Desporto

domingo, 13 de novembro de 2016

Velhas alianças

 
   

   Entre as várias peripécias e singularidades que têm "adornado" décadas do futebol nacional destaca-se a relação "especial" entre o Futebol Clube do Porto e o Vitória Futebol Clube (vulgo, Vitória de Setúbal). Essa proximidade tem-se afirmado na transação ou cedência de jogadores entre os dois clubes, algumas vezes em momentos críticos do Vitória - parece que a crise financeira do Vitória é perpétua -, outras no, tradicional, alinhamento institucional, ainda outras na estranha atitude competitiva deste, nos confrontos desportivos com aquele.
 
   É verdade que este padrão parece extensível a outros clubes; como referiu ontem um convidado na BTV, ex-dirigente do Estrela da Amadora, "O Porto ajudava muitos clubes e estes, naturalmente gratos, retribuíam a ajuda quando era necessário".  No entanto, há razões históricas especialíssimas no caso do Vitória; percebi-o ontem quando, vagueando pela história económica do século XIX de Portugal, fui ter à Guerra da Patuleia - ou Guerra da Maria da Fonte. Uma guerra de raiz popular despoletada no reinado de D. Maria II, por volta de 1844, contra os despautérios tributários do Governo do famigerado Costa Cabral. Um século devastado por guerras no território nacional; a do Rossilhão, a das Laranjas - ou Fantástica, em que perdemos Olivença - a Peninsular, a Liberal, a Vila Francada, a Abrilada, a Patuleia e depois a da Regeneração. A Guerra da Patuleia foi sangrenta e foi ganha pelas forças de D. Maria graças à intervenção da Espanha, Inglaterra e França, graças ao pacto de aliança em vigor entre estas quatro nações.
 
   Pois nesta guerra da Patuleia - dos patolas; termo depreciativo por que eram tratados os populares pela aristocracia afeta à rainha -, onde a célebre mulher da Póvoa de Lanhoso, irmã do sapateiro da vila, se distinguiu, graças ao seu vestido vermelho e por ter dado a primeira machadada na porta da prisão onde estavam as mulheres que iam ser julgadas por terem dado uma "coça" nos enviados do Governo que queriam impedir o enterro de uma conterrânea na igreja da aldeia, como era tradição, começando pelo norte, propagou-se à cidade do Porto e alastrou por todo o país, devido à sublevação espontânea da população e a adesão de muitos adeptos miguelistas derrotados pelos liberais em 1834, incluindo à cidade de....Setúbal.
 
   Ora um dos chefes militares dos sublevados foi o conde....das Antas que, quando " os patolas" de Setubal estavam na iminência de novo confronto, após severa derrota, ocorreu, por mar em seu auxílio, não concretizando os seus intentos, graças à interceção de uma frota de guerra inglesa. "Et voilá" as razões históricas, profundas e respeitáveis entre a cidade do Porto e a de Setúbal, irmanadas na causa do Povo e da liberdade, ambas derrotadas pelas tropas do duque de Saldanha, espanholas e inglesas. Razões que, compreensivelmente, se estenderam às respetivas principais equipas de futebol. Pena que, desta vez, essa aliança não tenha servido  a causa da transparência e...da liberdade.
 
   PS: uma curiosidade; habitualmente atribui-se à cidade do Porto a designação de Invicta - creio que devido às peripécias da Guerra das Laranjas -, no entanto, na Patuleia, infelizmente, a cidade foi tomada pelas forças espanholas que ocuparam o forte e assumiram a autoridade até à pacificação do conflito, permanecendo a foz do Douro bloqueada pelas frotas inglesas.
 
   Ele há coisas "do arco da velha"!  
 
Ora apreciem este fascinante Vira do Alto Minho, interpretado pelo magnífico rancho minhoto "Maria da Fonte"
 
 
BIROUE; CUM CATANO! INTÉ REPENICA!