Benfica, um caso político
Capítulo 5
É este contexto que legitima a suspeita de concertação, ou aliança
implícita, entre os Dirigentes do Porto (Futebol Clube do Porto) e alguns dos
partidos defensores da regionalização. Suspeita essa que sai reforçada com a
frequente adesão, dissimulada, de alguns políticos, às causas daquele clube. E
são figuras do Partido Socialista que, neste particular, mais se têm destacado.
Pois não constou, nos idos de 82, que foi António Guterres a dissuadir
Pinto da Costa de abandonar o futebol? Sendo verdade, não é lícito admitir que,
nessa altura, se terá estabelecido uma aliança de bastidores entre eles, que
tem perdurado até aos dias de hoje?
Não foi José Sócrates, ainda Secretário de Estado do Governo de António
Guterres, que, publicamente, afirmando-se benfiquista, declarou-se disponível
para fechar o clube, quando este atravessava a maior crise da sua história?
Não foi Ana Gomes, deputada no Parlamento Europeu, que, há uns anos -
talvez três - alertou a opinião pública para a necessidade de investigar o que
se passava com um “raio” de um jogador sul-americano desconhecido, associando-o
ao Benfica em qualquer transação alegadamente espúria?
Não foi Helena Roseta que, no consulado de António Costa, levantou o
facho da revolta, no caso dos benefícios fiscais da CML (Câmara Municipal de
Lisboa) atribuídos ao Sport Lisboa e Benfica em resultado da aplicação do
protocolo estabelecido entre a autarquia e todos os clubes da cidade? Este
museu era uma antiga aspiração dos benfiquistas, prometida por várias Direções
do clube e nunca concretizada! Não é a história do Benfica relevante na
história da cidade? Não é o museu importante na dinamização social e económica
da de Lisboa? Não beneficiam os lisbonenses de toda uma vasta panóplia de
atividades desportivas proporcionada pelo Sport Lisboa e Benfica, contrastando
com a escassa oferta pública municipal neste domínio? Manifestou-se, aquela
Vereadora, nalgum dos muitos casos polémicos de esbanjamento financeiro
frequentemente noticiados pela comunicação social naquela autarquia? Não notei!
E é por isso que concluí que se tratou de um ato demagógico e persecutório,
cuja motivação foi de natureza partidária.
Não é novamente Ana Gomes, ainda deputada no Parlamento Europeu, que
está na berlinda por apoiar publicamente e exuberantemente na praça pública, um
sujeito confesso adepto do Porto, preso à ordem do Tribunal por se ter
apropriado ilicitamente de documentação confidencial de entidades ligadas ao
desporto nacional e também da correspondência comercial e técnica do principal
rival do seu clube, e cuja alegada motivação seria a de combater a corrupção no
futebol? Não foi Ana Gomes que se apresentou na cadeia de lenço azul a entregar
ao pirata informático um prémio que ela própria promoveu em Bruxelas pelas criminosas
façanhas? Não foi Ana Gomes que disse nada perceber de futebol, justificando a
sua falta de interesse nos episódios desportivos em curso indiciadores de
corrupção desportiva efetiva? Não têm os Deputados Europeus meios,
disponibilizados pelo seu Parlamento, para contratar especialistas que os
ajudem nos seus trabalhos? Estará, efetivamente, Ana Gomes, interessada no
combate à corrupção no futebol? Suspeito que a sua motivação seja de natureza
político-partidária e consistirá numa estratégia de aproximação do seu Partido
ao eleitorado portista e, por extensão, ao eleitorado portuense. Porém, é
possível que esteja, também, empenhada numa ação de militância clubista. Da
fama não se livra.
Não é Fernando Gomes, militante histórico
do Partido Socialista, ex-Presidente da CMP (Câmara Municipal do Porto), membro
do Conselho de Administração da SAD do Porto? E não é razoável admitir que,
neste cargo, tem a função de servir de elo de ligação entre esta SAD e o seu
Partido?
Finalmente, não há uma coincidência intrigante entre os ciclos políticos
e os do futebol, em que, nos governos socialistas, geralmente, se verifica a
ascensão desportiva do Porto? Há! E eu acho que não é coincidência.
Peniche, 10 de Maio de 2019
António Barreto