Por tudo isto não me causaram espanto as críticas do Presidente da Federação Alemã à FIFA, decorrentes do escândalo da atribuição dos próximos mundiais ao Qatar e à Rússia, nas quais chegou a recomendar à UEFA o seu afastamento daquela organização. Na verdade, a FIFA age à rédea solta, parecendo não prestar contas a quem quer que seja, como se fosse um autêntico Estado; com leis, tribunais e receitas próprias, indiferente às denúncias que, cada vez com mais frequência, brotam um pouco por toda a parte. Tal circunstância transmite a ideia de impunidade constituindo um incentivo à prática da corrupção em toda a estrutura do futebol. Não é, pois, só a FIFA que merece crítica, também a UEFA e as federações nacionais suscitam as mais sérias desconfianças, nomeadamente pelo patente empenho no fomento do elitismo clubista. Nem a UE escapa; empenhada na defesa da livre circulação de pessoas e bens, parece não reparar ou não se interessar pelo drama dos clubes intermédios, que, para fazerem face à violenta sucessão de jogos e competições e à inevitável rotação de atletas, têm que sobredimensionar os seus quadros, comprometendo o hipócrita "fair-play" financeiro e a competitividade desportiva em benefício dos "tubarões" que com seus previsíveis ronaldos e messis, acabarão por saturar o adepto do futebol, menos interessado em artistas de circo, do que em mágicos da bola, de facto.
A realidade atual do futebol português, apesar da convergência inesperada entre Benfica e Porto, suscita as maiores reservas, já que, a pré-falência da Liga se deveu ao afastamento cúmplice ou cobarde dos seus patrocinadores perante um projeto que visava a irradicação da doença que o devora e que tem raízes profundas num regime político anacrónico, claramente em fim de prazo.
Quanto a mim, confesso que tenho dificuldade em acreditar no que vejo tal como parece ser desde que comecei a observar o lado oculto do futebol, seja a partir do célebre "Golpe de Estádio" de Marinho Neves, do "Máfia do Futebol" de Declan Hill, do caso da fruta ou a partir dos relatos dos casos dos manipuladores de de Singapura. Nada me parece ocasional e espontâneo. Pode ser defeito; admito.
Por exemplo, o Guimarães ganhou ontem ao Moreirense, segundo crónica do CM, graças a uma grande penalidade mal assinalada e a uma invalidação polémica de...Cosme Machado de um golo que seria o do empate, já no final da partida! Com esta vitória ascendeu o Guimarães, provisoriamente ao 1º lugar, pressionando o Benfica que regressa desgastado e desmoralizado pela derrota com o Zénit. Ora, os erros acontecem, é verdade, mas alguns dão que pensar; o FCP, tem sempre uma "lebre", para desgastar o seu principal rival, o Benfica. Desta vez é o Guimarães, que, rivalizando com o Braga, de candidato à descida na era anti-porto, passou à de candidato ao título na fase pró-porto subsequente. Por coincidência, o Secretário de Estado do Desporto e Juventude é Vimaranense e distinguiu-se pelo silêncio relativamente à demora da resposta da ERC à queixa da Liga contra a Olivedesportos e por fazer aprovar a Lei de Bases da Federações Desportivas que funcionou como "espada de Dâmocles" relativamente à Liga e aos clubes não afetos ao "sistema". Também por coincidência, o Presidente do Guimarães foi um dos candidatos à sucessão de Mário Figueiredo alinhado com o grupo dos contestatários ao lado de Pinto da Costa.
Por outro lado, quando observamos, na comunicação social, notícias de envolvimento de instituições governamentais, regionais ou municipais no financiamento, direto e implícito, dos "seus" clubes de futebol, percebemos que, nas quatro linhas, ocorrem fenómenos bem distintos do simples jogo da bola que, de fascinante, se torna entediante.