Desporto

domingo, 1 de dezembro de 2019

OPA-2019 – Benfica


OPA-2019 – Benfica   

  
Ressarcimento do investimento dos acionistas que responderam à primeira emissão acionista, restituição da Benfica-Sad, na quase totalidade, ao clube, blindagem da Benfica-Sad a intromissões indesejadas e viabilização de parceria futura, causas apontadas para a OPA em curso, merecem-me os seguintes comentários:

   Fica bem ao Benfica esta atenção para com os que acudiram à subscrição de ações e permitiram a viabilização da constituição da Sad. Aos “sortudos”, investidores de percurso, que beneficiarão desta generosidade resta dar os parabéns, considerando a eventualidade do caráter acidental da respetiva aquisição. Certo é não haver razões para afastar completamente a ideia de a atual OPA estar prevista desde então, o que seria gravíssimo.

   A detenção do controlo total da Sad pelo clube sucede à recuperação, por este, da posse do Estádio e da BTV, visando dissipar receios de apropriação funcional externa daquela. Fica a dúvida quanto ao processo de tomada de decisão, no clube, das questões estratégicas relativas à Sad; li por aí que, com 95 % do capital acionista, deixa de haver obrigatoriedade de discussão em Assembleia Geral de sócios das matérias estratégicas relativas à Sad, o que, a verificar-se, suscita fundadas preocupações.

   De todo o modo, não me parece razoável que um eventual candidato à Presidência se dispusesse a um investimento da ordem dos 30 milhões de euros para assumir uma posição minoritária na Sad. Bastar-lhe-ia anunciar uma estratégia agressiva em termos de competitividade externa, um ajustamento na política de formação e o recrutamento de um ou dois jogadores de topo para a equipa principal.

  Uma eventual parceria futura poderá proporcionar um salto qualitativo significativo desde que se acerte com ela, alguém que traga algo positivo; capital, conhecimento e uma boa rede de contactos. Pode ser uma boa ideia. A verdade é que o atual quadro acionista não acrescenta qualquer valor à Sad; nenhum dos atuais acionistas, à exceção de Filipe Vieira, tem competências em matéria de gestão de entidade desportiva, com a agravante de um deles ser inimigo do Benfica - uma das várias vicissitudes das Sad.

   Por outro lado, se esta operação servir, nem que seja só para afastar a Olivedesportos, dou por bem empregues os 32 milhões! Como foi possível ter-se mantido o inimigo entre portas, durante 18 anos? Com o pretexto do alegado dever de gratidão, permitiu-se que um dos principais rivais, a Porto-Sad, se mantivesse permanentemente ao corrente de todas as decisões, estratégicas e operacionais da Benfica-Sad! Como foi tal possível? Em simultâneo proporcionou-se à mesma entidade lucrativo negócio com a entrega a pataco dos direitos desportivos que lhe permitiram financiar rivais e adversários!

   Finalmente o momento escolhido para lançar esta OPA não foi o melhor; contribuiu para mais um insucesso da participação da equipa de futebol na Liga dos Campeões, quando, como se verificou, era possível ter passado à fase seguinte. E isso, não só comporta perdas financeiras imediatas avultadas como desmoraliza as hostes induzindo eventuais perdas futuras, desportivas e financeiras. É o chamado custo de oportunidade. Só o futuro dirá se foi corretamente avaliado.

   Mais avisado teria sido reforçar cirurgicamente a equipa apostando num percurso mais longo na Liga dos Campeões e depois então avançar com a OPA.

Peniche, 29 de Novembro de 2019

António Barreto
(Gustav Courbet, Fishing Boats on the Deauville Beach 1866)