Desporto

domingo, 23 de junho de 2013

Revolução no futebol?

A necessidade de alteração dos quadros competitivos e modelo de financiamento do futebol quer ao nível da UEFA quer de Portugal é, desde há muito, uma evidência. A nível europeu e nacional, tem-se cavado e um fosso cada vez maior entre a meia-dúzia de grandes clubes e os restantes, que acabará, estou convicto, no declínio desta agora designada indústria. O público gosta de incerteza, gosta de surpresa, gosta de espetáculo autêntico, mágico, gosta de talento genuíno, puro, expontâneo...e não é isso que hoje observa!  De facto, o futebol, é cada vez mais um jogo de bastidores onde mandam os interesses financeiros ou políticos, onde se fabricam e sustentam génios de papel, onde vencedores e vencidos são préviamente definidos pelas superestruturas, infiltradas por gente sem escrúpulos disposta a tudo para fazer vencer os clubes da sua preferência. Ao espectador basta observar o que se pasa nos jogos, seja quanto ao comportamento dos atletas, seja quanto às nomeações, comportamento e classificação dos árbitros. Gere-se o futebol apenas para maximizar as receitas, explorando o incauto adepto, manipulado por uma comunicação social hipócrita, incompetente e corrompida pelos mesmos poderes (salvo exceções). Pelo meio, para salvar as aparências, anunciam-se uns quantos programas de combate à corrupção destinados ao fracasso  que todos sabemos inevitável. Afinal, como se combate uma indústria com um volume de negócios estimado em mais de 50 000 milhões de dólares anuais? Não se combate, "juntamo-nos" a ela!
 
Por cá, apesar de todos os apitos, de todas as pífias condenações da petinguinha, a procissão da corrupção segue no seu cortejo, com os mesmos anjinhos de sempre, os quais, legitimados, implícitamente, pela justiça da treta, já nem se dão ao trabalho de disfarçar. Eles aí vão, dominando, subjugando a maioria dos clubes concorrentes pela dependência financeira e desportiva destes; seja pelas transações de atletas, seja pelas dos direitos desportivos, ambos controlados por interposta entidade, pelo clube vencedor crónico; seja pelos humanóides erros de arbitragem punindo ou  premiando, conforme os interesses do opressor. E nisto estamos, como se vivessemos um ciclo de progresso sócio-desportivo decorrente de uma miserável e sórdida corrupção.
 
E é neste contexto que surge Mário Figueiredo, saído, nem mais nem menos, do covil jurídico do clube usurpador, apoiado pelos designados "pequenos clubes", com projetos inovadores, ameaçando demolir as traves mestras em que assentam as espúrias vitórias do campeão da treta. Não falta quem nele veja o enfabulado "lobo com pele de cordeiro", e, apesar de não pôr completamente de parte esta possibilidade, considero que as suas propostas devem ser analisadas à luz do interesse do Benfica e do futebol nacional. De facto, não são necessárias declarações de amor para se fazerem bons negócios; basta que sejam bons para as partes envolvidas.

O projeto mais sugestivo - entre outros propostos pelo perito holandês na matéria, Pieter Nieuwenhuif -, parece conciliar o que parecia inconciliável; o ansiado alargamento dos "pequenos" com menos folgas competitivas, com a redução de carga desportiva interna desejada pelos outros. Alargamento para 18 clubes divididos em dois grupos - um de 10, outro de 8 - ascendendo os 4 primeiros do grupo de 10 ao grupo dos 8 por troca com os últimos deste, na 2ª fase da prova. Julgo que o futebol tenderia a ser mais aberto, ao contrário das tradicionais práticas hiperdefensivos e caceteiras que o têm caracterizado.

A autonomia financeira dos clubes é fundamental para o desenvolvimento sustentado do futebol, razão pela qual sempre defendi a redução. Está por demonstrar que o modelo proposto melhore o financiamento de cada clube, condição indispensável à sua viabilidade. O aumento gobal de receitas parece evidente, tal como o correspondente aumento de custos! Há que fazer um estudo económico integrando as receitas dos direitos desportivos - cerca de 50% das quais são atualmente desviadas para a olivedesportos e derivados, que por sua vez, controla os clubes concorrentes do FCP -, bem como estudar o modelo de repartição. E aqui é que está o busílis!

Já estou a ver no grupo dos oito, o Porto e suas colónias, com o Benfica à mistura! Direitos desportivos e arbitragem  são os dois pilares que sustentam o atual sistema sem a demolição dos quais nenhum modelo resultará. É certo que a centralização da comercialização dos direitos desportivos num contexto de concorrência efetiva, associado à melhoria da competitividade e aumento da incerteza, fará disparar as receitas, gerando um círculo virtuoso, desde que os custos operacionais sejam controlados. Mas...como se garantiria a independência da arbitragem, indispensável ao sucesso do modelo? Francamente, não vejo como, enquanto estiver no seio da FPF ou da Liga! A arbitragem, deveria ser totalmente integrada no Instituto Nacional do Desporto - recrutamento formação, nomeação e classificação - o qual seria então escrutinado por todos os cidadãos através do voto e não apenas, como hoje acontece, pelos dirigentes do Porto, que indiretamente, decidem quem ganha o quê, quem é, ou não, promovido, quem sobe e quem desce de categoria, quem é ou não internacional. Tudo sob o silêncio cúmplice dos agentes políticos e governantes.

O Benfica não deverá, nunca, confiar em ninguém e nunca, por nunca ser, deverá assumir compromissos de médio ou longo prazo! A reversibilidade deverá ser, sempre, condição sine qua non! Em uma mão o pão e na outra, sempre bem à vista, o chicote!, (passe a metáfora). Não tenho a menor dúvida de que o monopólio do mercado dos direitos desportivos acabará, mas também não tenho dúvidas de que, nesse dia, aparecerão novos concorrentes controlados pelos Belmiros, Amorins, Dos Santos e quejandos, pois são estes os verdadeiros inimigos do Benfica e não o "parvo alegre do Pinto" (salvo seja).

Para jogar neste tabuleiro, o Benfica precisa de parceiros no setor, capazes de assumir e garantir concorrência credível. É hora de os benfiquistas com peso institucional e financeiro fazerem o mesmo que têm feito os portistas, juntando-se ao clube, apoiando-o, cada um com as suas possibilidades. Considero preferível ao Benfica, abdicar à cabeça, de parte da sua receita apoiando os pequenos e garantindo a independência destes, contribuindo para o progresso do futebol, do que abandoná-los à voracidade, prepotência e controlo do clube da fruta.

Mas não é tudo. A grande desvantagem do Benfica relativamente ao Porto é de natureza política e é também neste tabuleiro que teremos que jogar; ignorá-lo é suicídio! De facto, como  já referi em vários trabalhos e em vários locais, o Porto beneficia de um conluio entre algumas elites económicas e políticas da cidade com capacidade para pressionar e até controlar os partidos políticos e os governos, num processo de afirmação regional, apresentando o FCP como bandeira.  É esta a razão do silêncio de todos; o medo!,medo da perda de eleitores - a região norte é a de maior densidade demográfica - e medo da sublevação popular que mantêm controlada consentindo a perpetuação das vitórias do seu clube. Daqui podemos concluir desde já, da necessidade de promoção do equilibrio demográfico do país e, por consequência, do  desenvolvimento económico das terras do sul. Saia pois uma Casa da Música para Grandola, uma Fundação de Serralves para Elvas, um aeroporto José Afonso para Évora, etc., etc. (passe a metáfora).

Portanto, o Benfica tem que assumir políticamente, a sua dimensão social, já que o atual quadro partidário tem consentido, miserávelmente, a discriminação desportiva e até social do Benfica e dos benfiquistas, por um pretenso novo Portugal!, um Portugal de corrupção, de prepotência, de intolerância e...inevitávelmente, de violência...ou de "carneirada". Tal poderá ser feito de várias maneiras; o Benfica tem um projeto desportivo de largo impacto social e competitivo e por isso, tem o direito e o dever de apresentar propostas de desenvolvimento desportivo próprio, de questionar as dos vários agentes políticos, de escrutinar a implementação das mesmas pelos governos e de tudo isso dar conta aos eleitores benfiquistas. Não tem que ser o Presidente do clube a fazer isto, mas convém que seja; meus senhores, o Benfica entende que o projeto desportivo tal e tal apresentado pelo partido tal é o melhor para o nosso clube e para Portugal. Cada um, depois, fará o que entender. Estou certo de que, quando tal acontecer, tudo mudará! Não se brinca com seis milhões de pessoas com uma causa comum! Claro que há outras vias, alternativas ou complementares, mas ficará para outra ocasião.

VIVA O MEU QUERIDO CLUBE; VIVA O BENFICA!