Desporto

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Rui Costa e o Benfica (2)


Rui Costa e o Benfica
De Florença para Milão. Rui Costa, graças a uma transferência milionária - 35 milhões de euros -, ingressou no célebre clube “rossonero” onde se notabilizaram Baresi, Savicevitch, Boban e Cª, e onde, em cinco anos, conquistou uma Taça de Itália, uma Liga dos Campeões, uma Supertaça de Itália, um campeonato italiano e uma Supertaça UEFA, bem como a admiração unânime.

   O futebol italiano, um dos mais prestigiados na Europa e no mundo, consagrou Rui Costa, para orgulho dos benfiquistas e adeptos portugueses em geral, como um dos príncipes dos relvados da sua geração.

   Foi em 2006, pela mão de Filipe Vieira, que o “Maestro” regressou ao Benfica a custo zero, abdicando duma receita de cerca de 700 mil euros, correspondente a mais um ano de contrato, ao rescindir, amigavelmente, com o clube de Milão.

   Vivia-se então, em Portugal, o rescaldo do sucesso, algo amargo, da seleção nacional no euro 2004, no qual Rui Costa fez a última participação ao serviço da Seleção Nacional.

   No Benfica, fustigado desde o verão quente de 93 por uma espiral de instabilidade, a construção do novo Estádio gerara uma nova esperança entre adeptos. Anunciava-se o saneamento financeiro e administrativo do clube e um projeto desportivo ambicioso, sustentado na credibilidade e no investimento em diversas infraestruturas.

   O regresso do “Maestro” reforçou, junto dos adeptos, a esperança num futuro radioso para o clube. Dois anos antes, na época de 2003/2004, o Benfica terminara um jejum de 11 anos do título de campeão nacional.

   Após duas épocas nas fileiras do clube da Luz, em que o perfume do seu futebol, mais uma vez, deliciou os adeptos, Rui Costa - eleito jogador do ano em 2008 -, com pena de todos, cessou a sua carreira de futebolista ingressando no mesmo ano na de Dirigente, que tem exercido até aos dias de hoje, com o pelouro da Vice-Presidência para a área do futebol.

   Na época seguinte à da saída de Rui Costa, o clube volta a conquistar, em 2009/2010, o título nacional, ficando em muitos a ideia da saída prematura do “Maestro” e de que se perdera a oportunidade dum merecido final de carreira apoteótico.

   Nestes 11 anos, muitas foram as dúvidas que assolaram o universo encarnado; o passado algo nebuloso de Filipe Vieira, onde se contam velhas amizades e cumplicidades com os principais inimigos do Benfica, o recrutamento para os quadros do clube de gente com fortes ligações aos rivais e a implacável perseguição movida a Vale e Azevedo, ao menor desaire da equipa, punha em causa a bondade do projeto em marcha.

    A presença de Rui Costa, o “Maestro”, o jogador-adepto, na estrutura dirigente da SAD, funcionou, e ainda funciona, junto dos adeptos, como garante da fiabilidade do projeto de gestão do clube-Sad. A sua presença, “dando a cara” pela Direção, nos momentos críticos, apazigua-os, constituindo um voto de confiança no projeto de Filipe Vieira.

   Para a grande maioria dos benfiquistas, que vêm em Rui Costa uma espécie do provedor do adepto, é impensável considerar a sua conivência com agendas ocultas, irregularidades, ou mesmo a submissão a orientações destituídas de racionalidade económica e, ou, desportiva.

   Cinco anos depois do adeus de Rui Costa aos relvados, após uma época desastrosa seguida de debanda geral - na sequência do inesperado desastre da época 2012/2013, o clube perdeu, nada mais, nada menos, que 95 mil sócios - chegou o ansiado ciclo de vitórias, sob a batuta de Jorge jesus, Rui Vitória e Bruno Lage.
Peniche, 17 de Novembro de 2019
António Barreto
(Camille Pissarro, La cosecha, 1883)