Desporto

domingo, 30 de dezembro de 2018

Ascensão de Salazar (Os Anos de Salazar, Volume 1, notas 1)



 
Do Acto Colonial:

   …Criava-se o estatuto de direitos e deveres dos “indígenas”, que incluía a proibição do “trabalho obrigatório”, e eram reconhecidos direitos às missões católicas portuguesas.

Do Estado:

   …Deve o Estado ser tão forte que não precise de ser violento….O regime será autoritário e presidencial.

   A fonte de soberania não é o “cidadão”, mas a “célula social irredutível” que é a família, “núcleo originário da freguesia, do município”. Seguem-se as corporações, que representam “interesses legítimos a integrar nos da coletividade”.

   Rejeita-se a democracia, que foi operando o “nivelamento em baixo, contra o facto das desigualdades naturais, contra a legítima e necessária hierarquia dos valores numa sociedade bem ordenada”.

Da influência religiosa de Salazar:

   Na encíclica Diuturnum do Papa Leão XIII, refutava-se a ideia de que a legitimidade do poder civil e político proviesse do povo. Rejeitava-se o Contrato Social de Rousseau e afirmava-se a necessidade de um chefe para cada grupo de homens.

   A encíclica Libertas declara que a liberdade de expressão e de imprensa não constituem um direito.

   Já a encíclica Sapientiae Christianae defendia o amor extremoso dos cristãos à terra que os viu nascer e crescer, prontos a defendê-la, e o dever de militância política, “disciplinados” ao papa e aos bispos. ..A igreja não segue partidos políticos, mas aprova qualquer sistema de governo, desde que respeite a religião e a moral cristã.

   Na  Rerum Novarum  a igreja insurgiu-se contra o socialismo e o comunismo, contra a luta de classes e do recurso à greve, defendendo a reconciliação entre patrões e empregados nas corporações servindo e Estado de moderador.

   A Inimica Vis condena expressamente a maçonaria.

   A Graves de Communi estabelece os princípios da Democracia cristã, consistindo no reconhecimento do direito de propriedade, na independência das formas de governo, alheamento dos partidos, conciliação entre as classes sociais como uma só família, obediência às ordens justas das autoridades condicionada à conformação destas às leis de Deus. Incentivava-se à beneficência, à previdência, e acção social que levasse a democracia cristã até ao povo.

   No Centro Académico da Democracia Cristã confraternizou com vários católicos notáveis, Mendes dos Remédios, Marnoco e Sousa, Sobral Cid e o jovem minhoto Manuel Gonçalves Cerejeira.

Da influência pagã:

   Charles Maurras, reacionário, na sua Action Francaise defendia o catolicismo enquanto instrumento político - independentemente da Fé - a monarquia antiliberal, a censura e a prevalência do Estado sobre todos os outros interesses.

   Salazar conclui o curso geral do liceu, primeira secção, em 1909, com 19 valores. Em 1914, aos 25 anos, o Conselho da Faculdade de Direito atribui-lhe a classificação final de 19 valores. Em 1916 candidata-se à docência na Universidade de Coimbra na área de Ciências económicas com um estudo intitulado “A Questão Cerealífera. O Trigo”. Em 1917 candidata-se a assistente na Faculdade de Direito e conclui uma dissertação com o título “O Ágio do Ouro, sua natureza e suas causas (1891-1915)” em que analisa a balança de pagamentos e as oscilações cambiais em Portugal, no período indicado.

   Em 1912, Salazar tem uma curiosa intervenção na sua primeira palestra em público na qual, citando Alexandre Herculano, defende a liberdade de pensamento e expressão, a importância da moral e da educação na questão social, o envolvimento útil dos cristãos na sociedade, critica o regime acusando-o de antidemocrático por ser anti-cristão, rematando com uma citação de Afonso Pena onde exprime o seu sentido da vida em “Deus, Pátria, Liberdade, Família”.

   Em 1921, contra sua vontade, Salazar, escolhido pelo Centro Católico Português, é eleito deputado por Guimarães, despedindo-se, logo na primeira sessão, de José Maria Braga da Cruz.

   Nas vésperas do 28 de Maio, em 1925, sucedem mais duas tentativas de golpe militar; uma liderada pelo general Sinel de Cordes, a seguinte, pelo comandante Mendes Cabeçadas.

   Então temos um Salazar ”marrão”; trabalhador, disciplinado, católico, corajoso e ambicioso, que, grato pelo apoio eclesiástico, confundiu catolicismo com cristianismo e declinou o seu conceito de liberdade para um confortável autoritarismo anticristão, subjugado à obsessão da ordem  e disciplina; uma espécie de efeito simétrico face à insanidade da entropia republicana que se vivia na época.

Créditos a António Simões do Paço

Peniche, 29 de Dezembro de 2018

António J. R. Barreto

domingo, 23 de dezembro de 2018

Adoração dos Reis Magos

 
 
 
 
Adoração dos Reis Magos, 1619
 
Diego Velasquez

Coletes Amareles



   A manifestação dos “coletes amarelos em Portugal, para alívio do Presidente da República, Governo e partidos políticos, não teve grande impacto social, tendo sido até considerada, por alguns, um fiasco. Ignorar as causas desta manifestação seria persistir no isolamento da classe política face aos destinatários da sua ação, a população, adiando a inevitável rutura.

   Antes de mais este protesto emergiu por efeito de contágio do que tem ocorrido em França, com grande impacto político e económico no país, mas também na comunidade internacional, sobretudo no seio da União Europeia. A França atravessa uma crise social profunda resultante da conjugação do fenómeno, conjuntural, da imigração, e das consequências, estruturais, da crescente exigência de produtividade. A primeira lançou o caos na população, decorrente dos horrores dos atos de terrorismo islâmico de que tem sido vítima e da complacência das autoridades perante os seus autores. A segunda, provoca fenómenos de exclusão social através do exigente processo de rastreio de profissionais e empresas - a certificação -, de que resulta um crescente “exército” de excluídos dependentes da solidariedade pública.

   Em ambos os casos conclui-se que grande parte da população não se sente representada na matriz política atual dos respetivos regimes. Significa isto, que as dinâmicas partidárias foram perdendo o contacto com as bases, cristalizando-se em torno das correspondentes estruturas, estas, mais preocupadas com a o controlo do poder interno. No caso português, tal como referem José António Saraiva e Vicente Jorge Silva - no seu diálogo aqui anotado - o sistema partidário padece do pecado original que consistiu na importação de modelos externos em vez de emergir da realidade social do país. Isto mesmo pode ser confirmado hoje em dia pelas frequentes alusões à necessidade de mudar os portugueses; não apenas em termos culturais, mas também, literalmente.

   Os comentários de protagonistas e comentadores, com destaque para o Presidente da República, revelam que esta manifestação foi vista pela generalidade da comunidade política como uma espécie de plebiscito ao regime. Precipitadamente, concluíram que a fraca adesão significa que a grande maioria da população considera o regime apropriado e um baixo nível de insatisfação geral. No entanto, se tivermos em conta os sucessivos avisos - ameaças veladas de várias entidades - aos potenciais manifestantes, a dimensão do dispositivo policial convocado para o evento e as posteriores declarações de alívio, revela má consciência e medo. No fundo, sabem que a população tem razões de queixa.

   Aquele medo resulta da possibilidade de contaminação da decadência a que os partidos convencionais - do arco do poder - têm sido submetidos nas democracias ocidentais. Mas não só. Em pânico ficaram os partidos de protesto e respetivas centrais sindicais ao verem por mãos alheias uma prerrogativa - poder da rua - que julgavam exclusivamente sua - por direito revolucionário.

   A leitura a fazer, indesmentível, é que, os tradicionais partidos de protesto centram a sua ação, exclusivamente, na defesa dos interesses das corporações estatais induzindo o agravamento da carga fiscal à sociedade civil que, no fundo, abominam. Em consequência, os Coletes Amarelos são a manifestação deste abandono, duma lacuna que nasceu com a democracia e se tem alargado e aprofundado ao longo destes 44 anos, sem que se vislumbrem vestígios de regeneração (veja-se os recentes casos de sucessivas irregularidades cometidas, prepotentemente, pelos deputados e validados pela segunda figura do regime).

   Porém, apesar da fraca adesão, nada ficará como antes; os promotores da manifestação, tendo agido à margem dos partidos, tiveram a capacidade de organizar um evento de dimensão nacional, enquadrando-o adequadamente no domínio da segurança e prevenindo oportunismos extremistas.

  Nenhum governo deixará de ter em conta esta nova realidade na prossecução das suas políticas. Quanto aos partidos, necessariamente terão que rever o seu modelo de funcionamento sob pena de se tornarem irrelevantes e serem ultrapassados, como já aconteceu noutras paragens. Um tal cenário ocorrerá como consequência do extremismo economicista da União Europeia e da política de imigração em curso, decidida à revelia das populações, que ameaça a segurança destas e a sua própria cultura.

   A histórica solidariedade europeia para com os refugiados de guerra afro-asiáticos e o interesse na recuperação do défice demográfico europeu, estão contaminados por velhos e persistentes ressentimentos republicanos anticlericais internos e por estratégias, mais vastas, de combate ao capitalismo europeu por parte dos seus concorrentes além Atlântico e além dos Urais.

Peniche, 22 de Dezembro de 2018
António J. R. Barreto

O 25 de Abril Visto da História (notas, P15)

O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
 
Estas eleições surgem-nos como o encerramento legal do processo que se iniciou a 25 de Abril. A 27 de Junho fica reconstruída a legalidade…..(JAS)

   A legitimidade da legalidade coloca-se quando os poderes dominantes controlam o poder legislativo distorcendo a soberania popular em benefício próprio. (AB)

…A candidatura de Otelo representa ainda um terceiro projeto, diferente dos outros dois. Diferente em relação ao de Eanes, na medida em que não assenta em mecanismos de tipo representativo, segundo o modelo ocidental; diferente em relação ao de Pato, na medida em que não parte do pressuposto da necessidade prévia de conquistar o Estado por cima, antes insiste na necessidade de organizar em baixo, à margem do Estado, sem os olhos postos, à partida, na conquista do seu aparelho. Por isso, o projeto dos GDUP’s (e só falo do projeto) é precisamente isso: um antipartido…….a unidade de forças que se tornou possível com a candidatura de Otelo pulverizar-se-ia de imediato: a UDP para um lado, o MES para outro e a FSP para outro ainda – e assim por diante. (JAS)

   O modelo ocidental, que acabou, felizmente, por vingar com a vitória do General Ramalho Eanes, parece estar hoje numa crise de identidade indutora dum clima de total insegurança na população. O modelo de Pato continua em perigosa marcha com a tomada do aparelho estatal pelo PCP. Quanto à “democracia popular” de Otelo, uma utopia que o lançaria na criminosa aventura das FP25, tem hoje continuidade no BE, perigosamente próximo do poder. Por tudo isto, em 2018, vai ganhando corpo o sentimento geral de que as “democracias ocidentais” podem deixar de o ser a breve trecho. (AB)

….A lógica partidária, como decorrente que é dum certo tipo de relações e da Civilização que sobre elas se construiu, cairá inevitavelmente no momento em que a civilização burguesa for posta em causa nas suas próprias estruturas. (JAS)
 Foto: Praia das Figueira da Foz.
Peniche, 22 de Dezembro de 2018
António J. R. Barreto

domingo, 9 de dezembro de 2018

O 25 de Abril visto da História (notas, P14)


 O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
 
 
…O primeiro dirigente político português a sugerir - indiretamente embora – a fórmula da “maioria de esquerda”, não foi Álvaro Cunhal, foi Mário Soares numa mesa-redonda na TV, depois de conhecidos os resultados das eleições de Abril de 1975. Demarcando-se com nitidez do PPD - que, no entanto, ultrapassa largamente o Partido Comunista em termos eleitorais -, Mário Soares preferiu colocar a tónica no peso maioritário da esquerda (facto que, aliás, se viria a refletir no conteúdo do texto constitucional, elaborado essencialmente com base na conjugação PS-PSD na Assembleia) …(VJS)
 

    Velhas cumplicidades dos tempos de Argel e da Frente Patriótica de Libertação Nacional. O resultado traduziu-se no PREC, na destruição do tecido económico e do capital, de que o país ainda padece. António Costa, “acossado” pela inesperada derrota eleitoral em 2015, recuperou este modelo reeditando o PREC em versão atualizada, optando pela satisfação das suas clientelas graças à inversão do ciclo económico e ao agravamento do endividamento e da carga fiscal, em vez de preparar o país para a inevitável crise futura. (AB)

….A posição de Melo Antunes a respeito do PCP, na sequência do 25 de Novembro, terá muito pouco - ou rigorosamente nada - que ver com a posição de Eanes sobre o mesmo assunto. Para Melo Antunes importava “recuperar” o PCP depois de lhe ter sido provada, em definitivo, a impossibilidade de levar por diante a sua tática golpista. Para Eanes - como para outros elementos militares - o que interessava era a marginalização do PCP….(VJS)

   Melo Antunes, comunista desde a juventude e principal mentor ideológico da insurreição de Abril e da desastrosa descolonização, detendo, à época, preponderância política, junto do “Grupo dos nove”, tratou de “salvar a pele” aos instigadores dos insurretos de Novembro - parte deles integrando atualmente o Bloco de Esquerda, nomeadamente a UDP nova designação dos dissidentes de 1964 do PCP, constituindo então a FAR, defensora da intervenção armada, a que aquele partido se opôs, e que em 75 concretizaram saindo derrotados - opondo-se à sua ilegalização. Quanto a Eanes, sendo, segundo VJS, pela marginalização do PCP - mas considerado por muitos como simpatizante deste partido, motivo do apoio do PSD ao General Soares Carneiro para as presidenciais em detrimento de Eanes a quem tinham apoiado anteriormente -, terá acabado por anuir à sua integração, eventualmente cedendo à tendência maioritária do Grupo dos nove.

…promulgada a nova constituição (elaborada num período em que a relação de forças ao nível do Poder pende claramente para o lado da esquerda, o que teria naturalmente reflexos no texto constitucional) passa a dar-se o contrário: o cumprimento da lei passa a ser uma reivindicação da esquerda (Vê-se o próprio deputado da UDP a exigir o cumprimento da lei…). …..Eanes, aparecendo como o homem (incorruptível) que faz cumprir a lei, torna-se naturalmente um aliado possível da esquerda (e em particular do PS, o partido mais responsável pela feitura da constituição)… (JAS)

   Talvez seja esta a razão de alguns atribuírem a Ramalho Eanes excessiva simpatia pela esquerda; PS e PCP. (AB)

….Para Eanes não existem classes com interesses distintos nem contradições no corpo social: existem, sim, a Nação, o País, a Salvação ou a Reconstrução Nacional.

    Por isso continua a ser respeitado pela generalidade dos portugueses e considerado o melhor Presidente da III República. A lealdade, a probidade e o espírito de missão são características irreconhecíveis no atual panorama político. O oportunismo, o nepotismo, a demagogia, a mentira descarada, fazem parte do dia-a-dia; uma espécie de novo tribalismo caracteriza o comportamento dos diretórios partidários, seus militantes e correligionários. O debate leal de ideias é a utopia das democracias. Estas transformaram-se numa caricatura de si próprias. Sem o “tempero” cultural adequado não há democracia. E esse “tempero”, para mim, são os valores cristãos, que, desde a Revolução francesa de 1789 têm vindo a ser substituídos, na Europa - em Portugal, a partir de 1934 -, pela doutrina maçónica. (AB)
Foto: Porto Novo

Peniche 10 de Dezembro de 2018
António J. R. Barreto

Aquecimento Global; a nova arma socialista

 Al Gore, baseado nos trabalhos de Michael Mann, Raymond Bradley e Malcom Hughes, realizados em 1999, na universidade de Columbia - de que resultou o famoso gráfico designado por hockey stick - assume tacitamente uma relação linear entre a concentração de CO2 e a temperatura global. Na verdade esta relação é logarítmica - com efeito marginal decrescente; o efeito térmico de um certo diferencial é menor que o efeito do mesmo diferencial que o precedeu. Por outro lado, as suas projeções da evolução da concentração de CO2 - 620 ppm em 2050 -, estão muito longe de vir a verificar-se.

Desde 1977 que os teores de CO2 têm vindo a aumentar à razão de 1,5 ppm/ano, ou seja; se a média dos últimos 30 anos se mantiver, por 2050, a concentração de CO2 será de 446 ppm, tendo sido , em 1987, de de 348 ppm, muito longe do que preconiza Al Gore. O hockey stick, de Mann, que serviu de base às recomendações do IPCC, foi elaborado com base num modelo matemático que Stephen McIntyre e Ross McKitrick, num trabalho publicado em 2003 na revista Energy and Environment, e, em 2005, na Geophysical Research Letters, demonstraram estar errado e ainda, que o ano mais quente do século XX terá sido o de 1934 e não o de 1978 como se pensava então. Gore, a partir de análises próxy aos 650 mil anos antecedentes da era pré-industrial, afirma que as concentrações de CO2 foram sempre inferiores às atuais - cerca de 380 ppm -, mas, segundo as análises próxy de Wagner at al - à densidade dos póros das folhas de bétula na Holanda -, estimou-se que, por exemplo, no período do Holoceno, durante séculos, as concentrações de CO2 ultrapassaram os 300 ppm, chegando a atingir os 348 ppm - idêntica à concentração medida em 1987. Noutros períodos mais recentes, ter-se-ão registado valores do mesmo tipo.

Por outro lado, Gore, baseado no mesmo gráfico, procura induzir a ideia da relação de causalidade entre a concentração de CO2 e a temperatura global. Na realidade sucedeu o contrário; as variações de temperatura global precederam, de centenas de milhares de anos, as variações dos teores do CO2 segundo trabalhos de H.Fisher, M.Wahlen, J. Smith, D. Mastroianni e B. Deck; quando muito, as variações de CO2 tiveram um efeito amplificador nas variações térmicas em curso. O aumento do teor do CO2 referido deve-se ao aquecimento dos oceanos ao libertarem parte do CO2 dissolvido para a atmosfera. Em suma; o teor de CO2 tem aumentado à razão de 1 ppm/ano e tem um efeito marginal no aquecimento global - por exemplo; o aumento do teor de CO2 de 100 ppm provoca um efeito de aquecimento da ordem dos 2 W/m2; no passado pré-industrial verificaram-se teores de CO2 próximos dos atuais e temperaturas globais mais altas que as atuais.

A evolução térmica média entre 1977 e 2006 foi de 0,17 ºC/década, sendo que, nos ultimos 20 anos, não se tem verificado variação assinalável - na verdade tem-se verificado ligeiro declínio, conforme medição por satélite - iniciada em 1978. O IPCC tem, ostensivamente, ignorado os trabalhos científicos contrários às teses de Mann e consta que proibiu a análise de trabalhos publicados a partir de 2005. A minha convicção, fundamentada nas análises de; John Casey, Luis Carlos Molion, Rui Moura, Jorge Oliveira, Bjorn Lomborg, Marlo Lewis Jr, Stephen McIntyre, e outros, é que a teoria do Aquecimento Global é uma fraude, cuja finalidade é eminentemente política e multifacetada. Esgotadas as teses marxistas, os seus defensores, abraçaram a causa do ambiente como instrumento de combate ao capitalismo, em particular, o americano.

Por outro lado, é uma nova forma de colonialismo na medida em que condiciona o desenvolvimento dos países pobres deixando-os dependentes dos países tecnológicos, em especial, os do norte da Europa. Finalmente, a consequente pressão para a redução de produção de recursos alimentares e outros bens - pescas, agricultura e processados -, quanto a mim, tem como finalidade, forçar pela fome a regressão demográfica, cuja prodigiosa expansão no século XX se deveu à Revolução Industrial e ao Capitalismo, ao proporcionar o aumento da produção alimentar em 8 vezes contra o aumento de 6 vezes da população mundial - de cerca de 1 bilião no início do século e para 6 biliões do final. Finalmente; o Acordo de Paris preconiza medidas para a limitação do aumento térmico a 1,5 ºC em 2050. Este processo está em marcha em Portugal e está a dizimar a nossa produção agroalimentar que, nos próximos anos, ficará reduzida à marginalidade. Uma nota final; exerço uma atividade relacionada com este tema. Consultei; "A Ficção Científica de Al Gore" de Marlo Lewis Jr e "Calma" de Bjorn Lomborg.
 
Peniche, 09 de Dezembro de 2018
António J.R..Barreto

domingo, 2 de dezembro de 2018

O 25 de Abril Visto da História (notas P13)


O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
 
 
….O 25 de Novembro, a meu ver, foi assim a ação desesperada de um punhado de oficiais empurrados para ela por dois “poderes”: de um lado, a “parte sã” do Exército – assumindo finalmente a sua coesão e isolando o “corpo estranho”, a “parte estragada”; do outro, o PCP – que lhes retira o apoio quando verifica que a sua própria situação se começa a tornar difícil e entra em “recuo tático”…(JAS)

 

   Diga-se, em abono da verdade que o PCP rejeitou, desde o início, ao recurso à via armada para combater o Estado Novo, tendo optado pela guerra de subversão. Tal provocou a cisão do partido com a criação da FAP cujos membros defendiam a intervenção armada. Quando, em 1963, MNI, PCP, MAR e ARS, constituíram a Frente Patriótica de Libertação Nacional liderada por Humberto Delgado, que, por divergência de métodos estratégico e orgânico,  a abandonou, fundando a Frente Portuguesa de Libertação Nacional com a qual pretendia desencadear uma intervenção armada em Portugal (após a “vitória moral” nas eleições de 1958, Humberto Delgado, considerava-se o líder incontestável da oposição, defendendo a luta armada contra o regime de Salazar, causas da dissidência com os restantes membros da FPLN). Quanto ao 25 de Novembro pensava eu que o PCP tinha sido o instigador da insurreição. JAS acha que não; perante os danos políticos provocados pela entropia que estava a induzir nas Forças Armadas o PCP “abandonou” taticamente os seus correligionários, os quais, em desespero de causa, quais párias, tentaram dar o salto em frente iniciando um golpe de Estado do qual saíram derrotados. (AB)

MNI: Movimento Nacional Independente (de Humberto Delgado)

MAR: Movimento de Acção Revolucionária (de Lopes Cardoso e Ramos Costa)

ARS: Acção Republicana e Socialista (de Mário Soares)

FAP, Frente de acção Popular (de João Pulido Valente) atual UDP: União Democrática Popular (de Mário Durval e João Pulido Valente)

…Na verdade, o 25 de Novembro significa, no plano político, a reconstituição do bloco cujas primeiras linhas de clivagem se dão a 28 de Setembro - daí que haja quem fale de um regresso ao “espírito do 25 de Abril”, isto é, de um regresso ao antes do 28 de Setembro….(JAS)

Percebe-se a ideia e, em parte, será verdade, no entanto, hoje, 43 anos depois, na Assembleia da República, celebra-se o 25 de Abril e não o 25 de novembro “para não ferir suscetibilidades”, o que quererá dizer que, de então para cá, de certo modo, terá havido um retrocesso ao 28 de Setembro; os derrotados de Novembro regressaram em 2015, e isso tem um significado nada lisonjeiro para o tipo de democracia que se constituiu. (AB)
 
Praia de Buarcos: autor desconhecido
 
Peniche, 2 de Dezembro de 2018
António J. R Barreto

domingo, 25 de novembro de 2018

Momento do Benfica V: O carrossel financeiro


 
Vale e Azevedo deixou o Benfica sem dinheiro, mas com um passivo marginal - da ordem dos dois milhões de contos (10 milhões de euros) - e com projetos: a constituição da SAD - com 20 milhões de contos (100 milhões de euros) -, a recuperação do estádio antigo - projeto de Tomaz Taveira cujo custo estava orçamentado em 4 milhões de contos (50 milhões de euros) -, o complexo do Seixal - adquirido à Euroárea por 1 milhão de contos ( 5 milhões de euros) - e um contencioso jurídico contra a Olivedesportos, com grandes possibilidades de êxito.
 
   A estratégia de Filipe Vieira de construção de novas infraestruturas teve como contrapartida um endividamento "estratosférico" e a perda da capacidade competitiva do "core business" do clube; o futebol da sua equipa sénior A. Primeiro pela necessidade de canalizar recursos para as obras, depois, pelos elevados encargos do financiamento e esforço de amortização do capital.
 
   Face a esta contingência, a Direção de Filipe Vieira, criou um fundo de investimento que permitiu ao clube - SAD - aceder, no mercado, a jogadores de elevado potencial e a mantê-los na equipa durante dois ou três anos, gerindo a venda ou recompra de direitos económicos de jogadores ao fundo, conforme as circunstâncias. Esta fórmula possibilitava a continuidade do núcleo da equipa, e, consequentemente, a ascensão da capacidade competitiva. Controladamente, ressarciam-se os investidores e o clube dispunha de almofada financeira para responder às necessidades de tesouraria.
 
   Por decisão da FIFA, estes fundos foram proibidos a partir de 1 de Maio de 2015, com justificação na suspeita de que estariam a ser usados para lavagem de dinheiro. Um "murro no estômago" que ia levando o Benfica ao "tapete". Foi então que se deu o primeiro "milagre" do projeto da formação; vários dos talentos emergentes foram colocados no mercado europeu por generosas verbas - qual terá sido a intervenção de Jorge Mendes no caso? Bernardo Silva, João Cancelo, Ivan Cavaleiro, Hélder Costa e mais um ou dois que não recordo, proporcionaram ao clube (SAD) os ingressos financeiros necessários à resolução do fundo sem recurso ao endividamento bancário. "Just in Time"!
 
   Pessoalmente, acredito que a motivação da FIFA tenha sido outra; a de proteger da concorrência os grandes clubes, garantindo-lhes acesso facilitado aos melhores jogadores, à competitividade desportiva e a maior fatia do bolo financeiro da indústria do futebol. Nunca me constou que, quer a FIFA ou mesmo a UEFA, tivessem qualquer tipo de escrúpulos quanto à origem do dinheiro que as financia. Os exemplos são bastos.
 
   Avisadamente, dada a turbulência do sistema bancário, geralmente inamistoso para o Benfica e generoso para os seus rivais -  os dirigentes encarnados, paulatinamente, trataram de  dispersar o financiamento do clube (SAD), recorrendo a sucessivos empréstimos obrigacionistas, realizados sempre com grande sucesso em rotação de capital e com encargos sucessivamente decrescentes, que se mantém.
 
   Na época transata, com o campeonato já a pender para Norte, a Direção do Benfica acordou a antecipação da receita de três anos - salvo o erro -, com que liquidou cerca de cem milhões de euros de passivo bancário, recorrendo ao serviço de factoring que custou cerca de 16 milhões de euros - precisamente o valor remanescente do passivo bancário.  
 
   A justificação foi a da redução do serviço anual da dívida antecipando a amortização do respetivo capital. Francamente, tenho a convicção que foi mais do interesse dos bancos, uma vez que, se o Benfica poupa cerca de 16 milhões de euros por ano em juros, priva-se da receita de 40 milhões durante três anos. Ora, tal implica, perda de capacidade competitiva. Como é que isso pode ser do interesse do Benfica? Mas é verdade que proporciona algum conforto aos adeptos. Porém, não deixa de ser estranho que, tendo obtido uma receita recorde de 240 milhões de euros na venda de jogadores, tenha sido necessário recorrer à antecipação de receita para efetuar a operação referida. Provavelmente os ganhos líquidos do clube terão sido bem menores e parte deles terão sido alocados à despesa corrente. Tal significa que o modelo económico de então não tem viabilidade para a consecução do Benfica campeão europeu. E é esta a fundamentação da indiscutibilidade da opção pela formação. E, já agora, a justificação da opção Rui Vitória; o suposto "mago" da formação. Sucede porém que, sem uma equipa competitiva, o projeto da formação é inviável. E tal requer competências que Rui Vitória não demonstra possuir.
 
   O custo desportivo desta operação foi a perda de mais um campeonato. Tal terá sido também do interesse dos sindicato bancários - minha convicção - habitualmente hostis para com o Benfica, desde os tempos de Vale e Azevedo.
 
   Ultrapassado mais este obstáculo, com o Benfica livre dos bancos e a formação a debitar fornadas de jogadores valiosos, surgem os casos dos "vouchers", dos "e-mails", e das "toupeiras", supostamente induzidos, em desespero de causa, pelos rivais, restaurando uma velha e iníqua aliança denunciada em tempos pelo senhor João Rocha. Os objetivos são claros; redução da capacidade competitiva da equipa pela indução de instabilidade geral no clube (SAD), manchar a sua reputação associando-o a corruptela e, mais grave, desacreditar o clube junto do mercado obrigacionista cerceando-lhe o financiamento.
 
   Este é momento de, mais uma vez, recordar que a perda de Vale e Azevedo iniciou-se com o congelamento das contas bancárias do clube pelos mesmos bancos que têm derramado dinheiro sobre os rivais e que no ano passado parece terem exigido a amortização de capital ao Benfica, que o fez perder mais um campeonato.
 
   Claro que os processos que correm na justiça contra pessoas com ligações ao Benfica - minha convicção - vão arrastar-se durante toda a época fazendo pairar um permanente suspense sobre o seu desfecho até que o campeonato em curso esteja, finalmente, decidido em conformidade com os desígnios da "radiosa" democracia de abril. Muitos são os indícios de promiscuidade na Justiça, com sucessivos casos  de transparência duvidosa. Há adeptos de clubes, cuja militância não conhece fronteiras, independentemente, das funções e cargos que ocupem. São aqueles cujos clubes se constituíram em frente política das elites onde estão inseridos. Refiro-me ao Porto, sim.
 
  
   Se nem os organismos desportivos, nem a tutela governamental, nem a Justiça, são imunes à natureza política de alguns clubes de futebol, é tempo de o Benfica usar, com inteligência, a força dos seus adeptos, lavando-os a votar em conformidade com os projetos para o desporto, dos candidatos políticos.
 
   Filipe Vieira não o sabe fazer.
 
Foto: Falésias de Porto Novo
 
Peniche, 25 de Novembro de 2018
António J R. Barreto

O 25 de Abril visto da História (notas, P12)



O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
 
…os processos conspirativos de tomada do poder ou a atividade política como atividade conspirativa como atividade política dominante são característicos de países em que o peso do Estado é preponderante face à debilidade da sociedade civil. (VJS)

   Quarenta e quatro anos depois do fim da “longa noite fascista” o Estado foi tomado pelos Partidos, que mantêm a sociedade civil em estado “vegetativo”, esta, subsistindo perante a voracidade fiscal e patrimonial dos novos “senhores” - herdeiros dos velhos privilégios da extinta nobreza e do esclerosado clero. (AB)

…Em segundo lugar, temos a natureza tipicamente pequeno-burguesa do Movimento dos Capitães, que o expôs, necessariamente, às mais diversas e contraditórias flutuações, culminando, por fim, na desintegração do MFA…(VJS)

   O MFA refletia as contradições da sociedade civil, de onde, afinal, provinham os seus membros. Por essa altura, uma sociedade “partida ao meio”, correspondendo quase completamente a duas zonas geográficas distintas, com duas histórias de povoamento distintas e com padrões económicos distintos. Até hoje, o 25 de Abril deixou um país fraturado, economicamente indigente. (AB)

…Disso se apercebe claramente o PS, ao tomar a dianteira da ofensiva contra o gonçalvismo e ao capitalizar em proveito próprio toda essa vaga imensa de frustrações explosivamente acumuladas…(VJS)

Pensava-se então que o socialismo do PS não tinha correspondência com a doutrina marxista, muito menos com o modelo leninista que o PCP estava a levar ao terreno, numa vaga de terror de sentido contrário ao “fascismo” antecedente. A realidade de hoje confirma tese de muitos de então - como Rui Mateus -, segundo a qual, estaria em causa, não o marxismo-leninismo do PCP, mas a liderança do processo. E o gradualismo reformista  do mesmo, digo eu; para não assustar os eleitores. (AB)

….A estrutura hierárquica do partido corresponde organicamente à estrutura hierárquica do exército: daí à osmose vai um passo. E daí que seja uma explicação moralista primária o dizer-se que certos oficiais, bem conhecidos pelas funções destacadas que desempenharam no decurso da guerra colonial, se converteram por mero oportunismo em instrumento do PCP ou da extrema-esquerda. O que acontece é que, face à crise de identidade em que o exército de debate com o fim das guerras coloniais, as únicas alternativas ideológicas que então se apresentam para preencher o vazio são as do PCP e de certa extrema-esquerda. (VJS)

   VJS não refere casos pessoais, mas talvez Costa Gomes tenha sido um desses casos, quanto aos mais conhecidos; Melo Antunes, Rosa Coutinho, Vitor Crespo…,tenho ideia que terão sido opções ideológicas muito anteriores ao 25/04. (AB)
Foto: Marginal Norte
Peniche, 17 de Novembro de 2018
António J.R..Barreto

O 25 de Abril visto da História (notas P 11)



…Esta situação, o 11 de Março, atingiria o seu ponto mais alto. Aí, ao tomar, praticamente sozinho, o controlo da máquina do Estado, o Partido Comunista assinava a sua própria sentença de morte, a médio prazo, como partido de governo…. (JAS)

   Mas ficou a semente. Até hoje. E foi o suficiente para entregarem as províncias ultramarinas à União Soviética.(AB)

…O Partido Socialista começa, diretamente, através do seu secretário-geral Mário Soares, por desempenhar um papel preponderante na descolonização, é depois ultrapassado e acaba – claramente já marginalizado – a condenar de modo explícito a forma como decorria a evolução dos acontecimentos em Angola e a posição da parte portuguesa….(JAS)

   Pelos vistos estava errado ao considerar que o Partido Socialista e Mário Soares dominaram o processo da descolonização. (AB)

…Recorde-se que, é em torno de África, a propósito do ultimato inglês, que a propaganda republicana mobiliza a opinião pública contra a Monarquia e o Partido Republicano ganha expressão nacional….(JAS)

   Uma ironia, perante a invocada herança republicana dos atuais socialistas; o conceito de integridade do território mudou. E o povo, preocupado em sobreviver, aceita o que lhe “dão”. (AB)

…Costa Gomes foi secretário de Estado de Salazar – posto de que foi demitido pelo seu envolvimento na conspiração abortada de Botelho Moniz -, foi comandante-chefe das Forças Armadas em Angola; foi Chefe de Estado Maior das Forças Armadas ao tempo de Caetano; foi demitido do cargo pouco antes do 25 de Abril e recuperou-o após o 25 de Abril; foi Presidente da República, sucedendo a Spínola….(JAS)

   É obra!, consta que foi preponderante no desfecho do 25/11/2018. (AB)

….É impossível pensar, por exemplo, que a URSS se tenha disposto a intervir de modo tão claro em Angola sem dispor de garantias antecipadas de que os Estados Unidos não se iriam opor frontalmente a essa intervenção….(JAS)

    Em plena Guerra Fria, aquelas duas potências repartiram o mundo conforme os seus interesses. Estava em causa o acesso direto aos recursos dos territórios administrados por Portugal. Mais que os direitos humanos ou o direito dos povos à autodeterminação. A prova disso é a atual olímpica indiferença da comunidade internacional perante as oligarquias instaladas nesses países e o estado de profunda miséria em que os respetivos povos vivem. (AB)

…Spínola não esconde a sua exasperação progressiva, o seu desespero, a sua impotência, traduzido num discurso cujas conotações fascistas (nomeadamente no Alfeite e em Tancos) são cada vez mais claras. Ao mesmo tempo que assina o reconhecimento do direito à independência dos povos colonizados, Spínola evoca as “sagradas parcelas” do “nosso ultramar” e transfere para a “Mãe-Pátria” as razões de ser da luta desencadeada pelo Exército português contra os povos das colónias: “Responderemos com a guerra aos que nos quiserem fazer a guerra”.

   Spínola, derrotado na Guiné na sequência da perda da supremacia aérea para o PAIGC – graças ao apoio militar da URSS e de Cuba -, perante a intransigência de Marcelo na recusa de entabular negociações com o inimigo, deixou-se perder pela sua vaidade e contradições, aceitando o penacho da presidência acreditando, ingenuamente, que os restantes protagonistas do golpe de estado aceitariam a sua liderança na condução das negociações com os movimentos de libertação. Melo Antunes e Otelo, irresponsavelmente ou premeditadamente, assumiram, perante os negociadores africanos, por parte do Estado português, responsabilidades para as quais não tinham mandato. (AB)
Foto: Peniche, Porto de Pesca
Peniche, 16 de Novembro de 2018
António J. R. Barreto

sábado, 17 de novembro de 2018

O 25 de Abril visto da História (notas, P10)

 O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais

…Ora São Francisco de Assis fez igualmente a sua opção de classe – pelos pobrezinhos. Só que ele, ao fazê-la, fê-lo abdicando dos seus privilégios – o que não sucede com muitos destes militantes que, não contentes em preservar os seus privilégios de natureza social e económica, pretendem ainda alarga-los a privilégios de natureza ideológica, fazendo-se a si próprios “condutores da classe operária”. (JAS)

   Tudo resumido, já se percebeu que a ânsia de justiça social e económica, não passa em muitos casos - para não dizer todos -, de um veículo de desbravamento dos caminhos do poder; a velha compulsão primordial das sociedades humanas. (AB)

A Descolonização e os jogos do poder:

….Nascido em 1921, o PCP não conseguiria entretanto até 1926 expressão nacional significativa. Ilegalizado pouco tempo depois, o PCP vai, por isso, ser um partido que se estrutura quase inteiramente na clandestinidade. Isto conduz imediatamente a que a “osmose” entre o partido e o corpo da sociedade portuguesa seja escasso….(JAS)

O que ainda hoje, em democracia, se verifica e contrasta com o poder de facto que detém através dos sindicatos da administração pública que lhe permitem manter sequestrada a sociedade civil. Um preço demasiado elevado da liberdade política incondicional. (AB)

...A URSS passa a funcionar para o PC Português como Roma para os católicos. (JSA

   Com a particularidade de a URSS prover generosamente ao seu financiamento – segundo li por aí da ordem dos 10 milhões de dólares por ano. Isto põe em causa o autoproclamado patriotismo do PCP. Ao obedecer às diretivas comunistas para Portugal, o PCP não tinha em conta os interesses nem dos operários nem dos camponeses, antes, servia-se deles pm nome da difusão do imperialismo soviético. (AB)

…Repare-se aliás - a mero título de curiosidade – que a viragem política em Portugal só começaria verdadeiramente uma vez praticamente resolvida, a favor do MPLA, a resolução da questão angolana….(JAS)

   Fui-me apercebendo desta versão, há não muito tempo, há medida que fui diversificando as leituras sobre os acontecimentos político-militares da época. De facto, se o PCP detinha o controlo avassalador da maioria das forças militares, o recuo de Cunhal, na “hora da verdade”, quando confrontado por Costa Gomes, é surpreendente. Ou estaria a contar com diferente desfecho. O certo é que Otelo hesitou, temendo, talvez, as consequências duma guerra civil, deixando sem ordens as forças afetas aos comunistas, entre as quais os fuzileiros - força decisiva na insurreição republicana de 1910 -, tendo sido rapidamente neutralizado por Ramalho Eanes. Sabemos também que a abdicação de Cunhal teve a ver com a promessa de integração do PCP na democracia por Melo Antunes - comunista desde os tempos da Academia Militar, onde foi colega de Alpoim Galvão. E sabemos, segundo o testemunho de Zita Seabra que ter-se-á justificado perante os membros do comité central, com um recuo estratégico que permitiria avanços maiores no futuro “um passo atrás para, mais tarde, dar dois passos à frente”. O primeiro passo à frente foi dado com a sua admissão às eleições constituintes e posterior permanência no sistema democrático. O segundo passo parece em curso induzindo a desagregação dos serviços públicos e agravando os conflitos de classe, nomeadamente entre setor público e setor privado. O que é certo é que, Angola e Moçambique, foram entregues de mão beijada aos movimentos guerrilheiros comunistas, através de um ato eleitoral que não passou de uma encenação. (AB)
Foto: Peniche, Marginal de norte
Peniche, 9 de Novembro de 2018
António J R. Barreto

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O Momento do Benfica (IV)

                                                                                   Das Infraestruturas (cont.)

  
  Dois pavilhões e duas piscinas asseguram o ecletismo do clube e a disputa, em geral, os títulos internos. Apesar da persistência e do sucesso interno de algumas modalidades, à exceção do hóquei em patins e do futsal, nenhuma outra se destaca no plano europeu. Não será por falta de instalações. Suponho que seja uma inevitabilidade do tipo orçamental.


   Destaque-se a metódica persistência com que o clube reage às adversidades, nas modalidades ditas amadoras, sempre com o fito na vitória, que nem sempre ocorre. Nunca desiste. Há uma certa nobreza nisto que me agrada.

   O Museu é outra obra emblemática a qual, apesar de muito desejada pelas Direções precedentes, nenhuma delas teve engenho de concretizar. Preservar a memória dos feitos do clube é um fator de agregação de adeptos e simpatizantes e de difusão dos valores daquele.

   Simultaneamente, constitui um permanente gesto de reconhecimento aos que construíram a saga benfiquista. Crédito a Filipe Vieira. E um voto de censura à Câmara Municipal de Lisboa e à sua vereadora Helena Roseta, pelas dificuldades que criaram à concretização do projeto, apesar dos evidentes benefícios dele decorrentes para a Capital. Mais uma vez veio ao de cima a incapacidade de certas entidades públicas ultrapassarem velhos preconceitos contra ao Benfica. Como se estivesse a mais na nova ordem “democrática”.

   Tão importante como o novo Estádio e o complexo do Seixal, foi a Benfica TV. Suponho até que terá sido mais importante.

   Antes de mais foi motivo de união da “nação” benfiquista graças ao pioneirismo interno e ao aprofundamento da interação dos adeptos com o clube e com algumas das suas figuras carismáticas, em especial as antigas glórias.

   A Benfica TV abanou um dos principais pilares do poder portista; a Olivedesportos. Os direitos desportivos, obtidos, segundo creio, de forma fraudulenta, permitiam-lhe atribuir os recursos financeiros correspondentes pelos clubes conforme a adesão destes do à causa azul. Foi nisto que consistiu a democracia no futebol. 

   A recusa de renovação do contrato de cedência dos direitos por parte do Benfica - após doze longos anos de dependência -, fez ruir este processo. Durante uns anitos. Os anos que culminaram no histórico tetra campeonato. E foi a entrega desses mesmos direitos à mesma entidade - por mais dez penosos anos - a causa, quanto a mim, já se vê -, do falhanço do mirífico penta.

   A justificação terá sido o aumento substancial da contrapartida financeira. Quarenta milhões por ano! A contrapartida não financeira foi a perda da independência do clube, a deceção dos adeptos e o fortalecimento dos rivais. Um erro crasso. Uma espécie da hara-quiri. Desnecessário. Imprudente. Um novo operador, a Elevensports, estava à porta, dirigida a um mercado bem mais amplo, com uma oferta persuasiva e disponibilidade bem mais generosa. A cedência à MEO, foi providencial… para a recuperação da Sport TV e…dos rivais. O Benfica é a Santa Casa do futebol nacional e, paradoxalmente, uma espécie de filho bastardo.

   Pacientemente reformulada na sequência das mudanças políticas verificadas em 2015 agregando históricos aliados, a Sport TV, através da MEO - para não escandalizar adeptos - obteve o precioso contributo dos dirigentes do Benfica viabilizando a empreitada. Filipe Vieira fez-lhes a vontade. Sem consultar os adeptos. O penta foi-se. Esta época “vai bem encaminhada”, rumo ao “p’ró ano é que é!”. Um novo e longo ciclo de betão foi já anunciado; uma nova seca de títulos vem a caminho. Erro de cálculo? Ou cálculo errado?

   Errado para uns, certíssimo para outros. Quer no anterior campeonato quer no atual, escandalosamente adornados com o patético VAR, as “anomalias” sucedem-se com tal frequência que se tornaram normalidade. Sejam assistências ridículas de defesas a avançados que resultam em golo fácil, seja ajuizamento escandalosamente errado de lances decisivos - para que serve o VAR? -, seja pela assimetria de sanções a atletas e dirigentes, o campeonato português transformou-se numa orgia, para deleite dos velhos barões da bola que uma justiça esclerosada e cúmplice deixou, injustificadamente, impune, constituindo-se, ela mesma, como a causa primeira do desmoronamento do futebol nacional. E do descrédito do regime político, que nem merece o nome de democracia.

   Se, até 2017, a BTV foi um fator de união dos adeptos, hoje tem o efeito contrário; a crítica ou a dissidência são recusadas insultuosamente ainda que fundamentadas. O messianismo é alimentado continuamente com insuportável retórica laudatória. A BTV de hoje é uma deceção; fechada em si própria é o espelho da Direção, negando a realidade por mais evidente que seja. O terceiro anel caiu com o velho Estádio e com ele, um pedaço do velho Benfica.

Peniche, 15 de Novembro de 2018

António J. R. Barreto

sábado, 10 de novembro de 2018

O momento do Benfica (III)


Das Infraestruturas (cont):

  
O Complexo do Seixal é a segunda obra emblemática do consulado de Filipe Vieira no Benfica. Um tremendo sucesso. Apesar de fugazmente a equipa principal tem beneficiado do contributo direto da formação do Seixal - nalguns casos de forma decisiva Por essa Europa fora, nos muitos torneios em que participam, várias equipas, com destaque para as dos juniores, têm deixado boa imagem do futebol que por cá se pratica. O mesmo sucede com uma “mão cheia” de “jogadores da casa” que “perfumam os relvados dos melhores campeonatos do velho continente depois de terem proporcionado generosas receitas ao clube. Não negligenciável é o contributo direto para o futebol nacional aumentando a oferta de jogadores de qualidade - por vezes amarga para o clube formador - de que os adversários do Benfica tiram partido.

   Vem a propósito recordar que foi o produto da venda dos jogadores da formação - cerca de 95 milhões de euros, salvo o erro - que permitiu ao clube – sem recorrer a financiamento bancário - ressarcir, in extremis, os investidores do Fundo de Investimento - que durante alguns anos permitiu ao Benfica, recrutar e manter nas suas fileiras jogadores de alto nível. Uma malfeitoria imposta pela FIFA sob o pretexto da origem suspeita destes capitais. Na prática, defendendo os interesses dos clubes que mandam no futebol europeu.

   Se tudo isto é verdade - o Benfica tem, hoje, a melhor escola de formação do país e uma das melhores da Europa -, tal não nos impede de vermos “o outro lado”.

   Comecemos por ter em conta que a ideia do Seixal foi de Vale e Azevedo - que já tinha efetuado a compra dos mesmos à Euroárea, do “desaparecido” Artur Albarran -, Filipe Vieira deu continuidade ao processo.

   Por outro lado há que ter em conta os inerentes encargos financeiros - de investimento e de exploração - que estimo em cerca de 10 a 12 milhões de euros por ano. Tal impõe a necessidade de venda de um jogador da formação anualmente, o que implica constrangimentos nos períodos recessivos, com reflexos no “produto” principal; o futebol da equipa sénior.

   Ora convém não perder de vista o propósito primordial da formação; aumentar cumulativamente a competitividade da equipa sénior de forma a elevá-la ao que foi no passado longínquo. O caso é que, paradoxalmente, pode ocorrer o oposto; a necessidade de colocar os jogadores da formação na equipa sénior pode induzir à exclusão de jogadores estruturantes. Este será um dilema permanente a exigir níveis de competência da superestrutura historicamente voláteis. Até porque, inevitavelmente, suscitará divisão regular entre os adeptos; nunca todos estarão de acordo relativamente à dispensa ou integração de um jogador da formação. Tomemos o caso como os “ossos do ofício” inerentes à direção de um clube altamente escrutinado a exigir competências à altura.


   Neste preciso momento, vive-se, no Benfica uma crise suscitada por equívoco associado à formação e que consiste no recrutamento de um Treinador pelas suas qualificações e experiência em pedagogia desportiva, pelas suas qualidades humanas, relativizando a importância da capacidade de preparação de uma equipa de topo. O efeito pode ser devastador, seja na decadência competitiva da equipa sénior, seja na desvalorização e debandada dos jovens da escola do clube.

   Não há como evitar dizê-lo; a excelente qualidade dos Treinadores da formação contrasta com a mediocridade técnica e mental do atual Treinador da equipa principal, a despeito de todas as outras qualidades que possui. O topo da pirâmide da formação está  a pôr em causa a qualidade da mesma acarretando prejuízos incalculáveis no curto e médio prazos.

   Ora, isto mostra que, a formação no Benfica, se transformou numa obsessão do seu grande mentor, Filipe Vieira, a ponto de esquecer a fim primeiro da mesma; tornar a equipa sénior cada vez mais competitiva. Tal como as obras físicas, também a formação é instrumental e nunca, por nunca ser, um fim em si mesmo. Isso era no Alverca - com todo o respeito -, que é onde ao atuais Presidente e Treinador ainda “têm a cabeça”. O Benfica é algo que nenhum dos dois, efetivamente, sabe o que é, apesar de muito falarem no Grande Eusébio da Silva Ferreira; aquele que, estarrecido pelo fascínio dos jogadores do Real Madrid disse: Mas eu queria ganhar!  


 PS: o recente jogo na luz contra a equipa do Ajax para a Liga dos Campeões, mostrou que a equipa está a desempenhar muito abaixo do seu potencial, não por falta de empenho dos jogadores, mas por falta de qualidade tática; desagregamento, défice de velocidade, de intensidade e de antecipação, falta de profundidade e de sincronismo dinâmico, etc. Os jogadores estão lá...o Treinador, não.

 
Foto: Peniche, Marginal Norte (vista a sul da Berlenga

Peniche, 10 de Novembro de 2018
António J. R. Barreto

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O 25 de Abril Visto da História (notas P9)

 
 O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais

….Ao tentarem correr com o padre que ao domingo faz o sermão na missa, certos partidos políticos sonham no fundo substituir-se à igreja pondo um seu militante a celebrar a missa de domingo e a proferir o sermão….. As hierarquias dos partidos leninistas reproduzem a hierarquia da igreja. … (JAS)

   Isto tem ar de brincadeira mas é bem sério; o que está em causa não são os valores cristãos, cuidadosamente substituídos pela “ética republicana, mas o poder, o poder exercido pela igreja católica desde a fundação da nacionalidade, em decadência a partir da guerra civil de 1832/1834 na qual os maçons foram preponderantes. A ratoeira da laicidade do Estado - como se o Estado tivesse que ser religiosamente neutro para respeitar todas as religiões em geral - permitiu aos governos de inspiração jacobina ir “desbastando” a influência católica acabando na difusão do islamismo com censuráveis intuitos políticos (um povo para um partido em vez de um partido para o povo). (AB)

A ciência substituiu a religião…..os sistemas ideológicos são anticientíficos na medida em que representam uma cristalização de princípios e conhecimentos em determinado momento histórico….A censura ideológica à ciência por parte da Igreja Católica na Idade Média, foi ressuscitada de facto, por exemplo, na Rússia estalinista….. (JAS)

   Quanto à ciência, ­­apesar dos sucessivos equívocos dos “cientistas”, paradoxalmente, tornou-se, dogmática, promíscua, instrumentalizável, traindo os princípios iluministas, pondo em causa a qualidade dos respetivos regimes políticos. (AB)

…Aliás o protestantismo afirma-se essencialmente como uma associação entre uma ordem divina e uma ordem material surgida com a ascensão da burguesia, conquistando predomínio nos países que mais cedo conheceram um processo de expansão capitalista….(VJS)

   Parece-me haver aqui um equívoco de VJS; é provável que o processo tenha tido origem nas célebres lutas do campesinato alemão contra a Igreja Católica, na fundação, profundamente participativa e aberta, do Protestantismo – introduzindo uma prática democrática e austera na cultura protestante, em 1517, com a discussão das célebres 95 teses de Martinho Lutero na igreja de Wittenberg – e, com o advento do calvinismo, na supressão do conceito de pecado atribuído até então aos juros de capital. Assim, terá sido a evolução do cristianismo através do protestantismo e calvinismo que criou as condições para o advento e desenvolvimento do capitalismo. (AB)

…Mais, o Partido é aquele corpo místico - no sentido em que a igreja o é – perante o qual nos reconhecemos e nos afirmamos como fiés de um culto a um Ser supremo, que dá sentido à nossa existência….Nestas condições, o Partido não é uma emanação de classe, uma expressão orgânica da classe, mas um edifício construído no vazio, sustentado pelos alicerces abstratos da ideologia, e que se reclama da representação (mítica, evidentemente) da classe. (VJS)

   Aqui radica um dos paradoxos das democracias partidárias; o anticlericalismo e o antipatriotismo constantes das doutrinas partidárias em geral - sobretudo por parte dos partidos ditos de esquerda -, tem mais a ver com a ascensão e sustentação do poder destes, ocupando o vazio ideológico, do que com a natureza intrínseca daqueles conceitos. Os partidos substituem-se à Igreja e ao Estado, constituindo uma perversão dos respetivos regimes. Assim, não é de estranhar a atual deriva tendencialmente apátrida e areligiosa na atual União Europeia, o que pode ser visto como um retrocesso social. De facto, assistimos, hoje, ao absurdo de, em países europeus democráticos, membros das estruturas públicas convidarem os seus concidadãos eleitores a saírem do país, em caso de desconforto ou desacordo com as políticas implementadas. (AB)

Foto: pormenor das falésias da Marginal Norte em Peniche

Peniche, 08 de Novembro de 2018
António J. B. Barreto