Desporto

sábado, 12 de novembro de 2022

Um Pouco de História (XV)

 

A República Romana

 

   Regressado a Itália para preparar a expedição a África e combater o que restava dos exércitos de Pompeu, César, desapontado com a gestão desbragada de Marco António, e apesar do seu contributo no domínio dos insurgentes republicanos, Milo, Célio e Dolabela, substituiu-o no cargo de Regente de Itália por Lépido, e seguiu para a Sicília.

   Em África tinham-se reunido as tropas de Pompeu, sobreviventes das batalhas de Farsália, Dirráquio, de Corcira e de todo o Oriente, a que se fora juntar Marco Octávio com a esquadra da Ilíria, onde a sublevação fracassara.  

   Aí, as forças republicanas eram governadas por Varo com o apoio rei númida - Juba -, sob a presidência de Catão. A fúria de vingança uniu númidas e romanos na destruição das cidades inimigas e na chacina implacável de todos os prisioneiros, apesar da oposição de Catão, que, apesar de tudo, conseguiu salvar Utica.

   Juba, Varo e Metelo Cipião, ambicionavam o lugar de Comandante em Chefe das forças republicanas, as quais preferiam Catão, tendo este escolhido Cipião - descendente de Cipião Africano - para o cargo.

   Presidindo em Utica ao anti Senado romano, Cipião, cumpria, com zelo e firmeza, um dever que sabia condenado ao fracasso. Armando Libertos e Líbios, constituiu catorze legiões, quatro das quais eram númidas armadas à romana, a que se juntavam mil e seiscentos cavalos germanos e celtas, um esquadrão de cavalaria ligeira de númidas - com besteiros a pé e a cavalo -, cento e vinte elefantes e a esquadra de cinquenta e cinco navios comandada por Públio Varo e Marco Octávio. Com os abundantes mantimentos reunidos e contando ainda com a sublevação das tropas cesaristas da Campânia, esperava-se obter a desforra de Farsália e restaurar a República.

   Do outro lado, César, que sempre soubera conduzir e motivar as suas tropas nas condições mais adversas graças ao seu engenho e ousadia, enfrentava agora a rebelião das legiões da Campânia; fartas de combater campanhas atrás de campanhas, recusavam-se a partir para África, exigindo as baixas e tudo o que lhes tinha sido prometido depois da expedição à Gália; saques, terras e espólios.

   Uma comissão de Senadores enviada por César e comandada pelo historiador Salústio à Campânia, com o fim de persuadir os insurgentes, fracassou, tendo sido insultado o emissário e mortos alguns senadores. Decididos, os soldados marcharam sobre Roma exigindo as baixas e as terras a César.

   Este, perito em controlar homens e multidões, que para cada crise inventava um novo expediente, não se intimidou; foi a Roma ao encontro das legiões, e da tribuna do Foro interpelou os soldados, perguntando-lhes, com desdém, o que pretendiam.

  Quando, milhares de vozes em uníssono lhe responderam ruidosamente que queriam as baixas, respondeu-lhes que já as tinham e que lhes daria tudo o que lhes prometera no dia do seu triunfo…com outras tropas, chamando-lhes quirites (burgueses), com desdém.

  Feridos no seu orgulho militar, descontentes, envergonhados e ofendidos, os soldados murmuraram entre si - pois não haviam de ir com o seu general até ao fim da guerra?-, acabando em uníssono, a pedir perdão a César, implorando que os levasse a África.

   Este anuiu perdoando-lhes a leviandade e afirmando, entre aclamações delirantes, que lhes daria tudo o que prometera e que compraria, com o seu dinheiro, as terras necessárias se as do Estado não fossem suficientes.

   Assim terminou a insurreição.

Júlio César

Créditos: História da República Romana, de Oliveira Martins

Peniche, 12 de Novembro de 2022

António Barreto