
Em "O Público" de 10 de Fevereiro de 2013, com tradução de Deolinda Esteves, podemos ler um excelente artigo de opinião acerca dos temas em epígrafe, do qual destaco alguns excertos.
"O modelo liberal vê o Estado como necessáriamente predatório e o setor privado como o que procura maximizar o lucro. Por isso ele defende uma estrita separação entre o Estado e as empresas privadas. O mercantilismo, por outro lado, oferece uma visão corporativista, onde o Estado e as empresas privadas são aliados e cooperam na procura de objetivos comuns, tais como o crescimento económico interno ou o poder nacional."
"Uma segunda diferença entre os dois modelos reside em saber quem é o beneficiado: o consumidor ou os interesses do produtor. Para os liberais, os consumidores são reis. O objetivo final da política económica é aumentar o potencial de consumo das famílias, que significa dar-lhes livre acesso a bens e serviços que sejam os mais baratos possível.
"Os mercantilistas, por sua vez, enfatizam o lado produtivo da economia. Para eles, uma economia sólida requer uma estrutura sólida de produção. E o consumo precisa de ser sustentado por uma taxa elevada de emprego com salários adequados."
"Estes diferentes modelos têm implicações previsíveis para as políticas económicas internacionais. A lógica da abordagem liberal é de que os benefícios económicos do comércio surgem das importações: quanto mais baratas forem as importações, melhor, mesmo que o resultado seja um défice comercial. Os mercantilistas, todavia, vêem o comércio como um meio de apoiar o emprego e a produção interna e preferem estimular as exportações, em vez das importações.
A atual China é o principal portador da tocha mercantilista, algo que os líderes chineses nunca irão admitir - ainda há muita vergonha associada ao termo."
Agora uma conclusão minteressantíssima:
"Do ponto de vista liberal, estes subsídios à exportação empobrecem os consumidores chineses enquanto beneficiam os consumidores do resto do mundo. Um estudo recente realizado pelos economistas Fabrice Defever e Alejandro Riaño da Universidade de Nottingham, coloca as "perdas" para a China em torno de 3% da receita chinesa e os ganhos para o resto do mundo em torno de 1% do rendimento global. Do ponto de vista mercantilista, no entanto, estes são simplesmente os custos da construção de uma economia moderna e da criação das condições para a prosperidade a longo prazo."
E veio o fim de festa:
"Chegámos agora ao fim desta feliz coexistência. O modelo liberal tem perdido o brilho, de forma severa, devido ao aumento da desigualdade e à situação difícil da classe média no Ocidente juntamente com a crise financeira que a liberalização gerou."
Mais adiante:
"...as pressões mercantilistas irão provavelmente intensificar-se nos paises desenvolvidos.
Como resultado, o novo ambiente económico produzirá mais tensão que comodidade entre os paises que procuram caminhos liberais e mercantilistas. Também pode reacender longos debates sonolentos sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade."
Por mim, rendo-me ao mercantilismo. Já a esquerda atual tem tanto de mercantilista como de liberal. O modelo económico português é misto, dominado pelo mercado livre, enquanto o Concelho de Concertação Social, perniciosamente, remanesce ao corporativismo Salazarista, bem mais racional e eficaz.
Ora aqui está jornalismo estruturante, vindo de quem menos se esperaria; um fiel protagonista do liberalismo puro e duro.
AB
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