Desporto

sábado, 27 de fevereiro de 2016

O caso Slimani

     

   A agressão de Slimani a Samaris em apreciação disciplinar pelas autoridades desportivas, tal como casos do mesmo tipo, deveria ser, também, objeto dos tribunais comuns. O futebol é um desporto de que faz parte o contacto físico. Com regras. Todo o jogador tem o direito de disputar a bola mas sem pôr em causa a integridade física do adversário-colega. Os acidentes e os traumatismos são inevitáveis, mas de pequena ou moderada gravidade se as regras forem observadas. De modo geral percebe-se quando a agressão é intencional. Por outro lado, há jogadores que têm um padrão de atuação especialmente agressivo; Slimani é um deles, mas também Bruno Alves, João Pereira, Pepe e outros, no ativo.
 
   A intenção de Slimani não está totalmente apurada. Uma cotovelada violenta pelas costas, na zona cervical, sem estar em causa a disputa da bola, não deixa dúvidas quanto à vontade de prejudicar a integridade física de Samaris, debilitando-o para a disputa do jogo. Mas terá sido só isso? Não sei. Mas Slimani sabe que um golpe do tipo do que desferiu a Samaris pode matar ou paralisar a vítima. Os senhores dos Conselho de Disciplina e do Conselho de Justiça, respetivamente, da Liga e da FPF, também sabem. Os dirigentes, técnicos, colegas e adeptos do Sporting também sabem. Sabemos todos. Slimani, por uma razão qualquer que deveria ter sido já apurada - mau caráter, instrução superior ou ação de químicos - perdeu a noção da civilidade. Não há jogo ou troféu, que valha a vida de qualquer pessoa. Quem não entende isto deve ser confrontado pela comunidade. Sob pena de se legitimarem todos os atos idênticos de todos os outros, o que representaria um retrocesso civilizacional de milénios.
 
   Com o atraso do processo e a proximidade do "dérbi" a comunicação social desatou o habitual foguetório, por hipocrisia ou pelo pânico de o goleador da sua equipa dileta poder falhar tão decisivo encontro. Até comentadores moderados e sensatos, como José Manuel Delgado,  alinharam no alarido; aqui d'el rei que vão prejudicar o Sporting! Vejamos; o ato do tresloucado é passível de punição e tal só será efetivo se causar prejuízo ao próprio e ao seu clube. Evidentemente. Ou aceitamos que seja punido desde que ninguém saia prejudicado? Ou aceitamos que o benefício da punição recaia sobre um adversário menor, mas não ao Benfica, porque é especial? Pois o Benfica ficou gravemente prejudicado no jogo em que Slimani perpetrou o, para mim, crime de agressão; porque afetou o desempenho do seu jogador e porque ficou privado de jogar com o adversário reduzido e, provavelmente, de ganhar o jogo, quiçá, o troféu em disputa. Slimani, deveria ter sido castigado de imediato; irradiado do futebol e estar a braços com um processo crime por tentativa de homicídio voluntário. Até para sua própria proteção. 
 
   Quanto às instituições desportivas, que dizer?, vem-me à memória o caso do campeonato dos juniores infamemente retirado aos jovens do Benfica, justos vencedores, na secretaria da FPF!  Recordo o caso recente de desvalorização das ofensas de Bruno de Carvalho e de Pinto da Costa a um árbitro. O arrastamento do processo, a devolução do mesmo ao Conselho de Disciplina da Liga pelo Conselho de Justiça da federação  e a reapreciação de casos já arquivados envolvendo o Benfica, apresentados pelo Sporting, demonstram a falta de coragem que grassa no seio da FPF, ou a obediência dos seus membros aos interesses do Sporting e do Porto. Não sei qual das causas será mais grave.
 
      Esperemos que a revolução verificada na FIFA, se traduza num escrutínio efetivo de todas as estruturas do futebol, em particular da UEFA da FPF e da LPFP, afastando e/ou punindo todos ao que o transformaram num negócio sórdido em vez de num instrumento de convívio, de emancipação social e de liberdade, funções que lhe competem e terão de ser prosseguidas.
 
  (A Modern Rome, William Turner)