Desporto

domingo, 22 de dezembro de 2019

Heróis do “velho” Portugal

Heróis do “velho” Portugal

  
Ao assistir à bajulação persistente e humilhante do atual primeiro-ministro de Portugal, de origem goesa, às autoridades da União Indiana, Estado inexistente à data da fundação do Estado Português da Índia, veio-me à memória o episódio ocorrido na lancha Veja quando resistia heroicamente à invasão - ilegal e contra a vontade popular - de Diu:


   “O Senhor comandante dirigiu-se à Câmara e fardou-se de branco, dizendo que assim morreria com mais honra. - Rapazes, sei que vocês vão cumprir assim como eu e que mais vós quereis! Acabarmos numa batalha aeronaval. Fazemos parte da defesa de Diu e da Pátria e vamos cumprir até ao último homem e última bala se possível.

   - Algumas despedidas se fizeram e até as fotografias dos entes queridos foram beijadas e guardadas nos bolsos dos calções”

    Do relatório da guarnição da lancha Veja, sobre a atuação do respetivo comandante, segundo tenente Oliveira e Carmo, morto heroicamente nas águas de Diu, a 18 de Dezembro de 1961, referido no livro de João José Brandão Ferreira “Em Nome da Pátria”.

Peniche, 22 de Dezembro de 2019
António Barreto

sábado, 21 de dezembro de 2019

A Morte de Amílcar Cabral


A Morte de Amílcar Cabral

 
Ouvi há dias, num debate na rádio em que participava Jaime Nogueira Pinto, um dos participantes, que não identifiquei, referir que Amílcar Cabral teria sido assassinado pela PIDE. Esta afirmação, apesar de falsa, vai-se consolidando junto do incauto cidadão comum, crente na honestidade dos alegados progressistas que a propagam com o intuito de denegrir o Antigo Regime, atribuindo-lhe atos vis, e com isso prevenir eventuais recidivas políticas.

   No seu livro “Em Nome da Pátria” João José Brandão Ferreira explica as circunstâncias do assassinato de Amílcar Cabral e identifica os seus autores (pág.. 469 e 470).

   Amílcar Cabral foi morto em 20 de Janeiro de 1973 pelo guerrilheiro do PAIGC Inocêncio Kani, ao reagir à tentativa de detenção no Quartel-general daquele grupo armado na Guiné Conakri. Cabral, sua mulher Ana Maria, Aristides Pereira acompanhados por um jornalista russo, foram surpreendidos no regresso de uma receção a que tinham assistido na embaixada da Suécia em Conakri, tendo, por essa razão, faltado à conferência de Samora Machel em Bokê. Aristides Pereira foi, previamente, preso e metido numa embarcação pelo mesmo Inocêncio Kani, acompanhado dos, também guerrilheiros, Mamadú Touré e Aristides Barbosa. Ana Maria, de imediato, avisou as autoridades guineenses e os restantes dirigentes do PAIGC que se encarregaram de mandar fuzilar os três guerrilheiros envolvidos.

   Diga-se porém, que um dos objetivos da operação “Mar Verde”, planeada e chefiada por Alpoim Galvão em 22 de Novembro de 1970, consistia na prisão ou morte de Amílcar Cabral - fracassada por não se encontrar onde era esperado. Por outro lado, num contexto de guerra declarada, é legítimo a qualquer das partes matar o opositor.

  Cabral, ex-funcionário público na Guiné Bissau, era um moderado, cuja morte não foi benéfica para os interesses portugueses - militares e políticos. Opôs-se à utilização, pela guerrilha, dos mísseis SAM 7, por considerar prejudicial aos interesses do partido a escalada bélica daí resultante e por estar convencido de que as forças portuguesas sairiam em vantagem. Amílcar Cabral declarou publicamente em vários fóruns, considerar esvaziada a justificação da luta armada pela independência, num contexto de plena integração de cada parcela do território português, onde a igualdade de direitos fosse total e universal.

   Dois meses após o assassinato de Amílcar Cabral, a 20 de Março de 1973 foi disparado o primeiro míssil. A morte do líder foi uma das razões invocadas pelo PAIGC para a intensificação do esforço de guerra, numa tentativa de moralização das suas tropas. Seguiram-se os ataques continuados aos aquartelamentos de Guilege - a sul - e de Guidage - a norte -, com flagelação continuada de artilharia - os guerrilheiros furtavam-se ao combate de proximidade. O comandante da guarnição de Guilege, major Alexandre Coutinho Lima, em consequência do ataque, ordenou a retirada, da guarnição e da população, sem autorização superior, em 19 de Maio de 1973, facto que o levaria à prisão e julgamento em Tribunal militar, por ordem do general Spínola.

   Em Guidage, as tropas portugueses resistiram graças ao reforço de uma companhia de para-quedistas. A retaliação surgiu de imediato, em 19 de Maio do mesmo ano, com a destruição da grande base do PAIGC em Comumbori, no Senegal.

   A declaração de independência do PAIGC, a 24 de Setembro de 1973 em Madina do Boé, zona despovoada do leste, abandonada pelo exército português por ser desprovida de interesse militar, não passou de manobra de propaganda política. Na ONU, controlada desde 1961 por países afro-asiáticos de matriz socialista, o “Estado Fantasma” acabou reconhecido por cerca de 60 países.

   Há quem diga que foi aqui que começou o 25 de Abril, porém parece-me que tal ocorreu com a subida de Marcelo Caetano ao poder.

Peniche, 21 de Dezembro de 1979
António Barreto

domingo, 1 de dezembro de 2019

OPA-2019 – Benfica


OPA-2019 – Benfica   

  
Ressarcimento do investimento dos acionistas que responderam à primeira emissão acionista, restituição da Benfica-Sad, na quase totalidade, ao clube, blindagem da Benfica-Sad a intromissões indesejadas e viabilização de parceria futura, causas apontadas para a OPA em curso, merecem-me os seguintes comentários:

   Fica bem ao Benfica esta atenção para com os que acudiram à subscrição de ações e permitiram a viabilização da constituição da Sad. Aos “sortudos”, investidores de percurso, que beneficiarão desta generosidade resta dar os parabéns, considerando a eventualidade do caráter acidental da respetiva aquisição. Certo é não haver razões para afastar completamente a ideia de a atual OPA estar prevista desde então, o que seria gravíssimo.

   A detenção do controlo total da Sad pelo clube sucede à recuperação, por este, da posse do Estádio e da BTV, visando dissipar receios de apropriação funcional externa daquela. Fica a dúvida quanto ao processo de tomada de decisão, no clube, das questões estratégicas relativas à Sad; li por aí que, com 95 % do capital acionista, deixa de haver obrigatoriedade de discussão em Assembleia Geral de sócios das matérias estratégicas relativas à Sad, o que, a verificar-se, suscita fundadas preocupações.

   De todo o modo, não me parece razoável que um eventual candidato à Presidência se dispusesse a um investimento da ordem dos 30 milhões de euros para assumir uma posição minoritária na Sad. Bastar-lhe-ia anunciar uma estratégia agressiva em termos de competitividade externa, um ajustamento na política de formação e o recrutamento de um ou dois jogadores de topo para a equipa principal.

  Uma eventual parceria futura poderá proporcionar um salto qualitativo significativo desde que se acerte com ela, alguém que traga algo positivo; capital, conhecimento e uma boa rede de contactos. Pode ser uma boa ideia. A verdade é que o atual quadro acionista não acrescenta qualquer valor à Sad; nenhum dos atuais acionistas, à exceção de Filipe Vieira, tem competências em matéria de gestão de entidade desportiva, com a agravante de um deles ser inimigo do Benfica - uma das várias vicissitudes das Sad.

   Por outro lado, se esta operação servir, nem que seja só para afastar a Olivedesportos, dou por bem empregues os 32 milhões! Como foi possível ter-se mantido o inimigo entre portas, durante 18 anos? Com o pretexto do alegado dever de gratidão, permitiu-se que um dos principais rivais, a Porto-Sad, se mantivesse permanentemente ao corrente de todas as decisões, estratégicas e operacionais da Benfica-Sad! Como foi tal possível? Em simultâneo proporcionou-se à mesma entidade lucrativo negócio com a entrega a pataco dos direitos desportivos que lhe permitiram financiar rivais e adversários!

   Finalmente o momento escolhido para lançar esta OPA não foi o melhor; contribuiu para mais um insucesso da participação da equipa de futebol na Liga dos Campeões, quando, como se verificou, era possível ter passado à fase seguinte. E isso, não só comporta perdas financeiras imediatas avultadas como desmoraliza as hostes induzindo eventuais perdas futuras, desportivas e financeiras. É o chamado custo de oportunidade. Só o futuro dirá se foi corretamente avaliado.

   Mais avisado teria sido reforçar cirurgicamente a equipa apostando num percurso mais longo na Liga dos Campeões e depois então avançar com a OPA.

Peniche, 29 de Novembro de 2019

António Barreto
(Gustav Courbet, Fishing Boats on the Deauville Beach 1866)