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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Liberalismo e Mercantilismo

   Dani Rodrik é professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard. É o autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy.

   Em "O Público" de 10 de Fevereiro de 2013, com tradução de Deolinda Esteves, podemos ler um excelente artigo de opinião acerca dos temas em epígrafe, do qual destaco alguns excertos.
 
   "O modelo liberal vê o Estado como necessáriamente predatório e o setor privado como o que procura maximizar o lucro. Por isso ele defende uma estrita separação entre o Estado e as empresas privadas. O mercantilismo, por outro lado, oferece uma visão corporativista, onde o Estado e as empresas privadas são aliados e cooperam na procura de objetivos comuns, tais como o crescimento económico interno ou o poder nacional."
 
   "Uma segunda diferença entre os dois modelos reside em saber quem é o beneficiado: o consumidor ou os interesses do produtor. Para os liberais, os consumidores são reis. O objetivo final da política económica é aumentar o potencial de consumo das famílias, que significa dar-lhes livre acesso a bens e serviços que sejam os mais baratos possível.
 
   "Os mercantilistas, por sua vez, enfatizam o lado produtivo da economia. Para eles, uma economia sólida requer uma estrutura sólida de produção. E o consumo precisa de ser sustentado por uma taxa elevada de emprego com salários adequados."
 
   "Estes diferentes modelos têm implicações previsíveis para as políticas económicas internacionais. A lógica da abordagem liberal é de que os benefícios económicos do comércio surgem das importações: quanto mais baratas forem as importações, melhor, mesmo que o resultado seja um défice comercial. Os mercantilistas, todavia, vêem o comércio como um meio de apoiar o emprego e a produção interna e preferem estimular as exportações, em vez das importações.
   A atual China é o principal portador da tocha mercantilista, algo que os líderes chineses nunca irão admitir - ainda há muita vergonha associada ao termo."
 
Agora uma conclusão minteressantíssima:
 
   "Do ponto de vista liberal, estes subsídios à exportação empobrecem os consumidores chineses enquanto beneficiam os consumidores do resto do mundo. Um estudo recente realizado pelos economistas Fabrice Defever e Alejandro Riaño da Universidade de Nottingham, coloca as "perdas" para a China em torno de 3% da receita chinesa e os ganhos para o resto do mundo em torno de 1% do rendimento global. Do ponto de vista mercantilista, no entanto, estes são simplesmente os custos da construção de uma economia moderna e da criação das condições para a prosperidade a longo prazo."
 
E veio o fim de festa:
 
   "Chegámos agora ao fim desta feliz coexistência. O modelo liberal tem perdido o brilho, de forma severa, devido ao aumento da desigualdade e à situação difícil da classe média no Ocidente juntamente com a crise financeira que a liberalização gerou."
 
Mais adiante:
   "...as pressões mercantilistas irão provavelmente intensificar-se nos paises desenvolvidos.
   Como resultado, o novo ambiente económico produzirá mais tensão que comodidade entre os paises que procuram caminhos liberais e mercantilistas. Também pode reacender longos debates sonolentos sobre o tipo de capitalismo que produz maior prosperidade."
 
Por mim, rendo-me ao mercantilismo. Já a esquerda atual tem tanto de mercantilista como de liberal. O modelo económico português é misto, dominado pelo mercado livre, enquanto o Concelho de Concertação Social, perniciosamente, remanesce ao corporativismo Salazarista, bem mais racional e eficaz.
 
Ora aqui está jornalismo estruturante, vindo de quem menos se esperaria; um fiel protagonista do liberalismo puro e duro.
 
AB

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