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sábado, 21 de dezembro de 2019

A Morte de Amílcar Cabral


A Morte de Amílcar Cabral

 
Ouvi há dias, num debate na rádio em que participava Jaime Nogueira Pinto, um dos participantes, que não identifiquei, referir que Amílcar Cabral teria sido assassinado pela PIDE. Esta afirmação, apesar de falsa, vai-se consolidando junto do incauto cidadão comum, crente na honestidade dos alegados progressistas que a propagam com o intuito de denegrir o Antigo Regime, atribuindo-lhe atos vis, e com isso prevenir eventuais recidivas políticas.

   No seu livro “Em Nome da Pátria” João José Brandão Ferreira explica as circunstâncias do assassinato de Amílcar Cabral e identifica os seus autores (pág.. 469 e 470).

   Amílcar Cabral foi morto em 20 de Janeiro de 1973 pelo guerrilheiro do PAIGC Inocêncio Kani, ao reagir à tentativa de detenção no Quartel-general daquele grupo armado na Guiné Conakri. Cabral, sua mulher Ana Maria, Aristides Pereira acompanhados por um jornalista russo, foram surpreendidos no regresso de uma receção a que tinham assistido na embaixada da Suécia em Conakri, tendo, por essa razão, faltado à conferência de Samora Machel em Bokê. Aristides Pereira foi, previamente, preso e metido numa embarcação pelo mesmo Inocêncio Kani, acompanhado dos, também guerrilheiros, Mamadú Touré e Aristides Barbosa. Ana Maria, de imediato, avisou as autoridades guineenses e os restantes dirigentes do PAIGC que se encarregaram de mandar fuzilar os três guerrilheiros envolvidos.

   Diga-se porém, que um dos objetivos da operação “Mar Verde”, planeada e chefiada por Alpoim Galvão em 22 de Novembro de 1970, consistia na prisão ou morte de Amílcar Cabral - fracassada por não se encontrar onde era esperado. Por outro lado, num contexto de guerra declarada, é legítimo a qualquer das partes matar o opositor.

  Cabral, ex-funcionário público na Guiné Bissau, era um moderado, cuja morte não foi benéfica para os interesses portugueses - militares e políticos. Opôs-se à utilização, pela guerrilha, dos mísseis SAM 7, por considerar prejudicial aos interesses do partido a escalada bélica daí resultante e por estar convencido de que as forças portuguesas sairiam em vantagem. Amílcar Cabral declarou publicamente em vários fóruns, considerar esvaziada a justificação da luta armada pela independência, num contexto de plena integração de cada parcela do território português, onde a igualdade de direitos fosse total e universal.

   Dois meses após o assassinato de Amílcar Cabral, a 20 de Março de 1973 foi disparado o primeiro míssil. A morte do líder foi uma das razões invocadas pelo PAIGC para a intensificação do esforço de guerra, numa tentativa de moralização das suas tropas. Seguiram-se os ataques continuados aos aquartelamentos de Guilege - a sul - e de Guidage - a norte -, com flagelação continuada de artilharia - os guerrilheiros furtavam-se ao combate de proximidade. O comandante da guarnição de Guilege, major Alexandre Coutinho Lima, em consequência do ataque, ordenou a retirada, da guarnição e da população, sem autorização superior, em 19 de Maio de 1973, facto que o levaria à prisão e julgamento em Tribunal militar, por ordem do general Spínola.

   Em Guidage, as tropas portugueses resistiram graças ao reforço de uma companhia de para-quedistas. A retaliação surgiu de imediato, em 19 de Maio do mesmo ano, com a destruição da grande base do PAIGC em Comumbori, no Senegal.

   A declaração de independência do PAIGC, a 24 de Setembro de 1973 em Madina do Boé, zona despovoada do leste, abandonada pelo exército português por ser desprovida de interesse militar, não passou de manobra de propaganda política. Na ONU, controlada desde 1961 por países afro-asiáticos de matriz socialista, o “Estado Fantasma” acabou reconhecido por cerca de 60 países.

   Há quem diga que foi aqui que começou o 25 de Abril, porém parece-me que tal ocorreu com a subida de Marcelo Caetano ao poder.

Peniche, 21 de Dezembro de 1979
António Barreto