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quinta-feira, 16 de junho de 2022

Um Pouco de História (3)

 

Um Pouco de História (3)

 

     O segundo período protrai-se até ao fim do V século romano (490: 263 a.C.), iniciando-se ainda antes de encerrado o antecedente, com a primeira guerra importante contra os Équos e Volscos em 323 (430 a.C.): abrange pouco mais de século e meio. Durante ele a democracia militar regida por uma aristocracia - tal é o carácter da sociedade romana nesta época – exercendo já em todo o Lácio uma hegemonia que tende a transformar-se em unificação, apresenta o espetáculo de um corpo social homogéneo, equilibrado, forte, e por tudo isso expansivo. A sociedade latina, tendo a sociedade romana por capital, obedece às leis naturais da propagação e expansão, leis comuns a todas as sociedades de todos os tempos, e tão óbvias que escusado é insistirmos em demonstrá-las. A população cresce, e, numa república de pequenos lavradores, esse crescimento ocasiona guerras só evitáveis pela emigração, fenómeno todavia mais geral em épocas mais adiantadas.

   Expandindo-se, a República Romana submete ao seu domínio a Itália inteira, e a invasão dos epirotas de Pirro precipita o movimento de anexação - facto tão frequente nos tempos antigos e modernos, que a intervenção eficaz das invasões estrangeiras no sentido de determinarem as unificações de povos pequenos e rivais se pode considerar uma lei de dinamismo internacional.

   Mas o traço singular e eminente da história romana, neste período, é a invenção de um tipo novo de agregação social, tipo sem precedentes nas sociedades indo-europeias. O tipo federal e o tipo imperial - isto é, as ligas de cidades autónomas e o regime pessoal e militar congregando povos sem outro laço de união além da obediência comum a um soberano e de um imposto universal – tinham sido até aí os moldes em que se vazara a força expansiva das sociedades.

   Ora no seio de um mundo que todo ele girava em torno de duas ideias de agregação social, a federal e a imperial, Roma teve esta fortuna incomparável de conceber espontaneamente, e como dedução óbvia da suas instituições abstratas primitivas uma ideia nova – a de Nação; ideia que gerou um sentimento também até aí desconhecido - o Patriotismo; ideia e sentimento abstratos, sem relação fixa com o solo nem com o sangue. Romano era todo o habitante da cidade legal, fosse qual fosse a sua estirpe: o patriciado dos quirites tornara-se já obsoleto. Roma era, não só a cidade do Tibre como todas as do Lácio a que o foro romano se transmitira. A Pátria e o patriotismo tinham assim como base, não uma terra ou um sangue comum, mas sim uma comunidade de direitos e aspirações. A Terra deixou de significar a Pátria, desde que a abstração inventava mais de uma Roma; o sangue deixou de a encarnar também, desde que na cidade generalizada, todos, até o estrangeiro, eram cidadãos.

   A invenção de um semelhante estado mental é uma obra tão prodigiosa que, a vinte e cinco séculos de distância, todos nós, europeus – os iberos e os celtas latinizados, os teutões e mais os eslavos – vivemos socialmente dos sentimentos elaborados em Roma e somos sem dúvida romanos.

   Criada assim, no campo das ideias e dos sentimentos, mas não ainda no das instituições, a Pátria romana, e abrangendo no seu seio a Itália peninsular ítalo-grega, o progresso da expansão não pára. A área da nação novíssima abrange inteira uma região, e desde que se estende a toda essa região que é marítima, e desde que se estende a toda essa região que é marítima, o mar chama-a, pondo-a em contacto e portanto em conflito com a Inglaterra de então - Cartago, ao tempo a senhora de todo o mediterrâneo.”

História da República Romana

Oliveira Martins

                                              Breno e sua parte dos despojos, por Paul Jamin 


Peniche, 16 de Junho de 2022

António Barreto