimputáveis que gravitam na órbita do clube.

   Deixando de lado, o episódio do Apito Dourado, que expôs publicamente à saciedade, os métodos espúrios que levaram à condenação do clube nas instâncias desportivas, basta-nos um olhar para os dois últimos campeonatos.

   No penúltimo deles, em 34 jogos, o FCP teve a seu favor 16 penaltis assinalados enquanto o Benfica teve dois depois de decidido o vencedor! Catorze penaltis de diferença podem significar algo entre 14 e 42 pontos!

   No último verificou-se algo idêntico, 12 penaltis para o FCP e 5 para o Benfica; 7 de diferença que poderão representar entre 7 e 21 pontos! Acresce o tempo de jogo em superioridade numérica que, segundo consta, foi de cerca de 8 horas para o FCP!

 Como é possível que tal não tenha provocado a indignação geral e suscitado a investigação do Ministério Público?

   Como é possível que a PJ não tenha convocado de imediato o VAR do último jogo Benfica-Porto, para que este se explicasse d razão pela qual o fora-de-jogo de 2 cm parece ter sido tirado no momento errado?

   Como é possível que as autoridades não investiguem a LPFP e a FPF pedindo esclarecimentos para estas e outras ocorrências do género?

   Não sei, mas o que me parece é que há o consentimento tácito institucional e dos agentes políticos dominantes para o “sucesso” do FCP!

   As razões, quanto a mim, prendem-se, por um lado, com a necessidade de garantir a paz social dos adeptos do clube, e, por outro lado, com a instrumentalização política deste com vista à criação de uma identidade regional em seu torno e à predisposição para a regionalização, objetivo comum ao partido donde emana o atual Governo.  

   Finalmente julgo que se estabeleceu um consenso entre a comunidade política e algumas elites no sentido de favorecer uma mudança de paradigma no desporto, como sinal da efetiva mudança do regime autocrático para o democrático.

   Para estes, o Benfica é um símbolo do salazarismo e do centralismo que, por isso mesmo, tem de ser impedido de ganhar. Não importa se tal é ou não verdade, o que importa é que pareça ser verdade.

   Afinal, o Benfica é a maior Associação desportiva do país, com adeptos e admiradores nas “sete partidas do mundo” e isso parece suscitar receios em certas comunidades que, paradoxalmente, se apresentam como defensoras indefetíveis da liberdade.

   Não me parece que tenha sido por acaso que dois Presidentes do Benfica, foram parar aos calabouços - um logo após a saída do cargo, outro em funções -, ambos ainda a braços com a justiça, um deles, Vale e Azevedo, que mais parece ter sido condenado a prisão perpétua tal é a sanha persecutória que se percebe em torno do caso.  

   Apesar de tudo isto, a grande maioria dos benfiquistas parece considerar que não se deve misturar a política com futebol, indiferente à missão política do seu, de momento, maior rival.




 

Peniche, 22 de Maio de 2022

António Barreto