Desporto

domingo, 13 de dezembro de 2020

USA - Eleições 2020 (V)

 Economia

  A análise económica do mandato da administração Trump deve dividir-se em dois períodos, o pré-covid - de 2016 até março de 2020 - e o pós-covid - ainda em curso.

A derrocada económica, vaticinada pelos detratores de D. Trump, resultante da sua ascensão à presidência dos EUA, não só não se verificou, como manteve ou superou os indicadores do mandato anterior, no primeiro período. No segundo período verificou-se o maior colapso económico dos últimos 80 anos, nos EUA.

Vejamos o que nos diz a análise da BBC Brasil realizado em 27 de Setembro de 2020, a partir dos relatórios do Escritório de Análise Económica dos EUA:

   O crescimento económico médio anual dos primeiros três anos do mandato de D. Trump foi de 2,5 % contra 2,3 % dos últimos três anos do mandato anterior, sendo que, neste, em meados de 2014 se verificou um crescimento de 5,5 %. Em abril, maio e Junho verificou-se uma contração superior a 30 %; três vezes superior à que se verificou em 1958! Se tal ocorreu apesar da recusa de D. Trump em adotar o confinamento geral, não custa supor que teria sido bem pior se tivesse feito o contrário. Contudo, a recuperação económica tem ocorrido com grande rapidez, estimando-se, no final do ano, uma retração do PIB próxima dos 3 %! Cerca de 1/3 da que se verifica, em média, na Europa, para o ano em curso. Certo também é que, nos últimos 50 anos, houve períodos de maior crescimento do que o que ocorreu na fase pré-covid.

   Quanto aos mercados financeiros, nomeadamente S&P 500, apesar da queda abruta do início de 2020, apresenta uma valorização de cerca de 14 % neste ano até à data e um total de 83 % desde 2016. Já o desempenho do Nasdaq é bem superior, cum uma valorização em 2020 e atá à data de cerca de 30 % e de 171 % desde 2016! Um desempenho sem paralelo na Europa, com todas as bolsas negativas em 2020, enquanto a oriente os índices são os índices chineses que mais se aproximam: Nikkei (13,1 % ytd), CSI 300 (24,1 % ytd), Kospi (24,2 % ytd), Sensex (9,3 % ytd), e BIST 30 (5,3 % ytd). Tal desempenho revela que os mercados confiam nas ideias de D. Trump.

   Relativamente à taxa de desemprego, de 3, 5 % antes da pandemia, era a mais baixa dos últimos 50 anos. Mas é verdade que nos últimos três anos de mandato de Obama foram criados 7 milhões de postos de trabalhos enquanto nos primeiros 3 anos do mandato de Obama foram criados “apenas” 6,4 milhões. Com a pandemia a taxa de desemprego disparou para 14,7 % em abril - a mais alta desde a Grande Depressão de 1930 - tendo sido destruídos, num só mês, cerca de 20 milhões de postos de trabalho, anulando uma década de criação de emprego. Em agosto porém, a taxa de desemprego já estava em 8,4 %, confirmando a rapidez da recuperação económica.

   Os salários médios por hora no mandato de D. Trump mantiveram a tendência de subida iniciada no primeiro mandato de Obama, com uma média anual de 2,1 % naquele e de 2,4 % deste. O efeito da pandemia provocou um aumento abruto dos salários devido ao desemprego dos trabalhadores de baixas qualificações, voltando a baixar logo que se iniciou a recuperação económica, com o regresso daqueles ao trabalho.

   Apesar de ter sido em 1966 sob o mandato de Lyndon B. Johnson que se verificou a maior redução de pobres num só ano - 4,7 milhões de pessoas -, contra 4,2 milhões em 2019, é verdade que foi no mandato de D. Trump que se atingiu o mais baixo índice de pobreza dos últimos 50 anos, 10,5 %, desconhecendo-se ainda a evolução resultante da crise pandémica. Sucede porém que se verifica grande assimetria étnica no que diz respeito à população pobre, com cerca de 18,8 % para americanos negros e de 7,3 % para americanos brancos não latinos.

Conclusão

    Donald Trump é um outsider, um corpo estranho na cena política, rejeitado até por alguns setores do seu próprio partido. Oriundo do mundo empresarial representa uma reação inorgânica da sociedade civil contra o status quo partidário vigente. É visto como uma ameaça pelo espetro político estabelecido, sobretudo pelo setor progressista, este divorciado do país profundo. Apesar do seu estilo algo patético, por vezes grotesco, com uma linguagem imprudente, direta às vezes incendiária, D. Trump tem uma ideia para o país assente nos valores tradicionais, na família, na moral cristã, na segurança, no trabalho e na Pátria. Relativiza a vertente imperialista dos EUA iniciada em 1945, privilegia o comércio internacional baseado no equilíbrio das trocas, defende maior cooperação ativa dos aliados militares naturais, abomina as dinâmicas políticas e económicas prevalecentes assentes na teoria do Aquecimento Global, empenha-se na causa ambiental privilegiando o gás natural e de xisto, denuncia e combate frontalmente os promotores do terrorismo global. A apoiá-lo tem uma vasta população que já não se sente representada pelos partidos tradicionais. As notícias de fraude eleitoral no processo ainda em curso, a confirmarem-se, significarão, o início do último estertor das democracias representativas multipartidárias e o advento de novas ditaduras ou de regimes democráticos de representação direta alcançáveis a partir dos meios proporcionados pelas novas tecnologias tal como revelam alguns estudos do MIT (Massachusetts, Institute Technology).


Fim.

 Peniche, 8 de Dezembro de 2020

António Barreto

sábado, 12 de dezembro de 2020

USA - Eleições 2020 (V)

 Sistema de saúde

   Crítico da política de saúde do seu antecessor, D. Trump introduziu-lhe, gradualmente, algumas alterações. Nem Obama tinha instituído um sistema de saúde público e universal, nem D. Trump reverteu todas as alterações introduzidas no seu mandato. O sistema de saúde americano, ineficiente, dispendioso e insuficiente, é complexo; não há um sistema público universal, nunca houve, apesar de algumas tentativas, nomeadamente no mandato de Roosevelt - de 1933 a 1945 -, inviabilizadas pelos partidos democrata e republicano. O sistema de saúde americano é eminentemente privado, consistindo na contratualização particular de planos de saúde. Contudo tem uma dimensão pública através dos programas designados por Medicare e Medicaid. O plano Medicare, criado em 1966 e financiado pelo governo federal, destina-se a cidadãos com mais de 65 anos, que tenham descontado para o sistema de previdência durante a sua vida ativa, e pessoas incapacitadas para o trabalho, com serviços diferenciados em função do perfil de cada cidadão. O plano Medicaid destina-se a pessoas de qualquer idade em condição de carência de recursos sendo financiado pelo Governo Federal e pelos Estados, que pagam diretamente aos prestadores dos serviços os atos médicos correspondentes. Neste sistema, os Estados têm plena autonomia para definir modelos próprios, havendo, por todo o território, clínicas e hospitais públicos e privados. A contratação de seguros de saúde privados é efetuada maioritariamente no âmbito empresarial, já que, grande parte dos cidadãos não têm recursos disponíveis para o fazer. Em 2007, 46 milhões de pessoas não tinham seguros de saúde; graças ao plano Obamacare esse número foi reduzindo gradualmente até atingir os 28 milhões em 2016. O drama são os elevados custos envolvidos que podem levar à ruina de quem não tenha contratos de seguro nem seja abrangido por um dos sistemas públicos já referidos - o tratamento de uma perna partida pode atingir os $7500,00, enquanto a diária num hospital é de $10000,00 aproximadamente.

   Tendo, em 2009, ascendido a $676 bilhões os encargos públicos com os planos Medicare e Medicaid, previa-se a duplicação dos mesmos no ano 2000. O plano Patient Protection and Affordable Care Act (PPACA ou, em português, “Lei de Proteção e Cuidados Acessível ao Paciente”), conhecido popularmente como Obamacare, instituído em março de 2010, tinha por objetivo primordial reduzir os custos públicos com a saúde, impondo a todos os americanos a obrigatoriedade de contratualização de planos de seguro privados. Alargou-se o plano Medicaid a mais 15 milhões de cidadãos subsidiando os correspondentes encargos a todas as pessoas com rendimentos anuais até 4 vezes o salário de pobreza aplicável. Aos jovens até aos 26 anos foi garantido acesso aos planos de saúde dos respetivos pais. Todas as empresas com mais de 50 trabalhadores foram obrigadas a contratualizar seguros de saúde para os respetivos trabalhadores. A todas as outras que fizessem o mesmo foram oferecidos benefícios fiscais. Em 2014 foi atribuída uma taxa anual de $95,00 aplicável a todas as pessoas que não tivessem seguro de saúde, agravada para $696 em 2016. Simultaneamente legislou-se impedindo os abusos das seguradoras, nomeadamente de rejeição da contratualização com pessoas com doenças crónicas, ou da cessação do respetivo seguro em caso de contração de doença. Finalmente foi criado um portal público, o Healthcare, que garante a qualquer cidadão a contratualização de um plano de seguro nunca superior a 9,5 % do respetivo rendimento mensal.

   As críticas apontadas ao Obamacare, nomeadamente pelo partido Republicano, traduzem-se na discordância da obrigatoriedade de contratualização universal de planos de seguro, na comparticipação das despesas pelos cidadãos e nas restrições da cobertura impostas pelas companhias seguradoras. Como consequência boa parte dos cidadãos acaba por não ativar os seguros para evitar o agravamento dos correspondentes encargos, inviabilizando o pretendido efeito de prevenção.

   Ao assumir a Presidência em 2017, D. Trump criou o Trumpcare, acabando, em finais de 2017, com a multa por falta de plano de saúde, assim como com a obrigatoriedade de aquisição de seguros por parte das empresas para os seus trabalhadores. Contudo, manteve em vigor o Obamacare, incluindo o Healthcare e o acesso aos planos de saúde dos pais, de pessoas até 26 anos. Por esta ocasião estava ainda na agenda a permissão às seguradoras da flexibilização das condições contratuais.

   Há, nos Estados Unidos, um consenso geral acerca da necessidade de melhorar o sistema de saúde, extremamente dispendioso e ineficiente - com um encargo de cerca de $6000,00 per capita - mas um profundo desacordo quanto à forma de o fazer, por razões eminentemente culturais, em que uma parte da comunidade política, de matriz conservadora, defende o não envolvimento do Estado nesta matéria.

Geopolítica

 O temor inicial segundo o qual o ar truculento e fanfarrão de D. Trump iria provocar uma guerra em larga escala, não se concretizou. O recurso à guerra é um estratagema que alguns líderes mundiais têm usado para atenuar a crítica interna, unindo os cidadãos em torno de uma ameaça, supostamente comum. Tal sucedeu com alguns dos seus antecessores, desde Obama aos Bush. Mas também na Europa, como é o caso, mais recente, do envolvimento da França e Inglaterra na guerra da Síria, pelas mãos de Hollande e de David Cameron. A administração Trump não só não envolveu os americanos em nenhum novo conflito militar como acabou por retirar as suas tropas da Síria apesar da inegável importância estratégica deste país na região. Aliada histórica da Rússia e do Irão, plataforma de expansão do islamismo xiita e do controle de largas reservas de petróleo, o regime totalitário de Bashar al-Assad é um permanente foco desestabilizador na região, em especial no Líbano, um país outrora democrático e próspero e hoje pouco mais que um país falhado. Na guerra do Afeganistão, iniciada em 2001 por George W Bush, em retaliação pelo atentado de 11 de Setembro, nem Obama nem Trump lograram conseguir a retirada total das tropas americanas - Obama iniciou o processo de redução de tropas desde 150 mil até 8,5 mil homens - apesar de tal constar nos correspondentes programas eleitorais. Pelo contrário, D. Trump, ainda reforçou o contingente americano com mais 3 mil soldados; contudo, em 2018, este, assinou um acordo de paz com os Talibans. A guerra prossegue nos dias de hoje no Afeganistão, um país à beira da indigência - 169º no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

   No caso da Coreia do Norte, apesar do desdém com que têm sido consideradas as iniciativas políticas de D. Trump pelos seus detratores, a realidade é que este conseguiu sentar à mesa das negociações Kim Jong-un, primeiro com os EUA depois com a Coreia do Sul. Algo que nenhum outro esteve sequer perto de conseguir e que atenuou drasticamente a ameaça permanente da eminência de um conflito nuclear em larga escala. Uma tremenda vitória da administração Trump. Esta, por outro lado, não hesitou em manter-se fiel ao Governo de Israel, reconhecendo a sua nova Capital, Jerusalém. Tal não obviou a improvável adesão ao seu Acordo de Paz para a região, do Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Algo cuja relevância só de má-fé pode ser negada. Relativamente ao Irão, descrente da sua boa-fé no acordo de desagregação do seu plano nuclear, denunciou-o frontalmente, retirando-se do processo de acompanhamento. O futuro dirá da bondade desta estratégia. Por mim, confio menos na da EU, que parece estar amedrontada, a ser enganada e chantageada. D. Trump demonstrou, neste caso, que não é cobarde, nem irresponsável, uma vez que não tomou qualquer iniciativa militar além de dissuasora. Relativamente à UE, a política da administração Trump pautou-se pela crispação, com a exigência de maior envolvimento daquela nas despesas militares da OTAN, mas também devido às diferenças de abordagem das questões iraniana, da imigração e do Brexit. Sendo a Europa e os EUA aliados militares naturais, a concorrência no plano económico é fonte permanente duma certa hostilidade entre ambos, seja com D. Trump, com Obama ou com Biden. A invasão migratória que tem ocorrido na Europa e que ameaça desagrega-la foi espoletada pela guerra da Síria, iniciada pela Administração Obama e alimentada pela Rússia, esta interessada em retaliar pelo boicote económico imposto por Angela Merkel.



Peniche 8 de Dezembro de 2020

António Barreto

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

USA - Eleições 2020 (IV)

 As políticas

   D. Trump definiu-se como conservador, nacionalista, defensor da família tradicional, dos valores cristãos, do liberalismo económico e do mercantilismo.

Imperialismo

   Anti-globalista defende o mercantilismo, o comércio internacional com regulação. É interessante verificar como muitos dos que censuram o imperialismo americano passaram a acusar D. Trump de, com o seu nacionalismo, deixar os seus aliados externos sem referências abrindo espaço geoestratégico ao avanço de potências não democráticas; a russa e a chinesa. É certo que a abertura económica é fonte de progresso e tem contribuído decisivamente para a erradicação da pobreza no mundo. Mas também é verdade que o desequilíbrio da razão de troca agrava a desigualdade entre países pobres e ricos, perpetuando a dependência daqueles relativamente a estes. Desse mal ainda padece Portugal por, no século XVIII ter feito um acordo de comércio com o Reino Unido - o Tratado de Methuen assinado em de 27 de Dezembro de 1703 também conhecido por tratado de panos e vinhos -, mediante o qual Portugal prometeu comprar os tecidos ao Reino Unido (RU) - o maior produtor mundial de tecidos da época – e, este, os vinhos a Portugal. David Ricardo, o lendário economista da época, demonstrou então como ambas as partes ganhavam com o negócio; simplesmente a razão de troca era desfavorável a Portugal - de 1 para 3 -, enquanto a do RU era de 1 para 5! O resultado traduziu-se no empobrecimento relativo de Portugal e no atraso da sua industrialização, de que ainda hoje padecemos. Também não deve perder-se de vista que alguns historiadores consideram a política económica nacionalista de Roosevelt uma das causas da 2ª GM, por impossibilitar à Alemanha os recursos de que necessitava para pagar as astronómicas indemnizações de guerra que lhe foram impostas no Tratado de Versaillhes em 28 de Junho de 1919. Tudo ponderado, considerando ainda o agravamento da dívida externa - atualmente cerca de 100 % do PIB - e do défice orçamental - atualmente, cerca de 5 % do PIB - dos EUA em razão da crise de 2008 e da política de desagravamento fiscal de D. Trump, não é destituído de senso que a sua administração procure inclinar a balança externa a seu favor atuando nas pautas alfandegárias e cambiais relativamente aos principais parceiros, em especial a China. Trata-se, afinal e sobretudo, de travar a desindustrialização do país e consequente desemprego que se tem verificado nas últimas décadas devido à deslocalização empresarial. A sabedoria reside na capacidade de encontrar o equilíbrio de interesses. A tudo isto acresce a perceção geral de que a globalização é um veículo político e económico para a instauração dum governo mundial gizado e controlado pela ONU graças à maioria socialista dos seus membros controlados pela China. Um propósito cujos contornos ganham nitidez a partir das repetidas e explícitas declarações do socialista António Guterres concordantes com a conhecida aspiração imperialista da 2ª Internacional e do Império do Meio.

Aquecimento Global

   Crítico do Acordo de Paris, D. Trump deu prioridade à energia de origem fóssil em detrimento da renovável, propondo-se atingir os objetivos de redução de emissões de CO2 por outras vias. Sustenta-se no parecer científico, historicamente comprovado, segundo o qual as alterações climáticas são naturais e que o impacto do aumento da concentração de CO2 na temperatura ambiente, sendo marginal, é, sobretudo, consequência do aumento de temperatura dos oceanos e não causa do mesmo. Este tema engloba quatro questões; a energética, a económica, a política e a geoestratégica. Com a implementação da tecnologia do fracionamento - desenvolvida nos EUA - na prospeção e exploração do petróleo e gás - natural e de xisto -, os EUA, que são os maiores consumidores mundiais de petróleo, passaram, também, a ser os maiores produtores mundiais, com baixos custos de produção unitários. De importadores de produtos petrolíferos passaram a exportadores dos mesmos. Esta alteração retirou à OPEP o poder de controlo das economias ocidentais através do controlo do principal fator de produção; a energia. Deve-se à evolução tecnológica dos EUA - ocorrida sob a presidência de Obama - os baixos preços do petróleo nos mercados internacionais - uma grande ajuda para países energeticamente dependentes como Portugal. A vertente geoestratégica está ainda bem patente relativamente à União Europeia (UE) uma vez que esta aposta, determinadamente, nas energias renováveis, sujeitando-se à perda de competitividade da sua economia devido ao agravamento dos custos unitários de produção. Finalmente a questão política reside no facto de a causa ambiental, propulsionada pela ONU, ter sido “apropriada” pelos partidos de matriz socialista com o propósito de identificar, isolar e combater os regimes capitalistas. Um dever de convocação planetária cuja solução só parece alcançável com o fim do capitalismo! Como se as ideias maniqueístas não estivessem testadas pela História.

Imigração

   Contrário à política de fronteiras abertas D. Trump proibiu a imigração de países com histórico de envolvimento em atividades terroristas - com exceções - e impôs o controlo rigoroso do fluxo migratório pelo sul, de matriz eminentemente mexicana. Os EUA enfrentam o drama demográfico característico dos países desenvolvidos tipificado na fase quatro da Teoria da Transição Demográfica (TTD). Com uma população de cerca de 330 milhões de habitantes - 12, 7 % das quais nascidas no estrangeiro, 11,3 % de origem mexicana, 12,3 % de afro-americanos e uma taxa de reposição de 1,82 -, a sua estrutura demográfica encontra-se num processo de envelhecimento e reconfiguração étnica. O México, com cerca de 123 milhões de habitantes - o 3º mais populoso das américas, com uma taxa de reposição de 2,1, encontrando-se na 3ª fase da TTD - contribui, anualmente, com cerca de 1,2 milhões de emigrantes maioritariamente ilegais. Nesta cadência, em menos de 20 anos a população de origem mexicana ascenderá a cerca de 50 milhões, quase 15 % do total da população americana atual - e cerca de 40 % da população mexicana atual total. Esta reconfiguração social conduzirá ao inevitável agravamento conflitos sociais e políticos no país. Contudo, com a taxa de reposição da população no limiar da neutralidade e em queda no México, o fluxo migratório mexicano tenderá a diminuir. Note-se porém que os Estados Unidos têm uma dívida de gratidão para com o México que, por ocasião das duas guerras mundiais lhes forneceu a mão-de-obra de que a sua economia carecia. Por outro lado vigora entre os dois países um acordo de livre comércio entre as cidades fronteiriças. Finalmente, há, no México, uma comunidade de cerca de um milhão de cidadãos americanos. Com Presidente conservador ou democrata, com mais ou menos discrição, a política de emigração dos USA será tendencialmente de contenção acompanhada de incentivos à natalidade. É no entanto provável que os democratas apostem no incremento migratório como forma de alterar a seu favor o impasse eleitoral que se tem verificado no país nos últimos anos. A demonstrá-lo está o diferendo entre democratas e republicanos em vésperas do ato eleitoral, em que estes defenderam a exclusão dos imigrantes ilegais dos cadernos eleitorais e aqueles o contrário. Por outro lado D. Trump defende a prioridade de acesso à carta verde aos imigrantes mais qualificados em vez do modelo em vigor que privilegia a reunião familiar. Está em causa não só o impacto económico do contributo imigratório mas, sobretudo, o impacto político. Por outro lado, também a administração Obama repatriou de imigrantes ilegais, incluindo dezenas de milhar de crianças - para cujo efeito a sua administração chegou a pedir aprovação de financiamento ao Congresso - e se desenvolveram políticas de combate aos traficantes envolvidos no fenómeno da imigração.



Peniche, 8 de Dezembro de 2020

António Barreto

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

USA - Eleições 2020 (III)

 As castas

   A supressão dos privilégios da aristocracia e do clero, característicos das monarquias, pelos regimes republicanos - fundados na tripla utopia, liberdade, igualdade e fraternidade -, não obstou à emergência de novas castas e correspondente cortejo de privilégios. Castas relacionadas com a esfera partidária, judicial, militar, económica e do alto funcionalismo público. A desigualdade começa aqui, desacredita a República e a democracia, perpetua-se e tende a agravar-se com as sucessivas gerações. A casta partidária, geralmente instalada na administração pública e com acesso às instâncias de poder, atribui-se a exclusividade da representatividade política. A ascensão política extemporânea de D. Trump, um outsider pragmático, financeiramente independente, oriundo da sociedade civil, vinculado à defesa dos interesses da América profunda, contra os poderes instalados, fez soar o alarme, não só entre o partido oponente como no interior do seu próprio partido. A sua lógica fora do filtro partidário suscitou compulsivas reações hostis radicadas no medo da perda de privilégios e de poder. A sua figura grotesca, o ar desajeitado, o discurso meio desarticulado e um passado social e económico polémico, forneceram pasto abundante à maledicência dos adversários. Ao bom estilo socrático, a uma figura caricatural, diabólica, está vedada a produção de boas ideias. Como tal nem vale a pena discuti-las. Apenas afastar a criatura para bem longe, catalogando os seus apoiantes com a habitual parafernália de epítetos vexatórios; estúpidos, incultos, ignorantes, atrasados, etc..

O Declínio dos Candidatos

    Um breve olhar pelos Presidentes dos EUA dos últimos 50 anos permite constatar um declínio dos respetivos perfis. Neste ato eleitoral chegam ser patéticas as mútuas acusações de incompetência dos candidatos, inclusive entre membros dos respetivos partidos. Se D. Trump é considerado rude e boçal, J. Biden é apelidado de senil, taralhouco. Nenhum destes classificativos seria aplicável a Ronald Reagan, Bill Clinton, George H. W. Bush ou Obama. Parece haver um estranho mecanismo na democracia americana, a confirmar a velha máxima de Adam Smith, segundo o qual a má moeda afasta a boa moeda. Mais uma vez trata-se de uma característica de quase todas as democracias, visível em Portugal, Espanha, França, Reino Unido e Itália onde se tem assistido a fenómenos idênticos, seja emergindo do seio dos partidos de poder, seja na sequência da emergência de novos partidos. Talvez o jogo democrático tenha resvalado para uma espécie de aviltamento que afasta as verdadeiras elites da causa pública. E isso constitui uma ameaça às democracias.

Forma e conteúdo

   Diz o bom povo; “As aparências iludem” e “quem vê caras não vê corações”, aforismos que permanecem atuais em qualquer vertente da atividade humana e em particular na política, essa arte simultaneamente nobre e aviltante da persuasão. A forma precede o conteúdo. Vê-se por todo o lado e em todo o lado. Viu-se exuberantemente, exageradamente, despudoradamente, com D. Trump, nos Estados Unidos, mas também em Portugal. A sua figura meio grotesca, meio patética, a sua retórica rudimentar, direta, proporcionaram vasto campo de enxovalhamento pessoal. Nenhuma boa ideia poderia sair de figura tão repugnante. Um conceito puramente nazi. Choveram acusações de todo o género; de corrupção, de traição ao país, de racismo, de xenofobia, de homofobia, de machismo, de violação, etc. etc. Pelo Frankenistein que ocupava a Casa Branca todas as monstruosidade eram praticáveis e prováveis. Raramente se encontrava uma análise crítica exaustiva ao seu programa de governo nos meios de comunicação social. Especialmente em Portugal. A tática é simples e recorrente; desacreditando-se a pessoa desacreditam-se as suas propostas evitando-se o confronto de ideias cujo resultado pode ser o contrário ao pretendido.

Peniche, 8 de Dezembro de 2020

António Barreto

domingo, 6 de dezembro de 2020

USA - Eleições 2020 (II)

 O quarto poder

 Há um consenso acerca da influência da Comunicação Social nas democracias a ponto de ser considerada como o 4º Poder. Um poder informal mas real e fácil de compreender. Em democracia - um homem um voto - o espaço público é o local privilegiado de debate e formação da opinião pública, das convicções do eleitor, daí a importância de comunicação social. Importância crescente devido à proliferação de plataformas e órgãos de informação, aumento da frequência de emissões e publicações e alargamento do nível de escolaridade das populações. E é por isso que muitos a consideram, não o quarto, mas o primeiro poder! Nunca tal foi tão evidente para mim como nestas eleições; a declaração de vitória de Joe Biden pela CNN, primeira entidade a fazê-lo, com as urnas ainda em alvoroço e a comoção do anunciante, denunciam a guerra que a Comunicação Social, maioritariamente democrata, travou contra o Presidente Republicano durante todo o mandato. Não o posso afirmar, ninguém poderá fazê-lo, mas pergunto-me se não terá sido a Comunicação Social americana a decidir estas eleições. E se foi desvirtuou um regime onde cabe aos eleitores o primado da soberania política. Uma democracia desvirtuada não é democracia.

A tribalização política

   A degradação do diálogo político interpartidário, fonte da criação de uma sociedade mais justa e próspera esteve francamente exposta durante todo o mandato de D. Trump. Os partidos entrincheiraram-se nas suas posições e passaram a considerá-las abomináveis quando adotadas pelo oponente. Ignóbeis e absurdos ataques pessoais perpetraram-se continuadamente, dum e doutro lado da barricada, deixando de fora os grandes temas da nação. A insana e irracional luta pelo poder sobrepôs-se a todas as regras de boa conduta democrática, dominando tudo e todos. Um fenómeno que não é exclusivo dos EUA mas característico da maioria das democracias, comprometendo-as. Ou evoluem ou morrerão. O monopólio partidário da representação política está em causa.  

O Poder da Rua

   O ativismo inundou a rua em toda a legislatura, com inúmeras e violentas manifestações de minorias reivindicando direitos, amplificando e extrapolando qualquer acontecimento negativo transformando-o em tragédia sociai coletiva. Exigiu-se a destituição de órgãos legítimos vigentes. Imputou-se-lhes a responsabilidade de todas as iniquidades sociais e económicas. Reivindicou-se a legitimidade da ação direta. Criou-se um estado de pré-guerra civil condicionando e bloqueando a governação sufragada democraticamente. Tudo ocorreu num contexto de progresso económico notável, de pleno emprego e de integração das minorias. O poder da rua, pré-revolucionário, atribui-se legitimidade própria pretendendo sobrepor-se à legitimidade do poder democrático. A entropia política e social foi uma constante, internacionalizou-se e pôs em causa a legitimidade dos centros de poder. A anarquia social estabeleceu-se, alimentada pelo partido derrotado anteriormente e, suspeita-se, por entidades externas empenhadas na permanente luta pelo domínio geoestratégico. O direito de manifestação, em muitos casos, extravasou as prorrogativas legalmente consagradas. Um fenómeno que se verifica nas democracias e que dá lugar ao paradoxo da subjugação das maiorias pelas minorias graças à grande intensidade do ativismo destas.   




Peniche, 6 de Dezembro de 2020

António Barreto

domingo, 29 de novembro de 2020

USA - Eleições 2020 (I)

Introdução 

Sete dias depois do ato eleitoral a contagem de votos aproxima-se do fim com a vitória do candidato democrata Joe Biden a definir-se com clareza, a despeito das múltiplas denúncias de irregularidades por parte do seu oponente que levaram à recontagem de votos nalguns Estados.

   A falta de envolvimento direto na realidade social, económica e política americana, se, por um lado, relativiza a credibilidade das conclusões de quem se encontra nessa condição - o meu caso -, por outro, confere-lhe a descontaminação que o distanciamento proporciona.

   Em todo o processo definiram-se contornos de natureza política e social comuns a muitos países democráticos.

Um país dividido

   Que me recorde esta divisão já ocorria por ocasião da eleição do 43º Presidente dos EUA, em que George W. Bush ganhou a Al Gore por “uma unha negra”, repetiu-se na eleição de D. Trump contra Hillary Clinton e agora entre Joe Biden e D. Trump.

   Estão em confronto duas realidades sociais e económicas distintas; a das populações dos grandes centros urbanos, qualificada, da economia dos serviços, intelectual, ateia ou pagã, próxima dos centros de poder, e progressista, e a do país profundo, rural, artesão, cristão, distante dos centros de poder, e conservador. Algo semelhante ocorre, por exemplo, em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, etc. Diz-nos a história, que, em geral, é a “canalha das cidades” que define os ciclos políticos. Portugal é disso exemplo, nomeadamente, em 1383-1385, em 1640 e em 1910.

   É neste contexto que se compreende a importância do fenómeno da imigração maciça que tem ocorrido nos últimos tempos. Apoiados incondicionalmente pelos democratas é natural e inevitável a sua preferência por este partido tendo em conta a estratégia de controlo dos fluxos migratórios pelos republicanos e a natureza do regime político dos respetivos países de origem de matriz política maioritariamente socialista ou afim. É por esta razão que me parece que o que subjaz à tomada de posição partidária relativamente à imigração são razões eminentemente eleitorais e não humanitárias. A imigração parece estar a ser fomentada e usada com o propósito de reconfigurar socialmente os EUA, o que ocorre também na Europa.

Desconfiança eleitoral

   As denúncias de irregularidades neste ato eleitoral são persistentes e abundantes tal como ocorreu em eleições anteriores. Numa democracia que é o referencial em todo o mundo livre a repetida entropia à volta do ato eleitoral degrada a sua legitimidade. A relutância de D. Trump em aceitar a derrota radica não só, em alegados testemunhos de irregularidades mas sobretudo no ressentimento provocado pela postura dos democratas em todo o mandato anterior caracterizada por insistentes suspeitas de manipulação eleitoral em seu benefício e com a ameaça de impeachment sempre pendente. Quando, num ato eleitoral, sucessivamente, o derrotado não reconhece a derrota, é a própria democracia que se degrada, neste caso, americana. Não tardará a contaminar todas as outras. Uma nova idade das trevas pode estar no horizonte, vislumbrando-se alguns dos seus contornos.




Peniche, 29 de Novembro de 2020

António Barreto

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Assim Como Vai: Ela entrou como um pássaro no museu de memórias

Assim Como Vai: Ela entrou como um pássaro no museu de memórias:   Ela entrou como um pássaro no museu de memórias E no mosaico em preto e branco pôs-se a brincar de dança. Não soube se era um anjo, seus b...

domingo, 8 de novembro de 2020

Lex Barker

 

Lex Barker nasceu em 1919 na povoação de Rye, em Westchester County - a cerca de 50 Km de Nova Iorque - à época com cerca de 5 mil habitantes -, onde seus pais, construtores bem sucedidos, tinham uma segunda habitação.

Lex Barker


Contrariando a vontade dos progenitores, Lex desde muito jovem quis ser ator. Depois de uma pequena experiência na escola e no teatro de Mount Kisco - povoação próxima de Rye -, foi na cidade natal que, aos 17 anos, teve a primeira experiência séria, no Teatro de Verão, ao lado de Vincent Price e da estrela, de origem russa, Eugenie Leontovich. Apesar de desanimado com a experiência decidiu dedicar-se à profissão de ator após novo papel na peça Anna Christie no teatro da cidade vizinha de Westport County. Não muito longe dali, no rio Hudson, o seu destino estava escrito.

Depois de desempenhar pequenos papéis em filmes de grande qualidade, como “The Farmer’s Daughter” e “Crossfire”, ambos realizados em 1947, Lex Barker foi bafejado pela sorte - comum a muitos grandes atores -, ao ser escolhido pelo produtor Sol Lesser, entre uma multidão de candidatos, para sucessor do lendário Johnn Weissemmuller na representação do personagem criado por Edgar Rice Borroughs, o célebre Tarzan. O seu porte atlético - cerca de 1,90 de altura -, gerou unanimidade na escolha, autor incluído. Na verdade havia algo mais que aproximava Lex Barker do personagem de Borroughs. De origem hispano-britânica, descendente de Roger Williams - fundador da cidade de Providence e cofundador da colónia de Rhode Island, e de William Henry Crichlow, histórico governador-geral de Barbados ainda no tempo dos piratas, Lex Barker tinha o charme apropriado às nobres origens do rei da selva.

Em 1939 Lex Barker entra na peça “The Five Kings”, realizada por Orson Wells na Broadway. É recrutado como soldado raso de infantaria para a 2ª GM. Regressou em 1945 no posto de Major - o mais jovem das Forças Armadas Americanas - altamente condecorado e com uma placa de platina na zona da têmpora em consequência dum grave ferimento de guerra. No mesmo ano retomou a sua carreira participando no filme Doll Face.

Em 1949 iniciou a sua saga na pele de Tarzan com o filme “Tarzan Magic’s Fountain”, que se revelou um sucesso junto do público, da crítica e, consequentemente económico. Seguiram-se “Tarzan and The Slave Girl”, em 1950 e “Tarzan’s Peril”, em 1951, o primeiro realizado na selva africana. Porém, Lex Barker, cansado de ser visto como “o homem da selva”, aspirava a papéis onde pudesse exprimir todas as suas qualidades de ator.  

Em 1952 entra num pequeno filme “Battles of Chief Pontiac”, um western de fraca audiência. “Tarzan and the She-Devil”, realizado em 1953, foi o seu último filme desta série e um grande sucesso de bilheteira. No mesmo ano prossegue no género western com “Thunder Over the Plains” e “The Yellow Mountain”, em 1954, um policial, “The Man From Bitter Ridge”, em 1955, e um drama naval “Away All Boats”, em 1956, com os quais granjeou aclamação geral. Seguiram-se, em 1957, “The Girl in Black Stockings” e “The DeearsLeyer”, com os quais terminou o ciclo Hollywood.

Falando fluentemente francês, italiano e espanhol, Lex Barker partiu para uma carreira na Europa chegando a Itália, onde estavam na moda os filmes de aventuras, género em que se se sentia à vontade. Em 1959 a sua carreira sofreu um novo impulso com o convite de Frederico Fellini para integrar o elenco de “La Dolce Vita”, onde contracenou com Marcello Mastroianni, Anita Ekberg e outras estrelas da época.

Nova viragem ocorreu na sua carreira quando, pela mão do produtor Artur Brauner, fez uma incursão no cinema alemão, desempenhando o papel de Joe Como - agente do F.B.I. destacado para combater o infame Dr. Mabuse -, nos filmes de suspense “Return of Dr Mabuse”, em 1961, e “Invisible Dr Mabuse”, em 1962. Com “Frauenarzt Dr. Sibelius “ e “Old Shatterhand “, realizados ainda em 1962, Lex Barker atingiu o estrelato também na Europa.

A sua popularidade, em declínio na América, rapidamente ultrapassou, na Europa, a das superestrelas John Wayne e Clint Eastwood, ao integrar as superproduções do jovem Horst Wendlandt alusivas ao tema do Oeste Selvagem, superando todos os recordes de bilheteira e abrindo caminho às grandes produções de Sergio Leone.

Cerca de 12 filmes, baseados nas novelas de Karl May, protagonizou nesta fase, tendo como pano de fundo, o Oeste, o México e o Oriente, onde desempenhou as personagens de, respetivamente, “The Olde Shatterhand”, “Dr. Sternau” e “Kara Bem Nemsi”.  Os filmes “The Treasure Of Silver Lake”, em 1962, e “Apache Gold”, em 1963, serviram de referência para o cinema do género. Os locais das filmagens, Croácia e Espanha, constituíram uma vantagem por propiciarem uma atmosfera condizente com o teor da história.

O público ficou deliciado com o aparecimento de personagens índios em pé de igualdade com os pioneiros americanos em “Winnetou I”, em que o francês Pierre Brice, fez o papel da chefe Apache Winnetou, irmão de sangue de Lex Barker. A grande popularidade do tema do filme, “The Old Shatterhand” impulsionou o talentoso ator americano, em 1965, a gravar baladas românticas, género western, algumas delas compostas por Martin Boettcher.

A sua carreira prosseguiu por todo o mundo em grandes produções europeias com os filmes de Karl May. Desta fase os mais icónicos são “Code 7, Victim 5”, de 1964, onde faz o papel de um agente privado encarregado da investigação de uma série de homicídios na África do Sul, “Die Slowly, you'll enjoy it more”, em 1966, no papel de espião tipo James Bond em versão cómica; e  “Blood Demon”, em 1967, um filme de terror baseado no romance de Edgar Allan Poe “The Pit and the Pendulum”, rodado em autêntico ambiente medieval, com o “Drácula” Christopher Lee na pele de antagonista.

O simpático americano pôde ainda ser admirado como durão do Oeste em “A Place Called Glory, em 1965”, no qual decorre um interessante duelo de pistoleiros, e em “ La balada de Johnny Ringo”, em 1966, onde, por uma vez faz o papel de vilão. Em 1967, protagoniza, ao lado de Shirley McLaine, Anita Ekberg, Michael Caine e outros,  “Woman Times Seven”, a única produção americana noa anos 60 com Lex Barker.

Com o advento dos filmes western e eróticos italianos então em voga, escassearam as propostas para Lex Barker. Tendo conseguido, na Europa, tudo o que havia para conquistar, o ator americano regressou a sua casa na Costa Brava, determinado a prosseguir a sua carreira em Hollywood e viver na sua América. As dificuldades porém superaram as suas espectativas. A sua atividade limitou-se à participação nalgumas séries televisivas como ator convidado em  “It Takes a Thief” e “The King of Thieves”. Os espetadores alemães puderam ainda vê-lo num sketch ao lado de Ron Ely, o novo Tarzan televisivo alemão.

Nos anos 70 a carreira de Lex Barker  prometia novo fôlego.  “"When you're with me", produzido na Alemanha em 1970, fora o seu ultimo filme. Novas produções na televisão e no cinema estavam “na calha”, com Lex Barker como protagonista. Porém, o destino tinha outros planos para o grande ator americano; Lex Barker, o ídolo das gerações dos anos 60 e 70, o grande Tarzan, morreu de ataque cardíaco em 11 de Maio de 1973 na avenida Lexington na sua Nova Iorque.

Lex Barker foi casado com, Constanze ThurlowArlene Dahl, Lana Turner, Irene Labhardt, e Maria del Carmen 'Tita' Cervera. Teve dois filhos e uma filha e ficou imortalizado em 73 filmes.

Obrigado Lex Barker.

(Créditos a Marlies Bugmann)

Peniche 08 de Novembro de 2020

António Barreto

domingo, 1 de novembro de 2020

Cinco míseros escudos

  Eh pá, se fores a terra não leves dinheiro! Quando eles topam assaltam a malta. Assim fiz; fui a terra sem um tostão no bolso! Uma das coisas mais estúpidas que fiz na minha vida marítima!



   Foi pelos idos de 73, teria aí uns 22 anos. O Uíge fazia a carreira Lisboa-Bissau-Lisboa. Transportava militares, nos dois sentidos. Uma missão algo deprimente. Especialmente deprimente quando alguns tripulantes aproveitavam para fazer um dinheirinho extra. A bordo vendiam-se relógios, rádios, sandes, sei lá mais o quê, aos jovens e ansiosos militares que viajavam nos porões atulhados. Daquela vez, não sei o motivo, o navio fez escala em Cabo Verde, salvo-o-erro no Mindelo.

   Admirador da música cabo-verdiana, do Bana, do Eugénio Tavares, do Fernando Queijas, do tom dolente e ritmo ondulado das mornas e da alegria vibrante das coladeras, tinha que a ouvir na fonte, nas tabernas, onde era tocada em modo livre - tipo “jam session" -, habitualmente em convívio de gerações que incluía instrumentos típicos como, rabeca, violino, viola, cavaquinho, clarinete, reco-reco e maracas, entre garrafas de vinho tinto e cachaça e alguma "bucha" para enganar a fome.

   Anoitecia quando o navio atracou. Anda tinha umas horas livres, três ou quatro antes do próximo quarto. E lá fui, à sorte, na direção da cidade, perguntando às poucas pessoas que ia encontrando, por uma tasca onde fosse possível ouvir música.

   Ao passar numa rua escura, ouvi os sons ténues do que parecia ser uma rabeca. Fui atrás deles. Encontrei a taberna. Entrei. Uma ténue luz amarelada difundia-se na pequena sala logo após a entrada, de portas escancaradas. Em frente o balcão com algumas garrafas e copos de vinho e cachaça. Taberneiro no seu posto, trapo ao ombro e olhar inquisidor. Uns quantos clientes, quatro ou cinco, estavam por ali, pacatamente, conversando e bebendo. De uma das salas do lado vinha um som meio fanhoso da tal rabeca e algo semelhante a maracas e reco-reco. Disseram-me que estava lá um certo fulano a tocar com miúdos “se calhar é uma espécie de escola, pensei”. Um dos presentes, um pouco mais velho que eu veio em minha direção. Conversámos. Não se podia entrar na sala donde vinha a música. Era o reservado! Pediu duas violas, mandou vir uma garrafa de vinho tinto, chamou dois colegas e fomos para uma salinha anexa, aberta.

   Eram bons de viola; sobrava-lhes tempo para aprender e tocar. Tal como a mim, afinal. Tocaram umas modas, várias; mornas e coladeras. A solo e em duo. Maravilhado com tudo aquilo, quando chegava a minha vez acompanhava-me nuns fadinhos, daqueles que todos os portugueses conhecem. Disseram que era bom. Quis acompanhá-los nas coladeras. Que não, que não dava. Que não sabia. Era verdade; não é fácil fazer os baixos bamboleantes da morna e os arpejos ritmados da coladera. Pelo meio, íamos bebendo uns tintos, entusiasmados com a tertúlia. “Este é que era bom para tocar connosco”. Ouvi entre a pequena multidão que se foi juntando. “Pois era, pensei, para mim era, mas…amanhã já cá não estou! Vamos a todo o lado e não estamos em parte nenhuma.”

   Chegada a hora - Foi até à última -, despedi-me e saí. Já na rua, percebi que era seguido. Voltei-me. Era o músico de quem tinha acabado de me despedir. Olhei para ele sob a luz mortiça que se escapava da porta da taberna. Era jovem, sim. Meio andrajoso, vestia algo parecido com zuarte, calças rasgadas nalguns sítios e…descalço! Descalço, meu Deus!

   Comovi-me. Tínhamos ficado amigos. Como era possível andar roto e descalço? Pediu-me cinco escudos para uma garrafa de vinho. Disse-lhe a verdade; não tinha! Insistiu dizendo que impedira um colega de me assaltar, de navalha. Voltei a dizer-lhe que não tinha e convidei-o a acompanhar-me a bordo. Dar-lhe-ia então, com todo o gosto, algum dinheiro. Não quis. Eu não tinha tempo de ir e voltar, estava a pé.

   Olhei-o mais uma vez, antes de retomar o caminho de regresso, triste e comovido, sentindo-me profundamente estúpido por ter acatado o conselho do meu camarada…até hoje. Ocorreu-me mais tarde que talvez tivesse aceitado a camisa, se lha tivesse oferecido. Soube muito tempo depois que, por essa altura, abatia-se sobre Cabo Verde a maior seca das décadas precedentes.

   Desapareceu na penumbra. Nem sequer recordo o seu nome. E se o soube, esqueci-me dele!

24 de Outubro de 2020

António Barreto

Benfica 2020 - Resultados eleitorais



A novidade destas eleições não residiu na vitória da lista de Filipe Vieira mas no resultado significativo da Lista de Noronha Lopes e na estrondosa derrota de Gomes da Silva.

Filipe Vieira tinha os trunfos na mão e jogou-os no momento certo. Com o regresso de Jesus, a contratação de bons jogadores, um início de época auspicioso e promessas de um futuro europeu risonho, depressa os benfiquistas esqueceram o fracasso da época anterior e optaram pela continuidade, receosos da turbulência desportiva que uma mudança de rumo acarretaria na época em curso. Porém o comportamento de Filipe Vieira ficou indelevelmente marcado pela negativa ao ter-se recusado a debater com os dos outros candidatos e ao vedar o acesso destes à BTV onde poderiam explanar as suas ideias. Os interesses do Benfica estão acima dos de qualquer candidato ou Direção, e o seu destino deve ser decidido pelos sócios. Manter a BTV fora da campanha eleitoral com o pretexto de evitar o “ruido”, constituiu uma habilidade maldosa que contraria a cultura aberta e democrática do clube. Saiu beneficiada a lista de Filipe Vieira uma vez que a estação, implicitamente e desonestamente, foi fazendo campanha em seu favor.

Noronha Lopes, aparecendo a poucos meses do ato eleitoral com um projeto mobilizador, dinâmico, virado para o sucesso desportivo da equipa masculina de futebol sénior, congregou um vasto grupo de apoiantes entre os quais, ídolos do futebol, figuras da cultura, académicos, gestores, empresários, etc. Gente com acesso ao espaço público, com boas ideias e com disponibilidade para as discutir e aprofundar. A votação expressiva na lista de Noronha Lopes, deixa filipe Vieira com margem de erro residual no mandato em curso e coloca sob pressão o seu eventual sucessor, Rui Costa.

Gomes da Silva, não obstante a sua determinação, obteve uma estrondosa derrota, que o afasta de quaisquer ambições futuras. Julgo porém que terá sido vítima do voto útil. Muitos dos seus apoiantes terão intuído vantagem da lista B e mudaram a sua decisão de voto. Por outro lado foi também prejudicado pela vertente negativa da sua campanha e pela tardia apresentação pública da sua equipa. Sem dúvida alguma é dele o mérito do aparecimento duma oposição robusta a Filipe Vieira. Oposição imprescindível ao progresso do clube, ainda que à custa de alguma turbulência.   

De sublinhar a entrada em liça de Bernardo Silva cujas declarações certamente contribuíram na ponderação de mutos sócios que vêm nele o símbolo do adepto genuíno. Já Jorge Jesus deveria ter ignorado a rasteira do jornalista e ter-se abstido de comentar o assunto.

Resta esperar que não ocorra a dispersão dos opositores, que estes se revelem funcionais no acompanhamento do dia-a-dia do clube, na sua defesa perante inimigos externos e, sobretudo, na apresentação e discussão de propostas estratégicas para o futuro.

Peniche, 01 de Novembro de 2010

António Barreto

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Benfica - Eleições 2020

    Defendi, convictamente, o projeto de Luís Filipe Vieira para o Benfica. Subestimei as dúvidas que foram surgindo; a forma algo enviesada como acedeu à presidência, o passado de amizade com Pinto da Costa, os recorrentes apelos à gratidão dos benfiquistas para com um dos piores inimigos do seu clube, Joaquim Oliveira, os permanentes enxovalhos à gestão e à pessoa de Vale e Azevedo, promovendo a desunião dos sócios, a contratação para os quadros do “clube-sad” de ex-colaboradores dos rivais, alguns dos quais com um passado hostil clube, o deplorável caso do motorista condenado por envolvimento em negócios de estupefacientes, etc. Tudo isto me parecia secundário perante um projeto que prometia fartas vitórias a médio-prazo, concluído o equilíbrio económico e financeiro e a criadas as infraestruturas inerentes. As circunstâncias do fracasso do penta porém desmoronaram a minha fé!

  Nessa época de profundo desencanto, apesar da reiterada afirmação pública de empenho no penta-campeonato, a Direção do Benfica pouco fez para o concretizar. Com efeito, com uma receita de cerca de 240 milhões de euros em vendas de jogadores cruciais na manobra da equipa, negligenciou o reforço da mesma. Curiosamente, nessa mesma época foi negociada a venda dos direitos desportivos do Benfica à NOS e decidido o pagamento de 100 milhões de euros ao NB. Joaquim Oliveira reconstituiu o seu falido grupo empresarial e Filipe Vieira conseguiu a generosa reestruturação da sua dívida. Tanta coincidência foi demais, para mim.

   A confirmação veio na época transata em que, apesar do desafogo financeiro, não foram colmatadas as fragilidades da equipa, apesar de evidentes a um leigo. Disso beneficiou o rival Porto, acabando por ganhar, apesar do seu mau futebol e do estado de pré-falência em que se encontrava.

   Por outro lado, dezassete anos é um lapso de tempo suficiente para avaliar a qualidade do desempenho da Direção em exercício. A seu crédito contabilizo o magnífico projeto de formação do futebol, o ecletismo, o sucesso do atletismo, em especial do masculino, a construção do, outrora utópico e sempre adiado museu, a constituição da Fundação Benfica e da Benfica TV, e o carinho com que tratou muitas das glórias do clube. Em seu descrédito considero, a insuficiência de títulos conquistados no futebol sénior e nas modalidades, à exceção do voleibol, o descalabro do desempenho europeu da equipa de futebol sénior, a demolição do antigo, único e icónico estádio, trocando-o por outro modular, sem alma, sem história, a acumulação duma gigantesca e asfixiante dívida, a incapacidade reiterada de defesa do clube nos areópagos desportivos, judiciais e públicos, a degradação reputacional do clube resultante de sucessivos escândalos, o afastamento progressivo dos sócios e adeptos do dia-a-dia do “clube-sad” em troca duma insuportável “corte” compulsivamente e exclusivamente encomiástica, a incapacidade de eliminar uma certa promiscuidade entre assuntos pessoais e os do “clube-sad” e a implementação de uma cultura de relativização dos insucessos, em que se transformam pequenos clubes em grandes adversários e grandes clubes em adversários inacessíveis. Em suma, uma Direção com um modelo de gestão autocrático e manipulador, que degradou a cultura do Benfica conformando-o com as derrotas, e arrastando-o para situações indignas. 

   Por todas estas razões é minha convicção de que o Benfica precisa de um novo fôlego, um novo ímpeto que resgate a sua histórica e quase transcendental ambição de ganhar. Ganhar interna e externamente, ante qualquer adversário e em qualquer circunstância. As infraestruturas e o património imobiliário têm importância instrumental, enquanto ao serviço do objetivo primordial; ganhar!

   Nestas eleições não faltam candidatos, destacando-se, além de Luís Filipe Vieira, João Noronha Lopes e Rui Gomes da Silva. A vantagem parece estar do lado de Filipe Vieira, que, numa atitude contrária à tradição do clube, recusa o debate com os adversários vedando-lhes o acesso às plataformas mediáticas internas de que é exclusivo beneficiário.

   Apesar de um início de época prometedor e da reconhecida qualidade do grupo de trabalho atual criar a justa expetativa de uma época vitoriosa, a história recente diz-nos que, a ocorrer, provavelmente, será sol de pouca dura; rapidamente a equipa será, mais uma vez, desmembrada no final da época. Por outro lado, Filipe Vieira foca de novo o seu projeto, nas obras - campos de treino, colégios, universidades, hotéis, centros de alto rendimento, expansão do estádio, etc - remetendo, mais uma vez, a concretização das ambicionadas vitórias para o médio-prazo. Ora este é o tempo do Benfica ganhar e, como diz o bom povo “quem muito mato corre pouca lenha apanha”. Por tudo isto, e pelo que refiro acima, desta vez não terá o meu voto.

   João Noronha é um gestor experimentado e teve a capacidade de reunir à sua volta gente de grande qualidade; glórias do clube, figuras da cultura, académicos, profissionais liberais e alto empresariado. Apresenta um projeto de continuidade mas focado na vertente desportiva, nas vitórias, em detrimento das obras. Porém, a inclusão de Manuel Vilarinho no seu elenco, deixa-me de pé atrás. Manuel Vilarinho é o obreiro do Benfica moderno, o Benfica do “vamos ganhar amanhã”, Respeito-o enquanto benfiquista mas não admiro a sua obra no Benfica; ganhou as eleições graças à falsa promessa de contratação do Jardel, despediu aquele que veio a ser o melhor treinador do mundo - que “deu”, ao rival, vários títulos, entre os quais, um da Liga Europa e outro da Liga dos Campeões -, despachou todos os jogadores da equipa que tinham mercado - entre eles Van Hooijdonk, João Tomás e Marchena -, entregou a construção do plantel a José Veiga - que trouxe os “seus” jogadores, em final de carreira, e se viu a braços com a Justiça, deixando uns salpicos de lama no clube -, rasgou o contrato de direitos desportivos com a SIC devolvendo-os à Olivedesportos - um dos pilares de sustentação do rival - por tuta e meia, e contribuiu “orgulhosamente” para a prisão de Vale e Azevedo, transformado numa espécie de apátrida ignóbil, mesmo depois de cumprir, integralmente, pesada pena de prisão, algo que reputo de deplorável.

   Rui Gomes da Silva apresenta um projeto ambicioso, que consiste no resgate da genuína cultura do Benfica, assumindo, frontalmente, o objetivo da conquista das Ligas dos Campeões em futebol sénior masculino e feminino, de futsal, de hóquei em patins e de voleibol, e na recuperação da supremacia do futebol nacional. Tem estruturado um projeto para todo o universo do Benfica para o qual apresentará equipa à altura. A seu favor conta o facto de conhecer a realidade do “clube-sad” por dentro, de ter assumido a rotura antes de qualquer outro, e de, com o seu exemplo, ter contribuído para o aparecimento de candidatos idóneos.

    Na entrevista que deu ao Observador em 24 de Setembro de 2020, Rui Gomes da Silva deu a conhecer algumas ideias chave que norteiam o seu projeto e revelou alguns detalhes da parceria que estabeleceu com a “start-up” “PAGAAQUI”, visando o robustecimento do financiamento das modalidades amadoras e das casas do Benfica libertando as receitas do futebol para o projeto europeu:

“Foi mais difícil ao Benfica conquistar a Liga dos Campeões Europeus em 1961 e 1962 ou chegar às finais de 1988 e 1990, do que é hoje, o Benfica, ser campeão europeu.” (…) “O Benfica não é uma entidade financeira, não vive para fazer negócios ou ser cotado na Bolsa, é um projeto desportivo que vive de vitórias e títulos.” (…) “O objetivo desta parceria é financiar as modalidades amadoras e as Casas do Benfica, que muito necessitam de apoio, para que as receitas do futebol sejam todas canalizadas para o projeto europeu, que aponta para o título máximo; a Liga dos Campeões. Não pode ser o futebol a sustentar estas atividades”, explicou Rui Gomes da Silva, que tinha a seu lado o CEO (diretor executivo) da “PAGAQUI”, João Barros.” (…) “Segundo este, a aplicação irá disponibilizar aos sócios, simpatizantes e membros das Casas do Benfica produtos financeiros em melhores condições do que aqueles que são colocados pela banca tradicional e que servirão, ao mesmo tempo, para financiar o clube nas modalidades amadoras, sendo que muitas delas, atualmente, não suportam os seus encargos.”

   Há porém um tema que considero primordial e que ainda não vi refletido nos planos de nenhum dos candidatos. Trata-se da associação do Benfica ao salazarismo que, 46 anos depois do 25 de abril, certos setores da sociedade continuam a manter e que tem sido explorado com mestria e proveito pelo rival moderno do Benfica. Grassa uma hostilidade crescente, percetível na comunicação social, nas instituições governativas, judiciais e desportivas contra o clube de Eusébio, Águas, Coluna, Germano e Cª. São abundantes os casos, recentes ou remotos, que o comprovam. Um dos mais emblemáticos residiu na designação de “Liga Salazar”, por adeptos do Porto - sabe-se lá a mando de quem -, ao último campeonato ganho pelo Benfica, sem que tenha havido, por parte da tutela, qualquer sancionamento. O conceito implícito é óbvio e parece que funciona (funcionou!); a ascensão desportiva do Benfica é relacionada como um sinal de deriva autoritária do regime, uma espécie de retorno ao salazarismo, algo que parece aterrorizar os “democratas”, enquanto a supremacia desportiva do Porto é vista como um testemunho inequívoco da consolidação da democracia, o anúncio dos famigerados e utópicos “amanhãs que cantam”. Entretanto, os benefícios desportivos que têm contemplado o rival nas últimas décadas, constituem uma espécie de legítimo ressarcimento por décadas de “sujeição ao regime fascista”. É esta narrativa que tem de ser erradicada duma vez por todas da sociedade portuguesa. Os lídimos representantes dos cidadãos benfiquistas devem que inquirir os promotores deste discurso, em especial aos que detêm responsabilidades públicas, acerca do que pretendem do Benfica e dos benfiquistas. Que lugar lhes reservam num regime que se pretende democrático e tolerante.

   Considerando esgotado o consulado de Filipe Vieira pelas razões apontadas, terá o meu voto o projeto de Rui Gomes da Silva. Em todo o caso parece-me claro que só com a fusão das candidaturas das oposições será possível derrubar a Direção de Luís Filipe Vieira e construir um futuro mais promissor para o clube.

                                    

Pelo Benfica

Peniche, 21 de Outubro de 2020

António Barreto

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O Lado Negro das Energias Verdes

O Lado Negro das Energias Verdes: Carros elétricos, aerogeradores, painéis solares... A transição energética traz a promessa de um mundo mais próspero e pacífico, finalmente livre de p

O Lado Negro das Energias Verdes

O Lado Negro das Energias Verdes: Carros elétricos, aerogeradores, painéis solares... A transição energética traz a promessa de um mundo mais próspero e pacífico, finalmente livre de p

sábado, 10 de outubro de 2020

Uma Proposta de Anteprojeto para o Benfica (3)

 A.      Os meios comunicacionais

o   A BTV: reformular o seu editorial diversificando temas e intervenientes, com primazia à emissão de eventos desportivos do clube, à promoção da cultura desportiva, à participação das velhas e atuais glórias, à intervenção dos adeptos - desportistas, ex-desportistas, escritores, músicos, académicos, técnicos ou anónimos -, com abertura a realidades desportivas, ou sociais relacionadas, exemplares.  

o   O Jornal: informação detalhada dos eventos desportivos do clube, com crónicas de opinião de jornalistas idóneos. Difusão regular, moderada e sistemática, das várias áreas do conhecimento relacionadas com o desporto; normas, metodologias de treino, técnica, motricidade, alimentação, etc. Publicação de histórias do desporto benfiquista e outras de relevância geral. Convocação do contributo de benfiquistas notáveis, ou de figuras de relevo que, não sendo benfiquistas, respeitem o clube.  

o   Redes sociais: difusão das notícias do clube, com abertura à participação livre dos adeptos, num ambiente de cordialidade e tolerância.

o   As Casas do Benfica: mais do que uma espécie de centros de dia, cabe-lhes a missão de aproximação dos adeptos e sócios ao clube - simplificando as operações correntes, incentivando o seu envolvimento nos eventos desportivos e na discussão dos assuntos relacionados -, promovendo o desporto local e fazendo a prospeção local de futuros atletas.

o   Externos: manter atualizado o quadro das plataformas relevantes, os correspondentes canais de acesso, os respetivos perfis editorais e uma estratégia de ação com vista à promoção dos interesses do clube.

B.      Gestão Económica:

o   Convocar assessoria especializada com vista a criar as condições de maximização das receitas correntes atuais e identificação potenciais novas fontes de receita.

o   Convocar assessoria conhecedora dos mercados desportivos internos e externos e das estratégias de criação de valor desportivo dos atletas e dos correspondentes canais confiáveis de acesso.

o   Definir uma estratégia de valorização dos atletas da formação do futebol, com e sem viabilidade de acesso à equipa sénior, com criação de valor para o clube.

o   Recuperar para a esfera do clube a gestão dos direitos desportivos da equipa de futebol sénior, com o objetivo de maximizar as receitas, de servir de catalisador da nação benfiquista e de desmoralizar os rivais.

o   Implementar uma estratégia de bilheteira acessível à base social dos adeptos do clube com vista à atração de novos adeptos e sócios, ao aumento da assistência média dos jogos e à maximização das receitas de bilheteira e dos contratos de patrocínio.

o   Implementar um catálogo de equipamentos de baixo custo, acessível à base social de adeptos do clube, promovendo a sua difusão por todo o universo benfiquista, numa ótica de agregação dos adeptos e otimização das receitas correspondentes.

o   Moderar as ações de marketing, em especial junto dos sócios, prevenindo comportamentos de rejeição e afastamento do clube por parte daqueles em consequência do desconforto provocado pelas frequentes ações de persuasão comercial.

C.      Gestão Financeira

o   Manter a estratégia de financiamento pela via obrigacionista universal.

o   Identificar fontes de financiamento tradicionais viáveis, preferencialmente externas.

o   Identificar parcerias estratégicas com aporte de financiamento e know how sem prejuízo do controlo do clube.

o   Definir uma estratégia de redução gradual do passivo financeiro exigível, de curto e médio prazo, sem prejuízo da capacidade competitiva da equipa de futebol sénior, alocando ao serviço da dívida, por exemplo, 50% da mais-valia líquida de todas as transações desportivas.

D.      Previsão do futuro do futebol na Europa

o   Europeu: expansão das atuais Ligas, dos Campeões e Europa e criação de um terceira liga, com integração dos clubes europeus mais competitivos.

o   Nacional: definhamento progressivo das ligas nacionais e falência de grande parte dos clubes, remetidos à dependência do financiamento via UEFA e públicos.

o   Benfica: integração no lote dos clubes da primeira liga europeia rivalizando na disputa dos respetivos títulos graças à redução do atual abismo orçamental.

E.       Fim (provisório)



Peniche, 06 de Setembro de 2020

António Barreto