Desporto

sábado, 21 de agosto de 2021

Cartão Vermelho ao Cartão Vermelho

 

   Quando o Governo socialista tomou posse, em 26 de Novembro de 2015, pensei “com os meus botões”, que o Benfica iria ter problemas. Não me enganei. Depois de várias peripécias, assistimos, estupefactos, em 07 de Julho de 2021, à detenção do Presidente do Benfica, à ordem do Ministério Público, suspeito de ilícitos vários (abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais) no âmbito das investigações às dívidas ao Novo Banco, conduzindo ao seu afastamento voluntário da Presidência do clube.

   Ao longo dos anos, a complacência institucional, desportiva e não desportiva, judicial e política, relativamente aos repetidos casos de adulteração das competições desportivas, fez-me nascer a ideia de que, a certa altura, se estabeleceu um consenso implícito entre alguns atores desportivos e políticos, quanto à necessidade de reorientar o ordenamento desportivo dominante do país.

   Há que enfrentar os factos e denunciá-los; o Benfica é visto, por alguns setores políticos como um símbolo do salazarismo. Um clube que projetou Portugal no mundo, envolto num aura de sucesso e fascínio, pela coragem, cortesia e qualidade da sua arte. Um microcosmos do Portugal multicultural e pluricontinental com que Salazar sonhava, capaz de enfrentar os colossos europeus e mundiais de futebol. Uma ponte emocional que parece não agradar aos protagonistas da nova ordem, eventualmente mais interessados na ascensão das alegadas “vítimas desportivas”, finalmente “libertas das garras da ditadura”.

   Por outro lado, a característica agregadora do popular clube de Eusébio, Coluna, Simões e Cª, não é vista com bons olhos para os que se têm empenhado em desmantelar a matriz cultural tradicional do país, algo hoje bem à vista de todos cada vez com mais evidência.

   Numa frase metafórica, arrisco dizer que “Os “deuses” estão contra o Benfica”.

   Empossado o novo Governo, não tardou a ser anunciada, pela Comunicação Social, turbulência no Ministério Público relacionada com “rotação” de procuradores e respetivas hierarquias. Não sei como se processam estas movimentações e até me parece normal que ocorram por ocasião das mudanças de Governo, salvaguardados os trâmites legais. No entanto, pensei, novamente “com os meus botões”, que, a máquina socialista estava a tratar de prevenir a defesa das suas hostes.

   Não sei se é verdade ou não, mas o que é facto é que, a partir daí, choveram queixas no Ministério Público contra o Benfica, todas elas investigadas com grande aparato, muitas tendo como denunciante o, então, Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho. Um caso emblemático foi o dos vouchers, investigado inúmeras vezes, apesar dos sucessivos arquivamentos. Outro foi o da publicação de correspondência do clube, graças à rejeição da providência cautelar pelo juiz do Tribunal de Primeira instância do Porto, com a alegação surpreendente de que tais publicações não resultariam numa perda de adeptos para o clube. Durante cerca de oito meses, o nome do clube foi arrastado na lama, só terminando quando o Tribunal da Relação do Porto deu provimento à Providência Cautelar. É neste contexto que, mais uma vez, vem a público a socialista Dr.ª Ana Gomes, defender com unha e dentes o pirata informático envolvido neste episódio, apresentando-o como herói nacional e mundial, lançando acusações veladas ao Presidente do Benfica, ignorando os danos que, à margem da lei, estavam a ser feitos ao clube e seus sócios e adeptos. Cabe aqui recordar que foi a sua colega de partido, Arquiteta Helena Roseta que, anos antes, se insurgiu, na Câmara de Lisboa, contra os benefícios fiscais atribuídos pelo município ao clube relativos à construção do seu Museu, apesar de definidos em protocolo com todos os clubes da cidade. A mensagem é clara; Lisboa não tem interesse num museu do Benfica na cidade.

   Cabe aqui recordar, sumariamente, outros episódios anteriores através dos quais percebi que o clube iria ser vítima de ataques reputacionais. O primeiro foi a resolução do Fundo de Investimento de Jogadores ordenada pela F.I.F.A. - e pedida por Bruno de Carvalho desde que chegou à presidência do rival. Em tempo recorde o clube teve que se desfazer de uma solução que lhe permitia contratar jogadores de craveira mundial, mercê de um esforço financeiro elevadíssimo, cerca de 95 milhões de euros, obtidos, in extremis, com a venda de jogadores da formação. Outro foi o das restrições ao financiamento bancário aos clubes de futebol ordenadas pelo Banco Central Europeu, na sequência da crise bancária de 2011. Neste caso o clube substituiu, com sucesso, os bancos pelo mercado obrigacionista. Para mim ficou claro que o próximo passo consistiria no ataque à reputação do clube. Afinal foi o que foi feito no tempo de Vale e Azevedo; recusa de financiamento e congelamento das contas bancárias. Não me enganei. Ele aí está em grande força. O que tem “graça” é que a alegada proibição de empréstimos dos bancos aos clubes não se aplicou a todos eles. Pelo menos o rival Sporting continuou a ser financiado e beneficiado com sucessivos perdões de dívida, como se se tratasse de um dos desígnios nacionais. Enquanto isso, o Benfica saldava quase na totalidade a sua dívida bancária num montante idêntico! Bem vistas as coisas, o Benfica parece ter sido o colateral do financiamento dos rivais.

   É demasiado para eu acreditar em coincidências.

   Vejamos agora o caso do ex-Presidente do Benfica Filipe Vieira. Se estava a ser investigado desde 2018, como foi noticiado, porque foi detido exatamente quando decorria uma operação obrigacionista? Mais uma coincidência, claro! Pode ser, mas eu não acredito. Estou convencido de que o propósito primário, ou secundário, era o de fazer fracassar o financiamento do clube e comprometer a nova época. Esta suspeita ganhou mais força hoje mesmo, ao ser anunciada na imprensa uma investigação ao projeto de internacionalização do Benfica, alegadamente suspenso em virtude da crise pandémica que atravessamos. O caso é que tal ocorre quando o clube está no meio do processo de qualificação para a Liga dos Campeões. Bate tudo certo. Ou não? A entrada nesta Liga proporcionará farta receita ao clube, indesejada pelos rivais e seus “amigos”.

   Vejamos ainda; como é possível que, no campeonato transato, em 34 jogos, o Benfica tenha tido apenas duas grandes penalidades a favor sem levantar o protesto geral da opinião pública, em particular dos comentadores desportivos, alegados defensores da verdade competitiva? Pois é! É possível porque ao fim de tantos anos, pelas razões aduzidas acima, se estabeleceu uma espécie de consenso geral contra o clube, como se se tratasse de um “justo acerto de contas” “das autoproclamadas vítimas do fascismo”.

   Por mim, jamais darei o meu voto, ao político ou partido que fizer mal ao meu clube, nem a quem não tenha projeto idóneo para restituir a credibilidade ao desporto nacional. É tempo de acabar com os preconceitos políticos no desporto, tratando todos por igual.

   PS: Espero que o projeto de internacionalização do clube vá para a frente, não só porque tal proporcionará o seu crescimento económico e competitivo, como possibilitará a participação desportiva de eventuais participadas em campeonatos de outra dimensão.

Cabe aos benfiquistas defender o seu clube.

Amadeo de Sousa Cardoso e Emmérico Nunes (Paris, França). 

Data de produção da fotografia, 1907


Peniche, 21 de Agosto de 2021

António Barreto