Desporto

domingo, 6 de dezembro de 2020

USA - Eleições 2020 (II)

 O quarto poder

 Há um consenso acerca da influência da Comunicação Social nas democracias a ponto de ser considerada como o 4º Poder. Um poder informal mas real e fácil de compreender. Em democracia - um homem um voto - o espaço público é o local privilegiado de debate e formação da opinião pública, das convicções do eleitor, daí a importância de comunicação social. Importância crescente devido à proliferação de plataformas e órgãos de informação, aumento da frequência de emissões e publicações e alargamento do nível de escolaridade das populações. E é por isso que muitos a consideram, não o quarto, mas o primeiro poder! Nunca tal foi tão evidente para mim como nestas eleições; a declaração de vitória de Joe Biden pela CNN, primeira entidade a fazê-lo, com as urnas ainda em alvoroço e a comoção do anunciante, denunciam a guerra que a Comunicação Social, maioritariamente democrata, travou contra o Presidente Republicano durante todo o mandato. Não o posso afirmar, ninguém poderá fazê-lo, mas pergunto-me se não terá sido a Comunicação Social americana a decidir estas eleições. E se foi desvirtuou um regime onde cabe aos eleitores o primado da soberania política. Uma democracia desvirtuada não é democracia.

A tribalização política

   A degradação do diálogo político interpartidário, fonte da criação de uma sociedade mais justa e próspera esteve francamente exposta durante todo o mandato de D. Trump. Os partidos entrincheiraram-se nas suas posições e passaram a considerá-las abomináveis quando adotadas pelo oponente. Ignóbeis e absurdos ataques pessoais perpetraram-se continuadamente, dum e doutro lado da barricada, deixando de fora os grandes temas da nação. A insana e irracional luta pelo poder sobrepôs-se a todas as regras de boa conduta democrática, dominando tudo e todos. Um fenómeno que não é exclusivo dos EUA mas característico da maioria das democracias, comprometendo-as. Ou evoluem ou morrerão. O monopólio partidário da representação política está em causa.  

O Poder da Rua

   O ativismo inundou a rua em toda a legislatura, com inúmeras e violentas manifestações de minorias reivindicando direitos, amplificando e extrapolando qualquer acontecimento negativo transformando-o em tragédia sociai coletiva. Exigiu-se a destituição de órgãos legítimos vigentes. Imputou-se-lhes a responsabilidade de todas as iniquidades sociais e económicas. Reivindicou-se a legitimidade da ação direta. Criou-se um estado de pré-guerra civil condicionando e bloqueando a governação sufragada democraticamente. Tudo ocorreu num contexto de progresso económico notável, de pleno emprego e de integração das minorias. O poder da rua, pré-revolucionário, atribui-se legitimidade própria pretendendo sobrepor-se à legitimidade do poder democrático. A entropia política e social foi uma constante, internacionalizou-se e pôs em causa a legitimidade dos centros de poder. A anarquia social estabeleceu-se, alimentada pelo partido derrotado anteriormente e, suspeita-se, por entidades externas empenhadas na permanente luta pelo domínio geoestratégico. O direito de manifestação, em muitos casos, extravasou as prorrogativas legalmente consagradas. Um fenómeno que se verifica nas democracias e que dá lugar ao paradoxo da subjugação das maiorias pelas minorias graças à grande intensidade do ativismo destas.   




Peniche, 6 de Dezembro de 2020

António Barreto