Artesãos, Operários e Proletários
Inspirada pela literatura de R.
Hoggart - The uses of Literacy, de
1957 - e E.P. Thompson - The Making of the English Working Class,
de 1963 - sobre o operariado inglês, M. F. Mónica decidiu fazer um levantamento
da história operária lusa.
O Caso da Marinha Grande
Confrontada com a falta de documentação percebeu que tal resultava do
analfabetismo generalizado dos operários portugueses, contrastando com os
congéneres ingleses que há muito sabiam ler e escrever. Teria que ir às cidades
operárias, entre conversas com populares e consulta de periódicos locais, fazer
o levantamento possível. Foi assim que, em 1977, decidiu ir à Marinha Grande,
na senda da revolta de 13 de Janeiro de 1936 dos operários vidreiros contra a
legislação sindical de Salazar.
Para sua deceção, depois de ouvir alguns testemunhos e inteirar-se do
padrão de vida da população local, percebeu que, nem a referida revolta teria
tido a dimensão que os comunistas lhe atribuíram nem os operários locais
passavam fome. Em vez das habituais bicicletas e boinas que esperava encontrar,
os operários da Marinha Grande deslocavam-se em Toyotas, vestiam-se à moda, frequentavam coletividades e faziam
piqueniques na praia de S. Pedro de Muel. Não vivendo bem, eram relativamente
prósperos. Não passavam fome, como acontecera às gerações que os precederam e sucedia
noutro tipo de operariado, como o do têxtil.
A Indústria textil
A próspera indústria têxtil entrou em crise nos finais do século XIX. A
mecanização dos teares, na sequência da Revolução Industrial, a oferta de mão-de-obra
feminina e de camponeses, atirou os operários manuais para a indigência. Em
1865, um tecelão ganhava 400 réis diários - 8800 réis mensais -, em 1881, já só
ganhava, em média, 250 réis - 5500 réis mensais. Por outro lado, o custo de
vida subia drasticamente: Em dez anos o alqueire de milho aumentou 17,4 %,
valendo, em 1900, 642 réis, e a carne de vaca, no mesmo período, aumentou 9,7 %
atingindo os 409 réis por quilo. A vida dos trabalhadores tornou-se um inferno.
Esta crise culminou em três violentas greves: a de Gouveia, a do Porto e a de
Santo Tirso.