Guerra na Ucrânia
Algumas reflexões
Antes de mais expresso a minha total solidariedade para com o povo
ucraniano e incondicional condenação da agressão de Putin que, dominado pelo
saudosismo imperialista, parece apostado em reconquistar pela força os
territórios que integraram a União Soviética.
Este conflito mostra, com grande evidência, os reais perigos dos regimes
autocráticos atuais e a decadência em que se encontra a Europa e, em geral,
todo o mundo Ocidental, cujos líderes, perdidos no labirinto de questões
menores ou fictícias, o tornaram vulnerável a loucos do calibre de Putin,
sedentos de poder e glória.
Os sinais de perigo, apesar de bem visíveis, foram ignorados pela União
Europeia. O que caracteriza o mundo livre, o Ocidente, é a transparência
institucional, a rotatividade do poder e o respeito pela soberania e
autodeterminação dos povos. Nenhum destes requisitos tem sido respeitado pela
Rússia de Putin.
Não se deve confiar em países não escrutináveis; a sujeição voluntária
dos países ao escrutínio internacional; a observação por organismos
internacionais idóneos, das condições de funcionamento das suas instituições e
da respetiva sociedade civil em geral em todas as vertentes, compará-las entre
pares e confrontá-las com as normativas internacionalmente estabelecidas e aceites.
Nada disto é possível na Rússia de Putin, a não ser indiretamente.
Por outro lado, a regra da rotatividade não se verifica na Rússia;
Putin, com o apoio de uma oligarquia ávida de poder e privilégios, impôs a sua
liderança dando-lhe uma aparência de legalidade após manipulação descarada da
lei constitucional, sem escrutínio popular.
Não tardaram as provocações e anexações
diretas ou implícitas de países fronteiriços, como a Crimeia, a Georgia, a Bielirrússia
e a Tchetchénia. Ainda sob os efeitos do terror da 2ª GM, pressionada pela
febre consumista das suas populações só possível de satisfazer com robusto e
contínuo crescimento económico, a Europa tentou salvar face perante a opinião
pública respondendo com inúteis sanções económicas, de que a crise migratória
é, em parte, consequência e, por sua vez, causa do Brexit.
Perante este cenário, os líderes europeus,
obcecados pela descarbonização imposta pelos ecologistas radicais, comunicação
social e ONU, desataram fechar centrais de produção de energia elétrica,
térmicas e nucleares, substituindo-as por centrais de fontes renováveis e de
gás natural, em grande parte de
proveniência russa! Uma tremenda irresponsabilidade, percetível desde o início
ao cidadão comum.
Porém, nos EUA não se fez melhor; a administração Joe Biden declarou de imediato a sua adesão ao Acordo de Paris invertendo
a política energética de Donald Trump,
cancelando a construção do oleoduto de Keystone
e restringindo a exploração das ramas de petróleo e do gás de xisto. Com isto
regrediram os EUA à sua condição de importador energético, colocando-se na
dependência externa e entregando à OPEP o privilégio, em prática desde 1973, de
controlo das economias ocidentais através da manipulação dos preços do
petróleo, que tinham perdido com a administração Trump, uma das principais causas dos baixos custos de petróleo na
época.
Em Portugal, o Partido Socialista, derrotado nas eleições de 2015, cego
pela ânsia de poder e de vingança, não hesitou em se associar aos partidos da
extrema-esquerda, acedendo à sua exigência de cancelamento dos projetos de
prospeção e exploração de petróleo e gás natural on-shore e off-shore. Como tal não era suficiente, cedendo à
pressão de Bruxelas e à necessidade premente das transferências comunitárias, o
Governo desatou a fechar as centrais termoelétricas que nos forneciam energia a
baixo custo, aumentando a nossa dependência do exterior.
Naturalmente que, agora, os responsáveis,
justificar-se-ão com uma arenga qualquer, mas a verdade é que as democracias
ocidentais estão a ser conduzidas pela comunicação social, transformada em
plataforma de controlo da opinião pública pelos poderes de facto internos e
externos. Os eleitos, em quem as populações delegaram as respetivas soberanias,
adotam as ideias prevalecentes sem atitude crítica incapazes de resistir aos
apelos do dinheiro fácil e da demagogia com que seduzem e alimentam os
respetivos eleitorados, que, por sua vez, os mantém no poder; um ciclo vicioso
que não se perpetuará, um dia terá fim.
Conclusão: No Ocidente, é a natureza estrutural das democracias que está
em causa; ou evoluem ou morrem às mãos de um ditador qualquer, como Putin.
Peniche, 26 de Fevereiro de 2022.
António Barreto