Desporto

terça-feira, 11 de setembro de 2012

DIFERENÇAS DE MENTALIDADE 

Comecei a dar formação em horário pós-laboral em 1993 e, a partir de 2005 também em horário laboral. 

Já tive turmas de formandos em cursos com equivalência do 7º ao 12º ano, cursos profissionais para desempregados e cursos de actualização de diversas áreas direccionados a trabalhadores e gestores de empresas. Quase todos eles, excepto pouquíssimos exemplos, frequentaram as aulas esperando simplesmente pelo final delas, completamente alheados e sem interesse em tirarem algum proveito da aprendizagem, inclusivamente tentando boicotar o raciocínio do formador e o consequente avançar da matéria. 

Em 2008 fui convidado para um projecto de formação na refinaria da Sonangol em Luanda e como era um novo desafio resolvi aceitar. Desde então tenho ido a esse país quase todos os anos, inserido em diversos projectos de formação a trabalhadores do sector da indústria petrolífera. 

Esta síntese tem a ver com as diferenças de mentalidade entre os formandos portugueses e angolanos. 

Os formandos portugueses, tanto adolescentes como adultos, chegam aos centros de formação em transporte próprio, bem vestidos com roupa de boas marcas, bons computadores, com telemóveis da última geração com os quais passam o tempo de aula a tentar jogar e enviar mensagens, enquanto os angolanos, chegam nos transportes colectivos, ou transportes das empresas para as quais trabalham, vestidos modestamente e, pouquíssimos com computadores.  

Ao contrário dos formandos portugueses, os angolanos têm sede de aprendizagem, desejam aprender o máximo possível, apresentando problemas, questionando quando têm dúvidas, sem pressas, nunca olhando o relógio, mesmo que a hora de final do tempo da aula já tenha terminado. 

Esta síntese tem a ver com uma futura diferença de sociedade laboral entre o nosso país e Angola, pois há alguns anos os angolanos vinham para o nosso país trabalhar nas obras, hoje somos nós, na grande maioria, que vamos realizar esses trabalhos lá, quando as nossas empresas de construção aproveitam as sobras deixadas pelas empresas chinesas. 

Teremos rapidamente que mudar de mentalidade e atitude, pois assim não iremos a lado nenhum e como costumo dizer, “não somos o melhor país africano”. 

António M. Rebordão Ribeiro 

Crescimento económico

                                 
Na atual conjuntura de emergência económica e social que vivemos, quer os partidos da oposição, quer largos setores da sociedade, advogam como solução para ultrapassar a crise, o crescimento económico pelo aumento da procura interna provocada pelo aumento dos salários. É o modelo que a CGTP, o PC, o BE e o PS defendem, associado ao investimento público.
 
Tal não é possível e não acredito que se trata de ignorância. Não é possível que pessoas altamente qualificadas, mesmo em áreas diferentes da económica, não compreendam os mecanismos básicos de funcionamento da economia. Trata-se sim, quanto a mim, na maioria dos casos, da "assassina" demagogia política que manipula a opinião pública com vista à obtenção de dividendos politicopartidários, violando os mais elementares princípios de ética política.
 
Vamos então fazer uma breve análise do processo, imaginemos que fazemos parte do Governo, queríamos descalçar esta “bota” e acreditávamos neste processo:
 
1.  O salário mínimo atual é de €485,00 e a taxa de inflação é, salvo erro, 3,2 %. Então, decidíamos um aumento de 5 %, passando o salário mínimo para €509,25. Arredondávamos as contas para €510,00 após verificarmos a viabilidade financeira de projeto.
 
2.    Este aumento repercutir-se-ia em toda a cadeia salarial, naturalmente, com nuances de vária ordem, que não vou agora escalpelizar.
 
3.    Paralelamente, decidíamos avançar com algumas obras públicas já agendadas, depois de assegurado o seu financiamento.
 
4.    Lembremo-nos agora que temos uma pequena economia de mercado aberta:
a.    Pequena; o nosso PIB é de cerca de 160 MME, o da Espanha é de 900 MME e o da Alemanha é de quase 4 BE. Há uns anos, o excedente da produção francesa de carne de pato, era suficiente para abastecer todo o mercado nacional!
b.    De mercado: Vende-se o que o cliente consome e não o que cada um quer produzir (economia de produção).
c.    Aberta; No espaço europeu não há alfandegas nem câmbio, tosos podem vender tudo em todo o lado.
 
5.    Conjugaríamos o aumento de salários com o aumento de investimento público, financiados pela troika, de modo a provocarmos um aumento da procura interna global de 4 %.
 
6.    Como somos pessoas responsáveis, convocaríamos as confederações patronais e outros analistas económicos idóneos, para avaliarmos a capacidade de aumento da oferta interna, chegando à conclusão que nesse ano o limite de tal crescimento seria de 2 %.
 
7.    Assim sendo, ficaríamos com um défice de 2 % que iria agravar o défice crónico da nossa balança comercial e o endividamento, uma vez que teria de ser a oferta externa a responder ao excedente de procura.
 
8.    Por outro lado, aumentando os salários aumentariam os custos de produção que as empresas teriam que refletir no preço final, perdendo competitividade face aos seus concorrentes externos.
 
9.    Assim, O agravamento do défice da balança comercial seria superior a 2 %, talvez 3 %.
10. Do mesmo, modo o índice de preços ao consumidor seria correspondentemente agravado, retirando poder de compra à população, absorvendo parte do aumento salarial.
 
11. Seguiríamos com este processo até se esgotar o financiamento.
 
12. Foi exatamente o que nos aconteceu.
 
13. REGRA DE OURO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO: A SUSTENTABILIDADE DO CRESCIMENTO  ECONÓMICO SÓ É POSSÍVEL DESDE QUE OS GANHOS SALARIAIS SEJAM INFERIOR À PRODUTIVIDADE.
 
14. Assim sendo, o primeiro passo a dar consiste em descer à microeconomia e perceber quais são os bloqueios ao crescimento empresarial, diagnóstico que, grosso modo, está feito.
 
15. O segundo passo é convocar todas as partes e obter o contributo de todos para desobstruir o crescimento empresarial.
 
16. Assegurados os ganhos de produtividade, poderão então subir os salários.
 
17. O crescimento económico pelo aumento da procura interna é o processo de compensar uma conjuntura recessiva, desde que o endividamento seja relativamente baixo, 40 % a 50 % e o investimento seja reprodutivo, infelizmente, não fomos suficientemente inteligentes e competentes; agora, quem nos financia impõe a sua própria terapêutica, que não podemos rejeitar sob pena de nos faltar o dinheiro para pagar os salários e as pensões.
 
18. No entanto lembremo-nos que neste período de aflição para a generalidade dos portugueses, há setores que negoceiam aumentos salariais, outros promoções e outros já compensaram os cortes com as “alcavalas” do costume, demonstrando o défice Democrático que reina na sociedade portuguesa, em que alguns, se julgam com mais direitos que outros, característico afinal de qualquer ditadura terceiro-mundista. 
 
AB