Desporto

sábado, 21 de julho de 2018

Benfica; A Banca em ação.

   Retomando a crónica anterior, acredito que tenha havido razões não explícitas para a passividade revelada pelos dirigentes encarnados no planeamento e acompanhamento da época. Não acredito nas teses da incompetência ou da displicência. O cenário de fundo do campeonato foi o da consolidação da supremacia encarnada e do deslizamento económico e desportivo dos principais rivais para situações de rotura financeira eminente; Sporting e Porto viviam sustentados por reestruturações sucessivas de dívida; aquele, por emissão de "dívida perpétua sem custos", as famosas VMOC, este, já intervencionado pela UEFA, e a braços com o vencimento do empréstimo obrigacionista, apesar de ter conseguido a proeza do alargamento do prazo de liquidação da dívida do seu  estádio para 50 anos! Um novo ciclo político fazia prever novos contornos desportivos.
 
   O que lhes teria acontecido caso o Benfica tivesse ganho o campeonato? Ao Sporting, eventualmente, algo muito semelhante ao que se verificou; a queda de um demagogo sem escrúpulos. Quanto ao Porto, o agravamento da sua condição financeira devido à inerente desvalorização dos seus jogadores e do prémio de risco associado à emissão do novo empréstimo obrigacionista, aprofundando-se o ciclo vicioso em que caíra devido à ascensão do Benfica. Todas estas razões suportam a ideia de que o panorama desportivo terá atingido a esfera política, embora ainda a nível de bastidores.
 
   O que sabemos em concreto é que o clube encarnado reduziu à marginalidade o seu endividamento bancário - ao que consta, a cerca de 17 milhões de euros -, recorrendo ao serviço de factoring, tendo dado como garantia três anos de receitas futuras de direitos de imagem, com um custo de, aproximadamente, 17 milhões de euros. O desfecho desta operação coincidiu, aproximadamente, com o momento em que o Benfica começou a ficar para trás na corrida pelo título e com o anúncio de novo ciclo de obras no Seixal. Refira-se que, a certa altura da época, elementos próximos do Presidente, e até este, desdramatizavam, na TV do clube, a eventualidade do fracasso do "penta". Pareciam preparar os adeptos para algo que sabiam iria ocorrer.
 
   Quem terá tido a iniciativa da antecipação do pagamento da dívida bancária? Benfica ou bancos? Filipe Vieira apresentou o assunto como sendo o cumprimento duma promessa sua, consciente do impacto favorável junto dos benfiquistas "aliviados" com o integral pagamento do estádio. E quem terá sido o beneficiário desta liquidação, Benfica ou bancos? Não creio que tenha sido o Benfica, uma vez que sacrificou receitas futuras e não reservas de capital ou financiamento de mais baixo custo - o que, aliás, deveria ter feito há já muitos anos -, apesar da extraordinária receita alcançada com a venda de jogadores.
  
   Grosso modo, o Benfica poupa uma despesa anual com juros da ordem dos 16 milhões de euros, mas perde uma receita anual de 40 milhões!, ou seja, nos próximos três anos, terá que fazer um esforço adicional da ordem dos 24 milhões de euros face ao que teria se mantivesse o plano de amortização contratado. Conclusão, benefício económico do Benfica, não há, e tal repercutir-se-á nos próximos três anos. Isto, a julgar pelo que tem vindo a público; os detalhes do caso poderão ser algo diferentes.
 
   Porém, temos assistido, desde há cerca de 10 anos, a um tumulto bancário em Portugal que tarda em dissipar-se definitivamente. Após sucessivas recapitalizações e várias falências, o bancos sobreviventes vivem, ainda, pressionados pelas respetivas  tutelas, para libertarem os seus balanços dos ativos tóxicos, entre os quais os créditos associados ao futebol.
 
   Por tudo isto, creio que, no início da época, os dirigentes do Benfica terão sido confrontados com os respetivos bancos credores para a imperiosidade da liquidação da dívida. Cerca de 150 milhões de euros (salvo o erro)! Num primeiro tempo, os dirigentes encarnados, terão equacionado o pagamento com meios próprios, daí terem vendido "tudo o que tinha mercado" e terem-se resguardado nas contratações. Necessitavam de fundos para satisfazer a gula bancária e...sabe-se lá que mais. Prejudicada ficou a equipa. Comprometida ficou a época. )E, agora, já estou a pensar em causas de natureza político-partidária).
 
   Terá sido, pois, com o decorrer do campeonato que terá surgido a possibilidade do recurso à antecipação de receitas, e, este, poderá ter sido o maior erro recente de Filipe Vieira, que poderá ter comprometido, irremediavelmente, os próximos anos do Benfica, ao viabilizar a operacionalidade da "velha máquina azul". Nessa altura, já não haveria possibilidade de reforço do plantel.
 
   Não sei se os acontecimentos terão ocorrido assim, mas é possível que tenha sido; acredito que tenha sido. Mais; acredito, até prova em contrário, que a intransigência bancária para com o Benfica tenha tido origem governamental com o propósito de manter um quadro desportivo mais consentâneo com o seu projeto político para o país.
 
   A teimosia de Filipe Vieira em relativizar, insistentemente, a gravidade dos fracassos, e em apresentar justificações  inverosímeis, suscita a minha censura; não se diz aos benfiquistas que a derrota não é importante, convidando-os a conformarem-se com os insucessos, quando, a ancestral cultura benfiquista é o contrário disso; é inconformismo, é insatisfação permanente, é luta contínua, sempre respeitando os outros, mas sem desfalecer na luta. Aceita-se a derrota quando nos batemos lealmente pela vitória e honra-se o adversário quando nos ganha da mesma forma. Esta é a cultura do Benfica e não a do conformismo que Filipe Vieira, gradualmente, tem vindo a estabelecer.
 
   A montante, poderemos ainda equacionar as "tais" causas de natureza política, que já vi referenciadas na BTV pelo ilustre Fernando Seara, ainda ontem, no programa "Jogo Limpo" e sobre as quais me debruçarei na crónica seguinte.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Um olhar sucinto para o Benfica 2017/2018

   Com os "motores" dos clubes/SAD em "afinação" para a nova época desportiva, diluída ou atenuada a indignação na esperança de novas conquistas, é tempo de olhar para trás e tentar perceber os factos, em especial, os desportivos e destes, o futebol sénior do Benfica, em particular.
 
   Iniciou-se a época na perspectiva duma façanha histórica para o Benfica; o penta-campeonato foi o objetivo definido e sempre reafirmado ao longo da época, como se fosse algo virtualmente adquirido. Falhou. Por pouco, mas falhou. À vista da meta, o "carburador" entupiu. Tal como, afinal, aconteceu nas modalidades. Todas. É certo que a época foi caracterizada por ataques sistemáticos ao clube por parte dos principais rivais e que se verificaram, dentro e fora das competições, acontecimentos algo bizarros, embora não inéditos. Mas também é verdade que, internamente, não faltaram equívocos aos responsáveis do clube encarnado. Tantos e tão inesperados, que chego a pôr em dúvida o efetivo empenho na vitória.
 
   Ao nível do futebol sénior, falhou tudo; planeamento, preparação e acompanhamento. Não se percebe porquê; aparentemente, por razões aleatórias; os azares da vida! Nem os dirigentes do clube apresentaram explicações convincentes, limitando-se, desde o início, a relativizar a gravidade dos sucessivos insucessos  e a anunciar novo pacote de obras infraestruturais. Pois me parece que pode haver razões não explícitas na origem da inépcia patenteada pelos dirigentes encarnados ao longo da época.

   As saídas que se verificaram na equipa deixaram-na profundamente fragilizada, tecnicamente e animicamente. À exceção da de Lindeloff, nenhuma das outras foi adequadamente compensada. A equipa perdeu eficiência na baliza, na ala direita defensiva e ofensiva, no eixo defensivo até cerca do primeiro terço da época, e na frente de ataque, especialmente após a lesão de Jonas.

   Quando certos clubes estão interessados num jogador, não há como evitar a saída; controlá-la garantindo o melhor momento e o maior proveito é tudo a que se pode aspirar. Porém, já não são admissíveis, em estruturas altamente profissionalizadas, erros grosseiros de avaliação como foram os casos do guarda-redes, do defesa-direito e, em menor grau, dos avançados destinados a colmatar a saída de Mitroglou.
  
   A nova dupla de centrais composta por Jardel e Ruben Dias, levou tempo a entrosar-se, período em que, bola centrada para o eixo da defesa, geralmente terminava no fundo da baliza. Varela, até final da época, e apesar de algumas boas exibições, mostrou sempre dificuldade na leitura dos lances, nos timings das saídas e na execução das manchas. André Almeida, generoso e abnegado, face ao antecessor, perde em velocidade, criatividade e capacidade ofensiva. Quanto a Jimenez e Seferovic, sendo excelentes jogadores, especialmente o primeiro, nenhum deles tem as características de Mitroglou, aliás, raras hoje em dia, nem o modelo de jogo da equipa evoluiu de forma a proporcionar a otimização do seu desempenho.

  No plano económico, a saída de Mitroglou tem justificação na perspectiva do curto-prazo, não no do médio prazo nem no do desportivo, como se comprovou pela desastrosa campanha na Liga dos Campeões. Mitro não queria sair. Era possível mantê-lo e, posteriormente, de o recuperar. Bastaria para o Benfica ter sido campeão, estou convicto. Gabigol e Douglas foram recrutados de emergência, já em desespero de causa, e, como sempre acontece nestes casos, não produziram os efeitos pretendidos, apesar de ambos, terem apresentado qualidades interessantes.

   A ajudar "à festa", depois de ter recuperado da cirurgia que o afastou dos relvados cerca de três meses (salvo o erro),  krovinovik, quando se afirmava no meio-campo fazendo desabrochar a equipa,  lesiona-se num momento crucial. Também Sálvio e, finalmente, na fase crítica, o golpe fatal; Jonas é impedido de dar o seu contributo também por lesão.

   A questão que se coloca é a de perceber a razão pela qual os dirigentes do Benfica não preveniram o plantel adequadamente para a época, que sabiam particularmente difícil. Não sei, mas poderei especular um pouco na próxima crónica.