Desporto

sábado, 30 de julho de 2022

As 35 horas

 

PREC – Curiosidades

As 35 horas

   A lei das 35 horas retomada em 2015, contrapartida do PS ao apoio do PCP e do BE para formar governo, é uma velha reivindicação sindical que remonta aos tempos do PREC e do 1º Governo Provisório de que Cunhal fazia parte. Vejamos o que este pensava do assunto em 17 de Junho de 1974 e publicado em “O Século” em 20 de Junho:

   “São por vezes apresentadas reivindicações que, na atual situação económica e social, não podem manifestamente ser satisfeitas. É impossível sem uma grave perturbação na estabilidade económica alcançar ao mesmo tempo consideráveis aumentos de salários, diminuição do número de horas semanais, aumento de férias pagas, etc. O PCP alerta para o perigo de reivindicações irrealistas e chama particularmente a atenção para as exigências de súbita e radical diminuição da semana de trabalho, que em alguns casos que em alguns casos desceria a níveis não praticados mesmo nos países desenvolvidos. Semanas de 35/36 horas não correspondem ao nível do atual desenvolvimento económico. As reivindicações irrealistas conduzem a um beco sem saída, à perturbação do equilíbrio económico, ou ao aumento dos preços e ao agravamento da inflação, que anulam os aumentos de salários alcançados.”

   Quem recorda esta surpreendente sensatez de Álvaro Cunhal? O que mudou entretanto para justificar as 35 horas semanais da função pública? A economia nacional é mais próspera? Sim em termos absolutos, mas não relativamente aos nossos parceiros europeus! De facto a economia nacional ocupa os últimos lugares; o PIB per capita em paridades do poder de compra, em 2021, situou-se 26 % abaixo da média da comunidade europeia, o 7º mais baixo da EU, segundo dados do Eurostat (Jornal Eco, Mariana Espírito Santo, 23 de Março de 2022).

    Este episódio é mais uma demonstração de que a democracia portuguesa se movimenta de acordo com a lógica de poder partidário e não com a do interesse nacional, constituindo causa primordial da decadência e inevitável falência das democracias.


Foto de Eduardo Gageiro

Peniche, 30 de Julho de 2022

António Barreto