Desporto

domingo, 17 de novembro de 2019

Rui Costa e o Benfica (1)


Rui Costa e o Benfica   
Rui Costa faz parte de um grupo restrito de ex-jogadores do Benfica com lugar especial no coração dos adeptos. Não tanto pelo que fez no clube enquanto jogador, mas por, em momento conturbado, lhe ter sido leal, ter agido como seu embaixador oficioso num dos grandes palcos do futebol europeu - o italiano -, pelo vínculo afetivo que sempre ostentou com orgulho, e por ter regressado, incondicionalmente, quando o Benfica ainda fazia, angustiadamente, o “caminho das pedras”.

   Graças à perspicácia de Eusébio, Rui Costa ingressou nas camadas jovens do Benfica, em 1981, aos 9 anos de idade - após quatro anos nas escolas do Damaia Ginásio Clube -, onde, durante oito anos, com os seus dotes pessoais, assimilou a singularidade e excelência que caracterizam o futebol do Benfica.

   Findo o ciclo da formação, após uma época - 90/91 - ao serviço da Associação Desportiva de Fafe, onde permaneceu a título de empréstimo, a jovem promessa regressou ao “clube do coração” em 91, ano em que se sagrou campeão do mundo de sub-20 - em pleno Estádio da Luz contra a seleção do Brasil -, onde permaneceu até 1994, tendo então vencido uma Taça de Portugal - 92/93 - e um campeonato de Portugal em 93/94.

   A qualidade do seu futebol, caracterizada pela superior cultura tática, a elegância e inteligência com que se movia no terreno, a suavidade com que recebia e conduzia a bola, a eficácia que conseguia nos passes longos e no forte remate de meia distância, perfumava os relvados, para gáudio dos espectadores e orgulho dos benfiquistas. Às qualidades futebolísticas, Rui Costa juntava um cavalheirismo invulgar, graças ao qual granjeou o respeito geral, dentro e fora do clube, entre colegas e adversários, entre os adeptos do futebol, independentemente da respetiva simpatia clubista.

   Rui Costa pertence a uma estrita elite de jogadores de futebol que, intrinsecamente vinculados a um clube, alcançaram o respeito e admiração geral.

   O caráter leal de Rui Costa não vacilou no verão quente de 1993, quando, contrariamente a outros colegas - António Pacheco, Paulo Sousa e João Pinto - declinou o convite de Sousa Cintra - à época Presidente do Sporting - para rescindir o seu contrato com o Benfica e ingressar no clube de Alvalade. Vivia-se então grande turbulência no clube da Luz, sob a presidência de Jorge de Brito, histórico e indefetível benfiquista, a braços com grave crise de tesouraria e um passivo de 4,5 milhões de contos - equivalente a 22 milhões de euros!

   Um gesto que nenhum benfiquista que viveu esses temos, esquecerá, reconhecido.

    Referenciado na Europa, o “Maestro” ingressou na Fiorentina em 1994, onde, em sete temporadas, conquistou a admiração dos tiffosi, duas taças de Itália e uma supertaça, tendo sido considerado, por várias vezes, o melhor 10 do campeonato[p1] [p2] , no qual, ao serviço da Juventus, pontificava, nada mais nada menos, que Zinedine Zidane.

   Memorável foi o ocorrido no jogo de apresentação da equipa do Benfica para a época 94/95, com a Fiorentina como equipa convidada, em que o “Maestro”, atuando pelos “violas”, se comoveu, às lágrimas, ao marcar o golo que daria a vitória à sua equipa.

   Algo que consolidou o vínculo afetivo ao clube e calou fundo no coração dos benfiquistas.
Peniche, 17 de Novembro de 2019
António Barreto
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