Desporto

domingo, 30 de julho de 2023

A Legitimidade Totalitária

 

A Legitimidade Totalitária


A legitimidade totalitária, desafiando a legalidade e pretendendo estabelecer diretamente o reino da justiça na Terra, executa a lei da História ou da Natureza sem a converter em critérios de certo e errado que norteiam a conduta individual. Aplica a lei diretamente à Humanidade, sem atender à conduta dos Homens. Espera que a lei da Natureza ou a lei da História, devidamente executada, engendre a Humanidade como produto final; essa esperança - que está por trás da pretensão do governo global - é acalentada por todos os governos totalitários. A política totalitária afirma transformar a espécie humana em portadora activa e inquebrantável de uma lei à qual os seres humanos apenas passiva e relutantemente se submeteriam. Se é verdade que os monstruosos crimes dos regimes totalitários destruíram o elo de ligação entre os países totalitários e o mundo civilizado, também é verdade que esses crimes não foram consequência de simples agressividade, crueldade, guerra e traição mas do rompimento consciente com aquele consensus iuris que, segundo Cícero, constitui um “povo” e que, como lei internacional, tem constituído o mundo civilizado nos tempos modernos, na medida em que se mantém como pedra fundamental das relações internacionais, mesmo em tempos de guerra. Tanto o julgamento moral como a punição legal pressupõem esse consentimento básico; o criminoso só pode ser julgado com justiça porque faz parte do consensus iuris e mesmo a lei revelada de Deus só pode funcionar entre os homens quando eles a ouvem e aceitam.”


As Origens do Totalitarismo – Annah Arendt



John Ford


Peniche, 30 de Julho de 2023

António Barreto

sábado, 22 de julho de 2023

As Táticas do Totalitarismo

 

As Táticas do Totalitarismo



Uma mistura de credulidade e cinismo prevalece em todos os escalões dos movimentos totalitários e quanto mais alto o posto, mais o cinismo prevalece sobre a credulidade. A convicção essencial compartilhada por todos os escalões, desde os simpatizantes até ao líder, é de que a política é um jogo de mentiras e que “o primeiro mandamento do movimento” - O Fuehrer tem sempre razão - é tão necessário aos fins da política mundial - isto é, da fraude mundial - como as regras da disciplina militar o são para as finalidades da guerra.”


À afirmação propagandística de que todo o evento é cientificamente previsível segundo leis naturais ou económicas, a organização totalitária acrescenta a posição de um homem que monopolizou esse conhecimento e cuja principal qualidade é o facto de que “teve sempre razão e terá sempre razão”. Para o membro do movimento totalitário, esse conhecimento nada tem a ver com a verdade, da mesma forma que o facto de se estar com a razão nada tem a ver com a veracidade objetiva das afirmações do chefe, que não podem ser desmentidas pela realidade, mas apenas pelos sucessos ou fracassos futuros. O chefe tem sempre razão nos seus atos e, como estes são planeados para os séculos vindouros, o exame final do que ele faz é inacessível aos seus contemporâneos.”


Annah Arendt - As Origens do Totalitarismo” – (negrito de minha edição)


Na primeira transcrição vislumbro a política portuguesa atual onde a criação de narrativas alternativas à realidade é uma prática corrente dos governos visando transformar, perante a opinião pública, rotundos fracassos em sucessos pelo simples exercício de retórica.


Na segunda, cabe como uma luva a temática das “Alterações Climáticas”; quando, no final do século se comprovar a veracidade ou falsidade das previsões atuais - aquecimento global superior a 1,5 ºC, fusão dos glaciares e gelos polares e subida do nível do mar como consequência da atividade humana, nenhum contemporâneo atual poderá testemunhá-lo. E no entanto, se há algo certo na Ciência, é a incerteza.


Autor não identificado

Peniche, 22 de Julho de 2023

António Barreto



sábado, 1 de julho de 2023

Inflação e Taxas de Juro

 

Inflação e Taxas de Juro


Acerca da polémica que vai por aí sobre a inflação e as elevadas taxas de juro eis, sucintamente, o que, de momento, se me oferece dizer:

O Jogo Político:

Todos lhes conhecem as causas, ninguém assume responsabilidades. Todos têm medo de dizer a verdade e todos vêm aqui uma oportunidade de "queimar" - responsabilizar ou comprometer - o adversário. A origem remonta ainda à crise de 2008 e à turbulência política que originou. Passos Coelho foi o único que disse a verdade ao povo, que "atacou" a despesa pública e lutou pelas reformas estruturais de que o país carece, contra a sistemática oposição do Tribunal Constitucional, um órgão político - que veio substituir o Conselho da Revolução, hoje controlado pelo PS – então intransigente na "defesa dos direitos adquiridos" e que hoje se remete ao silêncio, indiferente a todos os atropelos a que os portugueses têm sido sujeitos. A causa primordial são os falsos alicerces do regime democrático; a cultura cívica e política dos principais agentes políticos, os partidos, a sua falta de vínculo ao interesse nacional, a subordinação destes ao interesse partidário. E é por aqui que morrem as democracias. Já aconteceu antes.

As Causas:

A resistência política dos governos, dos países em vias de default, à política de austeridade da UE e do BCE, teve como consequência a substituição do Claude Trichet por Mario Draghi. Daqui adveio a alteração da política do BCE; o expansionismo monetário, como instrumento de financiamento dos desequilíbrios orçamentais dos estados fragilizados, deixando para segundo plano o controlo da inflação. Expansionismo sem contrapartida nas reformas estruturais conducentes à indução dos ganhos de produtividade de que essas economias carecem. De momento não conheço os números exatos, mas, assim por alto - quem puder, p.f., corrija -, de 2015 ao final de 2022 o BCE deve ter injetado na economia europeia cerca de 5 mil milhões de euros, na compra de dívida soberana. É, mais ou menos, o PIB anual da Alemanha - cerca de 4 BE, salvo-o-.erro -, cerca de 30 % do PIB agregado da UE!


Uma vez que não se verificou aumento correspondente do lado da oferta - da produção de bens transacionáveis (aqueles bens que têm alguma utilidade para alguém) - a inflação era inevitável! Eu contava com ela! É verdade que há outra causa importante; a forma como se abordou a crise pandémica; paralisaram-se as produções e distribuiu-se dinheiro pelas populações. Só dois "loucos" se opuseram à paralisação das economias dos seus países: Trump e Bolsonaro!


No caso de Portugal há ainda uma causa menor; o aumento forçado, desde 2005 do salário mínimo acima da inflação e do crescimento do PIB; não porque o Governo tenha tido pena dos trabalhadores, mas porque precisava de arrecadar mais receita. Quando um regime teima em viver num ambiente de ilusão económica, acabará por morrer.


E não! Não me venham dizer que o povo é estúpido, que não compreende, que gosta de ser enganado, etc, etc. porque, depois de 4 anos de austeridade, quem ganhou as eleições foi quem a tinha posto em prática: Passos Coelho! Foram os derrotados que, numa aliança espúria e condenada ao fracasso, assumiram o poder, retomaram a política despesista do Governo de Sócrates e, uma a uma, desfizeram todas as parcas reformas daquele Governo. São os nossos políticos, na sua grande maioria, que não têm maturidade democrática; teimam em colocar os interesses dos respetivos partidos acima do interesse nacional.

Controlo da inflação:

Combate-se a inflação reduzindo a procura. É a forma mais fácil e a que tem que ser aplicada em caso de urgência, como atualmente. Porém a redução de despesa pode e deve fazer-se também do lado do Estado, da Administração pública! De 2016 a 2022 o OE aumentou aproximadamente, de 86 MME para 113 MM! Não sei para onde foi esse dinheiro, mas parece que terá sido mal utilizado, uma vez que já está "toda a gente" na função pública a pedir aumentos de salariais! Portanto, a redução da procura, pode e deve fazer-se pela lado da despesa pública, eliminando redundâncias e ineficiências. Mas, infelizmente, a via socialista não é a da eficiência, é a da expansão do Estado.


Mas há ainda outra forma de "pressionar" a inflação; induzir de ganhos de produtividade na economia através da redução dos custos de contexto das empresas - simplificação de processos administrativo-burocráticos, redução ou eliminação de encargos diversos, etc.


Para isso o Governo teria de "derrubar o muro" do preconceito ideológico e conversar com os empresários, começando por perguntar-lhes o que poderiam fazer em conjunto com o Governo para aumentar e melhorar a oferta de bens transacionáveis. É difícil fazê-lo? Não, se o interesse nacional está acima do interesse partidário, dos fundamentalismos ideológicos e das lógicas eleitoralistas. Não, se deixarem de ver e tratar os empresários como meliantes carecidos de punição económica, fiscal e social.



                                                     Abuela-Moses- Feria Rural (1950)


Peniche, 1 de Julho de 2023

António Barreto

O Benfica de Rui Costa


O Benfica de Rui Costa


 O Benfica, sob a direção de Rui Costa, considerando as últimas décadas, é o que mais se aproxima do verdadeiro Benfica. Um clube com uma história de combatividade e ambição, que privilegia a arte de bem praticar qualquer desporto, num ambiente de alegria compartilhado com adversários e público, sempre com a determinação de vencer.


A reorientação estratégica para os resultados desportivos e o equilíbrio económico, é uma diretriz que passou para todas as estruturas do clube, administrativas, técnicas e desportivas - equipas, atletas e adeptos -, constituindo um fator gerador de sinergias competitivas.


A presença constante de Rui Costa - o Presidente-Adepto, ou o Adepto-Presidente - nas bancadas, apoiando as equipas de todas as modalidades, comungando com atletas e público das incidências dos jogos, enraíza em todos o conceito primordial do clube, relativizado nos mandatos anteriores; a indomável vontade de ganhar, a insaciável sede de vitórias.


Tal propósito transparece na reconstrução das equipas, onde é notória a prioridade da retenção dos melhores atletas, o cuidado na contratação de novos jogadores ou treinadores e outros agentes não menos importantes.


A capacidade de recrutamento oportuno de atletas de qualidade para carências específicas das equipas, da de futebol sénior em particular, parece real. Os défices posicionais crónicos que transitavam de época para época e as contratações eminentes que acabavam concretizadas pelos rivais, parecem improváveis de ocorrer.


Tudo converge para a ocorrência de ganhos substanciais de competitividade desportiva em todas as competições. Isso mesmo se verificou na época finda; a conquista dum campeonato, especialmente longo e difícil e o bom desempenho na Liga dos Campeões da equipa de futebol sénior; o saldo francamente positivo nas modalidades de pavilhão e de ar livre, em masculinos e femininos.


É clara a aposta em todas as modalidades, com novas investidas no futsal e no andebol masculinos, arredados dos títulos nas últimas épocas, no futebol feminino, em busca da consolidação interna e da afirmação europeia, e no atletismo, para recuperar a liderança perdida esta época, tangencialmente, para o “desavergonhado” rival.


Tudo num quadro de invulgar diversidade desportiva, com pano de fundo o altruístico trabalho da Fundação e as atividades de ginástica expressas anualmente na magnífica Gimnáguia.


Se é verdade que o grosso do trabalho vem de trás, não deixa de ser notório o novo impulso que está a ocorrer sob a orientação da atual Direção, mais focada nos resultados que no folclore.


Há porém necessidade de definir e pôr em marcha um plano de ação de sensibilização institucional e social, contra o preconceito e segregação de que o clube tem sido alvo por parte das instituições desportivas - federações e ligas em geral - e até da alguns setores políticos.


De facto às vezes parece que foi posto em marcha um processo de “ajuste de contas” de contornos políticos que, no fundo, tem como causa primordial o ressentimento pela grandiosidade desportiva e a universalidade do Benfica.


A época que se avizinha, será igualmente difícil, talvez até mais, dado o desespero desportivo e económico dos rivais. Porém, a dispensa de fase de qualificação para a Liga dos Campeões, poderá evitar o desgaste que se verificou na ponta final do campeonato transato.


Pam Carter

Peniche, 31 de Julho de 2023

António Barreto