Desporto

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Belo futuro de Gaitán e Capela








Por: João Querido Manha
23 de Abril, 01h00, in CM
 
 
 
 
 
 
No balanço da importante jornada 26, o presidente do FC Porto resumiu o seu estado
de espírito perante repórteres solícitos com o augúrio de um belo futuro para o árbitro
João Capela. E assim, na sua visão pessimista do próximo futuro do Benfica, o
máximo dirigentedo atual campeão aproveita a boleia do mal-estar leonino para
etiquetar o título.
 
Seria mais difícil reconhecer o mérito da equipa de Jorge Jesus que, num dos seus piores jogos da temporada, chegou e sobrou para um Sporting de outro campeonato. Na complexa contagem dos penáltis não assinalados, meio País tenta ignorar a diferença abissal de classe entre as duas equipas lisboetas e será mesmo a única zona irredutível em condescender que os lances capitais do dérbi foram os dois espetaculares golos, em particular o segundo, que anda em tournée mundial há 24 horas como um dos mais belos do ano.
 
Sim, tal como João Capela, também se pode afirmar com toda a segurança que Gaitán, entre outros jogadores do Benfica, terá um belo futuro, mais cedo do que os jovens lançados por Jesualdo Ferreira, aos quais faltam os três ou quatro anos de trabalho dedicado com um treinador estável e responsável.
 
O FC Porto recuperou muito bem da derrota na Taça da Liga e também não deve temer o futuro, pela qualidade da sua equipa--base, embora precise claramente de subir o nível dos seus reservistas para aqueles jogos em que Fernando, Lucho, Moutinho ou Jackson não estejam tão bem. Em Moreira de Cónegos, estiveram ótimos, e isso fez toda a diferença, muito mais do que um penálti ou outro por assinalar.

O árbitro que não gosta de marcar penáltis


 In DN; por ANTÓNIO TADEIA, 23 abril 2013



Tal como há jogadores que driblam mais e outros que passam mais a bola, há árbitros que apitam mais faltas (e, por inerência,penáltis) e outros que o fazem com menor frequência. A atuação de João Capela no dérbi lisboeta, no qual deixou por marcar duas grandes penalidades a favor dos leões, foi coerente com aquilo que ele é como árbitro: trata-se do juiz que menos penáltis marca na Liga portuguesa e esta época ainda só tinha apontado um, a favor do FC Porto, depois falhado por Jackson Martínez nos Barreiros.

Capela apitou já dez jogos da Liga, nos quais assinalou 267 faltas, a uma média de 26,7 por jogo, apenas superior às de Marco Ferreira (26,3), Bruno Esteves (26,1) ou Luís Ferreira (22,8) e nos antípodas, por exemplo, de Bruno Paixão, que segue com uma média de 36,6 infrações assinaladas por desafio. É por isso normal que seja também dos que menos penáltis marca: apenas um em 900 minutos de futebol. Paulo Baptista, Pedro Proença, Rui Costa e Renato Gonçalves também só assinalaram uma grande penalidade, mas em menos desafios apitados, o que faz de Capela o juiz que menos penáltis marca na Liga portuguesa.

Aliás, Capela tem vindo a caminhar no sentido do tal "critério largo" que lhe apontaram anteontem. A sua média de faltas (26,7) é bem inferior às que vinha registando até aqui: 31,8 em 2011/12 e 36,3 em 2010/11. Pode concordar-se ou não, mas uma coisa não pode dizer-se: que João Capela mudou para o dérbi. Ele já vinha apitando assim quando foi escolhido.



A segunda mentira

Por:  JOÃO CÉSAR DAS NEVES, 22 abril 2013

Portugal viveu durante muitos anos uma ilusão de facilidade artificial, paga com dinheiro externo. Como em todas as mentiras, um dia a realidade bateu à porta. Seguem-se anos de brutal ajustamento, para eliminar as tolices insustentáveis e colocar a sociedade numa trajectória robusta. Trata-se de um caso clássico na história económica, muito frequente, muito estudado, sempre doloroso.
Confrontada com a tarefa hercúlea, a sociedade divide-se em duas partes bem distintas. Como nas praças de touros, existe uma zona de sol e outra de sombra. A distinção não tem nada a ver ricos e pobres, mas com o nível de segurança económica. O rendimento social de inserção ou a pensão mínima faz sombra, enquanto os fundos de investimento milionários estão ao sol. Ora quando começa a trovoada, a diferença entre as duas áreas é nítida.
Os sectores que estão ao sol (neste caso à chuva) têm de ajustar rapidamente. As empresas vão à falência, os trabalhadores perdem o emprego e são forçados a mudar de vida. Convertem a actividade, emigram, encontram alternativas. Como esta crise bateu em 2008, há muito que a zona sol ajustou. Aquilo que se arrasta longa e demoradamente é a adaptação da zona à sombra. Aí regista-se uma luta terrível à volta dos poucos lugares protegidos, e que aliás se vão reduzindo à medida que a tempestade desgasta as coberturas.
A consequência disto é a criação de uma segunda mentira, tão ou mais dramática que a primeira. O fragor desta luta enche totalmente o debate mediático, fingindo que o bem público e o futuro do País dependem crucialmente do que não passa do interesse particular de um grupo. Basta abrir a televisão ou os jornais para encontrar alguém a gemer ruidosamente, afirmando que a dignidade nacional e o progresso lusitano só sobrevivem se for mantido o subsídio, assegurado o apoio, defendida a despesa. Os propósitos são muito variados; o único elemento comum é a fúria avassaladora contra o Governo do momento, acusado da incompetência mais gritante ou dos propósitos mais sinistros, simplesmente porque lhes tira o guarda-chuva.
Está a ser muito interessante ver a vastidão do poder das forças instaladas em Portugal, e a capacidade de manipulação da realidade a seu favor. Os serviços colectivos, dos ministérios às câmaras municipais, da electricidade às estradas, dos juízes aos diplomatas, por se localizarem bem dentro da zona sombra, conseguem prosseguir como se nada fosse, mantendo hábitos ruinosos. Vêm depois os sectores protegidos, da construção aos advogados, grandes grupos e élites sociais, mais próximos da margem, que manobram nos bastidores. Os bancos, que andaram décadas a financiar projectos tolos, ocultam os esqueletos no armário e asseguram ser indispensáveis ao futuro nacional, precisamente na altura em que o prejudicam. Finalmente, a região entre a sombra e o sol faz manifestações e gritaria. Estes são os sindicatos, funcionários, profissões liberais e empresas subsidiadas.
O resultado de tudo isto é ir-se adiando o ajustamento, que sempre foi inevitável, e que a economia real há muito fez. Desta luta depende a crise demorar cinco ou trinta anos. Ou até, como se vê na Grécia e no Japão, acabar por quebrar o sistema, que nunca volta a ser o mesmo. Neste campo pode dizer-se que Portugal até se tem comportado muito bem, mantendo a paz social, enquanto avança com algumas reformas.
O mais importante nesta fase é desmistificar o essencial da segunda mentira, a ideia de que há um caminho mais fácil e existe alternativa à austeridade. Este é o embuste alimentado pelas partes ameaçadas da zona sombra, tentando desesperadamente manter as benesses em risco. Mas a única opção real ao ajustamento é o caos, porque a tempestade é inelutável e o tecto tem limites. Urgente é mudar corajosamente os hábitos e abandonar regalias injustificadas, usando os poucos recursos, não para protecção a privilegidos mas para defender os pobres e sobretudo investir em actividades realmente produtivas, abandonando as ilusões que nos enfiaram na crise.