Desporto

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Macaquices no Reino de Lilipute

 

Macaquices no Reino de Lilipute


Rezam as crónicas do burgo imaginário, que um tal “macaco” foi detido pelas autoridades locais para averiguações, na sequência dos incidentes ocorridos na cerimónia de apresentação das candidaturas à presidência do clube local de tiro ao arco, o célebre Protossáurio alado.


Pirolasséx, o célebre chefe da macacada, já não conseguia disfarçar a fraca penugem das, outrora, possantes asas, nem a progressiva perda de olfato e do efemento sonar que o tornaram célebre num passado já longínquo.


Vylannosaurus, que, durante muitas luas, viajara por distantes paragens, regressara, de penugem farta e reluzente, disposto a disputar o ceptro por que ansiava desde o momento da partida.


O destino chamava-o, anunciando-lhe o fulgurante trilho das estrelas, todos os gloriosos feitos que o tornarão inesquecido, até ao fim dos tempos, no reino Protossáurio.


“Macaco”, na verdade um jovem brachiosaurus, que todos pareciam temer, não podia consentir na queda de Pirolassex, receoso da emergência de uma inssureição e do termo do seu domínio.


Foi então que, seguro da sua histórica impunidade, solenemente, publicamene, prometeu devorar todos aqueles e aquelas que apoiassem Vylannosaurus, o herege, que se recusara a obedecer ao velho Pirolaséx, ameaçando-o de solitário desterro.


Staurikosaurus, o chede dos polícias de todos os saurus, desta vez não podia ignorar tal afronta à autoridade do reino de Lilipute.


Lilipute, sim, era um pequeno e inofensivo reino onde os liliputianos mais ilustres podiam enriquecer sem se esforçarem muito e sem sentirem grandes constrangimentos morais ou éticos.


Para bem de toda a nação era necessário salvaguardar a pureza das instituções. Por isso brachiosaurus tinha que ser detido para averiguações e, quem sabe, levado a Tribunal.


Staurikosaurus sabia que tinha errado, que fora complacente com brachiosaurus demasiado tempo, sabia que tal contribuíra para os graves incidentes do momento, sabia que podiam ter-se evitado outros casos igualmente graves que ocorreram, por efeito de contágio, noutras paragens do reino.


Staurikosaurus temia pelo seu futuro, pelo seu sossego e da sua família, mas, desta vez tinha que agir, tinha que mostrar a todos os liliputianos que podiam confiar nele. Braquiosauros tinha que ser punido exemplarmente!


Bem vivido, Staurikosauros aprendera com Stegosaurus, o sábio, companheiro de velhas e indizíveis lides, que o tempo tudo remedeia.


Agora que os cidadãos estavam confiantes na implacabilidade da justiça de Lilipute, bastava deixar correr o processo, deixar rolar a justiça, descobrir atenuantes e testemunhos abonatórios.


Afinal Braquiosaurus era o rosto da seleção nacional de tiro ao arco, como disse alguém, e tem à sua ordem um grupo de amigos de Lilipute, com enorme capacidade dissuasora.


Demonstrar-se-á a gratidão da Pátria liliputiana a quem tanto se empenhou no seu engrandecimento, fosse ele qual fosse.


Mais tarde ou mais cedo, será possível encerrar o episódio e, quem sabe, talvez até com um louvor como o que recentemente se fez ao Relocicraptor, cujos patrióticos feitos o livraram das penas do encarceramentto.


No final, Pirolasséx não deixará de mostrar a sua gratidão.


Lilipute voltará a ser o que sempre foi; um país de pigmeus.



Peniche, 11 de Fevereiro de 2024

António Barreto