Desporto

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Marcelo e a politiquinha

 
A culpa não é só dos políticos. A culpa não é só de Sócrates. A culpa também é da elite que filtra o ar mediático. A culpa também é dos Marcelos desta terra. Os Marcelos Rebelos de Sousa têm sido os guardiões do status quo que nos conduziu à bancarrota. Se Sócrates é culpado pela acção, Marcelo Rebelo de Sousa é culpado pela inacção. Porquê? Porque o Senhor-Professor-Doutor-Marcelo-Rebelo-de-Sousa é o máximo representante de uma forma tipicamente portuguesa de estar na política, a saber: o tuga consegue falar de política de forma apolítica. Sim, digo bem, apolítica. Marcelo não defende valores ou causas políticas. E, quando defende, é tão vago e impreciso como a licenciatura domingueira de Sócrates. É por isso que, após décadas de comentários, uma pergunta fica sem resposta: Marcelo acredita no quê? Marcelo representa o quê? Quando fizerem a história desta III República, os historiadores não vão encontrar nada de substancial nos milhões de minutos que Marcelo já gravou. Este homem falou, falou e falou, mas não disse nada, não gravou nada na pedra. Alguém se lembra de uma convicção profunda de Marcelo?
 
Ora, quem não tem uma visão normativa acaba por reduzir a Política à politiquinha dos truques e tricas. E Marcelo é isso mesmo. Marcelo é o homem dos esquemas (ele diz que são "cenários"). É o Gabriel Alves da politiquice, sempre entretido num treco-lareco táctico que transforma a Política num jogo de futebol, onde só existem erros tácticos, e não erros de substância. E o pior é que este vazio marcelista é o espelho da cultura (a)política que domina a pátria. Marcelo é a norma, e não a exceção. Em Portugal, a Política é transformada - de forma marcelista - num constante joguinho futeboleiro entre partidos. Há a liga de futebol de Rui Santos e depois há a liga politiqueira de Marcelo Rebelo de Sousa. E, atenção, as semanas políticas são mesmo vistas como jornadas. Cada semana é uma entidade separada da anterior, porque as notas da semana x, ora essa, não podem ser iguais às notas da semana y. O país é assim cortado em 52 pedacinhos sem ligação entre si. Como é óbvio, no meio deste carrossel, os problemas estruturais não são analisados. Alguém se lembra de ver Marcelo a assumir um compromisso claro com um conjunto de reformas para o país? Eu não. Marcelo nunca se comprometeu a fundo com projectos ideológicos e políticos (o que é grave para um pensador... político). E, nas poucas vezes em que se distraiu e começou a falar mesmo de Política, Marcelo criticou sempre as mudanças "neoliberais", as tais que a troika acabou por impor. Agora, ouvimos muita gente dizer "ai, foi preciso um estrangeiro para colocar os portugueses a falar do que interessa". Pois, mas o debate sobre as reformas foi sempre bloqueado por Marcelo & Cia. A nossa massa crítica de topo, liderada por Marcelo, quis ser uma mera gestora do pântano situacionista, e desistiu de pensar a mudança. Alguém se recorda de uma convicção profunda de Marcelo?
 
O prof. Marcelo, preclaro oráculo da nação, não tem as mãos sujas como Sócrates, mas esta crise também tem a sua assinatura. Na última década, o nosso espaço público não discutiu ideias. Discutiu tácticas e timings. A culpa disto não é do povo, é dos Marcelos Rebelos de Sousa. Alguém se lembra de uma convicção profunda de Marcelo?
 
Crónica do Expresso de 28 de Maio de 2011


por Henrique Raposo às 10:32 | link | partilhar

Que se Lixe a Troika! OK; e depois?

Confesso que há muitos anos, quase 40, também alinhei nisto: unimo-mos todos contra uma coisa e, depois, logo que vê do que somos a favor. Normalmente, não havia depois, porque as ações, embora sempre grandiosas eram inconsequentes.
 
Hoje, porém, imagino, o que seria o depois: uns quereriam uma coisa, outros o seu contrário e ninguém se entenderia. Nos países onde houve esse 'depois', ganharam sempre os mais organizados, os que tinham um programa bem definido que, no geral, era alinhar pela esfera soviética. A todos os que participavam no 'movimento' sem saber o objetivo chamavam-se 'compagnons de route' (companheiros de jornada) ou, mais comummente, 'idiotas úteis'.
 
A lembrança (embora as situações estarem longe de ser comparáveis) surge-me do slogan "Que se lixe a troika - devolvam-nos as nossas vidas". Na verdade, quem não quer que a troika se lixe? Quem não quer a sua vida de volta. Vida que, por má que fosse, não era tão dura como a atual? Mais de 99% dos portugueses concordam com isto.
 
Daí a pergunta do título: E a seguir? E depois, faz-se o quê? E é aqui - na parte não expressa do programa das manifestações, 'grandoladas', NIFs de ministros e outras formas mais ou menos imaginativas de contestação - que está o busílis.
 
Como pagamos aos credores as nossas dívidas, se os mercados nos cortam o crédito e a troika não dá mais dinheiro? Não pagamos? Sendo assim, como nos financiamos? Acreditam mesmo que as gorduras do Estado, os carros, as reformas milionárias, apesar de escandalosas, equilibram os milhares de milhões que faltam nas contas do Estado?
 
Saímos do Euro? E podemos sofrer uma desvalorização da moeda que corresponde a um imposto escondido muito superior ao atual (recorde-se que as dívidas se manteriam em Euros)?Estabelecemos o comunismo e abolimos as fortunas e a propriedade privada? Isso alguma vez não resultou numa barbárie?
 
Não quero com isto dizer que não há alternativas. Claro que há, mas são piores. Também não quero dizer que a contestação é ilegítima.Claro que é absolutamente legítima e deve ser democraticamente respeitada, só que é inconsequente e esconde a maior parte do problema.
Porque, na verdade, é como se um doente dissesse: que se lixe a doença, quero a minha saúde! Ou um idoso dissesse: que se lixe a velhice, quero a minha juventude! Ou seja, a liberdade não pode levantar barreiras a nenhuma reivindicação; mas o facto de elas serem possíveis não as torna viáveis.
 
Também não quero dizer que está tudo bem. Claro que não! Já várias vezes escrevi que este Governo está esgotado e que o Presidente devia seriamente pensar numa alternativa que envolvesse mais o PS e os sindicatos (da UGT, naturalmente, porque a CGTP está sempre indisponível).
 
É possível fazer melhor. Mas não é possível fazer milagres!
 
Um texto de Henrique Monteiro publicado no Expresso, que subscrevo quase, quase integralmente.

Braga-Benfica (0-0/3-2P)

Foi um jogo equilibrado entre duas boas equipas. A vitória foi para quem mais a quis, por isso assenta bem ao Braga, que fez um bom jogo. As grandes penalidades são uma lotaria mas, tal como diz José Augusto, refletem a confiança e o querer da equipa, atributos que não faltaram ao vencedor.
 
O Benfica apresentou-se com alterações significativas, dada a necessidade de recuperação de alguns jogadores nucleares por um lado - Garay, Maxi, Matic, Lima, Sálvio e Ola John - e a de dar minutos de jogo a outros - André Almeida, Jardel, Roderick, Carlos Martins e Urreta - no entanto, o modelo de jogo manteve-se quase inalterado...quase! Alas bem abertas mas pouco eficazes, dada a excelente marcação contrária - ainda assim Urreta efetuou um cruzamento excecional, já na 2ª parte, que Martins (salvo erro) cabeceou à figura de Quim. Uma pena! 
 
O nosso meio-campo esteve quase sempre em inferioridade numérica - O Braga tinha 5, 6 ou 7 elementos muito ativos na marcação global, com as linhas muito próximas, dificultando a recuperação e, sobretudo, a construção -, Martins, mais preocupado em recuperar e controlar, não conseguiu construir, Roderick apesar de esforçado, não tem rotina da posição; não basta recuperar, é necessário transportar e lançar.
 
O Braga fazia pressão alta com uma marcação de grande proximidade, metendo sempre vários elementos na disputa da bola graças à disposição compacta; bem abertos nas laterais, com excelente dinâmica e profundidade, recuando em bloco até próximo da sua área, sempre que o Benfica atacava organizadamente.
 
Apesar disso, coube ao Benfica a grande oportunidade da primeira parte, num excelente remate de Rodrigo à trave, finalizando uma excelente movimentação coletiva - esteve muito bem Quim a fazer a mancha. Também o Braga teve uma excelente poli-oportunidade desfeiteada sucessivamente pelo Artur, o qual, de resto, esteve muito bem. Bem assinalado o fora de jogo a Cardozo e mal assinalado ao Urreta que ficaria isolado na cara de Quim! Esteve mal Marco Ferreira!
 
O Braga reentrou com grande intensidade procurando o golo que não aconteceu, mais por mérito da defensiva do Benfica. A entrada de Enzo e de Aimar restabeleceu o equilíbrio ao meio-campo induzindo maiores dificuldades aos bracarenses, que iam recorrendo à falta e às simulações miseráveis do, por vezes abjeto, Alan. Os lances ofensivos dos nossos, começaram a fluir e as situações de golo apareceram pelos Rodrigo e Gaitan, travados em falta dentro da área! Marco Ferreira teve medo de assinalar as duas grandes penalidades! Teve medo de descer de categoria? Seja como for, deveria tê-las assinalado!
 
Assim se escoaram os noventa minutos, com as duas equipas a procurarem, debalde, o golo, revelando os avançados do Benfica excessiva parcimónia na zona de finalização. Vieram então as grandes penalidades, que já não vi, dado o enorme stresse resultante da lotaria que representam.
 
 
Parabéns aos vencedores pelo bom jogo que fizeram, quer em termos futebolíticos quer pela relativa correção. A vitória assenta-lhes bem!
 
Censuro a equipa de arbitragem que fez a diferença nos lances que já referi e também "inventando" bastas faltas contra o Benfica à entrada da sua área, bem à medida do excelente pézinho do Viana, patenteando uma dualidade de critérios denunciadora. Se tem medo de apitar, fique em casa e entregue a pasta a outro, mas não pense que passa despercebido.
 
Para quando a profissionalização dos árbitros? Uma atividade de centenas de milhões de euros não pode ser condicionada por uma dúzia da artistas de qualificação e intenções duvidosas. Há que recrutar e qualificar adequadamente os árbitros de futebol, caso se pretenda o progresso do setor. Ainda não perceberam isto, ou não é conveniente aos adeptos da fruta?
 
E pronto; saímos com honra, ficando agora o quase-expulso mostrengo com a via aberta para aquela que, finalmente, virá a ser uma prova "deveras relevante"! Não é verdade? Até porque, a Direção da Liga tem que ser enxovalhada pelo atrevimento que teve em querer fazer cumprir os regulamentos da prova! Não é assim? Agora vão ter que entregar a taça aos homens da fruta.
 
AB