Desporto

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Filosofia e metodologia da corrupção no Futebol


In Máfia do Futebol de Declan Hill

   "A moralidade é algo delicado de julgar. É fácil sentarmo-nos e pensarmos:"oh, eu nunca me envolveria no arranjo de um jogo!" Mas o que aconteceria se muitos outros clubes desse campeonato arranjassem jogos? Há duas perguntas que um potencial arranjador tem que colocar a si próprio: serei alguém com sentido moral e será a competição em que estou moralmente sã? Neste caso, um dos adversários do Baltika tinha princípios que o impediam de arranjar o jogo, mesmo estando condenado à despromoção. No entanto, a verdadeira questão de Dmitri Chepel é se haveria outra equipa, um rival do Baltika na luta contra a despromoção disposta a fazê-lo.
 
O problema para Dmitri Chepel nesta fase é simplesmente não saber o que outras equipas rivais possam fazer. É este fator de incerteza que determina o fenómeno dos pagamentos de incentivo no campeonato Russo, em que uma equipas pagam aos oponentes dos seus adversários diretos para que joguem honestamente e não aceitem qualquer suborno para o arranjo do jogo.O CSKA de Moscovo é um dos maiores clubes do campeonato Russo, e o seu Presidente Yevgeny Giner, falou abertamente acerca de pagamentos de incentivo feitos a equipas para que estas não participassem em arranjos que beneficiassem os rivais do CSKA. Giner foi também, inacreditávelmente, o Presidente da Primeira Liga Russa em 2006. Por isso, se esta situação é normal no campeonato, a decisão de Chepel em não pensar nas questões morais do arranjo é compreensível."
 
   "Os jogadores do Baltika e do Kalinegrado são considerados tão ridiculamente inaptos que não conseguiriam ganhar um jogo que não fosse arranjado. No entanto, equipas fortes também arranjam jogos com equipas mais fracas. Em Maio de 1993 Jean-Pierre Bernès e Bernard Tapie decidiram arranjar um jogo. Bernès era o Secretário Geral do Olympique de Marselha e Tapie o Presidente do clube, e um ex-Ministro do Governo Francês. O Marselha ia jogar com o Valenciennes FC. Em teoria, tratava-se de um jogo fácil para o Marselha: eram uma das equipas mais fortes da Europa e o Valenciennes era o antepenúltimo no campeonato francês da primeira divisão. Mas Tapie e Bernès, convenceram um dos seus jogadores, Jean-Jacques Eydelie a abordar alguns jogadores do Valenciennes para que entregassem o jogo.
 
   Depois do contacto feito por Eydelie, Bernès falou com um dos jogadores do Valenciennes e disse-lhe: " vão perder seja como for. Porque não fazê-lo com 30 mil francos no bolso?" É uma grande frase e é a chave que explica porque muitos jogadores e árbitros aceitam subornos para arranjarem jogos. Resume também a questão que muitos colocaram a si próprios acerca deste caso: porque iria o Marselha sequer dar-se ao trabalho de arranjar o jogo? O que terá passado pela cabeça de Tapie e Bernès para arriscarem as suas carreiras no arranjo de um jogo à partida tão fácil?
 
   A resposta é complicada.Em parte, tal como escreveu mais tarde Eydelie, isso deveu-se o surgimento de uma cultura de corrupção dentro da equipa do Marselha. Essa cultura tinha-se tornado tão enraizada que os dirigentes, com excesso de confiança e ousadia,assumiram que "a batota tinha-se tornado uma segunda natureza." Por outra parte, o objetivo era preservar os seus jogadores de lesões: tinham um outro jogo, e mais importante, na semana seguinte."
 
   "...A questão final que um dirigente corrupto deve fazer-se é se a Liga ou outra força exterior (a Polícia) irão impor-lhe sanções caso seja apanhado. Na verdade, trata-se de duas questões numa: será que vou ser apanhado? E: caso seja apanhado, serei punido?
 
   Bernard Tapie errou por completo nesta questão. Foi descoberto e enviado para a cadeia. Mas no caso do Baltika, Chepel e os seus ajudantes não pareciam pôr a possibilidade de quaisquer sanções pelas suas atividades corruptas. As suas tentativas de arranjar o jogo são genuinamente impressionantes pela sua meticulosidade. Contactaram, alegadamente, quase todas as pessoas que poderiam ajudá-los no arranjo: jogadores rivais, treinadores, administradores e árbitros.Contudo, pelo que podemos observar através das transcrições e da posterior cobertura jornalistica, ninguem delatou as suas ações às autoridades e nenhuma sanção vinda das autoridades futebolísticas foi alguma vez aplicada a Chapel ou ao Baltika."
 
   "...Em muitos campeonatos Europeus, os donos dos clubes fazem favores uns aos outros, tais como ordenar às suas próprias equipas que percam um jogo, e recebem o pagamento através de um pagamento mais tarde, que pode ser um arranjo ou uma transferência de um determinado jogador. Em Itália e em Portugal, esta prática é de tal forma vulgar que têm mesmo um nome para ela: il sistema, ou "o sistema."
 
Zaratustra:
 
Tudo isto nos é demasiado familiar em Portugal! Uma velha história quase a papel químico, não é verdade? Alguém deveria ter ido para acadeia!