Desporto

sábado, 20 de novembro de 2021

Mansos, os portugueses? Não!

 

 A propósito dos portugueses:

O Povo português andou sempre em guerras, desde antes da fundação da nação! Primeiro com o imperador castelhano Raimundo, até ao tratado de Zamora em 1143, depois com os árabes e castelhanos, pela expansão territorial até 1279. Seguiu-se o povoamento em ambiente de guerra permanente, com auxílio dos francos e ordens religiosas, até ao início da epopeia marítima, em 1415, com a conquista de Ceuta. Toda a expansão ultramarina está recheada de episódios militares, sobretudo, ao longo das costas ocidental e oriental de África e Ásia; Guiné, Congo, Angola, África do Sul, Moçambique, Índia, Indonésia e Japão. Por ocasião da restauração, no século XVII, os portugueses, pobres, famintos, sob a égide da nova aristocracia que levou D. João IV ao trono, foram grandes ao travar várias guerras em simultâneo, na Europa, contra os Espanhóis, no Brasil, em Angola e no atual Ghana, contra os holandeses. No século XVII, na Campanha do Rossilhão, dos Pirinéus ou da Catalunha, ao lado dos espanhóis, contra os franceses! Quase todo o século XIX foi passado em guerras, logo a abrir, em 1801, na sequência da Campanha do Rossilhão, a Guerra das Laranjas, ou Guerra Fantasma, contra "nuestros hermanos" em que perdemos Olivença, logo a seguir, em 1807, iniciou-se a guerra Peninsular contra os franceses. Finda esta, com o país devastado, tivemos em 1820 a 1822, a Revolta Liberal e independência do Brasil a que se seguiu a Guerra Civil de 1832 a 1834, e em 1846 a Revolta da Maria da Fonte que deu lugar à Guerra Civil da Patuleia, entre cartistas e Setembristas - guerra em que o Povo de Santo André de Frades, com a filha do sapateiro à frente (alegada Maria da Fonte), vestida de vermelho, destruiu à machadada as portas da igreja onde a D. Maria tinha mandado prender as mulheres que correram com os fiscais que queriam cobrar a taxa funerária e impedir o funeral tradicional. Sim, esta foi a verdadeira, espontânea, revolta popular, iniciada pelos camponeses minhotos, secundados por todo o povo, contra a asfixia tributária de Costa Cabral e D. Maria II. Uma luta desigual entre pobres camponeses e alguns soldados - miguelistas (é desse tempo o célebre Zé do Telhado; um apoiante miguelista que, finda a guerra liberal, continuou a guerra de guerrilha) - lutavam com varapaus, foices, ancinhos, calhaus e o que viesse à mão, contra armas de fogo e a cavalaria do general Saldanha! Neste século, em 1847, ainda tivemos as épicas greves do Porto, de Santo Tirso e de Gouveia! Não me digam que este povo é manso e carrancudo. Não! Não é! Nunca foi! Mas querem que seja! Tivemos o golpe republicano de 1910 e uma atribulada 1ª República, com golpes de fações políticas, prisões arbitrárias execuções sumárias - a detenção dos operários da Calçada do Combro e o morticínio da Noite Sangrenta -, e greves - a de 1912 dos camponeses de Elvas a que solidarizaram os operários de Lisboa, a greve dos operários das conserveiras de setúbal, onde foi morto pela GNR um operário, a dos camponeses do Ribatejo - até à intervenção militar de 1926 que fundou a 2ª República e trouxe Salazar que ainda se viu a braços com a Revolta dos Marinheiros, a Revolta da Marinha Grande e a Revolta da Madeira. Durante 13 anos, travámos uma guerra externa em três frentes com inimigos apoiados por todos os n/"amigos" de hoje; Suécia, Noruega, Holanda, Bélgica, Alemanha, França, Inglaterra, USA, e ainda URSS, Cuba e China! Não me digam que este povo é manso e macambúzio. Os Portugueses foram e são bravos, apenas os maus líderes os fizeram esquecer isso! Miguel de Cervantes, no regresso da batalha de Lepanto, descrevia ao seu camarada de armas, na amurada do galeão à chegada a Lisboa, com comovente admiração e respeito, o magnífico povo de Lisboa, cortês, corajoso, leal e justo da maior cidade da Europa desse tempo, onde o Tejo era uma floresta de mastros interminável. Leiam e comovam-se com a história de Portugal, como me aconteceu. Respeitem os portugueses. Respeitem-se.


A Revolta da Maria da Fonte

Peniche, 20 de Novembro de 2021

António Barreto