Dois pavilhões e duas piscinas asseguram o ecletismo
do clube e a disputa, em geral, os títulos internos. Apesar da persistência e
do sucesso interno de algumas modalidades, à exceção do hóquei em patins e do
futsal, nenhuma outra se destaca no plano europeu. Não será por falta de
instalações. Suponho que seja uma inevitabilidade do tipo orçamental.
Destaque-se a metódica persistência com que
o clube reage às adversidades, nas modalidades ditas amadoras, sempre com o
fito na vitória, que nem sempre ocorre. Nunca desiste. Há uma certa nobreza
nisto que me agrada.
O Museu é outra obra emblemática a qual,
apesar de muito desejada pelas Direções precedentes, nenhuma delas teve engenho
de concretizar. Preservar a memória dos feitos do clube é um fator de agregação
de adeptos e simpatizantes e de difusão dos valores daquele.
Simultaneamente, constitui um permanente
gesto de reconhecimento aos que construíram a saga benfiquista. Crédito a
Filipe Vieira. E um voto de censura à Câmara Municipal de Lisboa e à sua
vereadora Helena Roseta, pelas dificuldades que criaram à concretização do
projeto, apesar dos evidentes benefícios dele decorrentes para a Capital. Mais
uma vez veio ao de cima a incapacidade de certas entidades públicas
ultrapassarem velhos preconceitos contra ao Benfica. Como se estivesse a mais
na nova ordem “democrática”.
Tão importante como o novo Estádio e o
complexo do Seixal, foi a Benfica TV. Suponho até que terá sido mais
importante.
Antes de mais foi motivo de união da “nação”
benfiquista graças ao pioneirismo interno e ao aprofundamento da interação dos
adeptos com o clube e com algumas das suas figuras carismáticas, em especial as
antigas glórias.
A Benfica TV abanou um dos principais pilares
do poder portista; a Olivedesportos. Os direitos desportivos, obtidos, segundo
creio, de forma fraudulenta, permitiam-lhe atribuir os recursos financeiros
correspondentes pelos clubes conforme a adesão destes do à causa azul. Foi
nisto que consistiu a democracia no futebol.
A recusa de renovação do contrato de
cedência dos direitos por parte do Benfica - após doze longos anos de
dependência -, fez ruir este processo. Durante uns anitos. Os anos que
culminaram no histórico tetra campeonato. E foi a entrega desses mesmos
direitos à mesma entidade - por mais dez penosos anos - a causa, quanto a mim,
já se vê -, do falhanço do mirífico penta.
A justificação terá sido o aumento
substancial da contrapartida financeira. Quarenta milhões por ano! A
contrapartida não financeira foi a perda da independência do clube, a deceção
dos adeptos e o fortalecimento dos rivais. Um erro crasso. Uma espécie da hara-quiri. Desnecessário. Imprudente.
Um novo operador, a Elevensports,
estava à porta, dirigida a um mercado bem mais amplo, com uma oferta persuasiva
e disponibilidade bem mais generosa. A cedência à MEO, foi providencial… para a
recuperação da Sport TV e…dos rivais. O Benfica é a Santa Casa do futebol
nacional e, paradoxalmente, uma espécie de filho bastardo.
Pacientemente reformulada na sequência das
mudanças políticas verificadas em 2015 agregando históricos aliados, a Sport TV,
através da MEO - para não escandalizar adeptos - obteve o precioso contributo
dos dirigentes do Benfica viabilizando a empreitada. Filipe Vieira fez-lhes a
vontade. Sem consultar os adeptos. O penta foi-se. Esta época “vai bem
encaminhada”, rumo ao “p’ró ano é que é!”. Um novo e longo ciclo de betão foi
já anunciado; uma nova seca de títulos vem a caminho. Erro de cálculo? Ou
cálculo errado?
Errado para uns, certíssimo para outros.
Quer no anterior campeonato quer no atual, escandalosamente adornados com o patético
VAR, as “anomalias” sucedem-se com tal frequência que se tornaram normalidade. Sejam
assistências ridículas de defesas a avançados que resultam em golo fácil, seja
ajuizamento escandalosamente errado de lances decisivos - para que serve o VAR?
-, seja pela assimetria de sanções a atletas e dirigentes, o campeonato português
transformou-se numa orgia, para deleite dos velhos barões da bola que uma
justiça esclerosada e cúmplice deixou, injustificadamente, impune,
constituindo-se, ela mesma, como a causa primeira do desmoronamento do futebol
nacional. E do descrédito do regime político, que nem merece o nome de
democracia.
Se, até 2017, a BTV foi um fator de união
dos adeptos, hoje tem o efeito contrário; a crítica ou a dissidência são
recusadas insultuosamente ainda que fundamentadas. O messianismo é alimentado continuamente
com insuportável retórica laudatória. A BTV de hoje é uma deceção; fechada em
si própria é o espelho da Direção, negando a realidade por mais evidente que
seja. O terceiro anel caiu com o velho Estádio e com ele, um pedaço do velho
Benfica.
Peniche, 15 de Novembro
de 2018
António J. R. Barreto