Desporto

domingo, 15 de junho de 2014

Mixordia da politica e dos negocios na Controlinveste


Eduardo Cintra Torres é uma referência do jornalismo português; competente, analisa com lucidez e coragem temas atuais relevantes na área da comunicação social, vinculado apenas à sua consciência, contribuindo para nos ajudar a perceber este poderoso mundo, por muitos designado de "o quarto poder", decisivo condicionador dos poderes formais e modelador da opinião pública, a alma de qualquer regime e a grande alavanca política das democracias. Desta vez, no Correio da Manhã de hoje, aborda o tema da Controlinveste na sequência do anúncio do despedimento de 160 jornalistas do grupo. Denuncia o servilismo daquela entidade - "encontraram em alguns jornalistas bem pagos, agentes sabujos para o exercer" - aos poderes políticos que, por sua vez, lhe têm garantido financiamento desde há largos anos - "(DN&Cª) vivem, não de proveitos, mas do dinheiro que acionistas e depositantes do BCP e do BES que alimentam a loucura daquele negócio" -, a troco da criação de ambiente favorável à promoção dos seus interesses. Promiscuidade que Cintra Torres parece antever na atual reorganização empresarial do grupo tendo em conta as ligações políticas das pessoas envolvidas, algumas delas figuras públicas de grande relevo, como Proença de Carvalho, alegadamente, com acesso a múltiplas alavancas políticas, jurídicas e financeiras. Não refere Cintra Torres o caso da Sport TV cuja recente restruturação envolve indiretamente duas das maiores figuras da economia portuguesa e do Norte do país, Américo Amorim e Belmiro de Azevedo os quais, por sua vez, com ligações diretas ou indiretas ao Futebol Clube do Porto. Nem tão pouco refere o facto de o anúncio em causa ter sucedido à derrota das listas, alegadamente afetas a Joaquim Oliveira, deixando antever a importância dos direitos desportivos dos clubes da Liga para a solvabilidade do grupo e a expetativa desfavorável relativamente à resposta da ERC à participação de abuso de posição dominante por parte de Mário Figueiredo (cerca de um ano antes, eu próprio fiz uma exposição do mesmo tema à ERC e ao Ministério Público). O futebol fecha, assim, este círculo, não necessariamente ilegal, mas promíscuo, servindo os propósitos dos que decidiram manipular os adeptos deste desporto, fomentando a exacerbação regionalista com vista ao estabelecimento de roturas sociais que satisfaçam as suas ambições de poder pessoal. O velho aforismo "pão e circo" aplica-se, também aqui, com propriedade; saciado com os feitos desportivos, o povo relativiza tudo o resto, pronto a entronizar os novos deuses; os deuses da sua rua, mas os seus deuses. A tragédia, entre outras, consiste na constatação pública da disponibilidade para a subjugação política que grassa no jornalismo nacional, salvo excepções, último reduto de esperança dum povo martirizado pela irresponsabilidade, pela corrupção e pela insensibilidade das elites político-económicas  e pela insaciedade dum Estado que tudo destrói à sua volta, indiferente aos dramas humanos que provoca, por conta da sempre utópica "promised land" que tudo parece justificar. Ai de um povo em que a comunidade jornalística está pronta a vender-se a troco do seu bem-estar. Ai de um povo que prefere acreditar nas promessas de falsos profetas a decidir pela sua própria cabeça.

Mixordia da politica e dos negocios na Controlinveste