Desporto

sábado, 26 de outubro de 2019

Um Novo Ciclo Para o Benfica (2)


O Estádio

   Salvaguardando eventuais deficiências estruturais ou constrangimentos económicos associados ao velho Estádio, que desconheço, considero ter-se cometido um erro grave com a sua demolição. Era o primeiro grande pilar do benfiquismo; único, grandioso, palco de grandes feitos desportivos, amado pelos benfiquistas, admirado e temido pelos grandes adversários. Perante as fracas assistências que se verificavam à época, optou-se pela construção de um estádio mais pequeno, relativizando a visão de outros dirigentes e ex-dirigentes, como Fernando Martins, segundo a qual não era o estádio que era grande mas a equipa que era pequena. Curiosamente, cerca de 15 anos e 400 milhões de euros depois, concluiu-se que, afinal, o estádio modular, estandardizado, é pequeno! Ou seja, não se percebeu a grandeza social do clube, com a agravante de se ter gerado um endividamento inibidor da competitividade da equipa principal de futebol, razão da ausência de títulos durante mais de uma década.

   Recordo que, à época, havia um projeto de requalificação do velho estádio, da autoria de Tomás Taveira, no valor de 4 milhões de contos - cerca de 20 milhões de euros! O passivo do Benfica seria da ordem dos 2 milhões de contos - cerca de 10 milhões de euros - e havia garantido um financiamento de cerca de 20 milhões contos - cerca de 100 milhões de euros. Não creio que Taveira se tenha envolvido num projeto condenado ao fracasso. Contas saldadas, restariam cerca de 70 milhões de euros para investir de imediato na equipa principal de futebol. Que teria acontecido? Mais competitividade, mais títulos? Nunca saberemos!

 A Doutrina

   Justificou-se a longa travessia do deserdo - de títulos - com a necessidade de reestruturação económica e financeira do clube e de modernização e expansão das suas infraestruturas desportivas. Cerca de uma década depois, chegado o ciclo das vitórias, ante o fracasso do penta-campeonato e as miseráveis prestações sucessivas na Liga dos Campeões, desdramatizam-se as derrotas, aludindo, ora à necessidade de vitórias dos rivais, ora às discrepâncias orçamentais relativamente aos adversários europeus, e, pasme-se, aos maus hábitos dos adeptos! A determinação inquebrantável de vitória foi substituída pelo conformismo; “…que não podemos ganhar sempre…,que é preciso saber perder….,que temos que dar valor aos adversários….,que ganharemos mais tarde…., que somos diferentes….!

 A ambição:

 Atualmente, com a entrada direta na Liga dos campeões, um grupo acessível, e os cofres, alegadamente, a abarrotar, desinvestiu-se na equipa, condenando-a a mais um desempenho vergonhoso na Europa! Em contrapartida, anuncia-se mais um longo ciclo de betão e a promessa vaga, de uma vitória europeia com recurso ao produto da “fábrica” interna. Ou seja, o foco do clube deslocou-se do “querer ganhar”, para o negócio de jogadores e das obras. Ainda na véspera do jogo com o Zénit podemos ouvir, na BTV, um comentador residente alegar, com veemência, da falta de condições do Benfica para rivalizar com os “tubarões” europeus; esquecendo-se de que, tais diferenças, já existiam nos anos sessenta, quando o Benfica emergiu entre os maiores. No dia seguinte a equipa teve um comportamento desastroso jogando muito abaixo do que sabe e pode! Por mim, tal sujeito seria, imediatamente, convidado a sair, e não voltaria a pisar o chão do estúdio. Um Benfica envergonhado é o que se vislumbra bem lá no fundo do projeto em curso. É esta a nova bitola do Benfica; um clube a viver do prestígio passado mas incapaz de construir as memórias do futuro.

 A estratégia

   Construir um grande Benfica com base na formação interna é um plano que agrada a todos os benfiquistas, porém utópico, seja pela dificuldade em manter os talentos da formação até à maturidade competitiva indispensável às grandes competições, seja optando pela rejeição de contributos externos. De todo o modo, o horizonte que vai sendo apontado, dez a quinze anos, é incompatível com as aspirações dos adeptos e os pergaminhos do clube. O edifício que urge reconstruir é imaterial, é afetivo, e não de betão!
Peniche, 23 de Setembro de 2019
António Barreto
(Man and Woman by the sea)